Coluna do Luan

sábado, 28 de agosto de 2010

Era uma vez a felicidade e o amor...

"A felicidade me bate à porta. Eu espio, e deixo o vento levá-la embora."

Felicidade boa entra pela janela do banheiro, passa pelo filtro do chuveiro, do vaso e da pia, e só depois ganha forma na casa. A felicidade, então, senta no sofá, liga a televisão e assiste Jô Soares. Sim, é madrugada. A felicidade sente sono mas não dorme. Felicidade boa jamais se deleita em sonhos, ela deve ser real, enigmática e momentânea. A felicidade, agora, caminha pela escuridão da residência, dá algumas voltas na cozinha, se apega a um copo de uísque e finge sentir prazer. E na mentira impessoal deste prazer, ela ouve a campainha soar. Deve ser o amor. A felicidade abre a porta e se depera com o amor trajado de vermelho, um enorme decote entregava, finalmente, significado aos interesses da matéria. A felicidade toca os lábios do amor. O prazer reacende entre o quadril da felicidade e do amor. Mas, desta vez, não se tratava de mentiras. Ao menos não pareciam mentiras. Era uma cena clássica e bela. A felicidade se deixando enaltecer pelo amor. E este a engole de cabo à rabo. A felicidade não encontra ar para a sobreviver. A felicidade é devorada pelo amor até perder total força e esperança. O prazer, aos poucos, se esvaia. O amor fica só e se pergunta: o que aconteceu? O amor busca respostas nos livros de filosofia, sociologia, antropologia, psicologia e tudo mais com gia. Não encontra nada. O amor entra em desespero, procura compreender a vitalidade de seu sentimento. O motivo de sua existência. Ora, o amor enxerga a ausência de motivos.

Depois de muito tempo, o amor se deu conta de que ele era resultado da felicidade somada ao prazer. Era mesmo? Era projetável. Estritamente projetável. E descobriu, ainda, que sua irmã de sangue era a tristeza.

E seu antídoto era a repetição de toda esta fórmula.

A revolução dos medos

O sábado começa cinza e transpassa o reflexo da vida que alimentamos. Mais uma vez me encontro só neste quarto, com notebook em mãos, alguns livros na estante, a cama desarrumada, as fotos do mural que me fitam atordoadas por mudanças;

Mais uma vez eu fujo do caos, penso estar no bem quando sugiro o mal nas entrelinhas do meu polegar opositor. A nossa essência nos permite à heterogeneidade. Nossa essência ama o ódio e odeia o amor. A linha tênue entre sentimentos e sensações, na verdade, não existe. É uma só. Todos em um. Um em todos. Fazemos parte das comeias gigantes e industrializadas. Fazemos parte do caos... eu fujo para o lado errado. Eu fujo para todos os lados certos da sociedade.

Mais uma vez eu penso.

Mais uma vez eu reflito.

Mais uma vez eu canto.

Mais uma vez eu sorrio.

Mais uma vez eu escrevo.

Mais uma vez eu choro.

Mais uma vez eu sei.

Mais uma vez eu não sei.

Mais uma vez...

É o recomeço da bagunça da humanidade.

Das relações, dos relacionamentos.

É a exposição dos princípios.

A verdade é que, no fundo, somos todos solitários da era da tecnologia. Estamos todos irradiados na escuridão do medo, do fugaz, do mordaz, da nostalgia. Somos animais que jogam sonhos pela janela na busca pela revolução da vida.

O sábado recomeça para mim. Eu sigo no mesmo caminho, na mesma estrada de meses atrás. Eu creio na força das transições, das translações. Eu creio na energia que este mundo há de comer e morrer.

Ninguém ama. Ninguém.

Somos cobaias do nosso próprio entretenimento.

Somos macacos que vestem uniformes e ternos.

Evoluímos.

Ah, sim... evoluímos.

É a revolução dos medos.

Eu sigo só, novamente.