Coluna do Luan

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Palavras

"Estou tão feliz que dá vontade de chorar".
Fiquei pensando nisso.
Ponderei, como sempre faço...
Palavras, palavras... Onde as estão quando eu as mais preciso?
Todas elas se transformaram em sentimento.
É a única explicação que aceito.
Por saber que és a verdadeira.
Minhas palavras estão em teu pensamento, em teus sonhos, em tua alma...
Minhas palavras estão nos teus olhos...
Nos teus lábios, no teu sorriso, na curva formosial do teu rosto....
Minhas palavras estão em ti por inteira. São verbos, adjetivos, conjunções, preposições, substantivos...
Representam momentos irrepresentáveis...
Minhas palavras estão no teu intelecto, no teu tato, na tua pele, no teu cheiro...
Quem sabe nos teus arrepios?
Nos pêlos que tanto adoro...

Sei de tudo isso por que recebo tuas palavras em todos os membros do meu corpo...
Recebo-as da forma mais natural possível... Daí o vício estonteante...

Veja só você, finalmente descobrimos o rumo de nossas palavras.
Jamais podemos dizer que elas nos faltam...
Simplesmente porque as deixamos no nosso último beijo que continha vogais e consoantes escrevendo....

... Deixemos para o próximo beijo.
Quero mais palavras para que possamos escrever uma frase, depois um texto, um livro.
Por que não, uma biblioteca infinita...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Terra de Gigantes

Nem em cem anos eu esquecerei desta canção. Não irei contar as razões. Eu as sinto.

Hey mãe!
Eu tenho uma guitarra elétrica
Durante muito tempo isso foi tudo
Que eu queria ter

Mas, hey mãe!
Alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer

Hey mãe!
Tem uns amigos tocando comigo
Eles são legais, além do mais,
Não querem nem saber
Mas agora, lá fora
Todo mundo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas
De qualquer lugar...

Nessa terra de gigantes
Vocês ja ouviram tudo isso antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

As revistas, as revoltas, as conquistas
Da juventude são heranças
São motivos pras mudanças de atitude
Os discos, as danças, os riscos
Da juventude
A cara limpa, a roupa suja
Esperando que o tempo mude

Nessa terra de gigantes
Tudo isso já foi dito antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

Hey mãe!
Eu já não esquento a cabeça
Durante muito tempoIsso era só o que eu podia fazer
Mas, hey hey mãe!
Por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente
Não conseque entender

Por isso, mãe
Só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto
Antes de anoitecer
Pois agora lá fora,
Todo mundo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas...

Nessa terra de gigantes
Que trocam vidas por diamantes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

E nessa terra de gigantes
Eu sei já ouvimos, tudo isso antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerante
Hey mãe... Hey mãe...

domingo, 25 de maio de 2008

As estrelas

Tomando um leite quente à 1h e 40 min da manhã eu me decidi: vou ver as estrelas. Sim, as verei. Porque passamos mais da metade de nossa existência observando pessoas que talvez não nos dêem prazer. Por inúmeros fatores. O pior é conviver com elas e fingir que somos felizes, principalmente pela materialidade. Mas e quanto às estrelas? O que dizer delas? São astros... Nós aqui embaixo somos formigas para estes protagonistas. Porque a raça humana é assim: um formigueiro. Ora, eu sou uma formiga rebelde. Por que não posso sonhar com espaço? Ou tudo que condiz é o que podemos crer materialmente? Eu não posso tocar o céu, mas sei que ele existe. Não posso tocar o amor, mas sei que o sinto. Por fim: Não posso viver sem uma resposta, mas sei que respiro com dúvidas. Provavelmente morrerei com dúvidas. Então, quando eu ser enterrado, meus parentes e amigos chorarem, tudo terá acabado para mim? O amor que depositei a pessoas importantes terá se dissipado na terra como um grão enferrujado pelo tempo? A vida se resume no que?

Quando Marx veio com a teoria do trabalho e produtividade ele estava justificando sua existência? Meus amigos, procuro por filosofia.... Filosofaremos em frente à hipocrisia. Olharemos para o céu e nos perguntaremos: O que há depois dele? O que há? Se podemos crer em um Deus que não explica sua força (plausivelmente), logo, poderemos acreditar em nossos sonhos, não? Seria isso um poder mental? Gosto de sonhar, sonhar e sonhar... Talvez não realize tudo que penso, porque nem tudo que penso é realizável. Mas o fato de estar imaginando já me proporciona certo gozo. “Luan, então está me dizendo que somos todos auto-suficientes?”. Estou. E digo mais: Nós não precisamos ficar com alguém só porque nosso vizinho está com alguém, ou porque nosso amigo é gostoso e rico, e transa com dez mulheres por semana. Pense. E quanto às estrelas?

Nós precisamos encontrar o caminho da alma. Aí sim vale a pena ter uma pessoa; se esta, lhe proporciona um bem estar; se esta, lhe deixa o homem (a mulher) mais feliz da galáxia. Aí sim, meus caros, vale muito a pena... Agora, cair no modismo humano, fazer porque os outros fazem e não questionar esse comportamento é uma verdadeira regressão. Nossa mente é tão rica de poder intelectual, por que ainda somos tão ignorantes? Por que temos acesso às regras? Ou ainda: Para que elas servem? Eu respondo: Para uma disciplinaridade. Por conseguinte, a disciplina é uma regra social. Mas de onde surgiu a sociedade? Ora, de nós mesmos. Somos frutos e dejetos de nós mesmos. Está muito complexo para você? Simplificarei: Somos o nada. Ajudou? Claro que não. O que é o nada? Para os Persas o nada regia (e rege) o tempo. Deve ser por isso que existam calendários variados.

Você já parou para refletir no ano em que estamos? Por que 2008? O que vem a ser o Natal e a Páscoa para uma sociedade dita neoliberal? A todo o momento somos distraídos por nós mesmos. Somos nossa própria cobaia. Estamos enfrentando provas diárias ao sair para trabalhar e ver o que fazemos não sai do campo do que construímos. Volto a indagar: E quanto às estrelas?

Somos movidos a sentimentos, e o fato de sermos movidos a emoções, temperamentos e questionamentos, nos torna uma espécie e até mesmo um organismo magnífico. Pena que no fundo não sejamos fados, e sim mecanismos habitualmente falíveis. Necessito de mais leites quentes. Na verdade, aceito tomar café com um colibri, é quem pode me levar para mais perto das estrelas e de meus sonhos. Topas?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O mundo em vermelho, preto, roxo e rosa surgiu...

...quando aquele carapanã picou meu antebraço esquerdo e sugou meu sangue. Eu não me importei. Naquele mesmo instante, luzes piscavam no céu. Poderiam ser estrelas, aviões... Era pertinente? Decifrar o real? A minha frente eu te encontrava, te tocava, sentia o timbre da tua voz... Respirava o mesmo ar. Experimentava as mesmas palpitações. Nada me importava, senão o momento. Há tempos que eu estava precisando de belas doses como essas. De sentimentos puros, sinceros... naturais. Como o raiar do dia, o brilho do luar, o vento condensante que balança os galhos das árvores cujas folhas caem em nossas cabeças... É isso. Eu e tu. Com o cheiro da noite. Com o perfume do infinito de nossos pensamentos, diálogos e emoções. Com um porto seguro, com uma pérola. Sem segredos, sem fórmulas, sem rótulos. Sem o mundo. Apenas o inesquecível. O bastante para perceber que tudo o que descrevi não era um sonho. Você existe, sempre existiu. E agora me faz sorrir. Valeu a pena esperar.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Lucielem Mccartney

Então foi assim, sorri em frente a janela até você aparecer. Conquistei minhas esperanças perdidas, rezei pelo dia nublado e preparei o jantar a luz de velas. Talvez você tenha notado minha perspicácia platônica. Assim como as faces duras de um sabonete percebem a sujeira de espírito. Notei minha imundice ao caminhar ao teu lado, ao luar da madrugada. Um fenômeno quase que comum nos casais românticos e modernos. A diferença é que eu leio Borges e você Bioy Casares. Diferença? Ah sim, esqueci por um instante que a igualdade de conceitos e culturas no mundo hipócrita faz-se um status. A todo momento temos que ser idênticos, senão melhores. Foi pensando nisso que liguei para você, pedi para buscar-me às nove e depois gosaríamos. Mas separadamente. Você numa cama, eu noutra. Você com outra parceira, eu com outro parceiro. Ou vice-versa. Também podemos variar as opções sexuais. Podemos, até, ser racionais. Tudo é possível. Trajei o vestido mais lindo a sua espera, lembrei-me das palavras de minha mãe. Não sei o porquê, mas recordei do dia em que ela me disse que sou uma mulher de verdade. Eu havia sentido o sangue escorrer por entre minhas pernas, e aquilo me fez mulher. Isso é universal? Ser mulher é menstruar? Ficar às vezes inchada, dolorida, com humor teoricamente variável, sensível (somente naquele momento). Ser mulher é ter sintomas? Quem foi o maníaco machista que sentenciou isso? A última vez que saímos juntos você fez questão de provar que é capaz de reproduzir, e eu apazigüei-me. Ri. Homens... sexo... mulheres... livros. Ou então: Homens, mulheres, livros e sexo. Ou ainda: Livros e sexo, homens e mulheres. Qual é a ligação? Ponderai-me senhor. Ponderai-me. As raízes menstruais nesse momento me atordoa ao passo que me satisfaz. Ó senhor, perdoai-me pela tragédia, pelo encanto, pela mentira. Perdoai-me por gostar de ler, por ser sensível e transar recitando poemas e não gemer. Sou um animal fêmea, senhor. Sou como um pássaro, um beija-flor, uma borboleta sem asas, esperando incontavelmente pelo o que é certo, pelo o que é errado. A dúvida pertence sim aos sábios. Punir-me, senhor. A mim e a todos os outros que falam o que pensam, que comem o que desejam, que fazem o que omitem. Meu nome, senhor, é Lucielem Mccartney. E prometo ser mais solitária do que pareço ser. Só não me confunda com minha irmã, Elisabeth Mccartney, foi ela quem roubou meu coração ao levar o homem que eu esperava para jantar. Pensando bem... Foi melhor mesmo. Não preciso desse tipo de coração para viver, tampouco para amar.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Paulão e a polícia

Estava passeando virtualmente até encontrar um vídeo intitulado de "Polícia em Ação". O vídeo, na verdade, representa uma parte de um programa de televisão vinculado na no Canal 20 da NET de Porto Alegre, cujo apresentador, o Paulão, é o repórter policial.

http://www.youtube.com/watch?v=_LB6rck8984

Por favor, diga-me que isso não é jornalismo.

Leia os comentários abaixo do vídeo. Essa é a nossa sociedade.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Blônicas 2 - A vez dos leitores


Em abril do ano passado, Nelson Botter, psicanalista, escritor, diretor, produtor de animações e também coordenador do http://www.blonicas.zip.net/ me convidou para integrar a equipe dos 50 autores que teriam suas crônicas publicadas em livro. Pois bem. Sou leitor do Blôncias há mais de dois anos. O blog é recheado de crônicas e contos diariamente publicados por Xico Sá, Tati Bernardi, Léo Jaime, Rosana Hermann, Antônio Prata, o depressivo Henrique Szklo, entre outros. O Blônicas em livro já havia ido às bancas e livrarias com as melhores crônicas apregoadas por seus escritores no blog. O segundo projeto se baseia somente nos leitores. Sendo assim, os 50 melhores textos foram selecionados.
Mais de um ano depois, pós-contratos assinados, pós-contas pagas e noites mal dormidas, parece que estamos na etapa final de produção. Minha participação se resume a uma crônica onde falo dos sentimentos de meu último relacionamento. Foi uma escrita momentânea, o que não deixa de ser verdadeira. Foram outros tempos, é verdade. Entretanto, registro estará no livro.

Avisarei a todos de quando os exemplares chegarem às livrarias. Também terei direito a 20 destes exemplares para meu uso comercial. Mas já digo, em contrapartida, que não venderei nenhum. Doarei para pessoas que considero importantes para mim, e que realmente lerão o livro.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Celinha

Será que tranquei as portas? Isso não é pertinente. Não agora que vou dormir. Homens de meia idade como eu precisam de uma boa noite de sono, somos propícios a enfermidades de tudo quanto a grau. Ainda mais para mim, que nunca me cuidei quando o assunto era alimentação balanceada, exercício físico... Celinha vivia dizendo para eu correr 30 minutos por dia. Ah... E como eu gostava daquela mulher. Celinha fazia o tipo da esposa perfeita para época. Imagine só, 1975, período ditatorial, pós-milagre econômico, o país era comandado pelo general Ernesto Geisel, e Celinha no auge de seus 23 anos. Era linda como poucas. Radiante, seus cabelos encaracolados e negros combinavam com sua pele morena que emergia sobre o corpo mais belo de todas as mulheres que eu havia conhecido. As curvas de Celinha me causam arrepios até hoje. Por que Deus fora tão cruel comigo? Era ma castidade não poder experimentá-la, não poder tocá-la carnalmente.

Celinha no máximo foi minha colega de turma na faculdade. Vale lembrar que em 1975 instituia-se no Brasil a popularização do ensino superior. Nos anos 70, faculdade era coisa séria, não é essa brincadeira educacional do século XXI. E Celinha sabia disso, dava valor aos estudos e discutia em sala de aula os malefícios do regime militar - o que para o momento era demasiado audacioso. Falar mal do governo militar era como assinar sua sentença de exílio. Nos casos mais bárbaros, de morte.


O que me atraia em Celinha, fora o exuberante corpo, era sua coragem, seu modo independente de ser. É uma lastima ter que dizer isso, mas em 75 a maioria dos estudantes universitários eram homens. Celinha representava uma minoria. Sofria a todo instante preconceito e era taxada de militante da esquerda, por possuir em sua essência uma voz ativa e autônoma, pouco comum para as mulheres do século passado.


Houve uma vez em que eu toquei nos seios fartos de Celinha. Havíamos combinado uma reunião de estudos com outros colegas na casa do Luís, um antigo amigo e colega. Celinha sentou-se ao meu lado, mais precisamente à minha esquerda. A nossa frente havia uma mesa redonda recheada de cadernos e livros. No outro lado dessa mesa estava o Luís, uma colega bigoduda que usava óculos e um Ripe que entrara na faculdade para provar aos pais que era versátil. A caneta que Celinha segurava na mão esquerda caiu no chão. Quanta ironia do destino: a caneta havia caído por debaixo de minhas pernas. Em função da moldura interna da mesa, eu não podia me agachar para juntar a tal caneta. Celinha, então, curvou-se de maneira extraordinária em minha direção, fazendo com que seus seios tocassem minha mão direita que repousava estrategicamente sobre meu joelho. Lembro de como se fosse ontem, apalpei com vontade o seio de Celinha, agarrei com toda a força de meu desejo. Celinha soltou um suspiro de leve, fechou os olhos, juntou sua caneta, abriu os olhos e sorriu para mim. Me apaixonei na hora. Eu estava a amando por ter tocado em seus seios. Que loucura a minha. Na semana seguinte, todo esperançoso, achando que conseguiria algo concreto com Celinha, eu a flagrei aos beijos com Antônio Miranda, filho de um banqueiro corrupto. Do amor passei ao ódio. De mulher afável, para mim, ela passou a ser uma vagabunda. É engraçado eu lembrar de tudo isso com riqueza de detalhes.


Mas agora eu realmente preciso dormir. E as portas? Será que eu as tranquei? Tenho que verificá-las, principalmente a porta que dá acesso ao porão. Lá está o frízer onde guardo há décadas o corpo esquartejado de Célia Fernandes Duarte, a minha eterna Celinha.


Momento ego: este conto foi publicado no site http://www.portal3.com.br/

terça-feira, 6 de maio de 2008

Comunicado

Caros amigos-colegas-leitores, como diria meu professor: por razões pessoais imperiosas me ausentarei durante os próximos seis dias. Vou entrar em retiro espiritual, creio. Volto na próxima terça-feira,13, para dar continuidade a este blog que há mais de um ano conta com comentários de pessoas que além de amigos, são tão seres humanos quanto eu. Por isso, espero a compreensão de todos. Aos novos leitores, que sejam bem vindos e continuem acessando a Coluna do Luan. Aos poucos, nossas relações vão passando da virtualidade, já que lidamos com palavras e sentimentos. Isso é muito mais que virtual, é muito mais que real. Obrigado e até breve.

domingo, 4 de maio de 2008

À busca

Não sou de ferro, tampouco de aço. Não pertenço a ninguém, a nenhuma fórmula euclástica. Haverá outros tempos em que as praças serão mais abertas ao publico infantil e o tiroteio aos corações femininos trancederá uma remanescente esperança de viver. Até lá, continuarei escrevendo, mesmo sem saber o porquê. Tenho medo de respostas. Tenho medo do que penso ou crio. Tenho medo do mundo. As épocas são como as folhas esverdeadas de emoções, vão caindo lentamente de seus galhos aflitos, corajosos e inescrupulosos. É uma mistura, um relato, ora conceitual, ora imaginário. Preciso urgentemente de mais palavras e menos sangue.

Cansei

Amigos, cansei. Cansei de mentir para mim mesmo, cansei de especular metas e não atingi-las, cansei de tentar provar para outrem minhas reais intenções. A partir da publicação desse texto serei outra pessoa. Estou decidido. Vou deixar a preguiça e a hipocrisia de lado e serei mais conciso, menos incoerente. Cansei de estar no mesmo lugar. Vou começar a realizar todas as minhas loucuras. Vou correr às cinco da manhã – e daí que é muito cedo? Não terei mais recaídas quanto ao meu vegetarianismio, ouvirei Bob Dylan e direi em voz alta: Caramba! Esse cara é chapado! – sim, serei mais incisivo, contundente, deixarei à vista minhas opiniões. (Aliás, discordem, por favor, rebatem minhas afirmações! Gosto de discussões argumentadas, debates politeístas que sejam, não importa, vamos controverter.) Também irei pular de pára-quedas, saltar de bang-jump e me matricular na escola de pilotagem Salgado Filho. Terei meu próprio monomotor, serei mais livre. Vou escrever pilhas de livros, ou não. Mas lerei mais do que escrevo, escutarei mais discos antigos do meu pai do que escuto, e falarei dos meus gostos sem escondê-los. Um exemplo: gosto do Faustão. Pronto, falei. Gosto mesmo. A maioria das pessoas acham ele um pé-no-saco, de fato ele é, mas ao menos é autêntico. Já perceberam que todos os seres autênticos são imitados? Podem ser chatos, mas marcam. Olha o Silvio Santos, o Galvão Bueno, o Paulo Brito, todos são alvos. Eles podem até ter copiado uma coisa ou outra, porém, encontraram em suas cópias sua identidade. E insuportáveis ou não, nós os lembramos. Acho o Faustão um gordo simpático. E ele não é tão burro quanto parece, o Faustão tem seus momentos de glória.

Também assumirei meus gostos musicais: adoro ouvir Cúmbia! Qual é o problema? Eu escuto metal, jazz, rock melódico, blues, escuto mesmo. O bom da vida é ter essa aptidão musical, não se restringir a um estilo e assumir papel de homofônico cultural. Eu escuto MPB! Escuto baladas italianas, pop dos anos 70... Gosto de ir ao teatro e amo Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, família Coppola, sou um friccionado pelo cinema clássico e assisto os alternativos. Mas voltando à música: alguém aí já ouviu Blue Mountain? Eu adoro Blue Mountain. O único CD que eu tinha deles eu dei para minha ex-namorada como prova de amor. Que ridículo isso! Se fosse hoje, com minha atual posição referente ao amor, eu não daria nenhum disco, nenhum livro e nenhum filme que guardo em meus arquivos. Cansei desse mel amoroso. Acho que devemos ser românticos sim, mas respeitando o espaço alheio. Hoje em dia os relacionamentos estão muito superficiais. Dou-te dinheiro e tu me dás sexo, que tal? Também cansei das mulheres gostosas. Alguém pode me explicar o que está acontecendo com os cérebros? Vou procurar me envolver com mulheres de conteúdo, não importa se elas não têm peito ou uma bunda grande, gosto de mulheres inteligentes e charmosas. Para ser charmosa ou até sensual não precisa ter um corpo voluptuoso, a mente feminina pode tornar a própria mulher voluptuosa. Basta saber do que se está falando, ter alguma preferência de vida e ser livre para conquistar seus objetivos.

Essas gostosas de hoje em dia me torram a paciência. E o mundo está cheio delas. Não falam e não fazem nada que não seja relacionado ao namorado. As gostosas que não tem namorado se catalogam com o primeiro chipanzé de boa trela e com dinheiro no bolso que aparece. Aí elas são usadas e depois dizem o velho clichê: homem é tudo igual. Os que não são iguais estão cansados dessa mediocridade. O ponto de partida é saber o que se quer, definir algo e não sair beijando qualquer um que tenha uma camisa de marca. Às vezes ando desarrumado, barbudo e descabelado, não é nada assustador. Acontece que cobiço conhecer as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas vestem ou têm. É difícil de entender isso? Já cansei de receber olhares do tipo: “olha o tênis dele” ou “Que camiseta mais brega”. Só porque meu tênis estava sujo e minha camiseta era da Renner. E eu? Onde entro nessa história? Ah... “O status social”. Que se exploda. Vou nadar pelado na piscina aqui de casa, vou entrar no shopping descalço com minha amiga e pedir pão francês amanteigado. (Como ela mesma propôs). Vou ser mais livre do que imagino ser. É claro que o conforto é bem vindo, agora quando começa a corroer o espírito do ser humano, sugiro que dê um passo atrás e diga para si mesmo: “Hei, um dia eu andei de ônibus”.

Cansei dessa nossa fase comportamental. Falei das gostosas de forma genérica, vale lembrar que existem gostosas inteligentes, só que o processo é inverso: elas primeiro são de conteúdo, depois se rendem às formas do corpo. Fazem plásticas, entram em regime 27 vezes por ano. Pô, que graça tem não poder comer uma torta de bolacha? Nada contra esse tipo de mulher, mas prefiro as naturais de mentes evoluídas. Gosto de mulher que me mande calar a boca: “Isso é uma besteira”. E provam porque eu falei besteira. Gosto daquelas que corrijam meus erros de ortografia. Gosto das espontâneas – o que também está em falta. Por fim, me apaixono por aquelas que assumem o que são, sem medo do que os outros pensam. Tenho volição por mulheres independentes, àquelas que são solteironas por opção. Cansei das comuns.

Cansei de tudo. Vou comprar uma Combe e ligar “Hey Jude” a todo o volume. Cansei dos nossos anarquistas modernos. Por que não posso ser eu? Vou começar a falar o que sinto. Tenho que ser mais sincero com as pessoas que me relaciono. Ainda estou me descobrindo e preciso de espasmos. Entretanto, antes de tudo, preciso de mim mesmo. É por isso que eu idolatro os domingos.

sábado, 3 de maio de 2008

Uns Dias

O expresso do oriente, rasga a noite, passa rente.... E leva tanta gente, que eu até perdi a conta. Eu nem te contei uma novidade quente... Eu nem te contei... Eu tive fora uns dias, numa onda diferente. E provei tantas frutas que te deixariam tonta. Eu nem te falei da vertigem que se sente, eu nem te falei... Que eu te procurei pra me confessar... Eu chorava de amor e não porque sofria. Mas você chegou, já era dia e não estava sozinha. Eu tive fora uns dias, eu te odiei uns dias, eu quis te matar...

Hebert Viana.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sexta-feira com Lavoisier

Tenho pavor da sexta-feira. Sei que a qualquer momento o telefone de casa pode tocar, meu celular pode vibrar e alguma alma pensante pode me convidar para sair. O que eu faço? Digo que sou autista? Não, não posso mentir. A minha realidade é outra, amigos. É outra. Tento incontavelmente demonstrar isso para as pessoas que amo. Tento dizer até para aqueles de quem não gosto: minha vida é outra. Não sou como os garanhões da novela das oito, tampouco um baladeiro pós-adolescente. Amigos, pertenço a outros caminhos. Não gosto de ter que compartilhar meus problemas, mas às vezes é necessário. Assim como a solidão é necessária. Falei sobre a rotina de um organismo solitário no post de terça-feira e poucos leitores absorveram o que eu realmente quis dizer. Assim somos nós, alguns nos compreendem, outros não. Alguns nos pré-julgam, outros não. Alguns nos odeiam, outros não. Não quero me colocar como um extraterrestre, mas eu não integro a classe da grande maioria do público jovem. Contudo, também não me sinto como um quarentão. Eu sou apenas o Luan. Tenho meu passado e vivo meu presente que erroneamente projeta um futuro afobante. Esse sou eu. O Luan é aquele cara que não sai para qualquer lugar, ou sai, se a companhia for boa. O Luan valoriza uma amizade, principalmente as femininas. O Luan tem poucos e bons amigos (masculinos). E isso não faz do Luan um bissexual, ou um gay. E se fosse, qual seria o problema? Porém, o Luan é hetero. E talvez um dos heteros mais flexíveis desse planeta. O Luan dificilmente tem algum preconceito, ao contrário da sociedade em que vive.

Há momentos em que preciso deitar minha cabeça no travesseiro e chorar, eu tenho que chorar, fazer com que minhas lágrimas mostrem sentimentos a mim mesmo. Choro no escuro, no quarto, na sala, no banheiro, o ser humano deve carpir-se. Precisamos botar para fora nossas tristezas, angústias e até felicidades. Já viu alguém chorar por que está feliz? Pois bem, eu choro. Minha companhia mais concreta que possuo é o Lavoisier, meu ursinho de pelúcia. Durmo com o Lavoisier todas as noites. Ele não reclama se eventualmente eu ronco, se me mexo muito na cama e o destapo, se acordo tarde ou cedo demais, se leio livros em voz alta, se trago jornais antigos para o quarto. O Lavoisier é meu companheiro. Ele não rezinga de minha vida, ele me partilha com o seu mundo. Lavoisier é real, em um outro plano ele pode falar com outros ursinhos de pelúcia, ele pode ter até família. Achas loucura? Nosso cérebro é uma fábrica de ilusões, meus caros. A imaginação é veracidade mais madura que podemos ter. Se prender ao que vemos e tocamos é ignorância, o universo é mais do que nós mesmos.

Penso em tanta coisa que garotos de 20 anos jamais pensariam, falo pelos que conheço, são poucos os jovens existencialistas. O acesso à cultura inútil, a futilidade comercializada por nossa raça é mais rentável. É mais fácil, não há esforço mental. É fato, as pessoas não pensam. Não agregam nada ao intelecto. E para ser um intelectual você não precisa decorar pilhas de livros nem ler dez jornais por dia. Tudo que você precisa é tentar saber quem és. Por isso que são poucos os intelectuais. Raros, diria. Intelectualidade vira um cano de escape, já que não sabemos quem somos, falemos do que está ao nosso lado. Weber, Freud, Jung, Schopenhauer, Lacan, Heidegger, Nietzsche, Marx, Aristóteles e o ainda vivo Umberto Eco são exemplos de doutrinas diferentes, mas que em algum lugar houve um gancho. Eles com certeza não souberam e nem sabem quem foram ou são. Eles tiveram uma tese aproximada. Entretanto, enfeitaram suas dúvidas no comportamento, na reflexão, na história e até na sociopolítica. Enfeitaram e se auto-responderam. E isso os tornou intelectuais, só porque eles não fizeram o que mais da metade da população mundial faz: não progredir mentalmente.

A sexta-feira é uma das provas disso. “Eu trabalhei a semana inteira, vou curtir o finde”. Curtir? Beijar pessoas que mal conhecemos? Penetrar alguém que só sabemos o nome? Ou então, o mais corriqueiro: tomar litros e litros de cerveja a fio. Não, obrigado. Chame-me do que quiserem, me rotulem; ainda acho minha vida mais proveitosa do que as de muitos psicopatas sociais. A praga do ser humano é ser contagioso. Por favor, deixe-me só com Lavoisier, essa noite iremos beber suco de maracujá e discutiremos sobre o amor e o sexo no Jardim do Éden. Creio que estou me envolvendo sentimentalmente de novo. Sou vulnerável, sou humano. Até mais, amigos. Bom fim de semana.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Momentos

Em um de meus momentos ponderativos lembrei de Jay Vaquer. Narrarei a cena: Estava na sacada de casa, observando o mundo, vendo a rotina, as pessoas transitando, ônibus passando... Mil coisas vieram a minha mente. Decidi ler um livro, mas ele não me agüentou. Procurei um filme para assistir na TV a cabo, mas esses canais por assinatura nunca gostaram de mim. Apelei, então, para a internet; antes, contudo, queria ouvir algo que me tornasse metafísico. Que me tirasse desse plano. Ao contrário do que esperava, liguei a música “Cotidiano de um casal feliz”. O que me fez permanecer nesse plano, e acima de tudo, nessa vida.

Leia a letra, é fantástica.

Cotidiano de um casal feliz
Composição: Jay Vaquer

Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural

Ele manda em tudo, em todos curte seu poder
E deixa a esposa em casa pra brincar no trecode qualquer traveco em troca de prazer vai saber porque...ieiê
E a esposa anda malhada fez lipoescultura e a falta de cultura nunca foi problema ela tem dinheiropra dar e vender lê Paulo Coelho e seicho-no-ie vai saber porque...iê
E eles têm escravos disfarçados de assalariados diariamente humilhados se levantam cedo, se arrumam apressados têm hora marcada pra falar com Deus

Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural

Ele guarda no HD fotos de crianças nuas, pra tirar um lazer
Curte ver aquilo quando fica só
Ela conta os passos que dá no trajeto entre a terapia e a boca do pó
E até pensa em adotar alguma criatura, pode ser uma criança ou um labrador
Só depende da raça, depende é da cor que pintar primeiro...
Ele faz como ninguém a cara de quem não sabe mentir pode admitir, pra ocupar o vazio da relação mas com uma condição: não quer dar banho, nem limpar merda o dia inteiro
Eles foram ver o show da Diana Krall que alguém falou que era genial, gritaram "uhuu" do camarote enchendo a cara de Scotch

E eles têm escravos disfarçados de assalariados
diariamente humilhados se levantam cedo, se arrumam apressados
têm hora marcada pra falar com Deeeeeeuss! ououôô

Alguém sabe dizer o que é normal?
Pode parecer tão natural...

Agora sim, com a sua licença, vou ler meu livro.