Coluna do Luan

domingo, 28 de outubro de 2007

A flor desbotada


O amor é como uma flor desbotada. Há sofrimento, há dor, há extravagância de sentimentos. Mas não se pode só enxergar o lado colossal do amor. Devemos enxergar o que nos cega quando estamos apaixonados. Por mais que o amor e a paixão sejam sentinelas da alma, há momentos em que esquecemos do próprio eu indo de encontro ao acaso. Nas dúvidas que derrapamos nossas certezas firmamos um conceito, uma opinião, um ponto de vista peculiar. Nossos ideais são invertidos conforme mendigamos para o desnecessário. Haverá um dia em que as flores nascerão mais ricas, o povo mais solene, e os valores mais concretos. Haverá dias em que sentiremos a dor da hipocrisia tão combatida e ao mesmo tempo tão praticada. São contradições de uma vida qualquer. Com uma doença qualquer, com filhos, com esposa, com problemas sociais. Aí culpamos a polícia, os políticos, e nos deparamos com a falta de amparo. É...um dia também fomos racionais. A crítica fica a mercê de uma mídia que julga restabelecer-se a mercê do interesse público. O que há na realidade do dia-dia é conflito de interesses. Somos homens, somos mulheres, somos crianças, todos temos uma validade. Somos impostos à morte inúmeras vezes em nossa jornada fictícia. Brincamos de viver e quando estamos prestes a perder quem mais amamos nos damos conta de que a brincadeira acabou. A batalha deve começar e então o ciclo continua. Cada um julga extremamente necessário administrar-se para encher a barriga. Há aqueles que uma vez ou outra encheram suas barrigas. Talvez seja justo, talvez não. Talvez devemos dar linha ao conformismo inanimado. Nossos anseios ficam escondidos atrás da pétala de rosas que esmagamos ao pisar no chão. Não temos objetivos porque achamos que objetivos são para os que têm condições. Não podemos difamar nossa sabedoria por preguiça. A onda é gigante, porém mergulhável. Agindo de acordo com nossa atualidade só iremos nos afogar. E sendo assim, também chegará o dia em nos faltará ar para reagir.

Não esconda o seu amor. Ele mais do que nunca, pode ser a salvação dos seus dias de glória. É importante não esquecermos de aprender, e para isso independe de idade, de cor, de sexo, de opção sexual. Deveríamos aprender uns com os outros e dizer que isso ocorre é andar para trás, ascender um cigarro, desperdiçar água, jogar lixo na rua. Deveríamos também aprender a amar. Mas temos medo de nos iludir, aí não podemos amar. Quanta ignorância. Olho ao meu redor e me decepciono. Proporciono-me prazer acreditando que posso ser feliz assim. É verdade que certa vez fui feliz. Mas foi tão pouco e tão rápido. Eu que desejei a força divina em minhas intervenções, mal sabia que eu a possuía. Nós a possuímos. E poucos a usam. O labirinto é grande e com uma única saída, se perder, é natural. Os olhos famintos não conseguirão jamais esconder a solidez da prepotência e da ganância. É dever do ser humano admitir os seus erros e seus pecados. E é justamente por isso que poucos, muito poucos, são capazes de enxergá-los.

A polidez com que usamos argumentos é tão fútil quanto a nossa existência. Desta forma mantemos nossas injustiças acreditando sermos éticos. Se cada um descobrisse que pode ser melhor do que demonstra talvez o nosso planeta tivesse mais camada ozônio. Mais civilidade. Mais sorrisos. Nossas atitudes maléficas são facilmente absorvidas como uma leveza estúpida. Preocupamos-nos com o campeonato de futebol, roupas de marca, baladas “imperdíveis”, objetos tecnológicos da moda, o carro do ano, em arranjar namorado urgente porque não conseguimos ficar sozinhos um só instante. Somos tão bons que esquecemos de nós mesmos. Vivemos assim porque nascemos assim. Para quê mudar? Chegará o dia em que minha flor desbotada me ensinará a viver. E espero que não seja tarde para aprender a amar.

sábado, 13 de outubro de 2007

O começo do fim


Quando você está de férias o que não falta é moléstia. Ou você quer ler todos os livros de uma vez só, assistir todos os filmes em uma única noite, ou ainda ir ao supermercado com intuito de comprar CDs sertanejos. A verdade era que eu estava de férias só no que diz respeito a minha mente. O corpo estava trabalhando. Tive aulas como todo e qualquer estudante universitário, ouvi opiniões ridículas, suportei as piadas de mal gosto de alguns colegas e não repliquei para ninguém. Superei-me. Apenas observava o mundo de como ele é. E não a vida, como escrevia Nelson Rodrigues. É interessante avaliar o funcionamento do mundo, e das pessoas então...nem se fala. Fico impressionado de como há seres incongruentes. Talvez prepotente seja a palavra mais adequada. No entanto, não quero entrar no mérito de ideologias. Apenas continuo na minha lenta caminhada de tentar entender o planeta.

Quando entro no carro, por exemplo, para me locomover em distâncias relativamente longas, não hesito em olhar para o céu e admirar a beleza tão ignorada no dia-dia. Absortamente me perco nas nuvens que até pouco tempo atrás eu achava que eram de algodão. Até pouco tempo atrás eu acreditava que o Papai Noel entregava milhões de presentes em poucas horas com seu trenó voador. Já até acreditei no tal coelhinho da páscoa. Todas essas histórias refletem na vida de um cidadão movido a capital. Por vezes me machuco tão profundamente que não me dou conta de que a culpa não pertence somente a mim. A arrogância é um sentimento que corrói aos poucos a lástima de qualquer humano com boas intenções. Veja a nossa biosfera: Ela era linda, saudável, colorida. Olhe para nós: éramos mais convictos, certeiros, saudáveis e felizes. Já relatei o tamanho desespero que sinto quando aspiro gás carbônico em excesso. Meu amigo Jefferson diz repetidamente que a sociedade convive de olhos vendados. Ele tem razão. O mundo é uma venda enorme manchada de sangue. Não quero aqui contemplar o papel de cristo. Mas pegue o seu exemplo, pondere-se. Quando foi a última vez que você realizou um ato verdadeiramente bondoso? Passar cola não conta. Dar apoio moral no término do namoro de uma amiga também não. Nem cogite a hipótese de emprestar dinheiro. O que mais me deixa eloqüente é fato de sabermos que estamos nos matando gradativamente e mesmo assim não adotamos outra postura.

Há alguns meses eu convidei um estranho para almoçar comigo. Eu não o conhecia, assim como ele não fazia idéia de quem eu era. A questão é que ele estava precisando de dois reais para almoçar, e eu de companhia. Ambos nos ajudamos. Ele ouviu os meus problemas e eu ouvi os dele. Quando relatei esse episódio há alguns colegas todos disseram a mesma frase: “Luan, tu és louco!”. Não havia compreendido. Eles alegaram que eu poderia ter sido assaltado, seqüestrado etc. Até poderia, se eu simplesmente tivesse ignorado o estranho como a grande maioria faz. Depositei confiança nele, e isso se tornou recíproco. Minha intenção não era ajudá-lo para vir aqui e escrever “eu sou uma pessoa boa!”, apenas queria sair da rotina. Sair da igualdade de conceitos. Descobri que o mundo é o que é porque somos todos ignorantes. Aliás, já escrevi isso em outro texto.

Mas, de fato, estamos muito ocupados com baladas, beijo na boca, sexo negligenciado, dinheiro, carro novo, roupas de marca, materialismo total. Não estou pregando que a sociedade deve renunciar o seu padrão de vida. Mas deve estar atenta para os valores invertidos. Cuidado com a ganância. As pessoas mais gananciosas pensam que são “espiritualizadas”. Não tenho saco para este tipo de argumento. Se fosse o Jéferson já diria: “Estão todos vendados”. E eu não me excluo dessa parcela. Até porque escrevo este texto na esperança de que alguém me entenda, e por que não, me socorra de um labirinto cuja saída está cada vez mais distante pela procura de uma felicidade temporária.

Caros amigos-leitores, por mais que não pareça, eu voltei com uma imensa felicidade temporária depois de ler os comentários. Obrigado pela paciência. Voltei para manter esta inteiração. Confesso que eu não agüentava mais tal abstinência. É importante não esquecermos de que todo começo tem seu fim, até o espaço tem. Basta saber enxergar.