Coluna do Luan

sábado, 11 de outubro de 2008

O resto...


Aqui onde a capital não dorme e os cachorros latem para o vento, há algo ainda mais fugaz: os transeuntes. Eles ficam perambulando para lá e para cá, e quando avistam uma montanha oriundamente capitalista, fecham os olhos, balbuciam facialmente até perderem o desgosto por aquilo: “a sujeira”.

Pois bem.

Aqui onde todo e qualquer veículo não passa de um motor poluente, altamente qualificado de máquinas, os ares até transmitem pureza de poetas. O oxigênio não é agregado ao hidrogênio. São palavras sem verbos. Não há água. Não há frases.

Aqui na terra de todos e de liberdade zero, os monstros são heróis, e as lâmpadas emitem fogo. Não há elétrons. Mas como não haver átomos? Como não haver amor?

Aqui onde todos dizem amar, na verdade não passam de levianos, estupidamente estúpidos. O amor não emerge assim caro, caríssimo camaleão; deve-se, em primeiro lugar, ser sincero. Quando um ser seja lá de qualquer espécie ama da maneira mais real possível, a alma arrepia-se a cada lembrança. A cada suspiro. A cada batimento. A cada pulsar.

Aqui onde todos dizem sentir saudades, todos sentem ciúmes por não ter um amor como o meu: eterno, simplesmente por existir. Simplesmente por você existir. Saudoso, poeta, amante. O resto, a meu ver, está perdido com os continentes. Com exceção daquela que me ama, e que para todo o aglomerado de boçais, e inteligentemente boçais, o mundo é apenas teorizado.

Sem essa de vitamina D para hipocrisia. Larguem os vícios, larguem as batinas e sejamos felizes. Sem hierarquizações hmogêneas. Sem ridicularidas subjetivas. O que está ao nosso alcance não passa da realidade. Quem disse que a busca pelo surreal não é concreto?
Estou cansado, e preciso dormir ao lado dela

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

E então...

Enquanto as pétalas caíam rachando o chão úmido, eu nadava em espinhos quentes de alegria. Enquanto a música cadencial solucionava os problemas de meus tímpanos, eu me ensurdecia em gritos de psicodelia poética. E assim eu caminhava. Em marcha lenta, em marcha ré. Mas sempre em frente. Quando eu parar, outros contarão a minha história.

Voltei e não sei por quanto tempo. Há dias que vou, há dias que volto.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O espelho



2008

Debruçei-me contra o espelho. Esperava quebrá-lo. Parti-lo ao meio. Via a minha imagem desesperada, flagelada pelas lágrimas que escorriam no meu rosto. Tentei descobrir os motivos. Será que eu não me conhecia o suficiente para entender as razões que me levavam a chorar? Debruçei-me com mais força, com a esperança de liquidar de vez com minha imagem refletida.

1990

O telefone tocou. Era Gaspar, com sua voz ácida e direta, disse-me que eu teria uma chance de enriquecer. Não revelou como, não me forneceu contatos, apenas um número: 1344. Uma seqüência composta por dois números ímpares e dois números pares. Que finalidade teria? Joguei o telefone longe, ouvi o barulho de um objeto se quebrando. Droga, não era o espelho.

Eu estava morto, jazido, putrificado. Para o mundo eu era um cadáver. As pessoas simplesmente passam por mim como se eu não existisse. Ignoram-me caprichosamente em suas hipocrisias rotineiras. Pensam que são felizes. Que lutam por um país melhor. Mas dentro de seus carros, de seus possantes importados, são seres vivos urbanos, sociais, que serviram de cobaias ao próprio sistema humano. Guiam seus veículos automotores por estradas cujas obras superfaturadas viraram manchetes em jornais esquerdistas. Então, orgulhosos, baixam o vidro do possante importado e doam-me alguns centavos que teriam como destino o cofrinho de plástico dos filhos de cinco anos. De centavo em centavo a gente enriquece nas sinaleiras. E um dia que ganhei mais de dez cruzados. Dez vezes sete, setenta. Setenta vezes quatro, me deixa pensar... Acho que são duzentos e oitenta. Por mês. Trabalho duro, temos que esticar a mão por entre o vidro do motorista e quase obrigá-lo a "doação". Já arranhei alguns veículos, furei pneus, e arranquei placas. Cinqüenta centavos fazem toda a diferença. Mas agora eu estava em uma casa, e não sei quem mora nela, Gaspar disse para eu vir até aqui, arrombar a porta e esperar o telefone tocar - Não entendo, o espelho me irrita, não gosto da minha imagem; não gosto do meu corpo; tenho a cabeça achatada, uma barba enorme, minhas canelas são finas e meu tronco espesso – Gaspar meu passou uma seqüência de quatro números.

Era uma cilada. A polícia chegou. No entanto, algo me chamou atenção: a placa da viatura de listras pretas era composta pelos números 1344. O que Gaspar me aprontava? Durante o percurso descobri que eu não estava sendo preso, e não estava sendo transportado por agentes da lei. Eram narcotraficantes, que me pegaram como "laranja". Gaspar me indicou para um serviço sujo, mas lucrativo. De mendigo para laranja. Um carro de polícia furtado, dois narcotraficantes e um morador de rua. Uma ótima notícia para as páginas policiais. Colocaram-me em um ônibus que seguiria até o interior de Mato Grosso do Sul, lá eu teria que entregar o pacote para um senhor chamado "Macalã".

Encontrei Macalã às quinze horas da tarde seguinte. Entreguei a encomenda e as pessoas continuavam me ignorando. Com o dinheiro que ganhei, daria para voltar setenta e oito vezes para a minha cidade natal de avião. Cortei o cabelo, barbeei-me, vesti um terno e incrivelmente, voltei a minha cidade natal. Voltei para minha verdadeira casa, onde minha esposa e meus filhos me aguardavam há sete meses. Foi um retorno seco, sem grandes emoções. Minha esposa achou que eu estivesse morto. Porém voltei mais bonito, forte e rico. 1344. Minha esposa continuava quieta, triste, preocupada. Foi quando Gaspar chegou, beijou um dos meus filhos, beijou minha esposa e olhou nos meus olhos locucionando: "Você está morto." No fundo eu estava. Gaspar substituiu meu papel de marido e pai. Perguntei-lhe por que havia me cedido a chance de enriquecer ilegalmente. Ele responde seco. “Queria você de volta aqui, para poder sentir na pela a mesma humilhação que eu passei quando me traíste”. “Eu nunca o traí, recebi uma carta sua em minha casa de papelão no centro da cidade, não o via desde os tempos de faculdade”. “Você é mesmo um louco, Deixou sua família para morar nas ruas”. “Minha família precisava de dinheiro e eu prometi a minha esposa que eu não botaria os pés em casa enquanto eu não pudesse dar uma boa vida a ela e aos nossos filhos”. “Pois ela cedeu ao meu dinheiro, ao meu amor”. “Ela não te ama”. “E ama quem então?, um mendigo que enriqueceu às custas do tráfico?, Tu não sabes nada da vida do crime, rapaz!, Tu não sabes nada! É um falso moralista, crítico de si mesmo; ganhar dinheiro em sinaleiras, sinceramente, onde tu estavas com a cabeça?”. “Gaspar, tu devias ver o ângulo que eu vi, os rostos das pessoas te ignorando, te tratando como lixo”. “Tu és um lixo humano, largaste tua família e me traíste; agora estamos quites”. “Qual foi a traição afinal, Gaspar?, diga-me na cara!, Qual foi a traição?, o fato de eu ter te ajudado a colar na faculdade, e depois ter te denunciado para o ministério público anos mais tarde?, não seja ridículo, seu jornalistinha de merda!, Fui para as ruas para sentir na pele a vida de um intelectual frustrado com nossa condição de cobaias da má fé; todo dinheiro que tens hoje é fruto de minha inteligência, seu arrogante; fui eu quem construiu essa casa, eu que paguei a cama onde hoje tu transas com minha esposa; não ouse mencionar a palavra vingança, ou humilhação; o recalcado aqui és tu; quer saber, tome este dinheiro; não preciso dele; agora saia da minha casa”. “Não me faça rir, seu tolo; como sustentará tua família?, vais para as sinaleiras do sistema humano?, Caíste na sarjeta por ser ético, limpo, moralista; saia você de cima do meu carpete, sinto o cheiro de sua casa de papelão em seu corpo mal lavado”. “Não ouse...” “Escuta aqui, não ouse tu, meu chapa!, Teu lance por aqui acabou; manda-te; antes que eu tenha que usar forças para isso”. “Tudo bem, você ganhou”.

2008

Fui-me embora, voltei para minha casa de papelão. Abandonei de novo família, amigos, vida. Moro na Avenida Baltazar há dezoito anos. Sou um sobrevivente. Hoje retornei à casa que foi tomada de mim. Gaspar sustentou minha família até a data de sua morte. Devia dinheiro para o tráfico, o chefão não deixou barato. Liquidou minha esposa e meus filhos também. Num tempo em que eu não sentia mais amor por ninguém. E o mais interessante: Mesmo dentro de minha caixa de papelão eu conseguia ler. Exemplares doados pelas boas velhinhas. Leio nas sinaleiras. Vivo nas sinaleiras. Estava na hora de voltar para a minha casa, hoje abandonada, onde não tinha Gaspar, nem esposa, nem filhos. Contudo, havia um espelho intacto, minha imagem era igual à mesma de dezoito anos atrás. O mesmo espírito. Chorei. Entedia as razões. Finalmente quebrei o espelho. Renovei-me para morrer.

domingo, 3 de agosto de 2008

Sessenta e oito dias de amor

Eu contei. Às dezenove horas e vinte e dois minutos desse domingo completaremos (completamos) sessenta e oito dias juntos. São sessenta e oito dias de amor, paixão, respeito, admiração, confiança... Por mais que o número a seguir soe subjetivo, afinal, na segunda-feira (amanhã) completaremos sessenta e nove. O famoso ‘meia nove’ pode ser erotizado por muitos, mas amado por poucos. Pois bem. O caso é que durante esses sessenta e oito dias eu respirei ares diferentes. Caminhei com algodões sob meus calçados. Senti tua pele, teu corpo, os batimentos do teu coração. Sei de cor os intervalos que teus pulmões exercem no decorrer da tua aspiração. E agora não falo dos sonhos e objetivos nossos. Que um dia foram meus, que um dia foram teus. Refiro-me à tua matéria-prima, a carne que encobre a tua (nossa) alma. Aqui dentro, meu amor, guardo lembranças que me emocionam. Nossas conversas e encontros à beira do lago, teu sorriso, teu olhar, tuas expressões... Há uma muito característica: É quanto tu ficas sem palavras, geralmente por algum ato ‘enobrecido’ por mim. Guardo com riqueza de detalhes as curvas que teu rosto realizou quando avistou as rosas em minhas mãos. Guardo com riqueza de detalhes o olhar com o qual tu me miraste quando entreguei-te aquele objeto que só daria a uma mulher digna de recebe-lo. Tu te emocionaste, tocasse meu braço, e então tua mão escorregou até meu pulso... Naquele momento eu queria sentir era teus lábios. Covardei-me. Adiei para outras horas noturnas a iniciativa do nosso primeiro beijo. Tudo estava perfeito. Um céu, um lago, uma boa música aos ouvidos e uma mulher maravilhosa a minha frente. Conhecer tua essência, meu amor, foi o presente mais pueril que eu pude ganhar na vida. Durante noites eu me perguntava: De onde eu a conheço? Eu digo até hoje: Nós nos reencontramos. Tu sabes, minha diva, o quão feliz me sinto ao acordar pela manhã e saber que em breve verei a pessoa mais bela que pode me completar. Contigo, me sinto seguro, leve, realizado. Hoje, escrevo-te ao sabor da saudade. Não sinto teu calor há quatro dias. Isso faz com que minha matéria idealizada de humana, grite por dentro, chore, e deseje ainda mais o seu complemento: Tu. Passar sessenta e oito dias ao teu lado me ratificou uma certeza da nossa ‘diferença’ perante aos demais. Te pedi em casamento, a tenho como mulher da minha vida, é justo sentir a falta da eterna amada. É justo chorar por ela deitado na cama, em um quarto escuro para renovar o momento. Olho fotos nossas, releio depoimentos, cartas, textos, tudo é tão lindo e profundo. Te desejo cada vez mais, me apaixono a cada mudança de turno. O teu fogo me ascende, mesmo longe, as chamas da fogueira se tornam veementes, justamente pela maneira com a qual ascendemos, há exatos sessenta e oito dias. Obrigado por me tornar único em tua vida...

Eu te amo com todas as forças de nossos universos questionáveis,

Teu eterno Poeta.

sábado, 2 de agosto de 2008

O pistoleiro das causas nobres


Saltei do ônibus com a esperança de poder alcançá-la. Silvana corria feito louca pelo calçadão central e não sabia exatamente onde queria chegar. Naquele momento, tudo que passava por sua cabeça era fugir do monstro que a perseguia. Neste caso, eu. Não precisei alongar meus passos. Durante sua vida inteira, Silvana agiu como uma perdida. Foi assim com Romeu, seu antigo namorado. Lembro-me de Romeu dando-lhe tapas no rosto. Ela gritava. Ele a agredia cada vez mais. A cada sussurro de Silvana, Romeu rebatia com tapas, socos, chutes e o que alegava ter direito. Silvana, mulher submissa, após sofrer as agressões se deitava nua sobre a cama de lençóis rosa e se escarnecia. No fundo, Silvana quisera ser como uma rosa; cheirosa, cheia de brilho, almejada pelos rapazotes que praticavam o ato do romantismo para conquistar a garota amada. Por um segundo, Silvana quis ser uma mulher amada, idolatrada, com um homem à sua altura. Mas em trinta e sete anos, tudo que ela soube administrar foram relacionamentos superficiais.

Conheci Silvana no colegial, era bela, mas com o passar dos anos tornou-se patética. Um rebotalho ambulante. Andava na penumbra. O único homem por quem se apaixonou fora Romeu. Um comerciante barato de olhos azuis e cabelos loiros. Ele tinha uma loja na galeria do parque, vendia instrumentos musicais. E só. Nunca teve perspectiva de vida. Para Romeu, bastava encontrar sua Julieta. Engano seu acreditar que encontraria em Silvana a sua realização pessoal. Encontrou foi um saco de pancadas. Até hoje não compreendo os motivos reais que levaram Romeu a espancar Silvana. Seria um fetiche? Não importa. Nesse instante eu a vejo escorada em uma parede mal acabada do prédio da biblioteca pública, chorando aos prantos. Detesto mulher submissa. Eu não agüentava presenciar aquelas situações de violência doméstica. E agora ela chora por temor. Será que ela sabe o que irei dizer? E como procederei após minhas sentenças verbais? Muito provável. O sexto sentido nunca falha. Foi através de meus pressentimentos que descobri o dia e a hora exata para se livrar de Romeu.

Hoje. Ao ouvir gritos e socos, pressenti. Portei minha pistola semi-automática e fui de encontro ao barulho que me inquietava há dois anos e meio. Arrombei a porta do apartamento vizinho com facilidade, mirei no crânio de Romeu e disparei sem comiseração. Adeus pandemônio. O último estalo que eu ouviria daquele domicílio seria justamente o do calibre de minha pistola se mesclando com a velocidade de minha bala. Acabou. Finalmente. Silvana balbuciou e correu. Nunca vi nada igual, parecia uma velocista. Calmo, eu fui até o ponto de ônibus com a finalidade de alcançá-la. Pela janela do veículo eu sentia o desespero de Silvana. De certo ela pensava o pior. No entanto, eu não gasto uma só bala com mulheres submissas. O ônibus estacionou defronte a biblioteca pública, caminhei lentamente até Silvana que passou a se ajoelhar no chão úmido, encostando sutilmente sua cabeça na mesma parede que sustentava seu leve corpo. Eu me agacho, ela me fita os olhos, eu a beijo, sinto os seus lábios frios de pavor e a mato com uma jogada de mestre. Um simples aperto com meu polegar direito sobre a garganta de Silvana foi o suficiente para tirar o seu ar que já se dividia com minha saliva.

Voltei para casa mais aliviado. Sentei em minha poltrona, liguei o televisor e sintonizei um canal qualquer de filmes. Sabendo que escorado em uma das paredes do prédio da biblioteca pública havia um corpo com minhas digitais. E que no apartamento ao lado, um outro corpo com uma bala procedente de minha pistola, jaz sobre o assoalho. Restava esperar pela polícia. Com o controle do televisor na mão direita e uma xícara de café na esquerda eu pensava: “Que saudade dos amigos da prisão, já não os vejo há dois anos e meio...”

terça-feira, 29 de julho de 2008

As facetas de meu retorno

Foram doze, eu disse doze. Esse é o número de e-mails que recebi durante minha ausência neste espaço tão pessoal que chamo de coluna. Aqui, há um ano, tive meu primeiro ato virtualmente inteligente: a de publicar tudo que, porventura, eu viria a escrever. Durante esse período minha vida passou por inúmeras situações, minha mente evoluiu do ponto de vista existencialista, e eu descobri uma essência ainda mais reservada de mim mesmo. O Luan que há alguns anos era acometido por desilusões sociais e pessoais, hoje se diz mais seguro de si, de suas visões. Mas ainda me deixo levar por devaneios, afinal sou um eterno pensador, um eterno sonhador...

Meus pais viviam dizendo que eu era algum tipo de “ocultista”. Eu me afastava das pessoas e ficava com meus sabores intelectuais da ocasião. Faço isso até hoje, leio escondido, escrevo na escuridão da madrugada. A idéia de ter alguém observando meu ato de escrever me tira do eixo. “Deixe-me só, senhor humano”. Já fui apelidado de autista, nerd, pseudo-intelectual, “quatro-oio”, bigodinho de carroceiro, o feioso, “o pernas-torta”, frangosul e por aí vai... Cada apelido corresponde a certa época de minha existência. Atualmente, cheguei ao estágio de poeta, porto seguro, muchachito... O que muito me orgulha, o que muito me emociona. Há anos procurava por alguém que eu achava não existir. Então me matriculei em uma cadeira chamada “Redação para TV”. Não esperava encontrar a mulher da minha vida ali, sentada na companhia de um amigo fiel e sincero, que também dispões de laços mais do que afetivos comigo.

Pois eu a conheci, e por ela eu escrevo enfrentando multidões. Por ela eu leio em público, recito poemas, compro rosas, crio crônicas sentimentais ao pé de seu ouvido. Com ela possuo uma segurança que faz de qualquer autista um ser sociável. Porque é ela que eu amo. E nesse instante, é por ela que eu escrevo. Não só por mim. Eu estava precisando amar, ser amado, sonhar mais distante com alguém que sonhe tanto quanto. Embora seja realista.

Então abro minha caixa de e-mails e me deparo com doze mensagens vindas de amigos-leitores. Pensei: é hora de voltar. Não gosto de estipular prazos, prometi que voltaria quando me desse vontade, quando minhas inquietações e meus sentimentos precisassem urgentemente de vozes verbais. Cá estão, alinhados em um alfabeto legível, escrito por um humano não-praticante, mas acima de tudo falível. Sujeito à vida.

Amigos e amigas, durante as últimas semanas me dediquei a escrever cartas para minha eterna amada (amor, tu as receberás em breve), a dar início em um projeto literário que há meses não saía da gaveta, a ler exemplares atrasados, e o principal: a refletir. Por isso achei que o melhor seria “sumir” por uns tempos. Agora basta. Obrigado aos que tiveram a paciência de me esperar, um beijo a todos.


L.I.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Elisabeth

O mundo parecia um tribal venezuelano, só faltava o Chávez dependurando em uma pêndula de ouro recitando poemas psudo-socialistas. A tarde estava escura em Caracas quando decidi fazer algo romântico. Comprei um envelope e algumas rosas. A destinatária? Não sei ao certo. Poderia ser a russa que me espreitava através da porta de uma loja de roupas baratas. Ou então, a espanhola exibicionista fã de Karl Marx. Tinha ainda a americana de seios fartos que era fugitiva da gestão Bush. Todas representantes do sex in cash. Dizem por aí que a Colômbia é o país campeão na América do Sul quando o assunto é prostituição. Mas a Venezuela ganha. Nas avenidas oriundas de Caracas se enxerga a demagogia de um governo de princípios ditatoriais, vê-se a ideologia Chavista plantando cenouras de dólares enferrujados nos crânios dos burgueses capitalistas. O dia estava pouco comum com nuvens sobre minha cabeça e prostíbulos ao meu redor. As rosas enfeitavam minha enorme mão, o envelope vazio, metaforicamente buscava uma alma para preenchê-lo. Caminhei alguns metros até encontrar Angenor, saltitante como grilo. Angenor, carioca da gema, pediu-me alguns dólares trocados. Alertei-o que estávamos em território Chavista. Então Angenor lembrou da época em que a Venezuela fora mais pragmática consigo mesma. Lembrou-se de Noelma, a esposa que o abandonou em plena Copacabana. “Ela me deixou na frente de todos, tinha mulher de fio-dental lá”. Angenor sempre foi apaixonado por mulheres que ausentavam vestimentas. Veio parar em Caracas por acaso, tomou o vôo errado e virou cafetão. Esse é o resumo de sua história. Pedi a ele a mais branquinha de todas, “tem que iluminar minha alma”, disse. Angenor havia me prometido uma inglesa de seios moderados, com ares franceses. Veio à Venezuela com fins acadêmicos, estudar o governo, acabou se prostituindo com a morte de seu pai na Inglaterra e com a falta de dinheiro para sair do país cognitivamente socialista. O nome da garota era Elisabeth. Bem original. Acabei cedendo alguns dólares a Angenor em troca de prazer carnal.

Elizabeth falava um péssimo e arranhado espanhol, o sotaque inglês deixava seus lábios ainda mais carnudos. Pedi a ela que se livrasse dos verbos e fizesse o que tinha que ser feito: Sexo. Nada mais. Entreguei o envelope e ela colocou um anel com o se nome gravado. Jogou o envelope no chão e pediu que eu o levasse depois do ato. Durou pouco. Uma hora e meia. Ergui minhas calças como um velho comunista chavão da década de 50. Juntei o envelope e o coloquei no bolso esquerdo de minha calça. Deixei 300 dólares sobre a cômoda e fui embora.

Cheguei em casa cansado, ainda com as rosas e com o envelope. Eu sabia que dentro havia um anel com o nome de Elizabeth escrito. Quando o abri me deparei com os 300 dólares que eu designara a Elisabeth e um bilhete escrito a punho em um deteriorante espanhol, algo como: “No queiro dinero, quiero solamente amor”. Elisabeth havia se declarado a mim como uma donzela sem dono, ao relento. Submetendo-se à maré social. Liguei imediatamente para Angenor e pedi o contado de Elisabeth. Angenor demorou a explicar que ela não tinha telefone, não tinha casa, não tinha nada. Para Angenor, era apenas uma vagina lucrativa.

Sai para caminhar um pouco e refletir sobre as palavras de Elisabeth que não era uma prostituta qualquer, jovem, da alta classe inglesa... Lembrei-me da época em que eu morei em Londres, antes de voltar para o Brasil, havia conhecido uma garota por quem me apaixonei. Não sabia seu nome, mas lembrava de seus olhos, apimentados e grandes. Sedutores. A garota sumiu de minha vida, foi estudar distante de Londres. Voltei ao Rio com o coração partido, minha primeira dor de amor na adolescência. Anos mais tarde eu me mudaria para Caracas, trabalharia de repórter em um jornal local ganhando um salário equivalente a de um diretor de redação no Brasil. Aqui as coisas são mais fáceis. O Chávez complica um pouco, quer nos calar, mas ele no fundo não consegue. Não chega nem perto do que foi a ditadura militar brasileira. Sei, porque estudei. As vidas nos levam a tantos acasos... Agora quanto a Elisabeth é mesmo intrigante.

Surpreendentemente eu a vi, há duas quadras de meu prédio. Ela estava lívida, e com uma expressão incrivelmente boçal disse-me: I love you... Em perfeito e bom inglês britânico. O sotaque era o mesmo que eu havia escutado anos antes, quando residia em Londres. Descobri seu nome. E ela me descobriu. Não veio para pesquisar sobre o governo e sim sobre mim. De como eu vivia minha vida... Caí direitinho no seu golpe de prostituta... Na surpresa eu me entreguei, subimos ao meu apartamento e fizemos amor, sexo é para os fracos. Eu fora um fraco, queria encontrar nas outras o que não havia saciado em Elizabeth anos atrás. A saciei carnalmente sem saber que era ela, agora deveria me entregar de maneira verdadeira. A história poderia acabar aqui com um final feliz, em meio a ardente Venezuela.

Elizabeth tirou de mim todo o ódio que eu tinha quanto ao amor, e me entregou de bandeja sensações que eu não experimentava há anos. Ela sabia do meu labirinto carnal, do qual eu negligenciava, dizendo pertencer a minha essência de mau caráter. Elizabeth me devolveu a inocência que eu havia perdido diante de situações incisas de meu governo e de minha família. Eu era um fugitivo da vida. Elisabeth levou as rosas, as roupas, todo o meu dinheiro, e alguns objetos culturais que eu mantinha em casa. Acordei sem nada, um tostão. Mas o envelope estava ao lado, com os trezentos dólares, o anel e uma carta escrita em bom português. Angenor assentava: “Estou saindo da Venezuela com seu dinheiro e com sua mulher, que, aliás, sempre foi minha”.

Não era a primeira vez. Reconstruí minha vida da mesma forma, e para mim, o envelope continua vazio. Se alma, sem nada.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O semblante

Caminhando pelas ruas e, depois, rodando de ônibus, cheguei a seguinte conclusão: o inferno é aqui. Sim, aqui, ali, acolá. Pois bem. Esqueça tudo que você aprendeu sobre religião, esqueça aquelas velhas histórias para boi dormir contadas no ensino “infanto-fundamental”, sobre a perspectiva de “um Deus criador”. Eu sei que para você leitor crente, de direita religiosa, é difícil delir esse enredo sobre Cristo, cruz, Espírito Santo, Natal, Páscoa, Adão, Eva... A tal cobra. Mas vejamos o lado humano da coisa: o semblante. Essa idéia de que Jesus voltará é teologicamente utópica. Voltar para quê? Para dizer ao Lula que o Fome Zero é um plano magistral? “Olha Lula, vós tirásseis a fome do próximo”. E então aparece o capeta: “Tirásseis a fome com o que sobrais da roubalheira”. E Jesus objeta: “Lula, vós désseis melhorias ao SUS, criásseis o CSS, salvásseis a vida de muitos irmãos”; e o capeta retruca: “A criação do SUS foi jogada política, atíngi uma classe da população e não resolve nada, e o CSS é mais uma forma de arrecadação de impostos com falso cunho social”. A discussão política-econômica entre Jesus e (C)apeta se estenderia infinitamente, até quando não houvesse mais organismos humanos e o mundo fosse dominado pelas baratas atômicas. Metaforicamente, a vida foi criada assim. Em um bate-barba sem persuasão.

Evoluímos de tal modo que hoje nos deparamos com a nossa própria ignorância fazendo malabarismos em sinaleiras e pedindo um trocado para comprar pó. Meu antigo amigo britânico Charles Darwin fora franco desde o início: “O homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva”. Nossas marcas estão espalhadas por todos os lados. Em ruas, motéis, escolas, boates, universidades, empresas, supermercados, shoppings... A marca física e supostamente racional revela a nossa ascendência. O semblante de nossa esfera social é uma só: o caos. A todo instante sofremos com distrações. Eleições, um novo plano de governo, uma moderna tecnologia, nos prendemos ao que temos ao nosso redor, é o pegável, de fácil manejo. Lemos pilhas de livros, estudamos teorias, e esquecemos de ler nossas almas e estudar a nós mesmos. Aí surge a hipocrisia de uma sociedade sem nível algum para julgar o que é certo, o que é errado. O sujeito que pede justiça, protestando defronte ao prédio onde Isabela Nardoni foi assassinada, é o mesmo que joga lixo no chão, que ultrapassa limite de velocidade, que não cede lugar a um idoso no transporte coletivo, que bate no seu filho para educar. E quer cobrar justiça para quê? Se for fazer parte do sistema, que ao menos seja coerente.

Tenho abusado muito de mim nos últimos dias, tenho refletido sobre meu papel incandescente na sociedade. Percebi que somos todos formiguinhas. Os dias tornam-se rotina, o fim de semana uma salvação, o salário uma glória divina mensal, e os gastos uma distração consumista neoliberal. Compramos carros, roupas, bebidas, objetos tecnológicos para quê? Estamos em um mar vermelho de ideologias. Cada cidadão tem a sua. E todos têm a razão. Esse é o problema, não há Deus para o saber popular, ou há até mais de um. O enigma do mundo somos nós humanos. O dia que aprendermos a olhar para o nosso próprio umbigo e agregar algo que nos faça realmente pensar... Já será tarde.

Ah... Esquecer-me-ia de outro fator relevante: o sexo. O apetite sexual pode acabar com uma família, por exemplo. Principalmente se o ‘convívio’ for desestruturado, o que é demasiadamente comum em nosso inferno atual. O sexo é o culpado de tudo. Da traição, da reprodução em massa, da vontade de viver... O sexo foge do campo prazeroso para dar margem ao erotismo exacerbado. Dia desses vi garotas orgulhosas de 12 ou 13 anos desfilando seus seios e bundas pela cidade. Estavam atraindo os machos, aqueles que não fazem uso do cérebro, senão para ativar a testosterona. Esse comportamento prega, mais uma vez, o semblante de nossa coletividade nas costas do papa: “Hey, velho católico, sou uma prostituta, me perdoa?”, “Não, minha filha, isso é muito corriqueiro, Papa só perdoa verdadeiros pecadores”. É... Darwin... É a evolução. Meu radicalismo me enjoa. Preciso tirar férias desse planeta.

PS: Férias com Mi Colibri.

sábado, 5 de julho de 2008

Para o momento...



Quantas coisas eu ainda vou provar?


E quantas vezes para porta eu vou olhar?


Quantos carros nessas ruas vão passar?


Enquanto ela não chegar...


Quantos dias eu ainda vou esperar?


E quantas estrelas eu vou tentar contar?


E quantas luzes na cidade vão se apagar?


Enquanto ela não chegar...



(Roberto Frejat.)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Carta à namorada imaginária

O retorno:

Ok, podem soltar fogos de artifícios, gritar bem alto “Aleluia!”, pois o Luan voltou. Sempre digo em meus retornos aperiódicos que volto para ficar. Tenho que parar de mentir. Volto quando sinto a necessidade voltar. Saio quando sinto a necessidade de sair e dar um tempo para as escritas online. Todos nós passamos por momentos da falta de introspecção virtual. Sentia-me atordoado por acumular atividades acadêmicas junto aos meus pensamentos totalmente fora dos contextos de aula, ou de trabalho alheio. A verdade meus caros amigos, é que tenho passado semanas maravilhosas ao lado de pessoas (leia-se PESSOA) – no singular – inigualáveis(el). Durante toda a minha vida construí ideologias, reflexionei-me em meus apotegmas até que em uma bela noite, um simples ato, fez meu mundo girar incontavelmente 360° graus. Meu mundo tornou-se mais colorido, alegre, radiante, afável, inesquecível. De lá para cá, fiz-me outro. Ou seria eu o mesmo? As respostas para as minhas indagações sejam elas filosóficas ou não, vocês, leitores, poderão conferir a partir de hoje, 23 de junho de 2008. Dia, no qual, os jornais sempre procuram noticiar algo de relevante. Aliás, as manchetes de segunda-feira me amofinam. Veja o meu caso, acordo lerdamente mofino, abro a janela e deixo o sol entrar dando luz à escuridão pretérita. Ligo o rádio, desligo o rádio, ligo a tevê, desligo a tevê, tomo meu café, como torradas, lavo a louça, vou ao banheiro, enfim... Preciso continuar? Mas quando chego aos jornais eu já estou abstêmico. Aquelas doses de notícias mal redigidas por vezes prejudicam meu cérebro pela manhã. Todavia, como todo bom sadomazoquista do dia-dia eu os leio. Leio três jornais pela manhã. Agora não venha me dizer que estarei bem informado lendo essa quantidade de escritos fajutamente noticiosos, isso debateremos (debatemos ou debatíamos) nas aulas de teoria e ética jornalística.

Para começar com chave de ouro, publicarei aqui uma carta que escrevi há mais de oito meses. São palavras que surgem inesperadamente em meio à madrugada. Palavras que precisam ser expressadas, porém, nem sempre publicadas. A “carta à namorada imaginária” foi um reflexo de algumas das minhas muitas noites mal dormidas. Reflexo da briga do meu eu lírico com o meu eu próprio. Quando isso acontece, paro tudo que eu estiver fazendo e me dedico exclusivamente aos meus sentimentos. Assim, acredito ser mais fiel para com a minha alma.

Carta à namorada imaginária
“Não consigo dormir e talvez eu saiba o porquê. Talvez eu tente lhe contar o que eu sempre quis que você soubesse. Lembra daquelas suas sílabas tônicas com as quais designava a mim? São meras perdições. Acredito que sejam perdições por você não existir. Por você não co-existir ao meu lado. Neste exato momento estou sentado em minha cama escrevendo para alguém que eu não conheço e nunca conheci. Perdi-me entre meus pensamentos rebuscados e lutei frivolamente para que eles fizessem algum sentido. Agora são 1h e 5 min da madrugada. Escrevo sem saber o meu real motivo. Há várias noites que passo acordado tentando decifrar meus sentidos atônitos. Minha linha de raciocínio segue sempre a mesma composição. Deste modo, até posso estar sendo sincero comigo mesmo, no entanto, sou acometido por desilusões surreais. Faço parte de uma tribo, talvez de uma seita. Isso mesmo, uma seita. E nem preciso de crenças para incentivar o que tenho de mais obscuro. Escrevo-lhe com os nervos a flor da pele, com as emoções irradiáveis, com meu corpo trêmulo só para enxergar-lhe. Seja em sonhos, seja em vida, seja em destilações procedentes de um desejo amargo. A minha ira já se diz dócil e meu amor pelas conquistas reais virou ambíguo. Sigo tendências ultrapassadas para provar-lhe do que eu sou capaz. Pois sou capaz de amar sem ao menos tê-la em minha vida. É até tem sido prazeroso assim, imaginado de como você pode ser perfeita para mim. Mas apenas imaginando. Sem obturações concretas. Minha sede é saciada por você ser minha criação. Eu não quero ser Deus. Longe disso, muito longe disso. Eu, francamente, só queria que você existisse. Por mais prazerosa que pareça ser minha situação atual, até na minha própria imaginação você me machuca. É justamente por isso que você se torna perfeita. Dentro de minha teoria, eu sou apenas você.”

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Almas siamesas

Naquele dia e, posteriormente, naquela noite, onde o mundo inteiro ao nosso redor transformara-se em acaso... Naquele instante terreno, dócil, sutil, audacioso, auspicioso e hostil, fomos felizes. Somos felizes. Encostar minha cabeça ao teu peito me consome palavras. Sinto tua respiração levantar o tronco de meu corpo e depois desce-lo suavemente... É óbvio que esses movimentos impulsivos vivem a se repetir, na medida em que eu vivo a te sentir. Aliás, assim é minha existência agora. Co-existir ao teu olhar... Ao teu cheiro... Ao teu empirismo carnal. Como te admiro. Como te idolatro. És minha diva, minha amante, minha ouvinte para todas as horas... És minha mulher. Amo da forma como és. A única mutalidade na qual aceito e me torno acessível é da demasia infinita do nosso amor, de nossa paixão. Pois bem, que aumente cada vez mais. Que se exploda em gritos, em sussurros, em beijos molhados, em bel-prazeres...
Ah, minha pérola... Lembrei das batidas de teu coração... Eu poderia contá-las... Um, dois; três, quatro; cinco, seis; sete, oito... Estar ao teu lado é como estar flutuando incessantemente em nuvens de algodão doce... É como cantar no infinito celestial sem nunca desafinar uma só nota... É como correr sem cansar... Beber água e não sentir sede por saber que nossos momentos saciam todos os sentidos sumariamente humanos. Mas não saciam nossos desejos cotidianos dos quais nossas almas são quem carecem da presença física... Que ironia... Almas... Seriam as nossas siamesas? Uma pertence à outra. A outra pertence a uma. Juntas são completas. Separadas, causam a sensação de conforto espiritual, mas no fundo haveria uma busca por idealismo romanticamente inteligente, humorado, divertido, incomum e desvirtualizado. Alguém que te dê valor, confiança, fidelidade, amor maduro e verdadeiro. Sem as omnipotências atuais. Há momentos que tenho medo poder. O quão fortes e imortais somos? Não importa... No segundo em que finalizo esse texto, só penso em tê-la. Neste presente, por exemplo, trocarei de roupa, me prepararei para dormir após a nossa leitura compartilhada e talvez escute uma ou outra música. Eu poderia (e quero) morde-la, aperta-la, amá-la. Onde tu estás? Há na minha cama um lugar vago que só tu podes ocupar. Só tu podes ficar ao meu calor. Sem ti, prefiro voltar à solidão, ao celibato. Todavia, muito me satisfaz nossa existência colorida. Deixemos nosso preto-e-branco no passado. Pare. Venhas até mim e me tenhas... Faça o que quiseres, o que almejares... Só não me abandone... Não esqueça de que as Almas siamesas nascem juntas... Só as separam quem desconhece a raridade que isto é. Ora, desfrutemos, então. Porque depois, só nos restará a morte.

domingo, 1 de junho de 2008

Há uma explicação

Amigos-colegas-leitores, no momento enfrento problemas de conexão para o mundo virtual, mas nunca, nunca estou com ausência de texto. O máximo que pode me ocorrer são férias de publicação, jamais de criação. Quem me conhece sabe que minha mente está em constante movimento intelectual. Esses dias mesmo eu elaborei uma teoria do efeito borboleta, com aspirações científico-humanas. Detalhe: elaborei dentro do ônibus que ia para a faculdade. Adoro os ônibus. Eles são lotados, diálogos adversos, pensamentos curiosos nos cerca dentre os bancos que os seres julgados racionais ocupam para se locomover. Por tanto, meus caros, peço desculpas a ausência temporal que tenho causado nos blogs de vocês. Em breve todos saberão de minhas (novas) teorias.

Obrigado também a todos que visitaram e se viciaram no blog de minha eterna companheira Raquel Piegas. Notei que muito dos meus leitores passaram a ler o “Pimenta da boa”. Se deliciem, essa mulher é fantástica. O link está na minha lista de “Recomendo”.

Um abraço sincero,

L.I

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Palavras

"Estou tão feliz que dá vontade de chorar".
Fiquei pensando nisso.
Ponderei, como sempre faço...
Palavras, palavras... Onde as estão quando eu as mais preciso?
Todas elas se transformaram em sentimento.
É a única explicação que aceito.
Por saber que és a verdadeira.
Minhas palavras estão em teu pensamento, em teus sonhos, em tua alma...
Minhas palavras estão nos teus olhos...
Nos teus lábios, no teu sorriso, na curva formosial do teu rosto....
Minhas palavras estão em ti por inteira. São verbos, adjetivos, conjunções, preposições, substantivos...
Representam momentos irrepresentáveis...
Minhas palavras estão no teu intelecto, no teu tato, na tua pele, no teu cheiro...
Quem sabe nos teus arrepios?
Nos pêlos que tanto adoro...

Sei de tudo isso por que recebo tuas palavras em todos os membros do meu corpo...
Recebo-as da forma mais natural possível... Daí o vício estonteante...

Veja só você, finalmente descobrimos o rumo de nossas palavras.
Jamais podemos dizer que elas nos faltam...
Simplesmente porque as deixamos no nosso último beijo que continha vogais e consoantes escrevendo....

... Deixemos para o próximo beijo.
Quero mais palavras para que possamos escrever uma frase, depois um texto, um livro.
Por que não, uma biblioteca infinita...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Terra de Gigantes

Nem em cem anos eu esquecerei desta canção. Não irei contar as razões. Eu as sinto.

Hey mãe!
Eu tenho uma guitarra elétrica
Durante muito tempo isso foi tudo
Que eu queria ter

Mas, hey mãe!
Alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer

Hey mãe!
Tem uns amigos tocando comigo
Eles são legais, além do mais,
Não querem nem saber
Mas agora, lá fora
Todo mundo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas
De qualquer lugar...

Nessa terra de gigantes
Vocês ja ouviram tudo isso antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

As revistas, as revoltas, as conquistas
Da juventude são heranças
São motivos pras mudanças de atitude
Os discos, as danças, os riscos
Da juventude
A cara limpa, a roupa suja
Esperando que o tempo mude

Nessa terra de gigantes
Tudo isso já foi dito antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

Hey mãe!
Eu já não esquento a cabeça
Durante muito tempoIsso era só o que eu podia fazer
Mas, hey hey mãe!
Por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente
Não conseque entender

Por isso, mãe
Só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto
Antes de anoitecer
Pois agora lá fora,
Todo mundo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas...

Nessa terra de gigantes
Que trocam vidas por diamantes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

E nessa terra de gigantes
Eu sei já ouvimos, tudo isso antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerante
Hey mãe... Hey mãe...

domingo, 25 de maio de 2008

As estrelas

Tomando um leite quente à 1h e 40 min da manhã eu me decidi: vou ver as estrelas. Sim, as verei. Porque passamos mais da metade de nossa existência observando pessoas que talvez não nos dêem prazer. Por inúmeros fatores. O pior é conviver com elas e fingir que somos felizes, principalmente pela materialidade. Mas e quanto às estrelas? O que dizer delas? São astros... Nós aqui embaixo somos formigas para estes protagonistas. Porque a raça humana é assim: um formigueiro. Ora, eu sou uma formiga rebelde. Por que não posso sonhar com espaço? Ou tudo que condiz é o que podemos crer materialmente? Eu não posso tocar o céu, mas sei que ele existe. Não posso tocar o amor, mas sei que o sinto. Por fim: Não posso viver sem uma resposta, mas sei que respiro com dúvidas. Provavelmente morrerei com dúvidas. Então, quando eu ser enterrado, meus parentes e amigos chorarem, tudo terá acabado para mim? O amor que depositei a pessoas importantes terá se dissipado na terra como um grão enferrujado pelo tempo? A vida se resume no que?

Quando Marx veio com a teoria do trabalho e produtividade ele estava justificando sua existência? Meus amigos, procuro por filosofia.... Filosofaremos em frente à hipocrisia. Olharemos para o céu e nos perguntaremos: O que há depois dele? O que há? Se podemos crer em um Deus que não explica sua força (plausivelmente), logo, poderemos acreditar em nossos sonhos, não? Seria isso um poder mental? Gosto de sonhar, sonhar e sonhar... Talvez não realize tudo que penso, porque nem tudo que penso é realizável. Mas o fato de estar imaginando já me proporciona certo gozo. “Luan, então está me dizendo que somos todos auto-suficientes?”. Estou. E digo mais: Nós não precisamos ficar com alguém só porque nosso vizinho está com alguém, ou porque nosso amigo é gostoso e rico, e transa com dez mulheres por semana. Pense. E quanto às estrelas?

Nós precisamos encontrar o caminho da alma. Aí sim vale a pena ter uma pessoa; se esta, lhe proporciona um bem estar; se esta, lhe deixa o homem (a mulher) mais feliz da galáxia. Aí sim, meus caros, vale muito a pena... Agora, cair no modismo humano, fazer porque os outros fazem e não questionar esse comportamento é uma verdadeira regressão. Nossa mente é tão rica de poder intelectual, por que ainda somos tão ignorantes? Por que temos acesso às regras? Ou ainda: Para que elas servem? Eu respondo: Para uma disciplinaridade. Por conseguinte, a disciplina é uma regra social. Mas de onde surgiu a sociedade? Ora, de nós mesmos. Somos frutos e dejetos de nós mesmos. Está muito complexo para você? Simplificarei: Somos o nada. Ajudou? Claro que não. O que é o nada? Para os Persas o nada regia (e rege) o tempo. Deve ser por isso que existam calendários variados.

Você já parou para refletir no ano em que estamos? Por que 2008? O que vem a ser o Natal e a Páscoa para uma sociedade dita neoliberal? A todo o momento somos distraídos por nós mesmos. Somos nossa própria cobaia. Estamos enfrentando provas diárias ao sair para trabalhar e ver o que fazemos não sai do campo do que construímos. Volto a indagar: E quanto às estrelas?

Somos movidos a sentimentos, e o fato de sermos movidos a emoções, temperamentos e questionamentos, nos torna uma espécie e até mesmo um organismo magnífico. Pena que no fundo não sejamos fados, e sim mecanismos habitualmente falíveis. Necessito de mais leites quentes. Na verdade, aceito tomar café com um colibri, é quem pode me levar para mais perto das estrelas e de meus sonhos. Topas?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O mundo em vermelho, preto, roxo e rosa surgiu...

...quando aquele carapanã picou meu antebraço esquerdo e sugou meu sangue. Eu não me importei. Naquele mesmo instante, luzes piscavam no céu. Poderiam ser estrelas, aviões... Era pertinente? Decifrar o real? A minha frente eu te encontrava, te tocava, sentia o timbre da tua voz... Respirava o mesmo ar. Experimentava as mesmas palpitações. Nada me importava, senão o momento. Há tempos que eu estava precisando de belas doses como essas. De sentimentos puros, sinceros... naturais. Como o raiar do dia, o brilho do luar, o vento condensante que balança os galhos das árvores cujas folhas caem em nossas cabeças... É isso. Eu e tu. Com o cheiro da noite. Com o perfume do infinito de nossos pensamentos, diálogos e emoções. Com um porto seguro, com uma pérola. Sem segredos, sem fórmulas, sem rótulos. Sem o mundo. Apenas o inesquecível. O bastante para perceber que tudo o que descrevi não era um sonho. Você existe, sempre existiu. E agora me faz sorrir. Valeu a pena esperar.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Lucielem Mccartney

Então foi assim, sorri em frente a janela até você aparecer. Conquistei minhas esperanças perdidas, rezei pelo dia nublado e preparei o jantar a luz de velas. Talvez você tenha notado minha perspicácia platônica. Assim como as faces duras de um sabonete percebem a sujeira de espírito. Notei minha imundice ao caminhar ao teu lado, ao luar da madrugada. Um fenômeno quase que comum nos casais românticos e modernos. A diferença é que eu leio Borges e você Bioy Casares. Diferença? Ah sim, esqueci por um instante que a igualdade de conceitos e culturas no mundo hipócrita faz-se um status. A todo momento temos que ser idênticos, senão melhores. Foi pensando nisso que liguei para você, pedi para buscar-me às nove e depois gosaríamos. Mas separadamente. Você numa cama, eu noutra. Você com outra parceira, eu com outro parceiro. Ou vice-versa. Também podemos variar as opções sexuais. Podemos, até, ser racionais. Tudo é possível. Trajei o vestido mais lindo a sua espera, lembrei-me das palavras de minha mãe. Não sei o porquê, mas recordei do dia em que ela me disse que sou uma mulher de verdade. Eu havia sentido o sangue escorrer por entre minhas pernas, e aquilo me fez mulher. Isso é universal? Ser mulher é menstruar? Ficar às vezes inchada, dolorida, com humor teoricamente variável, sensível (somente naquele momento). Ser mulher é ter sintomas? Quem foi o maníaco machista que sentenciou isso? A última vez que saímos juntos você fez questão de provar que é capaz de reproduzir, e eu apazigüei-me. Ri. Homens... sexo... mulheres... livros. Ou então: Homens, mulheres, livros e sexo. Ou ainda: Livros e sexo, homens e mulheres. Qual é a ligação? Ponderai-me senhor. Ponderai-me. As raízes menstruais nesse momento me atordoa ao passo que me satisfaz. Ó senhor, perdoai-me pela tragédia, pelo encanto, pela mentira. Perdoai-me por gostar de ler, por ser sensível e transar recitando poemas e não gemer. Sou um animal fêmea, senhor. Sou como um pássaro, um beija-flor, uma borboleta sem asas, esperando incontavelmente pelo o que é certo, pelo o que é errado. A dúvida pertence sim aos sábios. Punir-me, senhor. A mim e a todos os outros que falam o que pensam, que comem o que desejam, que fazem o que omitem. Meu nome, senhor, é Lucielem Mccartney. E prometo ser mais solitária do que pareço ser. Só não me confunda com minha irmã, Elisabeth Mccartney, foi ela quem roubou meu coração ao levar o homem que eu esperava para jantar. Pensando bem... Foi melhor mesmo. Não preciso desse tipo de coração para viver, tampouco para amar.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Paulão e a polícia

Estava passeando virtualmente até encontrar um vídeo intitulado de "Polícia em Ação". O vídeo, na verdade, representa uma parte de um programa de televisão vinculado na no Canal 20 da NET de Porto Alegre, cujo apresentador, o Paulão, é o repórter policial.

http://www.youtube.com/watch?v=_LB6rck8984

Por favor, diga-me que isso não é jornalismo.

Leia os comentários abaixo do vídeo. Essa é a nossa sociedade.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Blônicas 2 - A vez dos leitores


Em abril do ano passado, Nelson Botter, psicanalista, escritor, diretor, produtor de animações e também coordenador do http://www.blonicas.zip.net/ me convidou para integrar a equipe dos 50 autores que teriam suas crônicas publicadas em livro. Pois bem. Sou leitor do Blôncias há mais de dois anos. O blog é recheado de crônicas e contos diariamente publicados por Xico Sá, Tati Bernardi, Léo Jaime, Rosana Hermann, Antônio Prata, o depressivo Henrique Szklo, entre outros. O Blônicas em livro já havia ido às bancas e livrarias com as melhores crônicas apregoadas por seus escritores no blog. O segundo projeto se baseia somente nos leitores. Sendo assim, os 50 melhores textos foram selecionados.
Mais de um ano depois, pós-contratos assinados, pós-contas pagas e noites mal dormidas, parece que estamos na etapa final de produção. Minha participação se resume a uma crônica onde falo dos sentimentos de meu último relacionamento. Foi uma escrita momentânea, o que não deixa de ser verdadeira. Foram outros tempos, é verdade. Entretanto, registro estará no livro.

Avisarei a todos de quando os exemplares chegarem às livrarias. Também terei direito a 20 destes exemplares para meu uso comercial. Mas já digo, em contrapartida, que não venderei nenhum. Doarei para pessoas que considero importantes para mim, e que realmente lerão o livro.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Celinha

Será que tranquei as portas? Isso não é pertinente. Não agora que vou dormir. Homens de meia idade como eu precisam de uma boa noite de sono, somos propícios a enfermidades de tudo quanto a grau. Ainda mais para mim, que nunca me cuidei quando o assunto era alimentação balanceada, exercício físico... Celinha vivia dizendo para eu correr 30 minutos por dia. Ah... E como eu gostava daquela mulher. Celinha fazia o tipo da esposa perfeita para época. Imagine só, 1975, período ditatorial, pós-milagre econômico, o país era comandado pelo general Ernesto Geisel, e Celinha no auge de seus 23 anos. Era linda como poucas. Radiante, seus cabelos encaracolados e negros combinavam com sua pele morena que emergia sobre o corpo mais belo de todas as mulheres que eu havia conhecido. As curvas de Celinha me causam arrepios até hoje. Por que Deus fora tão cruel comigo? Era ma castidade não poder experimentá-la, não poder tocá-la carnalmente.

Celinha no máximo foi minha colega de turma na faculdade. Vale lembrar que em 1975 instituia-se no Brasil a popularização do ensino superior. Nos anos 70, faculdade era coisa séria, não é essa brincadeira educacional do século XXI. E Celinha sabia disso, dava valor aos estudos e discutia em sala de aula os malefícios do regime militar - o que para o momento era demasiado audacioso. Falar mal do governo militar era como assinar sua sentença de exílio. Nos casos mais bárbaros, de morte.


O que me atraia em Celinha, fora o exuberante corpo, era sua coragem, seu modo independente de ser. É uma lastima ter que dizer isso, mas em 75 a maioria dos estudantes universitários eram homens. Celinha representava uma minoria. Sofria a todo instante preconceito e era taxada de militante da esquerda, por possuir em sua essência uma voz ativa e autônoma, pouco comum para as mulheres do século passado.


Houve uma vez em que eu toquei nos seios fartos de Celinha. Havíamos combinado uma reunião de estudos com outros colegas na casa do Luís, um antigo amigo e colega. Celinha sentou-se ao meu lado, mais precisamente à minha esquerda. A nossa frente havia uma mesa redonda recheada de cadernos e livros. No outro lado dessa mesa estava o Luís, uma colega bigoduda que usava óculos e um Ripe que entrara na faculdade para provar aos pais que era versátil. A caneta que Celinha segurava na mão esquerda caiu no chão. Quanta ironia do destino: a caneta havia caído por debaixo de minhas pernas. Em função da moldura interna da mesa, eu não podia me agachar para juntar a tal caneta. Celinha, então, curvou-se de maneira extraordinária em minha direção, fazendo com que seus seios tocassem minha mão direita que repousava estrategicamente sobre meu joelho. Lembro de como se fosse ontem, apalpei com vontade o seio de Celinha, agarrei com toda a força de meu desejo. Celinha soltou um suspiro de leve, fechou os olhos, juntou sua caneta, abriu os olhos e sorriu para mim. Me apaixonei na hora. Eu estava a amando por ter tocado em seus seios. Que loucura a minha. Na semana seguinte, todo esperançoso, achando que conseguiria algo concreto com Celinha, eu a flagrei aos beijos com Antônio Miranda, filho de um banqueiro corrupto. Do amor passei ao ódio. De mulher afável, para mim, ela passou a ser uma vagabunda. É engraçado eu lembrar de tudo isso com riqueza de detalhes.


Mas agora eu realmente preciso dormir. E as portas? Será que eu as tranquei? Tenho que verificá-las, principalmente a porta que dá acesso ao porão. Lá está o frízer onde guardo há décadas o corpo esquartejado de Célia Fernandes Duarte, a minha eterna Celinha.


Momento ego: este conto foi publicado no site http://www.portal3.com.br/

terça-feira, 6 de maio de 2008

Comunicado

Caros amigos-colegas-leitores, como diria meu professor: por razões pessoais imperiosas me ausentarei durante os próximos seis dias. Vou entrar em retiro espiritual, creio. Volto na próxima terça-feira,13, para dar continuidade a este blog que há mais de um ano conta com comentários de pessoas que além de amigos, são tão seres humanos quanto eu. Por isso, espero a compreensão de todos. Aos novos leitores, que sejam bem vindos e continuem acessando a Coluna do Luan. Aos poucos, nossas relações vão passando da virtualidade, já que lidamos com palavras e sentimentos. Isso é muito mais que virtual, é muito mais que real. Obrigado e até breve.

domingo, 4 de maio de 2008

À busca

Não sou de ferro, tampouco de aço. Não pertenço a ninguém, a nenhuma fórmula euclástica. Haverá outros tempos em que as praças serão mais abertas ao publico infantil e o tiroteio aos corações femininos trancederá uma remanescente esperança de viver. Até lá, continuarei escrevendo, mesmo sem saber o porquê. Tenho medo de respostas. Tenho medo do que penso ou crio. Tenho medo do mundo. As épocas são como as folhas esverdeadas de emoções, vão caindo lentamente de seus galhos aflitos, corajosos e inescrupulosos. É uma mistura, um relato, ora conceitual, ora imaginário. Preciso urgentemente de mais palavras e menos sangue.

Cansei

Amigos, cansei. Cansei de mentir para mim mesmo, cansei de especular metas e não atingi-las, cansei de tentar provar para outrem minhas reais intenções. A partir da publicação desse texto serei outra pessoa. Estou decidido. Vou deixar a preguiça e a hipocrisia de lado e serei mais conciso, menos incoerente. Cansei de estar no mesmo lugar. Vou começar a realizar todas as minhas loucuras. Vou correr às cinco da manhã – e daí que é muito cedo? Não terei mais recaídas quanto ao meu vegetarianismio, ouvirei Bob Dylan e direi em voz alta: Caramba! Esse cara é chapado! – sim, serei mais incisivo, contundente, deixarei à vista minhas opiniões. (Aliás, discordem, por favor, rebatem minhas afirmações! Gosto de discussões argumentadas, debates politeístas que sejam, não importa, vamos controverter.) Também irei pular de pára-quedas, saltar de bang-jump e me matricular na escola de pilotagem Salgado Filho. Terei meu próprio monomotor, serei mais livre. Vou escrever pilhas de livros, ou não. Mas lerei mais do que escrevo, escutarei mais discos antigos do meu pai do que escuto, e falarei dos meus gostos sem escondê-los. Um exemplo: gosto do Faustão. Pronto, falei. Gosto mesmo. A maioria das pessoas acham ele um pé-no-saco, de fato ele é, mas ao menos é autêntico. Já perceberam que todos os seres autênticos são imitados? Podem ser chatos, mas marcam. Olha o Silvio Santos, o Galvão Bueno, o Paulo Brito, todos são alvos. Eles podem até ter copiado uma coisa ou outra, porém, encontraram em suas cópias sua identidade. E insuportáveis ou não, nós os lembramos. Acho o Faustão um gordo simpático. E ele não é tão burro quanto parece, o Faustão tem seus momentos de glória.

Também assumirei meus gostos musicais: adoro ouvir Cúmbia! Qual é o problema? Eu escuto metal, jazz, rock melódico, blues, escuto mesmo. O bom da vida é ter essa aptidão musical, não se restringir a um estilo e assumir papel de homofônico cultural. Eu escuto MPB! Escuto baladas italianas, pop dos anos 70... Gosto de ir ao teatro e amo Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, família Coppola, sou um friccionado pelo cinema clássico e assisto os alternativos. Mas voltando à música: alguém aí já ouviu Blue Mountain? Eu adoro Blue Mountain. O único CD que eu tinha deles eu dei para minha ex-namorada como prova de amor. Que ridículo isso! Se fosse hoje, com minha atual posição referente ao amor, eu não daria nenhum disco, nenhum livro e nenhum filme que guardo em meus arquivos. Cansei desse mel amoroso. Acho que devemos ser românticos sim, mas respeitando o espaço alheio. Hoje em dia os relacionamentos estão muito superficiais. Dou-te dinheiro e tu me dás sexo, que tal? Também cansei das mulheres gostosas. Alguém pode me explicar o que está acontecendo com os cérebros? Vou procurar me envolver com mulheres de conteúdo, não importa se elas não têm peito ou uma bunda grande, gosto de mulheres inteligentes e charmosas. Para ser charmosa ou até sensual não precisa ter um corpo voluptuoso, a mente feminina pode tornar a própria mulher voluptuosa. Basta saber do que se está falando, ter alguma preferência de vida e ser livre para conquistar seus objetivos.

Essas gostosas de hoje em dia me torram a paciência. E o mundo está cheio delas. Não falam e não fazem nada que não seja relacionado ao namorado. As gostosas que não tem namorado se catalogam com o primeiro chipanzé de boa trela e com dinheiro no bolso que aparece. Aí elas são usadas e depois dizem o velho clichê: homem é tudo igual. Os que não são iguais estão cansados dessa mediocridade. O ponto de partida é saber o que se quer, definir algo e não sair beijando qualquer um que tenha uma camisa de marca. Às vezes ando desarrumado, barbudo e descabelado, não é nada assustador. Acontece que cobiço conhecer as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas vestem ou têm. É difícil de entender isso? Já cansei de receber olhares do tipo: “olha o tênis dele” ou “Que camiseta mais brega”. Só porque meu tênis estava sujo e minha camiseta era da Renner. E eu? Onde entro nessa história? Ah... “O status social”. Que se exploda. Vou nadar pelado na piscina aqui de casa, vou entrar no shopping descalço com minha amiga e pedir pão francês amanteigado. (Como ela mesma propôs). Vou ser mais livre do que imagino ser. É claro que o conforto é bem vindo, agora quando começa a corroer o espírito do ser humano, sugiro que dê um passo atrás e diga para si mesmo: “Hei, um dia eu andei de ônibus”.

Cansei dessa nossa fase comportamental. Falei das gostosas de forma genérica, vale lembrar que existem gostosas inteligentes, só que o processo é inverso: elas primeiro são de conteúdo, depois se rendem às formas do corpo. Fazem plásticas, entram em regime 27 vezes por ano. Pô, que graça tem não poder comer uma torta de bolacha? Nada contra esse tipo de mulher, mas prefiro as naturais de mentes evoluídas. Gosto de mulher que me mande calar a boca: “Isso é uma besteira”. E provam porque eu falei besteira. Gosto daquelas que corrijam meus erros de ortografia. Gosto das espontâneas – o que também está em falta. Por fim, me apaixono por aquelas que assumem o que são, sem medo do que os outros pensam. Tenho volição por mulheres independentes, àquelas que são solteironas por opção. Cansei das comuns.

Cansei de tudo. Vou comprar uma Combe e ligar “Hey Jude” a todo o volume. Cansei dos nossos anarquistas modernos. Por que não posso ser eu? Vou começar a falar o que sinto. Tenho que ser mais sincero com as pessoas que me relaciono. Ainda estou me descobrindo e preciso de espasmos. Entretanto, antes de tudo, preciso de mim mesmo. É por isso que eu idolatro os domingos.

sábado, 3 de maio de 2008

Uns Dias

O expresso do oriente, rasga a noite, passa rente.... E leva tanta gente, que eu até perdi a conta. Eu nem te contei uma novidade quente... Eu nem te contei... Eu tive fora uns dias, numa onda diferente. E provei tantas frutas que te deixariam tonta. Eu nem te falei da vertigem que se sente, eu nem te falei... Que eu te procurei pra me confessar... Eu chorava de amor e não porque sofria. Mas você chegou, já era dia e não estava sozinha. Eu tive fora uns dias, eu te odiei uns dias, eu quis te matar...

Hebert Viana.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sexta-feira com Lavoisier

Tenho pavor da sexta-feira. Sei que a qualquer momento o telefone de casa pode tocar, meu celular pode vibrar e alguma alma pensante pode me convidar para sair. O que eu faço? Digo que sou autista? Não, não posso mentir. A minha realidade é outra, amigos. É outra. Tento incontavelmente demonstrar isso para as pessoas que amo. Tento dizer até para aqueles de quem não gosto: minha vida é outra. Não sou como os garanhões da novela das oito, tampouco um baladeiro pós-adolescente. Amigos, pertenço a outros caminhos. Não gosto de ter que compartilhar meus problemas, mas às vezes é necessário. Assim como a solidão é necessária. Falei sobre a rotina de um organismo solitário no post de terça-feira e poucos leitores absorveram o que eu realmente quis dizer. Assim somos nós, alguns nos compreendem, outros não. Alguns nos pré-julgam, outros não. Alguns nos odeiam, outros não. Não quero me colocar como um extraterrestre, mas eu não integro a classe da grande maioria do público jovem. Contudo, também não me sinto como um quarentão. Eu sou apenas o Luan. Tenho meu passado e vivo meu presente que erroneamente projeta um futuro afobante. Esse sou eu. O Luan é aquele cara que não sai para qualquer lugar, ou sai, se a companhia for boa. O Luan valoriza uma amizade, principalmente as femininas. O Luan tem poucos e bons amigos (masculinos). E isso não faz do Luan um bissexual, ou um gay. E se fosse, qual seria o problema? Porém, o Luan é hetero. E talvez um dos heteros mais flexíveis desse planeta. O Luan dificilmente tem algum preconceito, ao contrário da sociedade em que vive.

Há momentos em que preciso deitar minha cabeça no travesseiro e chorar, eu tenho que chorar, fazer com que minhas lágrimas mostrem sentimentos a mim mesmo. Choro no escuro, no quarto, na sala, no banheiro, o ser humano deve carpir-se. Precisamos botar para fora nossas tristezas, angústias e até felicidades. Já viu alguém chorar por que está feliz? Pois bem, eu choro. Minha companhia mais concreta que possuo é o Lavoisier, meu ursinho de pelúcia. Durmo com o Lavoisier todas as noites. Ele não reclama se eventualmente eu ronco, se me mexo muito na cama e o destapo, se acordo tarde ou cedo demais, se leio livros em voz alta, se trago jornais antigos para o quarto. O Lavoisier é meu companheiro. Ele não rezinga de minha vida, ele me partilha com o seu mundo. Lavoisier é real, em um outro plano ele pode falar com outros ursinhos de pelúcia, ele pode ter até família. Achas loucura? Nosso cérebro é uma fábrica de ilusões, meus caros. A imaginação é veracidade mais madura que podemos ter. Se prender ao que vemos e tocamos é ignorância, o universo é mais do que nós mesmos.

Penso em tanta coisa que garotos de 20 anos jamais pensariam, falo pelos que conheço, são poucos os jovens existencialistas. O acesso à cultura inútil, a futilidade comercializada por nossa raça é mais rentável. É mais fácil, não há esforço mental. É fato, as pessoas não pensam. Não agregam nada ao intelecto. E para ser um intelectual você não precisa decorar pilhas de livros nem ler dez jornais por dia. Tudo que você precisa é tentar saber quem és. Por isso que são poucos os intelectuais. Raros, diria. Intelectualidade vira um cano de escape, já que não sabemos quem somos, falemos do que está ao nosso lado. Weber, Freud, Jung, Schopenhauer, Lacan, Heidegger, Nietzsche, Marx, Aristóteles e o ainda vivo Umberto Eco são exemplos de doutrinas diferentes, mas que em algum lugar houve um gancho. Eles com certeza não souberam e nem sabem quem foram ou são. Eles tiveram uma tese aproximada. Entretanto, enfeitaram suas dúvidas no comportamento, na reflexão, na história e até na sociopolítica. Enfeitaram e se auto-responderam. E isso os tornou intelectuais, só porque eles não fizeram o que mais da metade da população mundial faz: não progredir mentalmente.

A sexta-feira é uma das provas disso. “Eu trabalhei a semana inteira, vou curtir o finde”. Curtir? Beijar pessoas que mal conhecemos? Penetrar alguém que só sabemos o nome? Ou então, o mais corriqueiro: tomar litros e litros de cerveja a fio. Não, obrigado. Chame-me do que quiserem, me rotulem; ainda acho minha vida mais proveitosa do que as de muitos psicopatas sociais. A praga do ser humano é ser contagioso. Por favor, deixe-me só com Lavoisier, essa noite iremos beber suco de maracujá e discutiremos sobre o amor e o sexo no Jardim do Éden. Creio que estou me envolvendo sentimentalmente de novo. Sou vulnerável, sou humano. Até mais, amigos. Bom fim de semana.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Momentos

Em um de meus momentos ponderativos lembrei de Jay Vaquer. Narrarei a cena: Estava na sacada de casa, observando o mundo, vendo a rotina, as pessoas transitando, ônibus passando... Mil coisas vieram a minha mente. Decidi ler um livro, mas ele não me agüentou. Procurei um filme para assistir na TV a cabo, mas esses canais por assinatura nunca gostaram de mim. Apelei, então, para a internet; antes, contudo, queria ouvir algo que me tornasse metafísico. Que me tirasse desse plano. Ao contrário do que esperava, liguei a música “Cotidiano de um casal feliz”. O que me fez permanecer nesse plano, e acima de tudo, nessa vida.

Leia a letra, é fantástica.

Cotidiano de um casal feliz
Composição: Jay Vaquer

Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural

Ele manda em tudo, em todos curte seu poder
E deixa a esposa em casa pra brincar no trecode qualquer traveco em troca de prazer vai saber porque...ieiê
E a esposa anda malhada fez lipoescultura e a falta de cultura nunca foi problema ela tem dinheiropra dar e vender lê Paulo Coelho e seicho-no-ie vai saber porque...iê
E eles têm escravos disfarçados de assalariados diariamente humilhados se levantam cedo, se arrumam apressados têm hora marcada pra falar com Deus

Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural

Ele guarda no HD fotos de crianças nuas, pra tirar um lazer
Curte ver aquilo quando fica só
Ela conta os passos que dá no trajeto entre a terapia e a boca do pó
E até pensa em adotar alguma criatura, pode ser uma criança ou um labrador
Só depende da raça, depende é da cor que pintar primeiro...
Ele faz como ninguém a cara de quem não sabe mentir pode admitir, pra ocupar o vazio da relação mas com uma condição: não quer dar banho, nem limpar merda o dia inteiro
Eles foram ver o show da Diana Krall que alguém falou que era genial, gritaram "uhuu" do camarote enchendo a cara de Scotch

E eles têm escravos disfarçados de assalariados
diariamente humilhados se levantam cedo, se arrumam apressados
têm hora marcada pra falar com Deeeeeeuss! ououôô

Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural...

Agora sim, com a sua licença, vou ler meu livro.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Uma mulher de princípios

Fechei as cortinas, limpei o quarto e chorei. Antes das lágrimas, no entanto, pedi a mim mesma um pequeno intervalo para o café. Não me posso esgurrecer aos prantos enquanto tomo café. Meu pai, antigo fazendeiro dos anos 60, sempre me dizia que o café era sagrado. Devemos estar concentrado ao tomar o primeiro gole. Um desejo nessa hora é bem-vindo. Estava aí a formula para minha vingança retroativa: tomaria um gole de café preto almejando tua volta. Mulheres como eu não ficam se angustiando por qualquer homem barbudo como você. Ainda guardo na gaveta de minha cômoda uma camisa sua, com o seu cheiro natural. E quando penso nisso volto a chorar. Chega. Resolvida, abri a porta de casa e encontrei Ezequiel, um antigo amigo da faculdade. Falei para ele de minhas chateações e ele me propôs um programa pra lá de excitante. Primeiro eu teria que colocar as pernas por debaixo de seu ombro, fazendo com que meus pés se curvassem na sua nuca. Ele já queria estar ao mesmo tempo por debaixo de mim. Fui contra, aleguei que essa posição é dolorida, já havia feito o teste com o barbudo que me abandonou. Mas pensando bem, foi só com ele. E se com o Ezequiel fosse diferente? Nunca é demais tentar. Pedi que ele me buscasse às oito para seguirmos um ritual de casal apaixonado. Iríamos primeiro jantar e depois para o motel. Ele topou. Meio óbvio, não? Depois dessa noitada cheguei à conclusão de que o sexo com Ezequiel já não era mais o mesmo. Ele havia mudado e eu também. Transávamos desde a minha vida acadêmica. É melhor que nossa amizade fique sem sexo, avisei. Ele protestou, mas acabou aceitando minha imposição. Sexo com homem chato é a pior coisa do mundo. Acha que somos um objeto pirotécnico de mil e uma posições. Tudo tem limite. Depois de dispensar Ezequiel cai na depressão e voltei a pensar no barbudo, onde ele estaria? O que estava fazendo? Será que ele não pensa em mim também? Nunca transamos de verdade. Foi só amor. Não era justo perdê-lo, eu precisava experimentá-lo. Sou uma carnívora, preciso de gozo. Será que tento? Posso ligar para ele. Será que não é tarde? Creio que não. Nunca é tarde para uma bela mulher cassar seu macho. Liguei e ninguém atendia. Entrei em desespero porque queria muito vê-lo. Sentia falta do meu barbudo. Fui até sua casa, apertei a campainha e ninguém atendia. Tentei manusear a fechadura e para minha surpresa a porta estava aberta. Quanta desatenção do meu barbudo. Resolvi entrar, caminhei lentamente até ouvir vozes masculinas vindas de seu quarto. Tudo estava aberto, desloquei a porta do quarto e vi minha decepção: Ezequiel trepando com meu barbudo. Não podia acreditar, eles eram gays ou bissexuais? Não importa. Qualquer resposta naquele instante de nada adiantaria. Preferi voltar para minha cama e chorar, chorar muito. As lágrimas eram minhas únicas companheiras, sem mais homens, não quero mais saber de homens. Liguei para Ângela e resolvi voltar ao o que eu era, resolvi voltar à minha essência: “Ângela, venha para cá o quanto antes, quero que tu caia de boca em mim, cansei das aventuras heterossexuais”. O barbudo era uma ilusão, Ezequiel fora uma diversão da juventude, aquele bissexual mentiroso. Disse-me que era hetero. Entretanto, Ângela era o que eu queria, e eu sou o que elaquer. Sem mais choros, apenas me tornei uma mulher de princípios.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Solidão

Eu realmente necessito ficar só. Preciso da solidão mesmo que ela esteja acompanhada...

Era uma vez um rapaz jovem; então ele cresceu, envelheceu, cansou das convivências alheias e se entregou de braços abertos a solidão. Tornou-se acessível a si mesmo. Longe do autismo, ele é apenas feliz.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Máfia do Divã

Estava tudo como deveria ser. Cassandra entraria no supermercado da rua do forte às oito da noite. Sairia de lá por volta das nove, acompanhada de dois filhos: Ângelo, de cinco anos; e Patrícia, de sete. O seqüestro de Cassandra fora programado desde janeiro, quando a Máfia do Divã entrou em contato comigo para facilitar o encontro do criminoso com a vítima. Para aqueles que não conhecem a Máfia do Divã, saibam que é uma das facções mais violentas de Florianópolis. Com 15 anos de existência, a máfia do Divã já seqüestrou 56 jornalistas, 19 políticos e 27 artistas, entre cantores, atores e escritores. Entrei nesse ramo há 13 anos, desde que perdi minha filha Carla de quatro anos de idade e minha esposa Jussara, de 26, em um fogo cruzado da polícia local com alguns pivetes, ladrões de galinhas. A lembrança de Carla e Jussara, minha família, martela dia e noite em minha cabeça. Vivo a base de remédios, posso dizer que vivo com a morte.

Em 23 de Dezembro de 1994, Elias Garotinho, na época um traficante de respeito, ameaçou-me ao exigir que eu o ajudasse. Elias queria sair do país, fugia há meses do Polícia Federal. Era um dos traficantes mais procurados da América Latina. Elias batia o recorde da Colômbia, tranquilamente. As favelas do Rio de Janeiro e os bairros oriundos de Salvador não chegavam nem perto do litoral catarinense. Consta, em uma pesquisa, que Florianópolis é a principal capital brasileira fumante de maconha. No entanto, o governo local abafa o caso, prefere divulgar as belezas naturais. O governo omite, por exemplo, a corrupção da Polícia Militar, os desvios de milhões dos cofres públicos que foram parar na conta do Secretário de Meio Ambiente do estado, Airton Gonçalves de Mello. Airton é pai de Marcos Loreira de Mello, um dos lideres da Máfia do Divã. Tanto o pai, quanto o filho, foram os responsáveis pelo seqüestro e homicídio do jornalista Fernando Carneiro da Silva. Este jornalista era nada menos que o diretor de redação da Folha Catarinense. Foi executado com sete tiros na cabeça por designar sua equipe a investigar a fundo a procedência do tráfico de drogas em Florianópolis. Durante uma semana, Fernando Carneiro recebeu ameaças por telefone, por e-mail e por cartas. Publicou as ameaças em manchete no jornal, exigia a atuação mais ostensiva da polícia, só que os agentes da lei, como eu disse, eram corruptos. Fernando Carneiro não foi assassinado somente pela investigação às drogas, mas por denunciar o secretário Airton Gonçalves ao Ministério Público, devido aos desvios que a Folha Catarinense divulgou com exclusividade. Fernando Carneiro assinou duas vezes sua sentença de morte. Seu assassinato foi repercutido no mundo inteiro, a CNN deu espaço ao caso em todos seus noticiários.

Mas aí você deve estar pensando, onde eu entro nisso? Eu menti ao dizer que minha função na Máfia do Divã é ser o intermediador. Na verdade, sou um dos assassinos. Você não imagina o que passa na cabeça de um franco-atirador. Nós (homicidas) não refletimos, apenas executamos, no teor da palavra. Não entrei nessa vida para me vingar do filho-da-puta que matou minha família, é claro que este fato me motivou, mas para achar o assassino eu teria que eliminar a Polícia Militar inteira. Como sabia que isso era inviável, optei em viver de forma mais lucrativa. Minha vida deixou de ter sentindo quando fui demitido da Folha, no mesmo período em que ocorreu a morte de Carla e Jussara. Juntei o útil ao agradável. Joguei fora toda minha ideologia de jornalista que aprendi nas burocráticas aulas da faculdade e me dediquei ao crime. Sem falsa modéstia, sou um pistoleiro como ninguém. Senti um gosto enorme ao matar Fernando Carneiro, um prazer que só quem é matador sente. Minha entrada para o crime surgiu quando eu ainda era jornalista, e até foi por causa deste caminho que me demitiram. Quando Elias ameaçou-me pedindo ajuda para fugir do país eu colaborei. Dei a passagem aérea anual que todos os jornalistas da Folha Catarinense tinham direito. Assim me veria livre de Elias, que chegou até mim por me conhecer de vista, eu era repórter policial. A fuga de Elias vazou, meu nome foi exposto, demitiram-me e as conseqüências você já conhece...

Mas voltemos a Cassandra. Ela será seqüestrada por apoiar a campanha contra as drogas, de cunho moralista. Cassandra é uma escritora influente da região sul, também colabora com a Folha Catarinense e com o jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul. A intenção da Máfia do Divã não é matá-la, apenas seqüestra-la para provar quem é que manda: o crime organizado ou as campanhas moralistas? Para mim era serviço fácil. Estacionei meu carro atrás do automóvel dela. Era oito e quarenta da noite quando Cassandra saiu do supermercado, os filhos vinham atrás, carregando as compras. Momento perfeito para atacar. Preferi segui-la até a porta de casa, sem dar pistas, ela estava distraída com as crianças no carro, o que facilitou minha ousadia. A fechei com um cavalo de pau e apontei a arma para sua cabeça: “sai do carro, sua vadia! Sai do carro ou eu mato tuas crias!” A cadela implorou pela vida das crianças, deixei que os filhos entrassem para dentro de casa e coloquei Cassandra no porta-malas de meu carro. Desloquei-me até o lago oeste, lá havia uma cabana de madeira escondida sob um areal. A partir dali, passaria a conviver com Cassandra de Almeida. Tudo que ela exigia era folha e lápis, queria escrever o que sentia para publicar em livro. Ela falava e perguntava coisas sobre o existencialismo, tudo que estudei na faculdade, e eu respondia. Contei tudo a ela, sobre minha vida, minha trajetória e até sobre a Máfia do Divã. Contei porque já havia passado uma semana, e de acordo com o regulamento da Máfia, sempre que se passam sete dias com o seqüestrado sem ordem para libertá-lo, é sinal de que a vítima será assassinada. Quis contribuir com ela por saber que eram suas últimas escritas, quis dar margem a sua imaginação. Dei a falsa esperança de que ela sairia viva dali.

Até que no dia 7 de março desse ano, o surpreendido fui eu. A polícia, (a que não era corrupta) descobriu o cativeiro do lago oeste, eu reagi tentando evitar que levassem Cassandra e fui morto com um tiro no peito e outro no crânio. Cassandra foi libertada com todas as informações sobre a Máfia do Divã, que, por sua vez, foi exterminada em parceria com a Polícia Federal semanas mais tarde. Cassandra de Almeida decidiu não falar sobre seus sentimentos no cativeiro, e sim publicar esta história na primeira pessoa, na voz ativa daquele que a seqüestrou e a vigiou durante nove dias, oito horas e trinta e quatro minutos.

domingo, 27 de abril de 2008

Penso, logo necessito de...


... Louças do amor

As louças, os pratos, são como outono ou primavera em um raiar de sol. São como rosas ou espinhos, ou latidos e miados. Meu cachorro que o diga. Esses cães da atualidade nos remetem à reflexão... Já cometi proezas estúpidas, proezas ordinárias, proezas refutadas e mais daquelas que prefiro não lembrar. Sentado neste ônibus, confesso a mim mesmo uma dor inebriante, trêmula e inóspita. Ah... Como eu amo minha glória, como é vertiginoso saber que quem me ama está, na verdade, esperando pelo meu amor.



... Viajar

Costumo viajar de um lado para outro, sem destino, sem observações. Apenas com um rumo concomitante. Agora eu estava prestes a mentir para mim afirmando que sou feliz desse jeito. Carregando toneladas e toneladas de cargas emotivamente limitadas. Talvez eu até seja, no fundo de minhas razões momentâneas.

Por que será que as pessoas detestam tanto os domingos? Os baladeiros que me desculpem, mas domingo é fundamental.

sábado, 26 de abril de 2008

Da-me tu amor, solo tu amor...

Expresso através da letra a seguir meu verdadeiro espírito a respeito deste sábado. Creio que acordei meio nostálgico. Ah... Os sábados... Como diria meu grande amigo argentino, Juan Facundo, em um diálogo com sua amada: “De lunes a viernes tienes mi amor, pero los sábados y domingos mi corazón ya és una piedra”. Juan Facundo sabia quando um relacionamento não passaria de cinco dias. Filosófico, como poucos porteños. Preciso visitá-lo qualquer dia em Buenos Aires.


Paralamas do Sucesso – Trac-trac
Composição: Fito Paez


Não, não passa o tempo
Ao menos para mim
Tomo comprimidos e sigo sem dormir
Vejo tantos portos, não há onde atracar
Já não existem laços, alguém cortou
Trac, trac, trac
Todos os perfumes, todo aquele lugar
Todas as misérias e tudo mais que há
Cada movimento do sol sobre você
Cada móvel velho e cada anoitecer
Yeah, yeah...

Dá-me tu amor, solo tu amor
Solo dá-me tu amor
Poucas garantias há para nós dois
Nada neste mundo tem tanto valor
Todos os vizinhos parecem saber
E lançam seus olhares sobre eu e você
Yeah, yeah...

Veio todo mundo, a Rádio e a TV
Veio o comissário, anjos do céu também
Todos querem algo, sangue ou não sei quê
Em todo Universo nada lhes dá mais prazer
Yeah, yeah...
Dá-me tu amor,
solo tu amor
Solo dá-me tu amor...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Pressentimentos

Creio que as vezes as pessoas tiram proveito de minha aparência, ou de meus trejeitos, para precipitar-se em suas conclusões. Eu noto isso no olhar. Convivo com dezenas de pessoas todos os dias e posso arriscar: pelo jeito que cada uma me olha, consigo presumir seus pensamentos. Não sou nenhum vidente, para-normal ou qualquer outro rótulo pluralista. Defino-me como ‘sensitivo’. Possuo uma sensibilidade aguçada desde criança. Eu sinto quando estou em perigo, sinto quando alguém próximo a mim não tem muito tempo de vida, sinto quando alguém discorda mentalmente do que eu falo. Em outras palavras não saberei explicar. Tudo que eu sei é que sinto. Houve um caso, em minha cidade, onde eu caminhava lentamente em frente a uma livraria, neste exato instante meu cérebro emitiu um alerta ao meu sistema nervoso. Minhas mãos gelaram e meu coração disparou em questões de segundos. Acelerei o passo e sai rapidamente da frente daquele estabelecimento. Cheguei em casa sem entender o porquê de tais sintomas. No dia seguinte, li uma nota no jornal dizendo que aquela livraria fora assaltada 15 minutos depois de meu trajeto.

Há um acontecimento ainda mais marcante que envolve minha ex-namorada. Ela havia ido a um evento ligado a um grupo de comunicação aqui do Rio Grande do Sul. Este evento ocorre todo verão e inúmeras bandas regionais e nacionais participam. Ela tinha comprado o passaporte para as duas noites, e eu tinha apenas o ingresso da última noite de shows. Combinamos que ela iria com um grupo de amigas – supostamente confiantes – na sexta e eu e ela iríamos juntos no sábado. Ao chegar ao apartamento dela, por volta das três da tarde, dia seguinte a primeira noitada, eu já descobri que ela havia me traído sem que ela precisasse confessar. Toquei a campainha, ela tomava conhecimento de que fosse eu, abriu a porta e mostrou seu rosto com um sorriso culposo, eu senti. Naquele baque eu pensei: “ela me traiu”. Foi rápido e involuntário. No final das contas até que ela disfarçou bem, mas não adiantou. No fundo eu sentia que havia uma omissão entre nós. Nesta mesma tarde, falei para ela sobre a confiança de um relacionamento. Usei a metáfora do cristal que copiei de um poeta francês para exemplificar: “Minha confiança por ti é como uma bola de cristal, uma vez quebrada, sempre faltará um pedaço para reconstituí-la, sempre”. Ela arregalou os olhos, suspirou e disse: “Já sei, você acha que eu lhe traí”. Aleguei que não. Justifiquei dizendo que eu sabia que ela jamais faria isso. (Eu a provoquei). Na segunda noite desse evento eu pude confirmar meu pressentimento. Ela mal me tocou, mal me beijou, não queria andar de mãos dadas comigo. Estava muito estranha. Vi que nosso relacionamento não iria muito longe. Dias mais tarde ela me contaria tudo às lágrimas dizendo estar arrependida. Ela lembrou do cristal quebrado e entrou em desespero. Ao mesmo tempo que não queria me perder, vivia afirmando que eu era muito bom para ela, que ela não me merecia, não merecia meu amor. Somente semanas mais tarde, por vários outros motivos, eu descobri que isso era verdade. Esta lembrança me deixa feridas até hoje.

Posso passar horas citando episódios de meus pressentimentos. Vou contar sobre o do engarrafamento. Para alguns isso é absolutamente comum. Até integra a rotina de muitos nas grandes cidades. Porém, não foi como o congestionamento em que senti minha morte. Foi um dos dias que mais fiquei aflito e não sabia o porquê. O fato ocorreu na entrada de Porto Alegre, na avenida Castelo Branco. Estava no carro meus pais, eu e meu segundo irmão mais velho. Naquele dia eu sentava no banco traseiro, atrás do motorista (meu pai), mas eu sempre sento atrás do banco do caroneiro (minha mãe). Gosto de ter a visão do velocímetro e dos atos do meu pai na direção. Não que eu o monitore, é mais para aprender, meu pai tem 35 anos de habilitação. Contudo, naquele dia, no momento do engarrafamento eu estava atrás do meu pai e com o coração saindo pela boca. Uma aflição tomava conta de todo o meu corpo na medida em que os minutos passavam. O congestionamento durou mais de uma hora, isso foi uma verdadeira tortura. Passamos por uns oito automóveis batidos, fora um engavetamento. Horas depois eu assisti no noticiário local que todos os veículos acidentados naquele congestionamento eram movidos a gás (GNV). Uma pequena explosão em qualquer um daqueles automóveis provocaria uma tragédia sem tamanho. Seria um aglomerado de fogo, por quilômetros.

Também possuo outros dons, consigo descrever personalidades de pessoas que pouco convivo. Já fiz isso com uma colega e ela se surpreendeu. Vivo descobrindo o lado comportamental de colegas e amigos, para muitos não conto. Isso me faz mal. Sentir como o outro é gera uma angústia. Entretanto, não posso controlar, eu vejo e sinto.

Ontem, por exemplo, senti que estava sendo julgado indevidamente. Só porque tenho atitudes momentâneas. Só porque não apresento resultados esperados. Isso é motivo para descrença? Tenho que lembra-los que nasci ser humano. Esse julgamento alheio me chateia profundamente. O pior de tudo é que os incomodados não falam diretamente comigo. Gosto de conversa cara-a-cara, olho-a-olho. Diálogos francos.

Ontem, ao entrar na van que me transporta até em casa, tornei-me pensativo. O que será que eu fiz? Devo mudar meu jeito de ser para agradar terceiros? Lamento, minha essência não permite. Queria provar meus princípios. Se metade das pessoas que me julgam me conhecessem realmente, voltariam atrás. Não falo por mim. Pergunte a quem me conhece de verdade, pergunte a quem convive comigo ou a quem tem minha companhia há décadas. Nunca derrubei ninguém para conquistar meus objetivos; pelo contrário, sempre fiz questão de “promoções coletivas”. Em hipótese alguma prejudicaria qualquer ser por intenção. Sinto uma angustia por pressentir isso. Talvez o tempo revele qual o verdadeiro caráter de um indivíduo. Entretanto, no atual presente, o tempo me coloca como um mero plebeu. É justo, ao passo que arbitrário.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O dia em que a terra mexeu

Esse título pode virar nome de romance, de filme, etc. Tudo é possível. Vou dar a dica para o Walter Salles ou para o Hector Babenco. Já até me imaginei ligando para o Babenco: “Hei, Hector! Tenho uma dica de filme maravilhosa pra ti, o que achas de fazer algo sobre a supremacia da mãe terra? Não, não é como o Carandiru, deve ser de teor mais ‘vulnerável’, entende?”. – Mais vulnerável que o próprio Carandiru? No post anterior argumentei sobre a voz conseqüente da natureza, e é verdade. Ontem, São Paulo tremeu. Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro também. E isso já foi suficiente para virar atração temática. Minutos depois os principais jornais do país estampavam suas capas com a manchete alarmante: “Terremoto de 5,2 graus assusta São Paulo”. Tá e daí? Na Califórnia as pessoas preparam-se psicologicamente para o pior, elas vivem com os abalos sísmicos. No Japão, os orientais já dormiram centenas de vezes com o chão se mexendo. Há povos que vivem com vulcões. E nós aqui, na tropicalidade, reclamando de barriga cheia. Ora, os brasileiros não são acostumados com terremotos. Os brasileiros são acostumados com corrupção, futebol, sexo grupal, bundas grandes, o que for. Mas terremoto? Não... Isso ainda é novidade.

O máximo que se tem aqui são cocos caindo nas cabeças dos baianos. Temos alagamentos, conta? Não, o que é corriqueiro demais não serve. Ah, entendi. E quanto à guerra que se instaurou nas favelas? E quanto ao tráfico e consumo de drogas? Chegaremos um dia aos pés de paises liberalistas como a Holanda? No lugar de prostituas que se vendem através de vitrines, colocaríamos dinheiro público. Quem rouba mais? A tentação é quase a mesma. Nós Somos liberais, sim. Veja, por exemplo, o episódio dos cartões corporativos, nem a tapioca escapou. Conta de motel e despesas com supermercado também estão na lista. Isso não é liberdade? O quê? É contra lei? Mas que lei? No país do carnaval as leis são fantasias que escondem a sujeira, a pilantragem dentre os glutens de nossas mulatas (no bom sentido). Agora, basta um tremorzinho para que tudo mude? O google nunca teve tantas buscas por terremotos. Eu sei que 5,2 é um grau considerável em uma escala que vai até nove, mas, por favor, foram poucos segundos. O mundo não vai parar (neste momento) e tua renda mensal não vai aumentar em função do balanço terral. Não adianta, meu amigo, os problemas continuarão.

No entanto, sentimos “medo”. É ridículo. Ouso afirmar que quem presenciou nosso minúsculo terremoto sentiu mais adrenalina do que um suposto receio de que algo de muito grave pudesse acontecer. Casos solenes nos rodeiam todos os dias, a todo minuto, somos alvos de ações circunspetas. Mas um terremoto? Estamos é muito mal preparados, isso sim. Talvez seja culpa de nosso regime de esquerda. Já sei, vamos responsabilizar a Dilma Roussef. Pronto. O terremoto foi um dossiê da Dilma. Que tal? Será que cola?

No país das maravilhas modernas, das maracutaias políticas, do desmatamento, da poluição visual, do uma-mão-lava-outra tudo é normal. Por que um simples terremoto não seria? Aqui temos, inclusive, padres voadores. Nós causamos inveja às nações de primeiro mundo. Só temos o Hugo Chávez como concorrente de peso, o resto não chega perto de nossas proezas. O que é um terremoto? Nem chegou a abafar o caso Isabella. A Dilma, realmente, precisa melhorar muito.