Coluna do Luan

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Carlota

Carlota caminha com as costas virada para a vida. Há décadas mantém suas delicadas mãos encostadas na cartilagem que fica entre a linha facial do seu globo ocular e de seu nariz, humanamente reconhecida por orelha. Assim, Carlota tampa seus ouvidos para não escutar a verdade. Carlota cega-se a cada esquina para não sentir a dor. Carlota costura seus lábios para não dar margem a contra-argumentação do erro. Assim, Carlota co-existe por não saber nada a respeito do “estudo de caso”. E ela não faz questão de tomar conhecimento disso. Há muito tempo Carlota vem se jogado esmeradamente contra as correntezas da amargura. Diz-se sofrer. Onde? Onde, Carlota, onde! Diga-me onde está sua dor, seu raciocínio. Sua reciclagem motora e intelectual. Tudo está perdido no seu caráter. A gota d’água talvez tenha acontecido na noite em que você olhou para o céu e não viu nada além de estrelas. Astros celestes... Diga-me, Carlota, o que há após o brilho ofuscante dessas luzes? O que há de tão oponente e/ou onipotente lá fora para que nos coloque na posição de formigas ou macacos? Quiçá, Carlota, haja uma refutação, um desacerto grandioso de alguém ou algo que insistiu em dar sentido a seres que possuem a consciência de não existir. Tecnicamente imperfeitos. Sumariamente infelizes, apesar de acreditarem veementemente que são. Pois o fato de Carlota achar que isso tudo é uma verborragia existencial, tudo, e absurdamente tudo pertencente a uma bobagem pseudo-intelectual, prova a sua, a minha, a nossa condição de poluidores interplanetários cujos organismos evoluiram com eras naturais de eterna dúvida. Pois bem, Carlota, pois bem... Vamos todos dormir. Vamos todos rezar. Vamos todos elevar um Estado, uma nação de idiotas. Vamos, Carlota, vamos! Tire seus atrapalhados sapatos de bico fino e vamos correr na direção da hipocrisia. Isso Carlota, isso! Continue acelerando o passo. O amanhã não morrerá tão cedo enquanto o tempo se esvaia na perdição. Um dia, no decorrer do seu trote, da sua corrida, as famosas “pedras no caminho” já terão se transformado em um muro alto. Será a hora de saltar, Carlota, o momento de pular e sentir, como ninguém, a ausência cadencial das suas forças. Diga-me, Carlota, em quem você vai acreditar agora?