Coluna do Luan

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Redes e Relacionamentos sociais do século XXI

Ele compra um café, mas só pode pagar em cartão de crédito. Ela não aceita cartão, somente dinheiro. A dívida é anotada em um bloco de papel. Ela solicita algumas informações:

- Qual teu nome?
- Ramirez...
- Ramirez ...?
- Ramirez miakovich.
- Pode soletrar?
- M-I-A-L-C-O-V-I-C-H.
- O.K; E qual teu ramal?
- 1354... não, não, perdão. É 5754. Quer meu telefone também?
- Pode ser.
- 99447748
- Você tem twitter? Nós temos serviço de cobrança instantânea.
- Ah, claro: twitter.com/ramirezmial
- O.k. Obrigada.
- Posso pagar pelo twitter também?
- Depende, tua message page tem débito automático?
- Ainda não, trabalho com crédito.
- Então, lamento.
- O.k. Então vamos fazer o seguinte. Se eu te pagar em dinheiro tu aceitas sair comigo?
- Vejamos... e para onde tu me lavarias?
- Hum... Depende para onde estaria disposta a ir.
- Por quê não tenta advinhar?
- Não sou bom nisso.
- E tu és bom em alguma coisa?
- Quem não experimenta não descobre.
- Me dê um gostinho... o que estarei perdendo?
- Na prática, alguns reais pelo café. Na teoria, uma noite de amor.
- Ual. Você vai direto ao ponto.
- Verbalmente sim.
- O.K. Cowboy, se eu te deixar pagar em crédito tu prometes não me incomodar mais?
- Se tu prometeres sair comigo.
- Eu não vou sair com contigo.
- Tudo por causa da minha dívida?
- Tudo por causa da tua audácia.
- Então eu pago o café em dinheiro.
- Comé?
- Eu disse que pago em dinheiro.
- Mas eu já disse que não vou sair contigo.
- Bom, a gente pode parcelar...
- Aff... você tem o novo orkut?
- Tenho.
- Então me mande o convite para o novo orkut, tá bom? Aí aceito sair contigo. Mas só uma noite. E sem sexo.
- Sem sexo?
- Tu tem carro?
- Sim...
- Então apenas uma noite.
- Combinado.
- Tu me ligas.
- Com certeza.
- Beijos, Cowboy.
- Até mais, gata.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Fidelidade

Abro mão de muita coisa para alcançar o papel que ocupo na sociedade. Inclusive de uma vida pessoal e de um sentido para esse espaço que utilizo sem existir, fruto de um fiel e doloroso autoengano.

Pobre blog. É quem acaba sofrendo as consequências.

O que vou dizer dos leitores?

Meu silêncio me mantém como um nobre contribuinte fajuto e, minhas escritas, como um ignorante sagaz viril.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Personagens


De onde escrevo o calor é completamente desconfortável. Sinto algumas gotas de suor escorrer pelo rosto. No espaço acima de mim, as pás do ventilador não dão conta de distribuir a temperatura abaixo do que se espera de um objeto como esse. Então, em meio ao assassinato planetário, cujas conseqüências se ramificam por todo meu corpo – desde a mensagem que permito passar com a vestimenta curta até as condições térmicas do meu organismo – decido voltar a escrever.

Entretanto, não é um momento propício a expressar pensamentos por meio da escrita. Ao menos, quando o calor é escaldante, eu não consigo assentar ordenadamente alguma epístola que anseio sentir ao transmiti-la. Mesmo assim aceito o desafio proposto por mim. Estou trancado em casa há quase 72 horas; lá fora vejo um mundo, apesar de quente, colorido. Apesar de colorido, imundo.

Amanhã dou início a uma nova etapa de minha vida acadêmica, profissional e colorida. É um passo importante que descodifica toda raiz madura e idealista quando se possui 21 anos transcorridos. O martírio do oxigênio sujo dá lugar à nostalgia. O que iremos encarar pela frente? A vida é tão breve, tão misteriosa e tão desbravadora.

Às vezes, ao notar o compasso do cotidiano e expressões faciais levemente interpretadas por atores que me cercam, peco no depósito excessivo de confiança cedido a seres da mesma essência que eu. Eu não aprendo a ser maledicente, o mundo é que me dá suporte para a maledicência; e quando falo em ‘mundo’, me refiro a tudo que o compõe. Toda essa história barata vendida por nós, por deuses e pela ciência. Pregamos-nos para o (in)falível quando não temos respostas na ponta da língua.

De qualquer maneira, continuarei depositando confiança aos mesmos seres. Porque acredito na nossa qualidade de pensamento. Porque ainda creio em nossas capacidades cognitivas enquanto sofremos com as nossas habilitações sociais e naturais. Pois bem, a consciência está aí, e bate à porta de cada um que manifesta desprendimento do comum, do usual, ao que os olhos estão acostumados a enxergar. Esta é apenas uma opinião parcial de quem sente tradicional desespero existencialista, de quem sente muito, mas muito calor. De quem irá sair de casa neste instante para respirar a finitude da nossa poluição.

A nova etapa profissional e acadêmica me cairá bem. Preciso conhecer sabores diferentes dos que já provei. Seja em qualquer meio que me insiro. Só assim poderei provar, ainda que prematuramente, o valor da confiança. Eu não sou maledicente, sou muito mole para isso. Sou repleto de sentimentos e (ir)racionalidades. Eu deveria carregar muralhas dentro de mim. Mas as forças renováveis que transporto de um lado para outro despeitam sonhos e mais sonhos. Muitos eu já alcancei. É uma sensação única sentir o alcance deste sonho. É ficção – partindo do princípio. A realidade é crua e arde em falso. O jeito é reinventar, renovar. Seja uma vida inexplicada, uma confiança quebrada ou um calor desconcertante;

Necessitamos nos reinventar a cada segundo, ou nos renderemos a descompaixões eternas de nossas mentes que jamais perdoaram realistas amargos. É por isso que existe a ficção. E é por isso que temos os nossos próprios personagens.