Coluna do Luan

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Boa noite, Janela.

Às vezes acredito que o mundo lá fora não passa de um recorte previsto pela minha janela. Daqui, de onde escrevo, escuto dezenas de sons. Acho que são centenas. Não, não. Minto. São milhares. Há tantos ruídos que flutuam ao ar do despercebido. Afinal, torna-se mais fácil viver quando não escutamos e, muito menos, enxergamos tudo que pode nos fazer mal. Se assim fosse, enlouqueceríamos do dia para noite. Então, penso: Quem foi o autor da ditadura cuja sentença determina que loucura não seja saudável? Por que não palpitar o coração e os pensamentos sobre o que se passa bem aqui, no bascular da nossa face? Esforço-me um pouco mais, estico minhas pálpebras para dar chance ao globo ocular e, por fim, vejo poucos e poluentes veículos. Alguns coletivos... Outros particulares... Há aqueles mais informais, de tração animal. Inclino meu corpo, movimento minha cadeira de rodinhas quebradas, arranho por mais alguns centímetros o piso de madeira do meu quarto e chego ao vidro embaçado. E não era pela minha respiração. Creio que se tratam de observadores não observados. Na medida em que trafegam fornecem uma fiel e breve fitada ao meu vidro, e continuam o seu caminho. São centenas de veículos diariamente. Como posso prestar atenção a cada gesto? A cada rosto amargo, a cada olhar perdido, a cada raio de luz absoluto e soberano de nossas almas? São dúvidas que pairam na janela do meu quarto. Consigo ler alguns questionamentos. Poxa! São tantos idiomas... Levo tempo para traduzir palavra por palavra. A chuva surge. O vento lava. As gotas evaporam e eu recomeço a minha busca incessante pelo significado infinito da minha janela. No horizonte, vejo faróis no raiar da noite. Mais e mais veículos para observar... Está na hora de dormir... Acho que no fim é isto: tão somente pela incerteza do amanhã; é por ela que nos permitimos sonhar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O diálogo da mente



SUBCONSCIENTE: Você se faz importante para mim.

CONSCIENTE: E como posso sentir saudades?

SUBCONSCIENTE: Ora, você me revoluciona a cada pensamento.

CONSCIENTE: E... Não importa o conteúdo ou a forma do pensamento?

SUBCONSCIENTE: E pensamento lá tem forma? Preste atenção: Uma vez que você esteja na alma de alguém, o pensamento, pobre mortal como você, apenas obedecerá o fluxo...

CONSCIENTE: Entendo... Talvez seja assim que os sentimentos emergem, não é?

SUBCONSCIENTE: Tal como a justificativa de todo este diálogo para ela...

CONSCIENTE: Ela? Que ela?

SUBCONSCIENTE: Você sabe de quem estou falando...

CONSCIENTE: Aquela cujo sorriso nunca perderá o brilho?

SUBCONSCIENTE: A própria. Afinal, ela chegou até mim. Esqueceu?

CONSCIENTE: Como posso lembrar se você é o meu subconsciente?

SUBCONSCIENTE: Por que você não tenta fechar os olhos?

CONSCIENTE - De olhos cerrados: Ual...

SUBCONSCIENTE: Que foi? Que foi?

CONSCIENTE: Ela é potencialmente linda.

SUBCONSCIENTE: Não me venha com superficialidades, mocinho. Não me decepcione!

CONSCIENTE: Dá para parar com o escândalo? Você sabe do que estou falando: É da luz natural dela. Do brilho da pessoa, da personalidade. Da beleza da alma.

SUBCONSCIENTE: Você não está tentando me enganar, não é?

CONSCIENTE: E algum dia eu conseguiria?

SUBCONSCIENTE: Tem razão. Eu acredito em você. Ela é linda dos pés a cabeça.

CONSCIENTE: Não, é da cabeça aos pés.

SUBCONSCIENTE: A ordem realmente importa agora?

CONSCIENTE: É claro que não. Estou tentando lhe enrolar.

SUBCONSCIENTE: Eu sou teu sub, não pode me enrolar.

CONSCIENTE: Então por que você não me diz o que devo fazer?

SUBCONSCIENTE: Com relação a ela? Bom... Pode ser você mesmo. Vocês estão mais próximos do que imaginam.

CONSCIENTE: Talvez seja pela luz dela.

SUBCONSCIENTE: A luz dela apenas procura a sua.

CONSCIENTE: É, eu a encontro em meus sonhos.

SUBCONSCIENTE: Você só pode sonhar com ela porque ela é real.

CONSCIENTE: Chega. Deixe-me acordar para encontrá-la.

SUBCONSCIENTE: Finalmente. Mas não esqueça, eu sigo as ondas das tuas vibrações emocionais. Faça tudo isso valer a pena.

CONSCIENTE: Engraçado você me dizer isso. Eu não estaria aqui se tudo isso não valesse a pena.

SUBSCOSCIENTE: Está certo. Você já está me enlouquecendo. Apenas diga a ela o que sente, e tudo ficará bem. Boa sorte.

CONSCIENTE: Obrigado. Até a noite.

SUBCONSCIENTE: Até qualquer hora, amigo.

Uma madrugada e meia depois:

ELE - Surpreso e feliz: Nossa... Seu sorriso nunca perde o brilho mesmo, não é?

ELA - Tímida e feliz: Você... já não me disse isso em seus sonhos?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Há dois anos

Agora são duas e cinqüenta e um da manhã. Não consigo me lembrar da última vez que tive um sono extremamente saudável. Creio que deve ter sido há cerca de dois anos. Pois nesses pares de anos eu via o mundo sobre um oceano de flores. Nesse período meu coração batia vitalmente. Hoje, entretanto, às vezes, no auge dos meus 23, sinto como se ele fosse parar a qualquer momento. Talvez isso me tire a fantasia da madrugada e faça com que eu sinta os prazeres da cama somente depois das cinco da manhã. Embora eu me esforce evitando açúcar, cafés e leves cochilos durante o dia, eu não obtenho a concentração necessária para um sono regado a felicidade. Se conheço bem este Luan Iglesias que vos escreve, ele enfrenta mais uma de suas fantasiosas e justificadas crises existenciais.

Existe um fato marcante que me acometeu em meados de 2009. Pela primeira vez, eu senti que o amor não era inteiramente bondoso. Pela primeira vez, com os meus então 21 anos, eu senti uma ardência tão descomunal no peito que, por um segundo, achei que fosse uma depressão acentuada e provocada por uma ilusão da vida. A mulher que eu amava fugiu dos meus planos. E eu, que colocava as mãos no fogo por ela, demorei a entender que vivíamos uma relação de mentiras e projeções. Os sentimentos até eram reais, mas não posso crer que fomos sinceros para com outro. Então, após o término, só me recordo de ter notado um corte de cabelo diferente moldando o rosto dela. Poucas palavras. Nenhum abraço. Nenhum sorriso. Muitas dúvidas pairando no ar. Ela apareceu após quase dois meses, e já estava entregue à pele e aos lábios de outro. No início eu achei que tivesse sido o trouxa da história, como corrriqueiramente o fui na época do meu primeiro grau. Depois, tomei por conta que assumi a posição de um rebelde romântico, fazendo jus às minhas ações mantidas no pretérito do meu Ensino Médio. Àquela circunstância eu estava na faculdade, enfrentava as questões filosóficas presentes na metade do curso e, surpreendentemente, consegui superar o amor mal acabado na presença daquela que me fez feliz. Estagiávamos no mesmo ambiente: Quase lado a lado. Eu a consolava, era testemunha das lágrimas que ela derrubava sobre a pele amarga de pesadelos, por outro homem. Que tipo de pessoa eu era? Penso.

Esquecer um amor na presença do próprio amor é um desafio e tanto para quem tem 21 anos recém completados, para quem havia voltado da França após 31 dias de reflexões, com esperanças nos bolsos da calça de pijama. A vida se reabriu para mim poucos meses depois. Conheci novos amigos, outras mulheres de diferentes idades e entendi que a nossa condição humana e de relações sociais – sejam elas de qualquer espécie, não é de infinitude. É duro aceitar tal fato. Entretanto, a realidade martela aos olhos de quem está disposto a enxergar. Por nenhum momento me tornei cético ao amor. Amei e amo. Me apaixono por almas livres e pensantes e, ainda assim, não creio que tudo isso seja infinito. Quando 2009 começou eu tive a primeira prova de que não viveria para sempre. E que cada relação, cada experiência, cada palavra e/ou frase pronunciada deu forma a dialética existencial. É tão difícil responder a todas as inquietações que emergem em nossa a consciência... Se o mundo é feito de perguntas, onde estão as respostas?

Há dois anos eu acreditava, sumariamente, saber de tudo. Tinha a solução e, no mínimo, a equação para todos os problemas que orbitavam o planeta. Eu era um utopista dos mais baratos. Quando a queda me despertou, eu compreendi que podia e posso amar outras pessoas e me libertar dos conceitos fabricados pela sociedade moderna. Pois bem: me libertei. Voei alto, pousei. Alcei vôo novamente, aterrisei. Chorei. Sorri. Descobri novos rumos, novas decepções, novas alegrias, novas dúvidas, novos rostos cujos cortes de cabelo me fazem sonhar com os pés no chão. Então, por que a crise existencial senão para voltar ao blog e dizer a você, leitor(a), que não posso evoluir sem expressar o que me sufoca? E, afinal, o que me sufoca? A ausência da minha literatura ou a ausência do meu sono? É soma dos catetos que é igual ao quadrado da hipotenusa.

Eu voltei.

Há dois anos todas as cores mudaram para mim. Há dois anos eu me transformei na velocidade da luz na busca por felicidade. Deu certo.

Eu sou feliz.

Sou um sonhador.

Um errante da natureza, que se julga finito sob as condições humanas. Contudo, também sou contraditório ao afirmar que as lembranças, quando penetradas na alma, se tornam imensuráveis. As pessoas e tudo que as cercam são feitas de lembranças, memórias. Daí a infinitude.

Há dois anos eu me tornei infinito.

Posso dormir, enfim, só.

Boa noite

Aos infinitos que amam sem cessar sonhos.