Coluna do Luan

domingo, 30 de dezembro de 2007

Rumo ao litoral

Estou tirando uns dias para me bronzear. Volto dia 12 para contar as novidades e com certeza as histórias que virão como consequência. Afinal, praia sempre rende bons contos, não?

Um grande abraço a todos, e que 2008 seja um ano mais brilhante para aqueles quem realmente possuem vontade de mudar para melhor.

Saudações.

L.I

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

10 coisas para não fazer em um reveillon

1 – Jamais pule as sete ondinhas no Hawaii.

2 – Ao chupar uma Uva, não engula o caroço pensando que trará sorte ao seu estômago.

3 – Se estiver em um avião na virada do ano, não solte fogos.

4 – Não faça promessas antigas das quais nunca cumpriu. Inove. Mentiras novas para um ano novo.

5 – Se você for do tipo que guarda lentilhas na carteira, não acumule. Pegue as do ano passado e coloque para ferver. Assim você mata as bactérias e tem almoço garantido para o dia seguinte.

6 – Se você for comprometido, não faça juras eternas de amor, o ano tem só 365 dias.

7 – Cuidado com a escolha da roupa, se você for médico, com certeza não chamará atenção pela vestimenta.

8 – Caso seja bombeiro, não acabe com a diversão dos outros.

9 – Não exagere na bebida. Beba somente para a virada e não para o ano inteiro.

10 – E o fundamental: Se for adepto ao viagra, não faça sexo na “entrada de ano”. Isso não lhe trará sucesso.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Pseudo-Natal


Estava aqui sentado em minha poltrona, dentro de meu templo – nome ao qual batizei meu quarto – e fiquei pensando no último Natal em que eu acreditei em Papai Noel. Não consegui me recordar. O que lembro, é, que, até aos 10 ou 11 anos eu fingia crer no Papai Noel para não deixar de ganhar presentes. Lembro-me também, que, ainda na infância, obviamente, recebi uma bicicleta pela janela. Eu deveria ter uns nove anos. Era um Natal como todos os outros. Deixei a tal cartinha para o bom velhinho na lareira e na noite do dia 24 lá estava ela: Uma Caloi esverdeada. Perguntei para a minha mãe como a bicicleta veio parar ali dentro, já que ela era demasiado larga para passar pela chaminé. Ademais nem sei como o próprio velho passava dentre nossa apertada chaminé. Mas era Natal, vale tudo, ou quase tudo. Foi então que minha mãe disse que o velho havia passado minha Caloi pela janela. Mas como? Com todas fechadas? Minha mãe insistiu em dizer que o velho do Pólo Norte tinha um “pó mágico” do qual utilizava em algumas ocasiões. Sei...essa resposta de minha mãe foi o primeiro indício da desconfiança de que Papai Noel não existe.

Aos sete anos eu pedira para o velho avermelhado um avião Boeing. A questão era a seguinte: Até aos sete anos eu acreditava fielmente em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, homem do saco, boi da cara preta, essas coisas todas. E em quase toda minha infância eu sonhei em ser piloto de avião. Achava aquilo um máximo. Pilotar aeronaves poderosas, tão grades, levando tantas pessoas...então esperei ansiosamente pela noite do dia 24 para ver se realmente eu iria ganhar um Boeing, só para mim, quase não dormia de ansiedade. Até que a noite chegou, fui até a sala onde o velho supostamente deixava os presentes e tive uma das minhas primeiras decepções. Havia ganhado um Boeing de brinquedo! Mas que diabos era aquilo? Isso é um avião de brinquedo! Um pouco menos de 30 centímetros, era com controle remoto e tudo, mas por mil ampulhetas! Era de brinquedo! Nessa noite também passei a duvidar da existência do velho por não ter meu pedido atendido, em parte. Na minha cabeça de criança, eu nem pensava de como eu colocaria um Boeing no jardim, mas para mim, naquela época, isso era um mero detalhe.

Passado todos esses anos, eu ponderei sobre o verdadeiro espírito natalino. Descobri que 80% das comemorações de Natal das famílias brasileiras, e por que não, do mundo todo, são preenchidas por hipocrisia. Aquela troca de presentes absurdamente estúpida de familiares que não se vê há 11 meses, que nem se quer se telefonam há 11 meses, e aprecem dizendo que estavam com saudade, que vão marcar encontros durante o novo ano. Então a noite de comemoração acaba, e o teu familiar nem anota o teu número para marcar “os encontros” e já sai avisando o que era de esperado: “Até o ano que vem”. O Natal já é quase uma solenidade, uma obrigação de dar presentes. Ninguém, ou quase ninguém sabe o que é o Natal. Às vezes sinto saudade de quando eu era criança, e tinha dentro de min aceso e brilhante o espírito natalino. Eu era sempre o primeiro a me empolgar não só com o Natal, mas com as festas de final de ano. Sinto que naquela época eu era feliz, ao mesmo tempo inocente das reais intenções dos demais perante o dia em que também supostamente Cristo nasceu. Digo supostamente porque não creio nessas estórias. (Não entrarei no mérito da religião, caso contrário terei que desenvolver um capítulo sobre o meu posicionamento a respeito de Deus; no entanto, respeito a opinião e as crenças de todos.)

Agora também não quero polemizar o Natal. Refiro-me ao meu Natal, o de minha família, meus irmãos, meus pais e minhas cadelas. Onde o afeto e a intenção de proporcionar um 25 de Dezembro mais feliz sempre veio à tona. Passar essa data com quem amamos talvez seja fundamental para quem ainda possui a paciência e inocência. Confesso que ainda tenho um pouco disso. Afinal de contas, continuo sonhando em ganhar um Boeing.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A maleta - 1° capítulo

Abro ou não abro? A minha frente estava a maleta que mudaria o rumo de toda a minha vida. Fui até a cozinha, descasquei uma banana, mastiguei, joguei a casca fora. Pensei mais um pouco. Voltei à sala e resolvi abrir a maleta. Não sei muito bem o que podia me reservar quanto ao seu conteúdo. Mas era época de natal, era dezembro de 98. Outros tempos, é verdade, mas foi a partir desse ano que pude me conhecer melhor. Não sei como explicar esses fatos tão densos em minha vida. Na realidade até sei, porém as palavras devem ser escolhidas com cuidado, para que não pensem que sou um assassino. Fiz isso porque era necessário. Era extremamente necessário matá-la para que eu alcançasse meus objetivos. Aliás, foi uma morte rápida a dela, com pouca dor.

Quando entrei no meu carro no dia 12 de agosto de 1998, conheci uma mulher chamada Ângela Figueiró. Ela era linda. Tinha as medidas perfeitas para uma modelo. Pena que naquela manhã do dia 12 de agosto ela resolvera me assaltar. Entrei no carro, dei a partida, e um segundo depois Ângela me apontava um revolver pelo lado de fora do veículo. Imediatamente a deixei entrar e me roubar. Ela tinha classe e sensualidade de sobra. Com cabelos loiros, pele clara, olhos azuis e lábios carnudos. Parecia feita de porcelana. No começo queria entender porque uma mulher como aquela estava assaltando. Bem vestida, com um decote de tirar o fôlego, sabia a gramática de cor, aparentava ser culta, viajada, e, sobretudo, era jovem, muito jovem. Quando ainda não a conhecia, eu dava 28 anos para ela. Depois fui descobrir que, na verdade, ele tinha 25. Recém aprovada no concurso. Era filha de pais ricos, morava na grande Porto Alegre, e havia se mudado para capital por causa do namorado. O nome dele? Chapola. Isso mesmo, Chapola. Ele comandava uma das bocas mais rentáveis de fumo da zona norte. O meu papel era apenas desvencilhar as versões que chegavam aos meus ouvidos. E foi assim que matei as minhas primeiras vítimas. Ângela bem que tentou me assaltar, mas ela não sabia o que estava fazendo. Queria atirar em mim sem engatilhar a arma. Roubou-me apenas algumas cédulas de cinqüenta e saltou, correndo. Naquele instante eu sabia que eu era capaz de matar. Soltei o freio de mão e acelerei, atropelei Ângela sem piedade, ela ainda tentou desviar e só por isso que se salvou.

No dia seguinte, eu desfrutava do sol de minha varanda quando o meu celular toca, era Ângela com o poder de sua voz sensual:

- Bela tentativa, Doutor.
- Quem é?
- É a Ângela, tivemos um encontro inusitado ontem.
- Desculpe. Não me encontrei com nenhuma Ângela ontem.

Desliguei o telefone. Em vão. O celular toca, é o mesmo número, me levando da minha cadeira de plástico, saio do sol e vou até a sala de estar:

- Alô?
- Como tu és grosso, Doutor.
- Quem é você?
- Não está lembrada de mim? Tu tentaste me atropelar ontem, depois que errei o gatilho.

Calmo, eu respondi:

- Tu não erraste o gatilho, tu nem engatilhou, és amadora.
- Eu não diria isso se fosse você.
- Como conseguiu esse número?
- Digamos que tenho alguns contatos...
- Pois então procure outro otário para ligar...

Quando eu estava prestes a desligar ela me interrompe:

- Eu sei do teu passado, Doutor...
- Do que tu estás falando?
- Tu sabes muito bem do que estou falando, da garota que tu esqueceste no HPS...
- Quem é você?
- Uma admiradora secreta.
- Não sabia que admiradoras secretas eram assaltantes.
- Não seja idiota, Doutor. Não sou uma assaltante, sou uma jogadora.
- O que você quer de mim?
- Me encontre no mercado público, às 11 horas, quero lhe fazer uma proposta.
- Onde no mercado público?
- No segundo piso, estarei com uma blusa vermelha e uma calça jeans.
- Um tanto informal...
- Tu vai ir?
- Eu vou receber meu dinheiro de volta?
- Se tu fores um bom garoto...

Desliguei o telefone. E fiz tudo no impulso, não sabia exatamente onde eu estava me metendo, só queria meu dinheiro e meu segredo de volta. Logo que me formei em Medicina, em 93, cometi um erro irrevogável. Minha mãe sempre dizia que médico não pode errar, e exercer essa profissão é condenar sua vida em prol das outras. Ela tinha razão. No dia 4 de maio desse ano esqueci de repassar uma garota de 17 anos para cirurgia de emergência, era Natal, estava chovendo, a emergência lotada, dezenas de casos, e quando lembrei daquela garota ela já estava morta. Por sorte ninguém mais lembrou, joguei fora sua ficha de atendimento e sumi com o corpo. Ela, em princípio, não tinha família, era uma garota abandonada, que morava em uma vila. Chegou ao hospital ensangüentada, havia sido atropelada na Borges de Medeiros. Esse caso me abalou porque eu podia tê-la salvado. Anos mais tarde eu pediria demissão por eu não conseguir manter minha postura de médico residente. Desde 96 trabalhava em consultório, até encontrar Ângela.

Fui ao mercado público no horário combinado, a encontrei sentada em uma mesa de bar, no segundo piso. Ela segurava uma maleta a qual me traria inúmeras dores de cabeça. Sentei ao seu lado, e mantive meu rosto erguido, sem olhá-la.

- Olá, Doutor. Demoraste.
- Muito prazer, Ângela...
Ela fala rente a minha orelha, quase beijando o meu pescoço:

- O prazer é conseqüência. Satisfação.

Meu corpo estremeceu todo, que mulher era essa? Não consegui mais ignorá-la. A encarei quase que cara a cara:

- E então, qual é a sua proposta? E como sabe desse caso da garota?

Ela olha para o lado, preocupada e, sem mais nem menos, me beija. Foi o beijo mais saboroso que já experimentei. Senti sua língua envolvente, ela sabia como conquistar um homem. Quase me rendi, até que recuei:

- O que você está fazendo?
- Precisamos sair daqui!
- Por quê?
- Tu estás de carro?
- Sim.
- Então vamos!

Ela se levanta com uma agilidade invejável, me puxa pelo braço e me leva até o primeiro piso. Caminhamos rapidamente até o meu carro. Ela pediu que eu a levasse ao meu apartamento, não gostei da idéia, mas o que eu tinha a perder? Ela estava tensa e acabou me assustando. Dirigi abismado, durante o percurso ela ficou quieta, e só pude sentir suas mãos sobre minha perna. Perguntei o que ela estava fazendo, ela disse não saber, mas colocou suas mãos sobre o meu órgão sexual, e isso me deixou com os desejos a flor da pele. Depois desse detalhe só lembro dela de quatro pra mim, na cama, gemendo, murmurando, me arranhado, enfim...acabei me envolvendo com uma legítima jogadora.

Descobri que ela fora sincera comigo desde o início. Ao mexer em suas roupas jogadas no chão de meu quarto, encontrei sua carteira: “Ângela Figueiró - Agente Federal”. Fiquei indignado, senti pela primeira vez, a vontade inalienável de matar uma mulher. Ao lado de suas roupas estava a maleta, a maldita maleta que fui abrir na hora errada. Ângela acordou bem na hora em que me deparei com mais de 25 mil Euros dentro daquela maleta. Ao me ver com o dinheiro ela se apossa de uma pistola já engatilhada e atira em minhas costas, eu desmaio e ela foge. No começo achei que fosse morrer, mas fui forte, me automediquei e chamei um amigo para que retirasse a bala enfiada dentre minhas costelas. Desde esse dia Ângela se tornou uma caça para mim. Passei semanas atrás dessa vadia. Para uma agente federal corrupta, ela sabia muito bem como se esquivar das confusões que arranjava.

No dia 13 de Dezembro fui até a favela de Chapola, na Zona norte, em uma mão segurava uma pistola e na outra uma faca afiada para situações de emergência. Passei despercebido, por ser médico, os favelados já me conheciam. Foi então que flagrei Ângela e Chapola fazendo sexo. Ela era mesmo uma cadela, primeiramente atirei a faca nas costas dela e em seguida, dois tiros no seu crânio. Chapola mal teve tempo de respirar, levou um no peito e outro no meio da testa. Naquele dia, no mercado público, Chapola estava nos vendo. Ângela me beijou para que ele não a reconhecesse, afinal, a namorada dele não beijaria outro homem, beijaria? Ângela fora esperta desde o começo. Uma filhinha de papai, que entrou para o polícia e namorava um traficante, coisa boa não podia ser. No mesmo dia em que matei Ângela e Chapola, encontrei a mesma maleta, não quis abrir de imediato, preferi ir para a casa. Passei pelos favelados tranquilamente, como quem só foi ver um pasciente, entrei no meu carro e parti. Chegando em casa, sentei no meu sofá, larguei a maleta na mesa da frente e pensei: Abro ou não abro? Fui até a cozinha, descasquei uma banana, mastiguei, joguei a casca fora. Pensei mais um pouco. Voltei à sala e resolvi abrir a maleta. Lá dentro não havia mais Euros, e sim uma foto de meus pais, falecidos em 1992, com uma garota ao lado, igual a aquela que deixei morrer no HPS. E atrás da foto havia uma legenda com o nome de fotógrafo: “Família Unida – Foto por Ângela Figueiró”. Até hoje fico pensado: qual seria a proposta que Ângela me faria? Talvez se eu não tivesse a matado, eu não descobriria o meu pior pesadelo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Diálogos de um casal moderno em plena segunda-feira

Quando João entrou na sala e viu Maria tricotando pela manhã decidiu sentar ao lado dela e tomar seu café. O casal freqüenta a faixa da terceira idade há uma década, ambos são aposentados e passam o dia discutindo atualidades. João alimenta sua rotina olhando os jornais, e quando lê a manchete estampada com a foto de torcedores chorando: “Corinthians é rebaixado”, ele não hesita:

- Quanta besteira

Ele senta à mesa, ela o fita:

- Bom dia pra ti também.
- Bom dia, mulhé.

Voltando a tricotar:

- O quê é besteira?
- Só por que o Corinthians caiu pra segundona tem choro pra tudo quanto é lado.

Ela se demonstra surpresa:

- O Corinthians foi rebaixado?

Ele larga o jornal, pega a xícara, coloca café e um pouco de açúcar:

- Credo, heim mulhé!? É só o que se fala na mídia esportiva. Não viu os jogos ontem?
- Ai, João, tu sabe que eu nunca gostei dessas coisas de futebol, pra mim tudo é futilidade. Enquanto esses jogadores semi-analfabetos ganham salários exorbitantes, há pessoas morando nas ruas sem ter o que comer. E pior de tudo é que nós pagamos esses salários, indo aos estádios, assistindo jogos pela televisão, gastando mais de cem reais em uma camiseta de um time. Pra mim isso tudo é ignorância, o entretenimento passou a ser prioridade, tudo é jogo de interesses, e tudo é conseqüência, por isso que o mundo ta onde está.

Volta a ler o jornal:

- Mulher, tenho que admitir, as vezes tu me assusta. Por Deus! Não me vai entrar na política!
- Sou uma velha muito inteligente para entrar na política.
- E modesta também.
- Falando em política, tu viu que o teu ditador foi derrotado no referendo.
- Sim, ele me ligou ontem.
- O Chavez te ligou ontem?
- Aham.

Ainda tricontando, ela desaba às gargalhadas:

- Hahahaha....ai homem de Deus. Tu ainda me mata de rir...

Ele olha espantado:

- Ah, então tu não acreditas em mim?
- O quê? Que o Hugo Chavez te ligou?
- É.
- Já falei pra te parar com essas mentiras.
- Tudo bem, eu desisto. Vou assistir minha televisão que agora será digital.

Larga o jornal e pega o controle e a xícara servida. Ela indaga:

- Tu viu quanto que tá os preços dos conversores?
- Sim, quase mil.

Ele liga a TV, toma um gole do café, ela responde:

- É um absurdo!
- É o preço da qualidade.
- Preço da qualidade? Nos Estados Unidos o preço do chip que disponibiliza a imagem digital custa 20 dólares.
- Por isso que é nos Estados Unidos.
- Como assim?
- Aqui no Brasil tudo é burocrático, só com os tributos esse preço quadruplica, o que não justifica esse valor, concordo, mas nosso país é muito ganancioso, a começar pelo futebol.
- É, e pela política.

Nesse momento o celular do João toca:

“Por que não te calas, por que não te calas, por que não te calas...”

- Aí, ó Mulhé, ó o homem ligando de novo...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Sinceridade de um mundo real

Com a testa crispada de suor ele jurou casar-se com Madalena. Uma mulher de 26 anos, cabelos escuros, voluptuosa, e inteligente. Madalena tinha ideologias extremamente rígidas. Ela dizia, por exemplo, que o nazismo deveria ser aplicado aos políticos corruptos, como se eles (os políticos) fossem judeus. Defendia a ditadura de Pinochet, e ainda afirmava com grande veemência que queria ter participado do golpe militar. Madalena, de certo ponto, assustava Augusto, com quem também jurou se casar. O matrimônio estava marcado para meados de setembro, o mês preferido de Madalena. Porém, o casamento não aconteceu. E o motivo é dilacerante.

Nas férias de julho, eles resolveram viajar para Europa. Visitar países até então considerados fascinantes. Mas ao chegar a Amsterdã, na Holanda, Madalena se recusou a passar mais de um dia. Falava que Amsterdã era uma cidade sem lei, onde o sexo e as drogas eram tão corriqueiros quanto beber água e tomar banho. Resolveram ir a Paris, mas Madalena se recusou a passar mais de dois dias. Argumentou que a Torre Eiffel aparentava ser mais bonita pela televisão, e ainda criticou a comida francesa, dizendo que preferiria à moda espanhola. Então os dois foram até a Espanha, mas Madalena se negou a passar mais de três dias em Madri. Alegou que os espanhóis são arrogantes e ultrapassados. Vivem na idade contemporânea. E alem de tudo, possuem um mau gosto tremendo quanto a vestimenta. Resultado: voltaram ao Brasil uma semana depois.

Ao chegarem ao aeroporto, Madalena, sem hesitar diz:
- Te amo.
Augusto não sabia o que falar. Um homem de 32 anos, bilíngüe, culto, bem sucedido, parecia ter perdido as palavras. Madalena olhou-o atentamente e indagou:
- Tu não vais dizer nada?
Ele pensa mais um pouco antes de falar alguma besteira. Ela começa a ficar nervosa:
- Tu não me amas? É isso?
Ele toma a palavra:
- O que tu achas?
- Não sei mais o que achar. Passaste a semana inteira emburrado comigo.
- Pois é...por que será?
- Sinceramente?
- Por favor.
- Eu não sei!
- Não precisa gritar, estamos no aeroporto.
- E daí? Tu achas que os casais não discutem nos aeroportos?
- Tu não precisas ser barraqueira.
- O que? Chamaste-me de barraqueira?
- Até que provem o contrário...
- Não fale mais comigo! Seu grosso!

Augusto e Madalena entram no táxi, mudos. Chegaram ao condomínio, mudos. Ao entrar no apartamento Madalena pegou suas coisas, arrumou sua mala e soltou a frase que estava entalada na sua garganta há meses:
- Sabe de uma coisa, Augusto? Eu não te amo. Sou uma mentirosa. Uma cachorra. Que te traiu durante todo nosso relacionamento.
- Agora me conte uma novidade.
- Como é? Tu sabias que eu lhe traía?
- Minha querida, até o carteiro sabia...Tu deverias ser mais discreta.
Madalena fica pasma:
- Mas porque nunca me falou nada?
- Não tinha por que falar.Tu sempre me deste o que eu quis.
- Como assim?
- Tu sabes do que estou falando...
- Tu estás dizendo que ficou comigo só por sexo.
- Tenho que admitir, nisso tu é mestra.
- Seu cachorro!
- Minha cadela!
- Eu não sou sua cadela! Não me chame assim!
- Sabe o que eu acho mais engraçado em ti, Madalena? Tu reclamaste da Torre Eiffel, falaste mal dos espanhóis, e o melhor: Odiou Amsterdã.
- E qual o problema? Sou uma mulher de princípios!
- Sei...princípios...
- O que estás insinuando?
- Eu? Nada. Só acho ridículo falares de princípios, quando seu passado lhe condena.
- Meu passado me condena?
- Ah...entendi...tenho que esquecer que te conheci quando ainda era uma garota de programa?
- Não vejo problema nisso, meu bem. Era um trabalho honesto.

Augusto vai até a copa, enche um copo com uísque, toma um gole e grita:
- Tudo bem...vamos ser sinceros então!

Madalena, revoltada, vai até Augusto e replica:
- Achei que teu joguinho já tivesse terminado.
Ele sorri:
- O jogo apenas começou...

Com uma troca de olhares, abruptamente ambos ficam nus, se deitam na mesa da copa, e alimentam seus desejos aflorados.

Após o ato, Augusto confessa:
- Eu também não te amo, e lhe traí durante todo nosso relacionamento.

Ela calma, responde:
- É, eu sei...

Mesmo com as confissões, tudo parecia normal. O casamento foi remarcado para janeiro, mas em dezembro eles fariam uma viagem para África. Até lá Madalena continuava com suas ideologias rígidas. Ela se relacionava por dinheiro, e ele por sexo. Sem amor, eram felizes. E acima de tudo, sinceros.

domingo, 28 de outubro de 2007

A flor desbotada


O amor é como uma flor desbotada. Há sofrimento, há dor, há extravagância de sentimentos. Mas não se pode só enxergar o lado colossal do amor. Devemos enxergar o que nos cega quando estamos apaixonados. Por mais que o amor e a paixão sejam sentinelas da alma, há momentos em que esquecemos do próprio eu indo de encontro ao acaso. Nas dúvidas que derrapamos nossas certezas firmamos um conceito, uma opinião, um ponto de vista peculiar. Nossos ideais são invertidos conforme mendigamos para o desnecessário. Haverá um dia em que as flores nascerão mais ricas, o povo mais solene, e os valores mais concretos. Haverá dias em que sentiremos a dor da hipocrisia tão combatida e ao mesmo tempo tão praticada. São contradições de uma vida qualquer. Com uma doença qualquer, com filhos, com esposa, com problemas sociais. Aí culpamos a polícia, os políticos, e nos deparamos com a falta de amparo. É...um dia também fomos racionais. A crítica fica a mercê de uma mídia que julga restabelecer-se a mercê do interesse público. O que há na realidade do dia-dia é conflito de interesses. Somos homens, somos mulheres, somos crianças, todos temos uma validade. Somos impostos à morte inúmeras vezes em nossa jornada fictícia. Brincamos de viver e quando estamos prestes a perder quem mais amamos nos damos conta de que a brincadeira acabou. A batalha deve começar e então o ciclo continua. Cada um julga extremamente necessário administrar-se para encher a barriga. Há aqueles que uma vez ou outra encheram suas barrigas. Talvez seja justo, talvez não. Talvez devemos dar linha ao conformismo inanimado. Nossos anseios ficam escondidos atrás da pétala de rosas que esmagamos ao pisar no chão. Não temos objetivos porque achamos que objetivos são para os que têm condições. Não podemos difamar nossa sabedoria por preguiça. A onda é gigante, porém mergulhável. Agindo de acordo com nossa atualidade só iremos nos afogar. E sendo assim, também chegará o dia em nos faltará ar para reagir.

Não esconda o seu amor. Ele mais do que nunca, pode ser a salvação dos seus dias de glória. É importante não esquecermos de aprender, e para isso independe de idade, de cor, de sexo, de opção sexual. Deveríamos aprender uns com os outros e dizer que isso ocorre é andar para trás, ascender um cigarro, desperdiçar água, jogar lixo na rua. Deveríamos também aprender a amar. Mas temos medo de nos iludir, aí não podemos amar. Quanta ignorância. Olho ao meu redor e me decepciono. Proporciono-me prazer acreditando que posso ser feliz assim. É verdade que certa vez fui feliz. Mas foi tão pouco e tão rápido. Eu que desejei a força divina em minhas intervenções, mal sabia que eu a possuía. Nós a possuímos. E poucos a usam. O labirinto é grande e com uma única saída, se perder, é natural. Os olhos famintos não conseguirão jamais esconder a solidez da prepotência e da ganância. É dever do ser humano admitir os seus erros e seus pecados. E é justamente por isso que poucos, muito poucos, são capazes de enxergá-los.

A polidez com que usamos argumentos é tão fútil quanto a nossa existência. Desta forma mantemos nossas injustiças acreditando sermos éticos. Se cada um descobrisse que pode ser melhor do que demonstra talvez o nosso planeta tivesse mais camada ozônio. Mais civilidade. Mais sorrisos. Nossas atitudes maléficas são facilmente absorvidas como uma leveza estúpida. Preocupamos-nos com o campeonato de futebol, roupas de marca, baladas “imperdíveis”, objetos tecnológicos da moda, o carro do ano, em arranjar namorado urgente porque não conseguimos ficar sozinhos um só instante. Somos tão bons que esquecemos de nós mesmos. Vivemos assim porque nascemos assim. Para quê mudar? Chegará o dia em que minha flor desbotada me ensinará a viver. E espero que não seja tarde para aprender a amar.

sábado, 13 de outubro de 2007

O começo do fim


Quando você está de férias o que não falta é moléstia. Ou você quer ler todos os livros de uma vez só, assistir todos os filmes em uma única noite, ou ainda ir ao supermercado com intuito de comprar CDs sertanejos. A verdade era que eu estava de férias só no que diz respeito a minha mente. O corpo estava trabalhando. Tive aulas como todo e qualquer estudante universitário, ouvi opiniões ridículas, suportei as piadas de mal gosto de alguns colegas e não repliquei para ninguém. Superei-me. Apenas observava o mundo de como ele é. E não a vida, como escrevia Nelson Rodrigues. É interessante avaliar o funcionamento do mundo, e das pessoas então...nem se fala. Fico impressionado de como há seres incongruentes. Talvez prepotente seja a palavra mais adequada. No entanto, não quero entrar no mérito de ideologias. Apenas continuo na minha lenta caminhada de tentar entender o planeta.

Quando entro no carro, por exemplo, para me locomover em distâncias relativamente longas, não hesito em olhar para o céu e admirar a beleza tão ignorada no dia-dia. Absortamente me perco nas nuvens que até pouco tempo atrás eu achava que eram de algodão. Até pouco tempo atrás eu acreditava que o Papai Noel entregava milhões de presentes em poucas horas com seu trenó voador. Já até acreditei no tal coelhinho da páscoa. Todas essas histórias refletem na vida de um cidadão movido a capital. Por vezes me machuco tão profundamente que não me dou conta de que a culpa não pertence somente a mim. A arrogância é um sentimento que corrói aos poucos a lástima de qualquer humano com boas intenções. Veja a nossa biosfera: Ela era linda, saudável, colorida. Olhe para nós: éramos mais convictos, certeiros, saudáveis e felizes. Já relatei o tamanho desespero que sinto quando aspiro gás carbônico em excesso. Meu amigo Jefferson diz repetidamente que a sociedade convive de olhos vendados. Ele tem razão. O mundo é uma venda enorme manchada de sangue. Não quero aqui contemplar o papel de cristo. Mas pegue o seu exemplo, pondere-se. Quando foi a última vez que você realizou um ato verdadeiramente bondoso? Passar cola não conta. Dar apoio moral no término do namoro de uma amiga também não. Nem cogite a hipótese de emprestar dinheiro. O que mais me deixa eloqüente é fato de sabermos que estamos nos matando gradativamente e mesmo assim não adotamos outra postura.

Há alguns meses eu convidei um estranho para almoçar comigo. Eu não o conhecia, assim como ele não fazia idéia de quem eu era. A questão é que ele estava precisando de dois reais para almoçar, e eu de companhia. Ambos nos ajudamos. Ele ouviu os meus problemas e eu ouvi os dele. Quando relatei esse episódio há alguns colegas todos disseram a mesma frase: “Luan, tu és louco!”. Não havia compreendido. Eles alegaram que eu poderia ter sido assaltado, seqüestrado etc. Até poderia, se eu simplesmente tivesse ignorado o estranho como a grande maioria faz. Depositei confiança nele, e isso se tornou recíproco. Minha intenção não era ajudá-lo para vir aqui e escrever “eu sou uma pessoa boa!”, apenas queria sair da rotina. Sair da igualdade de conceitos. Descobri que o mundo é o que é porque somos todos ignorantes. Aliás, já escrevi isso em outro texto.

Mas, de fato, estamos muito ocupados com baladas, beijo na boca, sexo negligenciado, dinheiro, carro novo, roupas de marca, materialismo total. Não estou pregando que a sociedade deve renunciar o seu padrão de vida. Mas deve estar atenta para os valores invertidos. Cuidado com a ganância. As pessoas mais gananciosas pensam que são “espiritualizadas”. Não tenho saco para este tipo de argumento. Se fosse o Jéferson já diria: “Estão todos vendados”. E eu não me excluo dessa parcela. Até porque escrevo este texto na esperança de que alguém me entenda, e por que não, me socorra de um labirinto cuja saída está cada vez mais distante pela procura de uma felicidade temporária.

Caros amigos-leitores, por mais que não pareça, eu voltei com uma imensa felicidade temporária depois de ler os comentários. Obrigado pela paciência. Voltei para manter esta inteiração. Confesso que eu não agüentava mais tal abstinência. É importante não esquecermos de que todo começo tem seu fim, até o espaço tem. Basta saber enxergar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Férias

Estou em meio a uma crise existencial. Por isso resolvi tirar férias. Volto em meados de outubro. Se, porventura, sentirem minha falta, deixem recados no mural ou comente aqui mesmo. Assim, saberei a verdadeira hora de voltar.

Hasta Luego.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Problemas que eu sinto

O mundo está com sérios problemas mentais. Problemas céticos. Problemas religiosos. Problemas que nunca serão resolvidos por serem criados a partir de um ponto sem origem. Um ponto sem origem nunca chega ao seu destino final. Até porque a palavra destino continua sendo manipulada por aqueles que acreditam no poder de suas hipocrisias. Não creio no destino senão nas minhas escolhas. Mas o mundo não compreende isso. Parece que justamente o mundo conspira contra ele mesmo. É fantasmagórico de como o ser humano pode ser tão forte e tão fraco em igual período. Como podemos perder um valor do dia para noite, e como podemos ser valorizados depois de muitos anos. E a justiça? Essa cumpre imagem de sua estátua: é cega.
E a política? Essa cumpre o dever partindo dos princípios contrários da grande maioria do povo: é corrupta. E a economia? Essa cumpre a sabedoria dos números enganados por uma fórmula mágica do crescimento: é aleivosa. E a educação? Não existe. Acredito que a educação é tão inventiva quanto à economia. A diferença é que na primeira, nós fingimos que estudamos e os professores fingem que ensinam. E na segunda, nós brincamos de faz-de-conta com a numerologia e percentagem.

Talvez o que eu sinta seja fortes dores de estômago provocados por uma impaciência alheia. Na verdade eu sinto muito mais do que isso. Creio que sinto um domínio soberano vindo de um país tropical sem olhos para a ética. E não me refiro apenas a ética política. O que de fato me importuna são as levezas maléficas de pobres seres que pensam ser ricos de espírito. Pensam que sabem pensar. Pensam que sabem decidir. Pensam que sabem o que é a vida. Ninguém sabe o que é a vida. Se soubessem, saberiam aprecia-la com mais cordialidade. Também sinto que estou em constante desespero. Porém, minha desesperança tem involuntárias facetas responsáveis pela contínua evolução da raça. É assim como levamos nosso cotidiano. Involuntariamente. Mentimos para nós mesmos quando dizemos que somos culpados pelos nossos atos. Ora, isso é bobagem. Ninguém sabe o que é culpabilidade assim como não sabem responder as questões que envolvem a vida. Basta perguntares quem tu és para entrar em transe. Às vezes eu queria ser livre da disciplina que tanto me atormenta pelos olhos parciais que pregam ser insuspeitos. Mais uma prova da dura realidade que tem como antônimo o realismo.

As divergências de meus ideais tornaram-se corriqueiros. Comum diante de uma sociedade imatura. Ai, minha cabeça dói. Dói bastante. Uma pedra de duas toneladas e meia neste exato momento tenta arrancar de mim o que eu tenho ou o que eu tinha de mais valioso: o amor e respeito a si próprio. Esta pedra é enorme porque representa dois terços da população mundial. Não sei se vou agüentar isso por muito tempo. Talvez eu deva me afogar na bebida alcoólica ou encher meus pulmões de fumaça nicotiniana como os humanos fazem. Talvez eu deva reproduzir e viver sem um propósito como os humanos. Talvez eu deva colaborar com a poluição como os humanos. Eles jogaram tudo no lixo no decorrer dos séculos. Guerrearam por causas bestiais, e sempre tentavam incessantemente competir nos poderes governamentais. São todos medíocres. Por momentos que desejei serem insólitos, senti-me redondamente envergonhado por compor essa mediocridade.

Mas não se pode criticar tudo. Admiro as pessoas que são capazes de crer no que não existe materialmente. Admiro as pessoas que são capazes de crer no que só existe materialmente. Admiro todos, apesar de odiar a forma errônea de como somos administrados. Como se fossemos bichos. Aliás, nem bichos merecem ser tratados como estão sendo. Nós somos tão inúteis que nem percebemos e nem tentamos buscar o motivo da nossa existência. Afinal isso daria muito trabalho: tem que pensar. Não nos aprofundamos em conhecimentos específicos, apenas no necessário imposto pela disciplinaridade. Claro, isso daria um tremendo trabalho: tem que pensar. Não nos damos conta que vivemos sob uma casca. Pois é isso que nosso corpo representa, uma mera casaca capaz de matar, comer e dormir. O que é para ser considerado importante torna-se invisível por ser abstrato. Deveríamos crer no nosso eu interior assim como cremos cegamente no amor. Se somos capazes de amar e odiar entre uma linha tênue, então temos capacidade ilimitada de nos compreender por um curto espaço de tempo. Jamais nos perderemos nas ilimitações das reflexões, uma vez que já estamos perdidos em nossos próprios corações.

Não há mais definições exatas das coisas. Tudo virou ambíguo. A diferenciação do certo do errado, com o tempo, será exterminada. Assim como o nosso planeta.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Simplesmente me recuso em comentar o resultado de ontem. Acho que preciso de férias.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A política númerica e rotineira do onze

Fui informado de que hoje é 11 de setembro. Particularmente não gosto do dia 11 independentemente do mês. Acho o 11 um número muito fútil. Por exemplo: 11 é o número de jogadores de futebol em campo. Onze é um mais um que é igual a dois. Isso não é frívolo? Perdoe-me aqueles que nasceram no dia 11 do mês 11. E aqueles que consideram 11 seu número da sorte. E aqueles que jogam o número 11 na loteria. Perdoem-me todos que incluem o 11 na sua vida. O fato é que tenho um motivo para não gostar desse número. Além da sua futilidade numérica, considero-o vago. É verdade que quase tudo em minha opinião é vago. A própria vida é vaga por assim dizer. Mas o 11? O que leva uma pessoa gostar de tal número? O dia mais melancólico está por vir: o dia onze de novembro de dois mil e onze. Aí é pra matar. Até hoje não entendo porque o Bin Laden não escolheu essa data para atacar os Estados Unidos. O onze iria deixar uma marca irreparável.

No entanto, há uma hora do dia em que eu adoro e que eu odeio o número onze. A hora que eu odeio é às 11 horas da manhã. Muitos adoram esse horário por está perto do almoço, mas eu não gosto. A hora que eu adoro é ás 11 horas da noite. E eu descobri o porquê. Às onze horas da noite na verdade são vinte e três horas. Então se pode dizer que a única hora em que eu o adoro é quando ele não é onze. Não é magnífico?

Pois é desse jeito que as pessoas levam sua rotina. Todo dia nós realizamos os mesmos hábitos, os mesmos serviços, dirigimos o mesmo carro, comemos quase sempre no mesmo prato, passamos pela mesma rua, e quando chega o final de semana cometamos a incúria de pensar: O que vamos fazer? Que vidinha medíocre. Há casos piores, que a rotina continua até no final de semana. Especialistas afirmam de que para ter uma vida mais saudável é necessário fazer uma única atividade diferente numa única vez por semana. Ou seja, em um mês serão quatro atividades diferentes! Isso é fantástico! Tem pessoas que passam à vida inteira fazendo as mesmas celeridades e esquecem de viver. Costumo chamar de pessoas que vivem mortas. Confesso que me atraio por contradições.

Esse blog é uma rotina. Mas ele não me impede de realizar outras coisas no decorrer do meu dia. É importante que não estipulemos hora nem data para realizar quaisquer atos que sejam de livre arbítrio. Entenda que sua rotina já é o emprego. E se seu emprego for o meio do qual tu és apaixonado, é uma rotina saudável. Fazer o que se gosta é apenas uma das receitas. Mas tomemos cuidados. É também de vital importância que haja convergência mútua quanto à vida profissional e pessoal. Convergência não é misturá-las e sim conciliá-las. Não sejamos preguiçosos. O Bin Laden saiu da rotina. Fez algo maléfico, entretanto diferente. Matou mais de 3 mil pessoas em uma manhã. É claro que o exemplo dele não serve para ninguém. Mas é que hoje é dia onze. E os números são rotinas disfarçadas de resultados diferentes.

Contudo serei sincero, o principal motivo de eu odiar veementemente o número onze é por ele ser o primeiro a puxar a fila dos números repetidos. 11, 22, 33, 44, 55, 66, 77, 88 etc. 00 não vele porque o próprio número já se considera sem valor. E como a sociedade, ao contrário de antigamente, não consegue viver sem dinheiro, o que representa 00 senão zero? Aliás. Acho que até gosto de zero, apesar de ser vago.

A política do onze está impregnada em nossas vidas e principalmente na minha. Acho que os americanos poderiam esquecer desse dia. Sei que isso parece um absurdo. Mas do que adianta ficar tocando na mesma ferida todos os anos? Por que ao invés disso não reforçam sua segurança partindo de princípios humanos e não partidários? Porque além de estarmos viciados em feijão-com-arroz, pensamos com ignorância. E a ignorância meus caros, é o primeiro passo a nos prender na nossa própria rotina.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Sessão aberta ou fechada?


Um grupo de parlamentares quer sessão aberta no caso do senador Renan Calheiros. Porém, o regimento interno da casa prevê em sessão fechada. A não ser que os senadores conseguissem mudar o tal regimento. Ainda há tempo, pois é na quarta-feira que chegará ao fim (ao menos em tese) o caso do senador alagoano acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista.

Ora, bolas! O Renan já devia estar em casa folhando a playboy de sua ex-posa!

O caso Renan lembra da minha gengiva. Há alguns meses eu achava que iria perder um dente, devido a dores intensas na região gengival. Aí eu descobri que não podia ser problema dentário uma vez que minha escovação seja saudável e no mínimo três vezes diária. O que de fato ocorreu foi uma pequena inflamação na gengiva, que com tempo cicatrizou. Assim é a política. Vêm as dores, as revelações, aí acabam descobrindo que a procedência é outra. Quando não é mais de uma. Passa certo tempo com direito a férias e polêmicas, até chegar a uma sessão na qual se resolverá tudo. Quanta ilusão.

O caso de Renan é apenas mais um dos tantos que vieram, e infelizmente me leva a crer nos tantos que ocorrem sem conhecimento público. Nós sabemos que estamos sendo roubados, passados para trás, mas não temos provas. Apenas suspeitas. Até que alguém se descuida. Aí a mídia recorre ao presidente: eu não sabia de nada. Aí a mídia recorre ao povo: isso tudo é uma vergonha! O povo tem razão. Isso tudo é uma vergonha, mensalão, mensalinho, crise aérea, e Renan Calheiros. E a culpa é nossa. Nossa sim, eleitores, nós damos a eles o poder. Nós pagamos os salários deles contribuindo pelo ar que respiramos, pelas estradas que rodamos, pelos alimentos que comemos. É verdade que não é bem assim, mas eles passam a mão no nosso dinheiro mesmo, e ainda reclamam que aumentar o salário mínimo vai quebrar os cofres públicos. Queria os ver sobrevivendo com o mínimo que estipularam. Talvez a diferença seja que não podemos demiti-los, mas ao invés disso, podemos aprender a refletir e votar. Aliás, não podemos, como dizia Raul Seixas: estamos muito ocupados para pensar.

O que será que os pensamentos alheios irão resolver na quarta-feira? Veremos...diziam os cegos.

sábado, 8 de setembro de 2007

A política de um chofer. Parte I


O chofer olha através do espelho retrovisor e vê Victor fumando um charuto, dá mais uma olhada discreta e agora vê aquela fumaça se aglomerando no vidro traseiro. Arranca o automóvel.
- Para o aeroporto. – Diz Victor.
A cada quarteirão percorrido o chofer não se contém, insiste em controlar os movimentos de Dr. Victor pelo retrovisor. O Sinal fecha. Victor, de cabeça baixa, lendo a Folha de São Paulo, dirigiu a palavra ao Chofer:
- Diga-me, Luis. O que você acha de minha mulher?
Ele estranha a pergunta delicada de Dr. Victor. Por que diabos ele perguntaria isso.
- Acho-a uma mulher bastante interessante.
Victor insiste:
- Bastante interessante?
O sinal abre:
- Sim. Gosto muito de D. Soninha, ela sempre foi muito afável comigo.
- Entendo.
Luis, o chofer, diminui a velocidade, troca marcha e conclui:
- O senhor é um homem de sorte Dr. Victor.
- Acho que não entendi. – Agora é Victor que observa o chofer pelo espelho.
Com os olhos fixos no pára-brisa, esse responde:
- Me refiro a sua esposa. Uma mulher e tanto.
Apaga o charuto:
- Como pode ter tanta certeza?
- Não tenho, apenas acho.
- Talvez você tenha razão, ela geme como ninguém na cama.
As palavras de Victor não constrangiam o chofer, e ele notou isso. Audaciosamente vai mais além:
- O que achas das coxas de minha mulher, Luis?
O chofer acelera, entra na avenida do aeroporto, aumenta gradativamente a velocidade. Victor larga o jornal, de certo ponto se assusta, coloca suas mãos no banco dianteiro para se segurar, embora estivesse usando cinto. Olha pelo retrovisor e observa o chofer imóvel, aumentando a velocidade. Esse responde agora esquecendo do espelho, visando somente o pára-brisa:
- O senhor quer saber mesmo o que eu acho da sua esposa, Dr. Victor?
Ele se assusta, arregala os olhos:
- Por que está indo tão rápido Luis? – Com a respiração alterada, Dr. Victor era obeso, sofria de problemas graves do coração. O chofer responde:
- Acho D. Soninha muito gostosa, acho ela uma delícia, Dr. Victor! Uma delícia! E sabe do que mais, Dr. Victor? Eu já transei com tua esposa inúmeras vezes bem de baixo do seu nariz!
- Do que você está falando, diminua a velocidade! – Ofegante, suando frio.
- O senhor precisa entender de uma coisa, Dr. Victor, o dinheiro não pode comprar tudo, o dinheiro não compra o amor! Só porque o senhor é milionário não quer dizer que pode ter todos aos seus pés! – Victor não fala mais nada. Está escorado no banco dianteiro, assustado, quase passando mal. Ele replica:
- Luis, por favor, diminua a velocidade! Nós vamos morrer!
Nesse momento o chofer fecha um cavalo de pau, entra numa avenida deserta de chão batido. Victor não reconhece a atitude de seu motorista que durante anos fora inteiramente fiel. O chofer responde:
- Não, Dr. Victor. Não. É o senhor quem vai morrer. – Com uma voz calma e fria.
Victor tenta abrir a porta, mas todas estão travadas. Assim como os vidros. Era uma armadilha. Victor sentiu que a morte o tocaria naquele momento. O chofer freia desleixadamente deslizando pelo chão batido. O carro pára. Luis desce do carro, se apossa de uma pistola semi-automática, abre a porta traseira, e puxa Dr. Victor arrastando-o pelo chão. Ele implora:
- Por favor! Não me mate!
- Ora, Dr. Victor! Não sujaria minhas mãos com um porco como o senhor!
Victor começa a chorar de medo e nervosismo, ofegante, suando, todo sujo, seu terno estava completamente fedido. O chofer não hesita:
- O senhor fede Dr. Victor. E sabe o que acho das coxas de sua mulher? São as coxas mais lindas que já conheci! As coxas mais gostosas que já toquei!
- Por que está fazendo isso?
Luis coloca a pistola na boca de Victor:
- Mas não sou eu Dr. Victor. Olhe para o lado.
De longe e com uma pistola na sua boca, Victor vê uma Mercedes prata se aproximando, o carro pára defronte ao automóvel dele. Desce Soninha, toda voluptuosa, com aquele charme irresistível. Ela Sorri. Victor não entende nada.
Ela anda alguns passos, pára defronte a Victor:
- Eu nunca amei você. – Victor fecha os olhos para morrer.
Nesse momento Soninha saca uma outra pistola da sua calça justa, mira no crânio de Victor, e rapidamente vira seu braço a um metro à direita e atira no chofer. Atira de novo. E de novo. E de novo. Foram três tiros no peito e um na cabeça de Luis, o chofer, que cai espirrando sangue. Victor não acredita no que acaba de ver. Não está entendendo mais nada. Por um momento ele estava a um passo da morte e agora vira cúmplice de um crime. Ele fica mudo. Soninha ajoelha-se, e implora:
- Me perdoe Victor. – Coloca a pistola em sua cabeça.
Victor se assusta e grita:
- Soninha, não!
O barulho do tiro perfurando o crânio de Soninha foi assustador e ao mesmo tempo doloroso. A mulher que mais amou agora esta morta junto com seu chofer.

(Silêncio)

Victor acorda das lembranças e volta ao consultório.

- Foi isso mesmo que aconteceu? – pergunta o Dr. Rafael Prado, psicólogo particular do Dr. Victor.
- Sim, foi isso mesmo.
- Você precisa mais do que nunca superar isso, Victor. Sei que este fato é muito dramático na sua vida, porém já faz mais de quatro anos.
- Mas não consigo, Doutor. É como se o espírito de Soninha voltasse a todo o momento para me assombrar e relembrar desse fato.
- Olha, Victor. A época de eleições esta aí. Você vai se candidatar a senador, certo?
Victor não responde, Dr. Rafael repete:
- Certo, Victor?
- Certo.
- Por tanto, um futuro senador não pode conviver com fantasmas. Este caso, como você mesmo falou já foi abafado pela polícia, ninguém sabe dessa história e você não pode deixar que ela venha à tona depois de tanto tempo.
- Você está certo Doutor, eu preciso mesmo relaxar. Época de eleições me deixa nervoso, talvez por isso eu esteja relembrando desse fato.
- Isso, Victor! Você tem que entender que é você que vai ao problema, e não o contrário. Se você quiser esquecer, consegue.
- Tudo bem, Doutor. Nosso tempo já está acabando, não é? Agradeço sua atenção.
- Que isso Victor, sempre que precisar, pode vir aqui, não cobrarei consulta de você.
Levanta-se do estofado:
- Muito obrigado Dr. Rafael. Essas suas palavras sempre me ajudam.
- Fico feliz em saber.
- Abraço Doutor, até mais ver.
- Até mais, Victor.

Ele sai do consultório do Dr. Rafael realizado. Passa pela secretária de saia curta e coxas grossas, Victor sempre foi viciado em coxas, olha discretamente e a cumprimenta, chama o elevador e desce. Quando sai do prédio, Luis, o chofer, está o esperando no carro. Victor entra como de costume pela porta de trás, e ao seu lado, sentada, está Soninha, sua esposa. Ela pergunta:
- Então, meu amor, como foi lá?
- Ele acreditou em tudo, a primeira parte do plano já deu certo.
- Ótimo, por isso que eu te amo. (Se beijam)
Victor ordena:
- Para o aeroporto.
Victor apanha a Folha de São Paulo para ler enquanto o carro se locomove. Pelo espelho o chofer olha para dona Soninha e abre um vasto sorriso. E Soninha, discretamente, pisca com o olho direito.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Eu nasci, e você

Alguém lembra do dia em que nasceu? Não? Então porque alguém lembraria do dia em que morreu? A resposta desta pergunta costuma nos levar a filosofia. Confesso que a filosofia em si me atrai. Porém, não podemos deixar de lado nossa matéria. Nós mesmos. Partindo desse pressuposto, acredito ou creio que, nada pode explicar onde nossa memória não alcança. Lembrar envolve a questão de sentir. Na minha certidão de nascimento está escrito que nasci no dia 27 de janeiro de 1988. Mas eu não estava lá para saber. Entretanto, acredito que estava pelo fato de todas as crianças que nascem são registradas de acordo com a data de nascença. Fui a testemunha viva disso quando li a certidão de nascimento do meu sobrinho. De fato estava correto, ele nasceu mesmo naquele dia e naquela mesma hora.

As pessoas costumam não se importar com o fato de nascer ou morrer. Justamente porque a morte parece tão distante. Escrevi nas minhas ultimas colunas textos reflexivos onde a morte predominava como fator de resolução dos problemas. Muitos captaram a mensagem, outros se levaram pela forma da escrita literária, outros não entenderam, e outros acharam que entenderam. Por quê? Ora, porque cada pessoa tem uma ideologia, uma política de vida diferente. Ninguém é igual a ninguém, mas ao mesmo tempo somos iguais no que diz respeito à raça. Também fiz uma enquete que perguntava os tipos de texto que gostariam de ler na minha coluna. Crônicas sátiras e reflexivas empataram em primeiro lugar. Em segundo lugar ficou a opção: “Qualquer uma serve”. Ora, se qualquer uma serve não há porque escrever. Gosto de contrapartidas. Na verdade senti uma ambigüidade quando li que qualquer uma serve. Isso é muito vago. Tudo é muito vago. Este texto é muito vago. O mundo é muito vago. Sabe-se lá o que se passa dentro da cabeça de cada ser humano que habita materialmente esse planeta. Por isso que respeito às opiniões de todos, embora eu não concorde com a grande maioria.

Muitos filósofos creiam que a intencionalidade do ser vivo corresponde a sua memória. Mas como tudo no mundo, há exceções. Os traumas marcam de tal modo que a não presença da intencionalidade faz com que se crie outra. Para entender melhor vamos explorar as palavras. Entende-se intencionalidade algo que nós forma ideologicamente. Algo que corresponda a sua existência. Criamos personalidade, memórias, e atitudes a partir de uma intencionalidade. Sem ela, seriamos matéria pura, de acordo com a antropologia filosófica. Ou seja, nós teoricamente somos formados por matéria e intenção. Quando crianças recém nascidas lembramos de muitos poucos detalhes porque assimilamos nossas atitudes perante aos demais. Nosso cérebro está vazio. Falamos porque os outros falam, caminhamos porque os outros caminham, urinamos no vaso porque os outros urinam. Daí a explicação da forma de convívio da idade antiga onde os homens eram quadrúpedes e faziam sexo como a maioria dos animais. É nessa era que também nasce a comunicação que com o evoluir dos tempos vem a ser a linguagem de hoje.

Levando em consideração tudo isso, ouso perguntar novamente.: Alguém lembra do dia em que nasceu? Quando indaguei essa questão a um amigo ele começou a rir e replicou: “Tu estás louco? É claro que não!”. O que me impressionou foi o fato dele não se perguntar o porquê que não recorda do dia em que nasceu. Pelo mesmo fato dele não lembrar do dia em que morreu? Seria tudo isso um ciclo? Muitas perguntas são formadas a partir dessa indagação. Meu papel aqui é gerar o pensamento dos leitores desse texto. Quero saber a teoria de todos. Por que não lembramos?

Aos que não se interessarem simplesmente estarão se igualando a grande população mundial. “Isso vai trazer dinheiro?” Senão não será importante. Hoje vivemos a mercê do dinheiro. Mas não esqueça que durante muito tempo vivíamos sem ele. Aliás, detesto dinheiro. Porque sei que dependo dele. Não queria que fosse assim. Contudo, quem sou para querer algo? Se não sou capaz de lembrar nem do dia em que nasci...quanta insignificância.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Imoralidades de Lolita

Pela primeira vez, depois de muito tempo, Lolita sabia o que era sentir ódio. Nunca odiou tanto uma mulher como a sua colega. Pela primeira vez, Lolita experimentava o gosto de um sentimento voraz e insólito, capaz de deter qualquer um na sua promiscuidade. Até que odiar alguém não partia do pressuposto de matar. O ódio vem em camadas finas e pesadas. Pesadas de amor. Lolita, acima de tudo e todos, amava muito aquela mulher. Ela podia sentir o desejo importunando-a. Pela primeira vez, Lolita se aproximara de uma colega para ter relações sexuais. Assumir seu lado bissexual era além de incabível para o presente momento de sua vida como imoral. Sua família é fruto do que os nazistas chamavam de traidores. A moralidade era um conceito pré-fabricado perante Lolita. E isso não fez com que ela agisse na contramão, ao menos não em primeira instância. Lembrava da noite passada em que beijava os doces lábios de sua colega. Sentia-se completamente molhada, mas não só pelo prazer constante e sim pelo gosto de estar realizando atos imorais. Isso a atraia. O fato de ela massagear os seios de sua colega e depois beija-la por inteira fez com que Lolita refletisse sobre sua essência dorsal.

Na juventude namorou um rapaz viciado em sexo. Os amigos o chamavam de discípulo de Freud. Para esse rapaz, sem sexo a vida não teria sentido. Tudo levava ao sexo. O ser humano se reproduz através do sexo, e a reprodução segue a mesma linha. Porque o sexo dá prazer, e tudo que dá prazer é experimentado involuntárias vezes, sujeito ao vício. Para Lolita, sexo era questão de tempo. Uma vez que ela não experimentara do prazer carnal. Seu namorado adorava provoca-la passando a mão por debaixo de sua saia, tocando seus seios fartos. O namoro terminou porque Lolita não agüentava a pressão do tal discípulo de Freud. A partir daquele momento Lolita passou a repudiar todo e qualquer homem.

Na infância Lolita brincava de boneca como qualquer menina. O que ela não lembrava era que usava duas delas. Duas bonecas que através de suas mãos se beijavam. O particular era que Lolita não recordava de sorte alguma que aos cinco anos perguntara para mãe o porquê que duas mulheres não podiam se beijar. Sua mãe lhe disse que era imoral. E tudo que se torna imoral não é digno de sobrevivência. Sua mãe queimou as bonecas e Lolita imediatamente foi chorando para o quarto.

Por fim, Lolita odiava aquela mulher não somente por ela ser sua colega de trabalho; não somente pela imoralidade que cometiam quase todas as noites no escritório de seu pai. E que por mais imoral que fosse, resultava em um prazer jamais gozado na relação com um homem. Lolita odiava aquela mulher por ela também ser sua irmã. A sociedade disciplinadora e ao mesmo tempo indisciplinada não permitiria a escolha de Lolita. Embora ela já nascesse com o desejo aflorado, sua família nunca a perdoaria. “Tudo que se torna imoral não é digno de sobrevivência”. Por um segundo Lolita lembrava das palavras de sua mãe.

Já faz dez anos que Lolita se matou. Morreu depois de pensar que não poderia mais viver cometendo imoralidades, que não eram suas.

domingo, 19 de agosto de 2007

O mendigo filósofo


- Que merda! Meu pneu está furado! Amigo, ô meu amigo! Hei...
- O que é?
- Será que tu pode dá uma forcinha aqui?
- Não.
- Por que, não?
- Não está vendo que estou ocupado?
- Mas você é um mendigo.
- Sou, é? Defina “mendigo”.
- Como "defina mendigo", meu amigo. Só estou precisando de uma ajudinha para trocar o pneu aqui do carro.
- Em primeiro lugar, não fui, não sou, e nunca serei seu amigo. Em segundo, o que eu ganharia te ajudando?
- Bom, eu te descolo uma comidinha...
- Tu realmente acha que eu me vendo por uma “comidinha”?
- Então porque estás vivendo nas ruas?
- Vivo nas ruas para ajudar as pessoas a sair delas.
- E pra isso você precisa passar fome, dormir no frio, usar roupas rasgadas e não ter uma higiene pessoal?
- Tu, por acaso, já ajudou alguém de verdade?
- Claro que já!
- Quem?
- Minha mãe. Ela estava doente há algum tempo, eu a ajudei.
- Que tipo de doença?
- Pneumonia.
- Isso não é doença!
- Como não?
- Tu por acaso é um pai de santo?
- Não...
- Então não ajudou ninguém. Quando me refiro a ajuda, me refiro a passar sentir na pele o que as pessoas pelas quais você quer ajudar sentem. Não posso ajudar gente das ruas se eu não morar nas ruas. Precisamos nos tornar acessível e ao mesmo tempo inacessível.
- Como assim?
- Me tornei acessível às ruas, e inacessível para todo meu âmbito social. Abandonei tudo por um mundo melhor.
- Tu só podes ser um louco!
- Isso é o que as pessoas insanas acham das sensatas.
- Tu se considera sensato?
- Mais do que tu.
- Já chega, vou pedir ajuda para outra pessoa, com licença!
- A ajuda que tu precisas é social.
- Sou muito bem sociável.
- Se és sociável porque não perguntou meu nome?
- O que uma coisa tem haver com a outra?
- Se tu perguntasse o meu nome eu te ajudaria.
- Tudo bem, qual é o seu nome?
- Eu não lembro.
- Como alguém pode esquecer do próprio nome!
- Isso não é nada, tem pessoas que esquecem que sou gente.
- Para min tu és gente.
- Passei a ser porque eu era o único na rua capaz de te ajudar com o pneu furado.
- Ta, chega.
- Um dia a vida vai dizer a mesma coisa para ti.
- O quê? Do que está falando?
- Um dia tu morrerás.
- Sim, natural, todos nós.
- Mas há pessoas, que como tu, vive a vida inteira morta, e quando estão prestes a morrer de verdade, querem aprender a viver. Viva o quanto é tempo.
- Para um mendigo tu saca muito bem de metáforas.
- Não me considero um mendigo. Isso é um rotulo hipócrita.
- Hipócrita?
- Sim, hipócrita.
- Não sei onde estava com a cabeça quando fui pedir ajuda para ti.
- Quer um conselho?
- Que conselho?
- Pegue uma pneumonia.
- O quê?
- Assim tu vai entender do que estou falando.
- Eu não vou pegar nenhuma pneumonia!
- Então tu nunca saberás como poderia ter ajudado sua mãe.
- Olha, será que tu podes parar de dar conselhos filosóficos e me ajudar com o carro?
- Não.
- Tudo bem, eu faço sozinho.
- Gostei de ver, atitude individualista.
- Tu podes me deixar em paz?
- Não.
- E porque, não?
- Porque o seu carro não está com o pneu furado.
- Como não está?
- Você é mesmo um tolo, ajudo pessoas que, de fato, precisam ser ajudadas. Seu carro é o detrás.

sábado, 11 de agosto de 2007

Fatos e versões. O poder de uma vida qualquer. Últimas 24 horas.





120 quilômetros por hora.

Não havia como cogitar a possibilidade de se salvarem. Na condução do automóvel estava Leandro, que, nos 25 anos de sua vida, sempre fora bem sucedido. Seus pais o tratavam como um príncipe, recebia tudo de mão beijada. Nunca se esforçou para conseguir o que queria, nunca escorrera do seu corpo uma gota de suor que não fosse à das noites de baladas seguidas de sexo desleixado. Era um rapaz jovem, bonito, que teve muitas namoradas, muitas parceiras. E, justamente, no banco de carona, estava a atual namorada de Leandro. Seu nome? Fernanda. Ela, muito pelo contrário é filha de casal humilde. Sua mãe durante anos trabalhou como doméstica até desenvolver um câncer de pulmão devido aos inúmeros cigarros que fumara na vida. Seu pai continua trabalhando como guarda noturno de uma transportadora, correndo o risco de levar um tiro na cara a cada noite de serviço.

160 quilômetros por hora.

Fernanda lembrava da amiga Letícia que a ajudava na faculdade, nos relacionamentos difíceis, não se conformava em deixar a amiga, assim como a família que sempre amou. Tanto Leandro quanto Fernanda tinham a família como base de tudo.

180 quilômetros por hora.

Agora é a vez de Leandro lembrar de quando seu pai o levava todas terças e quintas nas aulas de natação. Nadou durante sete anos. Naquele momento ele não entedia como foi se perder no mundo. Como pôde mudar tanto. Lembrou-se também da mãe, que sofre de pressão alta. Sempre tivera uma preocupação a mais com ela, quando saia para balada dava antes, um beijo na testa da mãe, e um tapinha no ombro do pai dizendo: “Não tenho hora pra voltar”.

200 quilômetros por hora.

Uma insignificante pedrinha no caminho já seria o suficiente para capotar. Fernanda põe a sua mão esquerda tatuada sobre a mão direita de Leandro que naquele instante, segurava a alavanca da marcha. Ela olha para os olhos de Leandro que estavam fixados no pára-brisa.

220 quilômetros por hora:

- Eu sempre vou te amar. – Diz ela.

É ele que agora olha para o lado, sem hesitar, estica seu braço direito, abre a porta do caroneiro e empurra Fernanda para fora do veículo. Ela rola metros a fio esfolando-se e ensanguentando-se. Ao fundo, Fernanda vê a poeira seguida por um barulho estrondoroso.

- Podem tirar o soro. – Diz o médico.

Ela acorda, olha para o lado e vê a mãe respirando por aparelhos, sua mãe estava em estado terminal. Junto ao leito, estava seu pai, o vigilante noturno não conseguia disfarçar as lágrimas que escorriam continuamente no seu rosto. Quase perdeu a única filha, e por questão de tempo, perderia a esposa. O Vigilante como um lapso de memória recorda-se do dia em que conheceu a mãe de Fernanda. Estava caminhando solitariamente nas ruas, período pós-ditadura, até que avista uma bela jovem sentada no banco da praça, fumando um cigarro. Lembrara da fumaça que integrava seus ardumes. Foi amor à primeira vista. Pena que a mesma fumaça que o atraiu, no momento é a causadora da morte da pessoa que ele mais amou. O vigilante coloca a mão esquerda sobre a mão direita de sua esposa e diz a mesma frase quando a conhecera:

- Eu vou amar-te para sempre.

Fernanda estava deslumbrada com o ato de amor do pai, e começa a chorar porque sabe que não terá mais a presença da mãe que durante anos vivia dizendo que a amava muito. É como se um pedaço do seu corpo fosse junto com a da sua mãe.


(24 horas antes)

- Ai, Leandro, tu és louco de não usar camisinha. Não acredito que fizemos isso.
- Relaxa, tu toma pílula.
- É, mas pílula não previne doenças.
- Do que está falando, eu sou limpo!
- Como posso ter certeza?
- Tu não confias em mim?
- Confio no teu amor.
- Arrume-se, vamos embora.
- Se tu queres assim.

Fernanda havia quebrado totalmente o clima de sensualidade que excitava Leandro. De Certo modo, as palavras de Fernanda fizeram efeito. “Confio no teu amor”. “Uma Puta pobre, não tem onde cair morta, quer ficar se fazendo para mim na cama, vá puta que te pariu” pensava Leandro, furioso, enquanto tirava o carro do estacionamento do motel. Deixou Fernanda na porta de casa, e durante todo o percurso o silêncio entre os dois foi o único diálogo. Mais uma vez as palavras de Fernanda surgiam efeito. “Confio no teu amor”. Essa frase não saia da sua cabeça. Até que seu celular toca:

- Alô
- Oi, Leandro, é a Rita.
- O que tu queres, Rita? Já falei que não era pra me procurar mais. Qual o seu problema?
- Leandro, nós precisamos conversar.
- Do que está falando? Nós já terminamos, Rita. Não temos mais nada um com outro.
- Leandro, tu não ta entendendo, é um assunto muito sério.
- Assunto sério? Ou seria uma desculpa pra me ligar?
- Leandro, eu estou com AIDS.

A notícia cai como uma bomba em sua cabeça. Agora sim que as palavras de Fernanda voltavam a todo o momento. “Confio no teu amor”. Leandro desligou o telefone no mesmo instante. Não podia ser verdade. Ele, com AIDS. Nunca se cuidou na vida, apesar de também nunca ter lhe faltado nada.

Fernanda chega em casa e vê a mãe tossindo muito, fica atônita observando o estado de saúde dela.

- Mãe, a senhora está bem?
- Fernanda, minha filha, a mãe está muito doente, minha filha. Muito doente, mesmo.
- Do que a senhora está falando?
- Às vezes eu acho que tenho pouco tempo de vida, sabe minha filha...
- Que horror! Vira essa boca pra lá! Onde está o pai?
- Está descansando no quarto, logo, logo, anoitece e ele precisa trabalhar. Ah, a tua amiga, como é mesmo o nome dela....
- A Letícia?
- É, ela mesma.
- O que tem?
- Ela te ligou, estava preocupada contigo, minha filha.
- Comigo?
- É, ela disse que teve outra visão, sempre achei essa guria muito estranha.
- Mãe, tu sabe que ela é médium.
- É, mas pelo tom da voz dela, a visão era grave, e sobre ti.

Leandro entra no quarto de sua mãe, interrompe a leitura, ela sempre foi viciada em livros.

- Mãe, tu sabe que eu te amo, não é?
- O meu filho! Claro que sei, eu também te amo muito. Mas o que aconteceu?
- Nada, não, mãe. Só precisava me certificar disso. Onde está meu pai?
- No trabalho, só vai chegar mais tarde.
- Ta bom, depois eu converso com ele.
- Está tudo bem mesmo, meu filho?
- Claro, não se preocupa, minha velha. Eu estou bem sim.

Sentimento de mãe, nunca falha, notou que Leandro estava aflito, mas achou que ele fosse se abrir com o pai dele, mais tarde. Voltou a ler.

Fernanda liga para Letícia, guindo de curiosidade.

- Alô, Letícia? Minha mãe disse que tu ligou.
- Sim, liguei sim.
- O que houve?
- Fernanda, tu vai sair com o Leandro amanhã, não vai?
- Em principio sim, brigamos hoje, mas acho que vamos.
- O que aconteceu?
- Ah, briga boba.
- Fernanda, não vá.
- Por que, amiga? Às vezes tu me assustas, sabia?
- Fernanda, é sério. Tive uma visão muito estranha.
- Ai, Lê, tu e as tuas visões!
- Só não quero que tu te machuques.
- Amiga, eu te amo, sei que tu se preocupa comigo, mas deixa que eu sei me cuidar está bem? Beijo, Lê, amanhã nos falamos.
- Fé, espere....
Desliga o telefone na cara da amiga, estava esperando a ligação do namorado. E não deu outra, um segundo depois, Leandro liga.

- Fala, amor. – Diz Fernanda.
- Oi, me desculpe por hoje, ok?
- Tudo bem, desde que tu prometas que a partir de agora nós vamos começar a se prevenir.

“Confio no teu amor” aquela frase martelava os pensamentos de Leandro. Ele responde:

- Tudo bem, eu prometo. Mas escuta, tudo certo para amanhã? Combinei com o meu vô de irmos à chácara dele, ta lembrada?
- Claro que sim! Que horas tu vem me buscar?
- Lá pelas oito, temos que sair cedo daqui.
- Tudo bem, eu te espero então.
- Ta, então até amanhã.
- Está tudo bem contigo?
- Sim, por quê?
- To te achando meio estranho, tua voz parece diferente.
- Bobagem tua. Vemos-nos amanhã, ok? Beijo. Te amo muito.
- Eu também te amo muito, e pra sempre.

Era linda a conversa dos dois por telefone. Na manhã seguinte Fernanda estava pronta, até ouvir as tossidas da mãe.

- Mãe, o Leandro chegou, to indo ta? Te cuida, minha mãe.
- Tu também, minha filha. Outra coisa, a mãe te ama muito, viu?
- Também te amo mãe. Beijo, até.
- Vai com Deus, minha filha....

Ambos entram no carro, e Leandro arranca numa velocidade alta.

- Que isso, amor? Por que está indo tão ligeiro?

A vida não fazia mais sentido para ele, e naquela altura do campeonato, imaginava que para Fernanda também não.

- Não aconteceu nada, só estou com pressa.
- Não, tu estás estranho, o que aconteceu?

120 Km/h

- Já disse não houve nada!
- Então porque está tão rápido? Tu está me assustando!
- Te assustando é? Então imagina viver sabendo que não é por muito tempo!
- Do que está falando, Leandro! Está me deixando nervosa! Diminua a velocidade!

160 Km/h

Ambos começam a pensar na família, nos pais, pensamentos muito rápidos em meio a gritos.

180 Km/h

Leandro não responde mais nada com nada, só pensa na família, e acelera cada vez mais o carro.

200 Km/h

O carro desliza, Fernanda grita, e Leandro continua acelerando.

220 Km/h

- Eu sempre vou te amar.

Nesse momento ele, por impulso, decide se matar sozinho, rapidamente a joga para fora do carro, e se arrebenta contra um muro de proteção da pista contrária.


O médico vem na direção de Fernanda e diz o que ela ainda não sabia. Com muita calma, ele fala que fez alguns exames por prevenção e detectou que ela tinha HIV positivo. Desde então Fernanda vive a base de remédios, sem a mãe por causa do cigarro, e sem Leandro por causa da negligência com a AIDS. Ela que também foi vítima, agora vive com um vírus que a cada minuto se alastra para mais uma pessoa no mundo inteiro. Fernanda nunca teve dinheiro e continua não tendo. Sofre preconceitos, e carregará por um bom tempo na memória a perda da mãe e do namorado. Sem contar no seu pai, o vigilante que passará o pouco tempo de vida que lhe resta superando a morte da esposa, e convivendo com a filha aidética. É, e tem pessoas que acham o mundo justo. Mas vai saber, talvez até seja.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Aprendi


Aos poucos que vou vivendo sinto um absurdo dentro de mim, como se nada importasse, e ao mesmo tempo, tudo importasse.
Aprendi que quase ninguém se importa com o que você considera mais importante. Também aprendi a sentir os meus sentimentos sem precisar mentir para as pessoas que amo. Às vezes sinto-me um monstro indefeso capaz de engolir chamas cada vez mais quentes de medo. Não porque eu quero, mas porque acho que sou capaz de fragilizar o constrangimento do fogo meticuloso. Sofri injúrias, injustiças, desavenças, mas ainda vivo. Sem entender muito bem o porquê exato disso. Apenas sigo minha linha de raciocínio. E acho que é isso, linha de raciocino, que me leva aos erros enigmáticos. Tento entender um mundo de uma vez só. Como se fosse num único copo de água. Como se o mundo fosse um mero copo usado de suporte ao líquido que almejamos ingerir rotineiramente. No paradigma real, esse líquido é conhecido como seres humanos.

Aprendi que com o tempo, nós seres humanos somos engolidos pelas nossas bestialidades. E são muitas. Não encontramos uma resposta exata para aquilo que procuramos, porque de fato, nunca indagamos a pergunta certa para encontrar tal resposta. Não quero criar a ilusão de ter uma fórmula para a vida. Até porque a fórmula existe, está na mão de cada um de nós. No entanto, essa fórmula que me refiro, poucos, muito poucos sabem enxerga-la. Costuma-mos fechar as pálpebras para situações em que pensamos não conseguir resolver. Essas situações não são resolvidas porque apenas pensamos. O ato de pensar destrói o ser humano. Poderíamos viver com o ato de sentir. Você poderia sentir qualquer energia relacionada ou não a você. E com o evoluir dos dias, descobriríamos que estaríamos pensando através de nossos sentidos, e não das razões que achamos ter.

Com evoluir das noites, também aprenderíamos a olhar mais para as estrelas. Não como astros, e sim como um alvo intenso luminoso que, sem sombra de dúvidas, reduz a nossa essência em uma mera raça. Sempre frisei de que há o tempo certo para os momentos errados. E sempre há o tempo errado para os momentos certos. Nota-se que com o avanço da idade vemos um cálculo procedente de uma ciência inexata. A Matemática não rege a vida, a química não explica nosso estado de espírito, e a biologia não revela a nossa origem. O português até pode tentar corrigir os erros de regência cometidos na juventude, mas uma vez apagado tal escrita, a letra nunca será a mesma. É, e eu que sempre acreditei na geografia das minhas decisões, e na história de meus dias...

Com o tempo reparei que meu olhar não acompanha mais minhas vistas. E o motivo pelo qual não me considero vesgo, é porque consigo observar o que sempre esteve ao meu lado. A morte dorme e acorda comigo. Vivo com ela. Sei que em qualquer instante ela pode me tocar. Para alguns parece loucura. Mas a raça humana sempre lutou contra morte, como algo maléfico. Lutamos a vida toda contra quem nunca saiu do nosso lado. Chega ser ridículo, mas somos assim. Temos medo de quem sempre nos acompanhou. Se soubéssemos viver com a morte, por mais que seja contraditório, viveríamos muito melhor. Porém, nós humanos, infelizmente não sabemos superar nossas dores como deveríamos.

Agora, sinto que tudo que realizei pelas pessoas que não conheço, fez enorme diferença nas minhas reações perante aqueles que me humilhavam. O preconceito, nada mais é do que um pré-conceito refletido sobre quem você pensa ser. Pessoas preconceituosas são pessoas mal resolvidas. Pessoas mentirosas são aquelas que tentam ser sinceras. E as pessoas sinceras um dia serão mentirosas. Os nossos valores todos estão perdidos, vagando pelo ar que respiramos. Na realidade não temos mais valores. Temos um projeto do que consideramos importante para nós.

Depois de refletir pouco, aprendi que a nossa importância se resume no que temos. Tanto material como abstrato. Depois de refletir muito, aprendi que o que temos se resume nos nossos valores. Vejo que aprendi tudo errado, de novo.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Mude o seu mundo


É engraçado viver num país como o Brasil. Tudo sempre está sobre controle. Ou sempre estão trabalhando no caso. Ou melhor, ainda: A justiça será feita. Essa última acho que nunca se realizou. Alias, não vou ser nacionalista a ponto de dizer que o Brasil tem inúmeros defeitos de governância política. Sempre teve. Mas paises de primeiro mundo também têm problemas gravíssimos. A diferença é que nos paises de primeiro mundo crianças não são arrastadas por seis quilômetros até a morte, índios não são queimados, bandidos não planejam crimes de dentro das prisões, domésticas não apanham na espera de sua condução, e dificilmente, aviões voam com defeitos mecânicos arriscado centenas de passageiros. Mas afinal de contas, aqui é o país do carnaval, somos pentacampeões de futebol, temos mulheres de maiores bundas do mundo. Aqui pode tudo. Roubar é de praxe, quase clichê. Há tantos tipos de roubos e corrupções que não vou perder linhas sintando-os. Nunca vi um país ter tantos partidos políticos. E nenhum faz nada. É de esquerda, de direita, centro esquerda, democrata, tem partido que até apolítico é. Cada um quer resolver da sua maneira. Leis que vigoram sem necessidade, enquanto casos que precisam de leis nem ao menos são pautados. Vale até pagar pensão com dinheiro público. Somos cobrados por dias e noites com uma taxa que se chama “carga tributária”. Pagamos pelo ar que respiramos, e na hora de fazer uma viagem com um dos meios de transporte mais seguros do planeta morremos? Onde está a segurança? Durante dez meses presenciamos o interminável e lamentável “caos aéreo”, onde controladores reivindicavam salários, autoridades puniam seus próprios funcionários, e a sociedade dormia nos bancos de espera do aeroporto. Quando isso tudo vai acabar? Ou ainda, será que isso vai acabar? Estamos na beira de um abismo, prestes a cair sem saber onde. Sei que meu protesto escrito não vai resolver em nada. Sou apenas mais um revoltado com a situação pela qual me encontro. Não quero mais falar sobre isso. Tudo que eu queria era deitar na minha cama com a consciência limpa e feliz de que ao amanhecer não leria nos jornais noticias citando desvio de dinheiro público, bandidos à solta, sentenças suspensas, homicídios de tudo quanto é grau, e nada, nada sendo feito. Todo mundo de braços cruzados, reclamando como estou fazendo agora. Falta é atitude e cobrança. De que adianta a mídia divulgar e difundir manchetes de várias editorias se serão propaladas sem êxito de mudança?

O salário mínimo, é verdade, subiu bastante, mas é muito difícil sobreviver com apenas um dele. Há gente que faz milagre, sobrevivendo com o que é considerado normal pela taxa de cambio. Enquanto isso, os nossos parlamentares aumentam seus salários na porcentagem que bem entenderem. Mesmo assim, taxistas podem ser assassinados em horário de trabalho para sustentar a família, e passageiros de ônibus podem voltar sem o dinheiro da janta para casa. Não esqueça que o gabinete do seu senador gasta mais de 15 mil reais por mês em “despesas”. Qual é o valor do dinheiro para a política? Há algum valor com o qual se preocupem? Somente com o salário próprio. Já passou da hora da mudança, estamos na era da conseqüência. Nosso planeta esta sendo destruído e ninguém está nem aí para isso. Há pessoas tomando banho de 15 minutos, lavando calçadas todo dia, rodando de carro para percorrer distâncias que não chega há um quilômetro. Estou sendo muito radical? Então tire a prova viva. O que você faz para mudar o mundo em que vive? Pense, mas pense bem, não vale ajudar idoso a atravessar a rua, juntar lixo do chão ou reciclar garrafas. Pense em algo maior. De grandeza suficiente que se torne visível a mudança. Pensou? O máximo que chegaremos é ajudar um parente próximo, ou mesmo distante. Talvez um amigo. Contudo, quando caminhamos pelas avenidas e avistamos um mendigo nós o ignoramos. Gastamos mais de cem reais em uma festa. Compramos um carro financeiramente milenar e moramos bem. Quando digo bem, me refiro que temos um colchão e um travesseiro para dormir e uma geladeira que é aberta para se pensar no que se vai comer.

Acho que falta um pouco mais de alerta para nós. Aos jovens, que amadureçam mais rápido, não vão ser sustentados pelos pais a vida toda. Aos amadurecidos, que tomem uma iniciativa que os satisfazem ideologicamente. Ninguém precisa viver no conformismo, ou até mesmo na mentira para si mesmo de que se tem esperança. Se a esperança é a última que morre, a minha já está no seu estágio final. Não me venham dizer que estou sendo pessimista. Ora, seria o pessimismo um sinônimo do realismo? Há 2.500 anos o filosofo e matemático grego Pitágoras já dizia: “Educai as crianças de hoje, para não punir os homens de amanhã.” A Educação que Pitágoras se referia é a de boa índole, respeito a si próprio e ética moral. O que mostra que a situação atual é mais antiga do que imaginavamos. E ainda ratifica sem sansão das circunstâncias, o “frouxismo” do povo desde a idade antiga até a moderna. Agora se nada disso fizer sentido para você, ao menos plante uma árvore.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Dèjá-vu


- Será que tu poderias me alcançar as compras?
- Tome.
- Obrigado.

Pegou as compras do supermercado que a esposa o alcançara, guarda no armário bordô que lhe custou uma nota. Quando olha para aquele armário ele sempre lembra da expressão de safada que sua mulher faz assim como deseja algo de muito valor. Ela levanta o lábio superior e passa a língua bem de leve no canto esquerdo da boca. Isso é golpe baixo para ele. Se rende, e acaba realizando os pedidos da esposa. Lembra-se disso a todo o momento. “Já faz três meses que não fazemos sexo, ela só pode está me traindo” pensa. Olha para o relógio, marca duas e vinte e um da tarde. Agora olha através da janela de vidro fumê, que foi mais um dos pedidos de sua mulher, e vê um homem alto com um chapéu e um charuto. O homem passa caminhando bem devagar. Achou aquele homem suspeito, como se já tivesse visto o mesmo com o tal chapéu e charuto. Estranho. Resolve se deitar e descansar um pouco, só para repor as energias. Quando suas pálpebras fecham, ele começa a ter um sonho estranho.

Acorda. Olha a hora, duas e vinte e um da tarde. Não pode ser. Só o trajeto da janela até a poltrona demoraria um minuto, esse relógio deve estar com defeito. (O relógio não foi um dos pedidos da esposa). Ele levanta para conferir a hora em outro medidor quando vê através da mesma janela, novamente, o tal homem com chapéu e charuto. Virou-se para o relógio, os números confirmavam: Duas e vinte e um. Era como se ele tivesse parado o contínuo espaço temporal. O homem passava lentamente através do vidro fumê. Ele Fica nervoso. Não sabia o que estava acontecendo até ouvir os gritos da mulher:

- Querido, atende o telefone!

Ele agora acorda consciente de quê sonhou que teve um sonho. Meio atônito atende o telefone:

- Alô.
Cai a ligação.

Olhou para o relógio: Duas e vinte e cinco. Era muita informação para o seu cérebro em pouco tempo. Em quatro minutos ele sonhara que teve um sonho, ouviu os gritos da esposa, e atendeu um telefonema que caiu. Mas o que isso? “Devo estar ficando louco” pensa. Resolve subir até o andar superior da casa para ver se Clara, sua esposa, já saíra do banho. Sobe os últimos degraus, não ouve barulho de água, abre a porta do banheiro: Nada. O Box seco. Olha em volta, a casa estava vazia. Entra em pânico, chama pela sua esposa:

- Clara?
Grita:
- Clara! Clara! Onde tu estás?

Seus gritos se espalham nos corredores, um eco estridente. Em ojeriza súbita, desce os degraus correndo, tropeça, bate a cabeça no chão e desmaia por pouco tempo.

Três meses antes:
Clara chega em casa com as compras do supermercado, acompanhada de Antônio. Ele olha para o chão e vê uma marca de sangue:
- Querida, tem sangue ali.
- Sangue?
- Sim, ali perto da escada.
- Ué, o que pode ter sido? (Agacha-se e passa o dedo no local do sangue) - Mas faz tempo, Antônio, já até secou.
- Deixe isso que depois eu limpo.
- Tudo Bem.
- Será que tu poderias me alcançar as compras?
- Tome.
- Obrigado.

Pegou as compras do supermercado que a esposa o alcançara, guarda no armário bordô que lhe custou uma nota. Quando olha para aquele armário ele sempre lembra da expressão de safada que sua mulher faz assim como deseja algo de muito valor. Ela levanta o lábio superior e passa a língua bem de leve no canto esquerdo da boca. Isso é golpe baixo para ele. Se rende, e acaba realizando os pedidos da esposa. Lembra-se disso a todo momento. “Já faz três meses que não fazemos sexo, ela só pode está me traindo” pensa. Olha para o relógio, marca duas e vinte e um da tarde. Agora olha através da janela de vidro fumê, que foi mais um dos pedidos de sua mulher, e vê um homem alto com um chapéu e um charuto. O homem passa caminhando bem devagar. Achou aquele homem suspeito, como se já tivesse visto o mesmo com o tal chapéu e charuto. Estranho. Resolve se deitar e descansar um pouco, só para repor as energias.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Perda de peso


Estava aqui pensando. Já vai fazer um ano que estou de regime. É, um ano. Já faz um ano que estou mentindo para mim mesmo dizendo que quero emagrecer. Um ano que levanto pela manhã pensando: “Hoje eu juro que não vou comer muito”. Nesse tempo todo, até dei umas corridas no calçadão, andei de bicicleta excessivamente, mas não conseguia enxergar resultados satisfatórios. Isto é, olhava para minha barriga e via aquela volúpia, de certo modo aquilo não me agradava. Tudo bem, eu nunca, de fato, fui gordo. O máximo que tive foi uns pneuzinhos bem de leve e nada significante. No entanto, esses meros pneuzinhos já me perturbavam. Era eu tirar a roupa na frente do espelho e pronto; eu já começava a fazer movimentos corcundas para enxergar algum defeito na região abdominal. Abdominal? Hum....

Pois é, passara alguns meses, e todo dia de manhã eu comecei a fazer cinco séries de 25. Pelas minhas contas, isso dava 125 abdominais por dia, mais 20 apoios. Credo, eu era um soldado em treinamento. Contudo, de nada adiantava. No café da manhã era cuca, mais torradas, uma fruta acompanhado de um copo de iogurte, dependendo do dia até suco de tangerina ou laranja. Um bom café da manhã, bem reforçado. Ao meio dia até que eu não comia tanto. Eu me excedia no intervalo do café para o almoço, sempre rolava um sanduíche. Depois do almoço, a tarde não conseguia me conter, comia uma fruta, e mais um copo de iogurte ou suco. E a noite eu não tinha muito apetite. O que explicaria a minha fome pela manhã.

Até eu perceber que tudo isso era bobagem. Quando saia às festas com meus amigos, nunca fui chamado de gordo, algumas garotas me achavam bonito e para mim isso era uma mentira deslavada. “Ela não enxerga minha gordura?” Como se gordo fosse sinônimo de feio. Eu realmente estava fixado no meu abdômen. Percebi que minha estética não se refletia de péssima aparência, portanto, eu não precisava ficar naquela loucura de emagrecer.

Não sei como fui me perder nesse pecado capital. Hoje eu sei que sou magro, posso até ter alguns pequenos pneuzinhos, mas nem reparo mais nisso. Aprendi a valorizar meu corpo de uma outra forma. E talvez eu saiba como deve ser gordo, apesar de nunca ter sido um, durante um ano inteiro eu me senti um verdadeiro obeso. Era tudo psicológico. E o segredo está na auto-estima. Nesse semestre, passado, tive um colega gordo, mas ele é boa pinta, tem uma aparência ótima, tem namorada e é feliz. E daí que ele é gordo? As pessoas se acham feias pelo que sentem ser. Isso é um erro. Nós até podemos emagrecer para satisfazer nossos objetivos, mas nunca devemos tornar isso uma obsessão.

Tenho um irmão que é gordo, tenho amigos, conhecidos, colegas gordos, e a grande maioria são felizes. Quiçá sabem que podem emagrecer, e até tornarem-se mais saudáveis, mas são felizes. Enquanto muitos magros e magras ficam achando defeitos onde não existe, fazendo plástica, lipoaspiração, que muitas vezes não dá resultados eficazes, pessoas com mais alguns quilinhos estão mandando ver na vida. E não se sabe se um dia eles ainda serão gordos, quem sabe essas pessoas emagreçam, enquanto outras se martirizam por ver gorduras onde nunca surgiram.

Hoje pela manhã quando perguntei para minha mãe o que teria de almoço, ela me respondeu da seguinte maneira:

- Lasanha, Luan. Mas quero que tu comas, tenho notado que tu não tem te alimentado direito no almoço, estás ficando magro.

Veja só, não é que o gordo emagreceu? São os extremos.

terça-feira, 3 de julho de 2007

A Cruz que mexe


No início sempre fora besta. Besta de doer. Não levantava antes de o despertador tocar. Teve uma noite que ele esperou três horas pelo barulho do relógio. Se tinha insônia não levantava um só pé. Era assim com tudo e todos. Não passava roupas porque iria amaçá-las novamente. Não lavava a louça, usava pratos descartáveis. Suas roupas eram doadas a cada semana. “Essa calça já está ficando suja, vou botar fora” dizia ele. Calça que ele comprara mês passado. Mas apesar de tudo era feliz. Solteiro, rico, porco, preguiço, mas feliz. Ninguém ao certo sabia a história daquele homem. Dona Lucinda, do armazém da esquina, sempre suspeitou de que ele fosse um traficante. Não trabalhava e vivia comprando roupas, homem mais estranho não existia. Ele não pagava imposto. Seu IPTU estava atrasado há anos, e nunca, nunca o tiraram a casa. “Não dou dinheiro para bandidos, não pago um só centavo para esses pilantras”, Frisava. De certo ponto tinha razão. Imposto, carga tributária, tudo isso é um absurdo. Ainda mais para ele, apolítico, ateu, que tinha mil teorias sobre a origem da vida.

Certa vez foi ao cemitério, gostava do coveiro, para quem não tinha nada para fazer bater um papo com o coveiro era diversão na certa. Discutiam sobre os túmulos, que falta de respeito com os mortos, túmulos aos pedaços, quase não se enxergava mais o nome e a data de vivência do defunto.

- Aquele ali é meu preferido. - Disse Ramalho, o coveiro amigo.
- Não gosto daquele, a tinta é de péssimo gosto. Prefiro o terceiro da esquerda para direita com a cruz metálica, belo gosto, bem cuidado.
- Bem, aquele túmulo tem uma história bem interessante.
- E está esperando o quê para contar-me?
- Bom, numa noite dessas vi a cruz se mexer.
- Cruz se mexe? Estou realmente desatualizado.
- Pela lógica real não deveria se mexer, mas o fato foi que as três da madruga, juro por tudo que é mais sagrado que vi aquela cruz se mexer.
- Três da madrugada?
- Três da madrugada.
- Cruz se mexendo?
- Sim, ela mexeu.
- Quem jaz ali?
- Um antigo agricultor, seu filho, porém, é rico, dono de uma multinacional de calçados. Fez questão de deixar o pai bem acomodado.
- Nota-se.
- Até hoje não entendo.
- O quê?
- Aquela cruz, tenha algo muito suspeito.
- Por que tu não a arrancas fora?
- Como é?
- Você é o coveiro, toma coragem, arranque a cruz.
- Não posso fazer isso, é meu dever deixar os túmulos como estão.
- Bom, então não reclame se ela se mexer, é o direito que ela tem.
- Mas por Deus, Homen! Cruz não se mexe! Tu achas isso normal?
- Não creio em Deus, e se a cruz se mexe é porque deve ter algum motivo.
- Você pode não crer em Deus, mas ele crê em você.
- Se ele Crê em mim não teria feito o que fez comigo.
- Mas o que ele fez com você?

Ele olha para o relógio percebe que já era tarde, resolve cortar o papo e sair:

- Ramalho, preciso ir, já está tarde.
- Tudo bem, nos vemos por aí.
- Sem dúvida, um abraço.
- Outro.

Saiu sem muita cerimônia, era bastante direto. O coveiro, no entanto, ficou absorto tentando decifrar o que Deus fez ao homem que não tem fé. Esse, voltava para casa lentamente, passou pelo armazém de D. Lucinda que o secou com olhar devorador. “Homem estranho, homem estranho”. Repetia, sempre que o via passando. Ele entrou em casa atirou o casaco na poltrona, ajoelhou-se em frente à televisão e chorou. Começou a chorar como criança, lágrimas corriam em seu rosto sem intervalos. Levantou-se, despiu-se todo, tirou primeiro a calça, depois a cueca, por último a camisa. Jogou tudo no tapete vermelho (odiava azul). Agora ele estava nu, pelado na sala em frente a TV. Calmamente, ele coloca suas mãos nas laterais do televisor, começa então uma crise histérica, bate a cabeça contra o aparelho com uma força desconhecida, bate-se cada vez mais forte, violência pura, sangue espirrando, e ele não parava como se não sentisse dor.

Até que parou.

Foi até a cozinha, com o sangue espirrando no carpete, abriu a gaveta sem trinco, pegou uma faca, e de maneira brutal, rasgou o seu rosto desenhando uma cruz. Incrivelmente não sentia dor. Caminhando ensangüentado, deita-se no chão e ali adormece.

Cinco e meia da manhã, ele acorda. O despertador ainda não tocou, faltavam quinze minutos. Dessa vez ele resolve se levantar, e pensa:

- Coveiro? D. Lucinda? Cruz que se mexe? Que sonho mais estranho.