Coluna do Luan

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Pseudo-Natal


Estava aqui sentado em minha poltrona, dentro de meu templo – nome ao qual batizei meu quarto – e fiquei pensando no último Natal em que eu acreditei em Papai Noel. Não consegui me recordar. O que lembro, é, que, até aos 10 ou 11 anos eu fingia crer no Papai Noel para não deixar de ganhar presentes. Lembro-me também, que, ainda na infância, obviamente, recebi uma bicicleta pela janela. Eu deveria ter uns nove anos. Era um Natal como todos os outros. Deixei a tal cartinha para o bom velhinho na lareira e na noite do dia 24 lá estava ela: Uma Caloi esverdeada. Perguntei para a minha mãe como a bicicleta veio parar ali dentro, já que ela era demasiado larga para passar pela chaminé. Ademais nem sei como o próprio velho passava dentre nossa apertada chaminé. Mas era Natal, vale tudo, ou quase tudo. Foi então que minha mãe disse que o velho havia passado minha Caloi pela janela. Mas como? Com todas fechadas? Minha mãe insistiu em dizer que o velho do Pólo Norte tinha um “pó mágico” do qual utilizava em algumas ocasiões. Sei...essa resposta de minha mãe foi o primeiro indício da desconfiança de que Papai Noel não existe.

Aos sete anos eu pedira para o velho avermelhado um avião Boeing. A questão era a seguinte: Até aos sete anos eu acreditava fielmente em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, homem do saco, boi da cara preta, essas coisas todas. E em quase toda minha infância eu sonhei em ser piloto de avião. Achava aquilo um máximo. Pilotar aeronaves poderosas, tão grades, levando tantas pessoas...então esperei ansiosamente pela noite do dia 24 para ver se realmente eu iria ganhar um Boeing, só para mim, quase não dormia de ansiedade. Até que a noite chegou, fui até a sala onde o velho supostamente deixava os presentes e tive uma das minhas primeiras decepções. Havia ganhado um Boeing de brinquedo! Mas que diabos era aquilo? Isso é um avião de brinquedo! Um pouco menos de 30 centímetros, era com controle remoto e tudo, mas por mil ampulhetas! Era de brinquedo! Nessa noite também passei a duvidar da existência do velho por não ter meu pedido atendido, em parte. Na minha cabeça de criança, eu nem pensava de como eu colocaria um Boeing no jardim, mas para mim, naquela época, isso era um mero detalhe.

Passado todos esses anos, eu ponderei sobre o verdadeiro espírito natalino. Descobri que 80% das comemorações de Natal das famílias brasileiras, e por que não, do mundo todo, são preenchidas por hipocrisia. Aquela troca de presentes absurdamente estúpida de familiares que não se vê há 11 meses, que nem se quer se telefonam há 11 meses, e aprecem dizendo que estavam com saudade, que vão marcar encontros durante o novo ano. Então a noite de comemoração acaba, e o teu familiar nem anota o teu número para marcar “os encontros” e já sai avisando o que era de esperado: “Até o ano que vem”. O Natal já é quase uma solenidade, uma obrigação de dar presentes. Ninguém, ou quase ninguém sabe o que é o Natal. Às vezes sinto saudade de quando eu era criança, e tinha dentro de min aceso e brilhante o espírito natalino. Eu era sempre o primeiro a me empolgar não só com o Natal, mas com as festas de final de ano. Sinto que naquela época eu era feliz, ao mesmo tempo inocente das reais intenções dos demais perante o dia em que também supostamente Cristo nasceu. Digo supostamente porque não creio nessas estórias. (Não entrarei no mérito da religião, caso contrário terei que desenvolver um capítulo sobre o meu posicionamento a respeito de Deus; no entanto, respeito a opinião e as crenças de todos.)

Agora também não quero polemizar o Natal. Refiro-me ao meu Natal, o de minha família, meus irmãos, meus pais e minhas cadelas. Onde o afeto e a intenção de proporcionar um 25 de Dezembro mais feliz sempre veio à tona. Passar essa data com quem amamos talvez seja fundamental para quem ainda possui a paciência e inocência. Confesso que ainda tenho um pouco disso. Afinal de contas, continuo sonhando em ganhar um Boeing.