Coluna do Luan

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Uma mulher de princípios

Fechei as cortinas, limpei o quarto e chorei. Antes das lágrimas, no entanto, pedi a mim mesma um pequeno intervalo para o café. Não me posso esgurrecer aos prantos enquanto tomo café. Meu pai, antigo fazendeiro dos anos 60, sempre me dizia que o café era sagrado. Devemos estar concentrado ao tomar o primeiro gole. Um desejo nessa hora é bem-vindo. Estava aí a formula para minha vingança retroativa: tomaria um gole de café preto almejando tua volta. Mulheres como eu não ficam se angustiando por qualquer homem barbudo como você. Ainda guardo na gaveta de minha cômoda uma camisa sua, com o seu cheiro natural. E quando penso nisso volto a chorar. Chega. Resolvida, abri a porta de casa e encontrei Ezequiel, um antigo amigo da faculdade. Falei para ele de minhas chateações e ele me propôs um programa pra lá de excitante. Primeiro eu teria que colocar as pernas por debaixo de seu ombro, fazendo com que meus pés se curvassem na sua nuca. Ele já queria estar ao mesmo tempo por debaixo de mim. Fui contra, aleguei que essa posição é dolorida, já havia feito o teste com o barbudo que me abandonou. Mas pensando bem, foi só com ele. E se com o Ezequiel fosse diferente? Nunca é demais tentar. Pedi que ele me buscasse às oito para seguirmos um ritual de casal apaixonado. Iríamos primeiro jantar e depois para o motel. Ele topou. Meio óbvio, não? Depois dessa noitada cheguei à conclusão de que o sexo com Ezequiel já não era mais o mesmo. Ele havia mudado e eu também. Transávamos desde a minha vida acadêmica. É melhor que nossa amizade fique sem sexo, avisei. Ele protestou, mas acabou aceitando minha imposição. Sexo com homem chato é a pior coisa do mundo. Acha que somos um objeto pirotécnico de mil e uma posições. Tudo tem limite. Depois de dispensar Ezequiel cai na depressão e voltei a pensar no barbudo, onde ele estaria? O que estava fazendo? Será que ele não pensa em mim também? Nunca transamos de verdade. Foi só amor. Não era justo perdê-lo, eu precisava experimentá-lo. Sou uma carnívora, preciso de gozo. Será que tento? Posso ligar para ele. Será que não é tarde? Creio que não. Nunca é tarde para uma bela mulher cassar seu macho. Liguei e ninguém atendia. Entrei em desespero porque queria muito vê-lo. Sentia falta do meu barbudo. Fui até sua casa, apertei a campainha e ninguém atendia. Tentei manusear a fechadura e para minha surpresa a porta estava aberta. Quanta desatenção do meu barbudo. Resolvi entrar, caminhei lentamente até ouvir vozes masculinas vindas de seu quarto. Tudo estava aberto, desloquei a porta do quarto e vi minha decepção: Ezequiel trepando com meu barbudo. Não podia acreditar, eles eram gays ou bissexuais? Não importa. Qualquer resposta naquele instante de nada adiantaria. Preferi voltar para minha cama e chorar, chorar muito. As lágrimas eram minhas únicas companheiras, sem mais homens, não quero mais saber de homens. Liguei para Ângela e resolvi voltar ao o que eu era, resolvi voltar à minha essência: “Ângela, venha para cá o quanto antes, quero que tu caia de boca em mim, cansei das aventuras heterossexuais”. O barbudo era uma ilusão, Ezequiel fora uma diversão da juventude, aquele bissexual mentiroso. Disse-me que era hetero. Entretanto, Ângela era o que eu queria, e eu sou o que elaquer. Sem mais choros, apenas me tornei uma mulher de princípios.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Solidão

Eu realmente necessito ficar só. Preciso da solidão mesmo que ela esteja acompanhada...

Era uma vez um rapaz jovem; então ele cresceu, envelheceu, cansou das convivências alheias e se entregou de braços abertos a solidão. Tornou-se acessível a si mesmo. Longe do autismo, ele é apenas feliz.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Máfia do Divã

Estava tudo como deveria ser. Cassandra entraria no supermercado da rua do forte às oito da noite. Sairia de lá por volta das nove, acompanhada de dois filhos: Ângelo, de cinco anos; e Patrícia, de sete. O seqüestro de Cassandra fora programado desde janeiro, quando a Máfia do Divã entrou em contato comigo para facilitar o encontro do criminoso com a vítima. Para aqueles que não conhecem a Máfia do Divã, saibam que é uma das facções mais violentas de Florianópolis. Com 15 anos de existência, a máfia do Divã já seqüestrou 56 jornalistas, 19 políticos e 27 artistas, entre cantores, atores e escritores. Entrei nesse ramo há 13 anos, desde que perdi minha filha Carla de quatro anos de idade e minha esposa Jussara, de 26, em um fogo cruzado da polícia local com alguns pivetes, ladrões de galinhas. A lembrança de Carla e Jussara, minha família, martela dia e noite em minha cabeça. Vivo a base de remédios, posso dizer que vivo com a morte.

Em 23 de Dezembro de 1994, Elias Garotinho, na época um traficante de respeito, ameaçou-me ao exigir que eu o ajudasse. Elias queria sair do país, fugia há meses do Polícia Federal. Era um dos traficantes mais procurados da América Latina. Elias batia o recorde da Colômbia, tranquilamente. As favelas do Rio de Janeiro e os bairros oriundos de Salvador não chegavam nem perto do litoral catarinense. Consta, em uma pesquisa, que Florianópolis é a principal capital brasileira fumante de maconha. No entanto, o governo local abafa o caso, prefere divulgar as belezas naturais. O governo omite, por exemplo, a corrupção da Polícia Militar, os desvios de milhões dos cofres públicos que foram parar na conta do Secretário de Meio Ambiente do estado, Airton Gonçalves de Mello. Airton é pai de Marcos Loreira de Mello, um dos lideres da Máfia do Divã. Tanto o pai, quanto o filho, foram os responsáveis pelo seqüestro e homicídio do jornalista Fernando Carneiro da Silva. Este jornalista era nada menos que o diretor de redação da Folha Catarinense. Foi executado com sete tiros na cabeça por designar sua equipe a investigar a fundo a procedência do tráfico de drogas em Florianópolis. Durante uma semana, Fernando Carneiro recebeu ameaças por telefone, por e-mail e por cartas. Publicou as ameaças em manchete no jornal, exigia a atuação mais ostensiva da polícia, só que os agentes da lei, como eu disse, eram corruptos. Fernando Carneiro não foi assassinado somente pela investigação às drogas, mas por denunciar o secretário Airton Gonçalves ao Ministério Público, devido aos desvios que a Folha Catarinense divulgou com exclusividade. Fernando Carneiro assinou duas vezes sua sentença de morte. Seu assassinato foi repercutido no mundo inteiro, a CNN deu espaço ao caso em todos seus noticiários.

Mas aí você deve estar pensando, onde eu entro nisso? Eu menti ao dizer que minha função na Máfia do Divã é ser o intermediador. Na verdade, sou um dos assassinos. Você não imagina o que passa na cabeça de um franco-atirador. Nós (homicidas) não refletimos, apenas executamos, no teor da palavra. Não entrei nessa vida para me vingar do filho-da-puta que matou minha família, é claro que este fato me motivou, mas para achar o assassino eu teria que eliminar a Polícia Militar inteira. Como sabia que isso era inviável, optei em viver de forma mais lucrativa. Minha vida deixou de ter sentindo quando fui demitido da Folha, no mesmo período em que ocorreu a morte de Carla e Jussara. Juntei o útil ao agradável. Joguei fora toda minha ideologia de jornalista que aprendi nas burocráticas aulas da faculdade e me dediquei ao crime. Sem falsa modéstia, sou um pistoleiro como ninguém. Senti um gosto enorme ao matar Fernando Carneiro, um prazer que só quem é matador sente. Minha entrada para o crime surgiu quando eu ainda era jornalista, e até foi por causa deste caminho que me demitiram. Quando Elias ameaçou-me pedindo ajuda para fugir do país eu colaborei. Dei a passagem aérea anual que todos os jornalistas da Folha Catarinense tinham direito. Assim me veria livre de Elias, que chegou até mim por me conhecer de vista, eu era repórter policial. A fuga de Elias vazou, meu nome foi exposto, demitiram-me e as conseqüências você já conhece...

Mas voltemos a Cassandra. Ela será seqüestrada por apoiar a campanha contra as drogas, de cunho moralista. Cassandra é uma escritora influente da região sul, também colabora com a Folha Catarinense e com o jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul. A intenção da Máfia do Divã não é matá-la, apenas seqüestra-la para provar quem é que manda: o crime organizado ou as campanhas moralistas? Para mim era serviço fácil. Estacionei meu carro atrás do automóvel dela. Era oito e quarenta da noite quando Cassandra saiu do supermercado, os filhos vinham atrás, carregando as compras. Momento perfeito para atacar. Preferi segui-la até a porta de casa, sem dar pistas, ela estava distraída com as crianças no carro, o que facilitou minha ousadia. A fechei com um cavalo de pau e apontei a arma para sua cabeça: “sai do carro, sua vadia! Sai do carro ou eu mato tuas crias!” A cadela implorou pela vida das crianças, deixei que os filhos entrassem para dentro de casa e coloquei Cassandra no porta-malas de meu carro. Desloquei-me até o lago oeste, lá havia uma cabana de madeira escondida sob um areal. A partir dali, passaria a conviver com Cassandra de Almeida. Tudo que ela exigia era folha e lápis, queria escrever o que sentia para publicar em livro. Ela falava e perguntava coisas sobre o existencialismo, tudo que estudei na faculdade, e eu respondia. Contei tudo a ela, sobre minha vida, minha trajetória e até sobre a Máfia do Divã. Contei porque já havia passado uma semana, e de acordo com o regulamento da Máfia, sempre que se passam sete dias com o seqüestrado sem ordem para libertá-lo, é sinal de que a vítima será assassinada. Quis contribuir com ela por saber que eram suas últimas escritas, quis dar margem a sua imaginação. Dei a falsa esperança de que ela sairia viva dali.

Até que no dia 7 de março desse ano, o surpreendido fui eu. A polícia, (a que não era corrupta) descobriu o cativeiro do lago oeste, eu reagi tentando evitar que levassem Cassandra e fui morto com um tiro no peito e outro no crânio. Cassandra foi libertada com todas as informações sobre a Máfia do Divã, que, por sua vez, foi exterminada em parceria com a Polícia Federal semanas mais tarde. Cassandra de Almeida decidiu não falar sobre seus sentimentos no cativeiro, e sim publicar esta história na primeira pessoa, na voz ativa daquele que a seqüestrou e a vigiou durante nove dias, oito horas e trinta e quatro minutos.

domingo, 27 de abril de 2008

Penso, logo necessito de...


... Louças do amor

As louças, os pratos, são como outono ou primavera em um raiar de sol. São como rosas ou espinhos, ou latidos e miados. Meu cachorro que o diga. Esses cães da atualidade nos remetem à reflexão... Já cometi proezas estúpidas, proezas ordinárias, proezas refutadas e mais daquelas que prefiro não lembrar. Sentado neste ônibus, confesso a mim mesmo uma dor inebriante, trêmula e inóspita. Ah... Como eu amo minha glória, como é vertiginoso saber que quem me ama está, na verdade, esperando pelo meu amor.



... Viajar

Costumo viajar de um lado para outro, sem destino, sem observações. Apenas com um rumo concomitante. Agora eu estava prestes a mentir para mim afirmando que sou feliz desse jeito. Carregando toneladas e toneladas de cargas emotivamente limitadas. Talvez eu até seja, no fundo de minhas razões momentâneas.

Por que será que as pessoas detestam tanto os domingos? Os baladeiros que me desculpem, mas domingo é fundamental.

sábado, 26 de abril de 2008

Da-me tu amor, solo tu amor...

Expresso através da letra a seguir meu verdadeiro espírito a respeito deste sábado. Creio que acordei meio nostálgico. Ah... Os sábados... Como diria meu grande amigo argentino, Juan Facundo, em um diálogo com sua amada: “De lunes a viernes tienes mi amor, pero los sábados y domingos mi corazón ya és una piedra”. Juan Facundo sabia quando um relacionamento não passaria de cinco dias. Filosófico, como poucos porteños. Preciso visitá-lo qualquer dia em Buenos Aires.


Paralamas do Sucesso – Trac-trac
Composição: Fito Paez


Não, não passa o tempo
Ao menos para mim
Tomo comprimidos e sigo sem dormir
Vejo tantos portos, não há onde atracar
Já não existem laços, alguém cortou
Trac, trac, trac
Todos os perfumes, todo aquele lugar
Todas as misérias e tudo mais que há
Cada movimento do sol sobre você
Cada móvel velho e cada anoitecer
Yeah, yeah...

Dá-me tu amor, solo tu amor
Solo dá-me tu amor
Poucas garantias há para nós dois
Nada neste mundo tem tanto valor
Todos os vizinhos parecem saber
E lançam seus olhares sobre eu e você
Yeah, yeah...

Veio todo mundo, a Rádio e a TV
Veio o comissário, anjos do céu também
Todos querem algo, sangue ou não sei quê
Em todo Universo nada lhes dá mais prazer
Yeah, yeah...
Dá-me tu amor,
solo tu amor
Solo dá-me tu amor...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Pressentimentos

Creio que as vezes as pessoas tiram proveito de minha aparência, ou de meus trejeitos, para precipitar-se em suas conclusões. Eu noto isso no olhar. Convivo com dezenas de pessoas todos os dias e posso arriscar: pelo jeito que cada uma me olha, consigo presumir seus pensamentos. Não sou nenhum vidente, para-normal ou qualquer outro rótulo pluralista. Defino-me como ‘sensitivo’. Possuo uma sensibilidade aguçada desde criança. Eu sinto quando estou em perigo, sinto quando alguém próximo a mim não tem muito tempo de vida, sinto quando alguém discorda mentalmente do que eu falo. Em outras palavras não saberei explicar. Tudo que eu sei é que sinto. Houve um caso, em minha cidade, onde eu caminhava lentamente em frente a uma livraria, neste exato instante meu cérebro emitiu um alerta ao meu sistema nervoso. Minhas mãos gelaram e meu coração disparou em questões de segundos. Acelerei o passo e sai rapidamente da frente daquele estabelecimento. Cheguei em casa sem entender o porquê de tais sintomas. No dia seguinte, li uma nota no jornal dizendo que aquela livraria fora assaltada 15 minutos depois de meu trajeto.

Há um acontecimento ainda mais marcante que envolve minha ex-namorada. Ela havia ido a um evento ligado a um grupo de comunicação aqui do Rio Grande do Sul. Este evento ocorre todo verão e inúmeras bandas regionais e nacionais participam. Ela tinha comprado o passaporte para as duas noites, e eu tinha apenas o ingresso da última noite de shows. Combinamos que ela iria com um grupo de amigas – supostamente confiantes – na sexta e eu e ela iríamos juntos no sábado. Ao chegar ao apartamento dela, por volta das três da tarde, dia seguinte a primeira noitada, eu já descobri que ela havia me traído sem que ela precisasse confessar. Toquei a campainha, ela tomava conhecimento de que fosse eu, abriu a porta e mostrou seu rosto com um sorriso culposo, eu senti. Naquele baque eu pensei: “ela me traiu”. Foi rápido e involuntário. No final das contas até que ela disfarçou bem, mas não adiantou. No fundo eu sentia que havia uma omissão entre nós. Nesta mesma tarde, falei para ela sobre a confiança de um relacionamento. Usei a metáfora do cristal que copiei de um poeta francês para exemplificar: “Minha confiança por ti é como uma bola de cristal, uma vez quebrada, sempre faltará um pedaço para reconstituí-la, sempre”. Ela arregalou os olhos, suspirou e disse: “Já sei, você acha que eu lhe traí”. Aleguei que não. Justifiquei dizendo que eu sabia que ela jamais faria isso. (Eu a provoquei). Na segunda noite desse evento eu pude confirmar meu pressentimento. Ela mal me tocou, mal me beijou, não queria andar de mãos dadas comigo. Estava muito estranha. Vi que nosso relacionamento não iria muito longe. Dias mais tarde ela me contaria tudo às lágrimas dizendo estar arrependida. Ela lembrou do cristal quebrado e entrou em desespero. Ao mesmo tempo que não queria me perder, vivia afirmando que eu era muito bom para ela, que ela não me merecia, não merecia meu amor. Somente semanas mais tarde, por vários outros motivos, eu descobri que isso era verdade. Esta lembrança me deixa feridas até hoje.

Posso passar horas citando episódios de meus pressentimentos. Vou contar sobre o do engarrafamento. Para alguns isso é absolutamente comum. Até integra a rotina de muitos nas grandes cidades. Porém, não foi como o congestionamento em que senti minha morte. Foi um dos dias que mais fiquei aflito e não sabia o porquê. O fato ocorreu na entrada de Porto Alegre, na avenida Castelo Branco. Estava no carro meus pais, eu e meu segundo irmão mais velho. Naquele dia eu sentava no banco traseiro, atrás do motorista (meu pai), mas eu sempre sento atrás do banco do caroneiro (minha mãe). Gosto de ter a visão do velocímetro e dos atos do meu pai na direção. Não que eu o monitore, é mais para aprender, meu pai tem 35 anos de habilitação. Contudo, naquele dia, no momento do engarrafamento eu estava atrás do meu pai e com o coração saindo pela boca. Uma aflição tomava conta de todo o meu corpo na medida em que os minutos passavam. O congestionamento durou mais de uma hora, isso foi uma verdadeira tortura. Passamos por uns oito automóveis batidos, fora um engavetamento. Horas depois eu assisti no noticiário local que todos os veículos acidentados naquele congestionamento eram movidos a gás (GNV). Uma pequena explosão em qualquer um daqueles automóveis provocaria uma tragédia sem tamanho. Seria um aglomerado de fogo, por quilômetros.

Também possuo outros dons, consigo descrever personalidades de pessoas que pouco convivo. Já fiz isso com uma colega e ela se surpreendeu. Vivo descobrindo o lado comportamental de colegas e amigos, para muitos não conto. Isso me faz mal. Sentir como o outro é gera uma angústia. Entretanto, não posso controlar, eu vejo e sinto.

Ontem, por exemplo, senti que estava sendo julgado indevidamente. Só porque tenho atitudes momentâneas. Só porque não apresento resultados esperados. Isso é motivo para descrença? Tenho que lembra-los que nasci ser humano. Esse julgamento alheio me chateia profundamente. O pior de tudo é que os incomodados não falam diretamente comigo. Gosto de conversa cara-a-cara, olho-a-olho. Diálogos francos.

Ontem, ao entrar na van que me transporta até em casa, tornei-me pensativo. O que será que eu fiz? Devo mudar meu jeito de ser para agradar terceiros? Lamento, minha essência não permite. Queria provar meus princípios. Se metade das pessoas que me julgam me conhecessem realmente, voltariam atrás. Não falo por mim. Pergunte a quem me conhece de verdade, pergunte a quem convive comigo ou a quem tem minha companhia há décadas. Nunca derrubei ninguém para conquistar meus objetivos; pelo contrário, sempre fiz questão de “promoções coletivas”. Em hipótese alguma prejudicaria qualquer ser por intenção. Sinto uma angustia por pressentir isso. Talvez o tempo revele qual o verdadeiro caráter de um indivíduo. Entretanto, no atual presente, o tempo me coloca como um mero plebeu. É justo, ao passo que arbitrário.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O dia em que a terra mexeu

Esse título pode virar nome de romance, de filme, etc. Tudo é possível. Vou dar a dica para o Walter Salles ou para o Hector Babenco. Já até me imaginei ligando para o Babenco: “Hei, Hector! Tenho uma dica de filme maravilhosa pra ti, o que achas de fazer algo sobre a supremacia da mãe terra? Não, não é como o Carandiru, deve ser de teor mais ‘vulnerável’, entende?”. – Mais vulnerável que o próprio Carandiru? No post anterior argumentei sobre a voz conseqüente da natureza, e é verdade. Ontem, São Paulo tremeu. Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro também. E isso já foi suficiente para virar atração temática. Minutos depois os principais jornais do país estampavam suas capas com a manchete alarmante: “Terremoto de 5,2 graus assusta São Paulo”. Tá e daí? Na Califórnia as pessoas preparam-se psicologicamente para o pior, elas vivem com os abalos sísmicos. No Japão, os orientais já dormiram centenas de vezes com o chão se mexendo. Há povos que vivem com vulcões. E nós aqui, na tropicalidade, reclamando de barriga cheia. Ora, os brasileiros não são acostumados com terremotos. Os brasileiros são acostumados com corrupção, futebol, sexo grupal, bundas grandes, o que for. Mas terremoto? Não... Isso ainda é novidade.

O máximo que se tem aqui são cocos caindo nas cabeças dos baianos. Temos alagamentos, conta? Não, o que é corriqueiro demais não serve. Ah, entendi. E quanto à guerra que se instaurou nas favelas? E quanto ao tráfico e consumo de drogas? Chegaremos um dia aos pés de paises liberalistas como a Holanda? No lugar de prostituas que se vendem através de vitrines, colocaríamos dinheiro público. Quem rouba mais? A tentação é quase a mesma. Nós Somos liberais, sim. Veja, por exemplo, o episódio dos cartões corporativos, nem a tapioca escapou. Conta de motel e despesas com supermercado também estão na lista. Isso não é liberdade? O quê? É contra lei? Mas que lei? No país do carnaval as leis são fantasias que escondem a sujeira, a pilantragem dentre os glutens de nossas mulatas (no bom sentido). Agora, basta um tremorzinho para que tudo mude? O google nunca teve tantas buscas por terremotos. Eu sei que 5,2 é um grau considerável em uma escala que vai até nove, mas, por favor, foram poucos segundos. O mundo não vai parar (neste momento) e tua renda mensal não vai aumentar em função do balanço terral. Não adianta, meu amigo, os problemas continuarão.

No entanto, sentimos “medo”. É ridículo. Ouso afirmar que quem presenciou nosso minúsculo terremoto sentiu mais adrenalina do que um suposto receio de que algo de muito grave pudesse acontecer. Casos solenes nos rodeiam todos os dias, a todo minuto, somos alvos de ações circunspetas. Mas um terremoto? Estamos é muito mal preparados, isso sim. Talvez seja culpa de nosso regime de esquerda. Já sei, vamos responsabilizar a Dilma Roussef. Pronto. O terremoto foi um dossiê da Dilma. Que tal? Será que cola?

No país das maravilhas modernas, das maracutaias políticas, do desmatamento, da poluição visual, do uma-mão-lava-outra tudo é normal. Por que um simples terremoto não seria? Aqui temos, inclusive, padres voadores. Nós causamos inveja às nações de primeiro mundo. Só temos o Hugo Chávez como concorrente de peso, o resto não chega perto de nossas proezas. O que é um terremoto? Nem chegou a abafar o caso Isabella. A Dilma, realmente, precisa melhorar muito.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Chutar o balde


Amigo(a) leitor(a), sinto que necessito compartilhar minhas frustrações. Não é nada depressivo, ao contrário, é reflexivo. Ontem durante o dia todo eu tentava esconder a minha incomensurável vontade de chutar o balde, literalmente. Acordei pensando: “por que diabos tenho que fazer isso?”. Fui mais adiante: por que diabos tenho que levantar a essa hora, ler os jornais, escutar os noticiários e mentir para mim mesmo alegando estar bem informado? Por que diabos tenho que pegar o ônibus para ir até a universidade onde estudo? Por que diabos tenho que ser formado em um curso superior? Por que diabos tenho que seguir o padrão de uma sociedade ridicularizada pela sua própria história? Se você pensar no sentindo de nossas vidas chegará a uma só conclusão: não tem sentido. E não me venha com citações de filósofos, antropólogos, sociólogos, cientistas renomados, eu também sei ler, eu também os li. Posso argumentar sobre vários nomes da literatura, do campo metafísico, da filosofia subversiva. Não sou nenhum ignorante, posso me passar por um. Não me confunda com sua consciência. Não me julgue, nem me entenda. Sou diferente e não indiferente. O que mais me chateia nesse mundo corroído por atitudes pseudo-singulares são as mentes arrogantes. O ser humano é engraçado, acha que tem o poder sobre tudo e todos. Logo, se prova o contrário. A natureza fez questão de mostrar sua voz conseqüente.

Ontem eu queria ser como a natureza. Demonstrar aos demais que eu também tenho voz ativa, não sou um mero estudante universitário. Um mero aspirante ao jornalismo. Não sou como um emblema político, baseando-se em promessas de princípios ou anseios. Tenho lá meus sonhos. Alguns considero tão incoerentes que faço questão de realizá-los. Detesto esses métodos certinhos, politicamente corretos, a lei do óbvio. A obviedade pertence às nossas leis, às nossas loucuras. Às vezes uma boa imaginação vale mais que um arcaico conhecimento. A imaginação cria, o conhecimento ensina. A disparidade entre eles não pára por aí. Via mais além. Temos que usar nossos sentidos, não necessariamente a forma lógica para descobrirmos outro conceito. Ontem, a exemplo disso, eu queria trancar a faculdade, deixar a barba crescer e me mudar para Bali. Lá, sentaria em uma cadeira de madeira desconfortável e leria um romance iraniano. Adoro as escritas do oriente médio. Ensinam-te a sair dessa monótona visão de que temos, da qual a vida serve para batalhar, ser feliz. Então me diga, qual é o seu conceito de felicidade?

Eu queria era ter mais liberdade para realizar minhas loucuras. Assim eu saberia por mim mesmo o que pode ser mais dolorido, ou o que pode ser mais afável de se conquistar. Preciso de inovações. É extremamente desanimador saber que daqui a alguns anos vou ter um editor nas minhas costas dizendo sobre o que devo ou não escrever. Devo seguir as ideologias de um grupo de comunicação, mas hei! E o que faço com as minhas? Tenho que joga-las ao chão e pisa-las como se fosse panos de limpeza descartáveis? A ética não se conquista na obediência. A ética se conquista na independência. O jornalismo é apenas um modelo do meu “chutar o balde”.

Entretanto, não pense que vou deixar este ofício, que vou abandonar minha vidinha uniforme. Eu gosto do que faço. Isso comprava a minha tese de que todos somos um pouco sadomazoquistas. Mas, por exemplo, para eu reformular essa minha tese tenho que seguir o arquétipo de minha sociedade. E isso é uma decepção enorme. A forma com a qual somos organizados mais parece um formigueiro. Andamos um atrás do outro. “Quando nasci já era assim, pra quê mudar?”. “Vou fazer como os outros fazem”.

Os grandes gênios do futuro serão aqueles que irão contra a maioria. Que correrão para o lado do fogo. Que não enxergarão o logismo fajuto, restrita aos olhos de organismos animais primitivos. Penso que no fundo sou um covarde. Não fiz aquilo que me caberia fazer nos momentos delinqüentes de meus sentidos instantaneamente aguçados. Isso mesmo, sou um covarde. Talvez no futuro eu não seja um gênio, tampouco um pau-mandado. Talvez no futuro eu seja mais verdadeiro comigo mesmo.

Até lá haverá outros baldes para eu chutar. Até lá me covardarei para outros pensamentos típicos de alguém que está cansado desse governo animal. E que, no entanto, não consegue expressar as soluções de suas questões por estar compelido a viver com dúvidas. “Dá-me luz que lhe darei um sentido”. Desculpe-me, minha lanterna já está queimada.


terça-feira, 22 de abril de 2008

E aí, como foi o feriado?

O primeiro dia depois do feriado é sempre, no mínimo, curioso. O sujeito chega ao trabalho e de cara ouve a pergunte culminante: “E aí, como foi o feriadão?”. Será que as pessoas não percebem que esse tipo de pergunta é evasiva? E se o feriado foi um desastre? Tenho que compartilhar tudo que me aconteceu? E se foi bom, sou obrigado a falar de todas as minhas emoções? A questão aqui não é ser mal educado ao ponto de não responder a uma singela pergunta do colega, mas a de ter liberdade de guardar para si os acontecimentos do seu final de semana. Quando este tipo de pergunta lhe atinge, querendo ou não, você se sente na obrigação de redargüir. Se optar em falar um simples “não lhe interessa”, será taxado de grosso.

Possível diálogo fútil 1:

- Oi, Roberto!
- Oi, Carla.
- Ai, nem te conto, meu feriadão foi muito bom! Tenho várias novidades! Sabe o teu amigo... Aquele...
- O Beto?
- Isso, o Betinho... Ai, achei ele um gato, sabe. Encontrei com ele sábado lá no clube...
- E daí?
- E daí que ele pediu meu telefone, e marcamos de sair no próximo final de semana!
- Que interessante...
- O que é interessante?
- Essa tua felicidade por causa do Beto.
- Vocês brigaram?
- Claro que não, ele é meu melhor amigo.
- Você ta estranho, como foi teu feriadão?
- Não lhe interessa.
- Ui! Grosso! Deita e acorda de novo, bicho do mato!

Nesta situação, Roberto ficou de antipático, só porque ele não quis comentar sobre seu feriadão. Mas onde está escrito que ele deve contar sobre seus acontecimentos de final de semana? O “não lhe interessa” é um direito que possui. Não poderia ser chamado de grosso ou “bicho do mato”, no entanto, isso ocorre corriqueiramente.

Por outro lado, há aqueles que são mais pacientes e acabam respondendo de forma resumida.

Possível diálogo fútil 2:

- Bom dia, Renata!
- Olá, Afonso!
- Tudo bem?
- Tudo. E com você?
- Tudo ótimo, meu feriado bombou!
- Ah, que bom...
- E o teu como foi?

(uma breve pausa)

- Ah... Sem grandes emoções... Foi normal.

(teu colega pode ser daqueles chatos que insistem, neste caso, o diálogo vai mais além).

- E esse normal é bom?
- Ai, normal é normal. Nem bom nem ruim.
- Ah, mas não tem nenhuma novidade mesmo?

(Agora a paciência está chegando ao fim)

- Não.
- Você não parece ser uma mulher de poucas novidades, tenho certeza que andou beijando neste findi.
(O cara é realmente chato e quer dar uma de ‘amiga’, ou galanteador).

(o fim da paciência)

- Ai, Afonso! Não começa! Se eu tivesse alguma novidade eu te contaria, ok?
- Tudo bem.

Aqui, Renata possivelmente passará a imagem da mulher na TPM, ou a mulher sem sexo. Quando, na verdade, ela pode fazer sexo três vezes por semana e ter saído da TPM há 72 horas. Todavia, ela tem a livre escolha de não expor nada sobre seu feriadão. Por que isso é tão difícil de entender?

O terceiro e último possível diálogo, seria aquele em que ambos acabam conversando sobre o que fizeram no feriadão. Na prática, sabemos que isso não é uma verdade completa, embora seja comum ocorrer. Não se sabe ao certo se os dois possíveis interlocutores estão com vontade de contar suas novidades, eles podem as compartilhar por inúmeras hipóteses: precisam de um conselho; querem desabafar com o primeiro ser que encontrarem; desejam demonstrar uma falsa simpatia ao perguntar algo que não necessita ser perguntado, ou responder algo que não custa rebater ao infeliz que perguntou.

Por mais que este assunto lhe soe estranho ou fora de questão, ele é real. Hoje, ao chegar a sua escola, a sua faculdade ou ao seu emprego, com certeza irão lhe perguntar sobre o feriadão. Se isso incidir, peça, gentilmente, que o perguntador acesse este blog e leia este texto. (Juro que não é uma jogada de marketing).

As pessoas têm que entender que há dias em que você não quer falar sobre seus acontecimentos. Porém, há também os dias em que você não quer parar de recitá-los verbalmente. O que deve ser exercitado é o bom senso, o olho crítico e observador. Antes de perguntar alguma coisa a alguém, preste atenção na situação, no lugar e no momento, só depois pergunte. Você não pode adivinhar que tal fulano não quer falar, mas pode tentar entender o porquê do fulano estar quieto. E para isso, não necessitamos indagar. Devemos apenas ser mais cautelosos, não só com os outros, mas com nós mesmos.

O mais perpetuante ou hipócrita disso tudo, é que eu sou uma das pessoas que pergunto sobre as novidades do feriadão. Também pertenço àquele grupo que contam suas novidades aos curiosos que me indagam. O que farei hoje? Acho que terei que apelar para a dor de garganta.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

"Amor, não usa camisinha porque não quero ter um filho"

Se você achou a frase acima sem nexo, insana, ilógica, colidente, contraditória ou até mesmo disparatada, saiba que no mundo real ela se personifica em atos não verbais. O sujeito detesta usar camisinha, porém, não cogita a hipótese de que um dia poderá ser pai por “acidente”.

Neste fim de semana o instituto Datafolha revelou que a cada dez gestações, quatro não são planejadas. Mesmo com o surgimento da pílula anticoncepcional – isso há mais de cinqüenta anos – a gravidez indesejada vem crescendo gradativamente no país. A pesquisa ainda ressalta que este fenômeno atinge todas as classes sociais, e na sua maioria, um público jovem (adolescentes).

No bairro onde moro conheço três garotas que engravidaram sem precisar de muito esforço. Elas apenas seguiram seus instintos animais. Uma delas ainda me relatou que foi transar com o namorado sem camisinha porque o preservativo pertence à vida daqueles que não são fieis. Uma semana depois dessa declaração, fiquei sabendo que sua fidelidade daria fruto a uma criança que hoje tem cinco anos e vive em condições tão precárias quanto a mãe. São vários os casos, e as desculpas são análogas: “A camisinha estourou”, ou então: “o clima tava tão quente que acabou rolando sem proteção”. Mas aí você pensa, e a pílula do dia seguinte? Aquela de caráter totalmente emergencial? Ah, minha amiga, essa pílula não é 100% eficaz. E não adianta sair tomando inúmeros comprimidos. Existe uma dose certa para cada organismo. O ideal é que se procure um especialista e somente depois se encare o remédio da “purificação”.

Quando reflito sobre essa nossa juventude liberta para a vida sexual tento imaginar como era nos anos 60, 70, 80. Ou como seria o sexo na ditadura militar? Segundo Arnaldo Jabor, “o sexo pertencia a uma militância política”. Transava-se contra o regime socialista ou contra a ousadia comunista, não importa. O sexo sempre existiu. A questão é que chegamos ao ponto crucial de nossa sociedade: a bestificação. Exatamente, somos bestas. O nosso almejo pela liberação, pela autonomia infantil que hoje toma conta de boates, festas e eventos para todos os gostos, passou da chamada “diversão” para um reflexo preocupante. É ignorância achar que só você erra . Os erros coletivos podem causar a derrota de uma nação. Quer que eu apele para a história? Leia sobre a revolução mexicana ou francesa, e entenderá quando falo de erros coletivos. Meus amigos sociólogos insistem em dizer em que estamos em uma fase de transição, não discordo. Contudo, quais serão as conseqüências de nossa fase transnacional? Filhos não planejados mais drogas igual adrenalina?

Não quero aqui passar a imagem de preconceituoso ou pseudo-moralista, mas a verdade é que a nossa juventude se droga sim, a nossa juventude faz sexo, e as nossas crianças também geram crianças. É fato! Não estou inventado nada. Tudo que faço é observar o mundo ao meu redor, a comunidade pela qual mantenho meus relacionamentos. Procure olhar quem está ao seu lado, converse com essa pessoa e descobrirá um universo novo de preceitos, crenças e opiniões. Não adianta lutarmos contra nós mesmos. Cada indivíduo deve à sua consciência a justificativa de seus atos, sejam eles implícitos ou oratórios.

Para não me acusarem sob o argumento de que uso e abuso da generalidade, friso que por sermos indivíduos únicos (meio óbvio), somos diferentes (outra obviedade), por tanto, os critérios de estilo de vida são muitos (Isso é uma conseqüência). Nem vou citar sobre o que é normal. Para mim, a normalidade é a própria generalidade.
A seguir há uma parte da entrevista que fiz com Hulana Ribeiro (foto a baixo), 18 anos, natural de Macapá, Amapá. Hulana recentemente descobriu que será mãe indesejadamente. Propus a ela uma pequena entrevista a ser publicada em meu blog e ela topou. O que você lerá a seguir é apenas um mero recorte do real.


COLUNA DO LUAN – Quem é o pai do seu filho?
HULANA - Um garoto que eu estava ficando
COLUNA DO LUAN – E como ele reagiu ao saber da notícia?
HULANA – Não gostou muito, né.
COLUNA DO LUAN – Ele vai assumir o filho?
HULANA – Vai tem que assumir, se não coloco ele na jsutiça, não fiz o filho sozinha.
COLUNADO LUAN – O que aconteceu para que tu engravidasse? Vocês não usaram camisinha?
HULANA – Ele usou, mas estourou. E a pílula não fez efeito.
COLUNA DO LUAN – A pílula do dia seguinte?
HULANA – Isso.
COLUNA DO LUAN – Tu tens uma vida sexualmente ativa?
HULANA – Não entendi.
COLUNA DO LUAN – Faz sexo com freqüência?
HULANA – Sim.
COLUNA DO LUAN – E tu não tomava anticoncepcional?
HULANA – Não.
COLUNA DO LUAN – Por quê?
HULANA – Nunca me interessei.
COLUNA DO LUAN – Mas então tu sabia do risco de engravidar?
HULANA – É, sabia.
COLUNA DO LUAN – O que muda na sua vida agora?
HULANA – Nada.
COLUNA DO LUAN – O fato de tu teres um filho não mudará nada em sua vida?
HULANA – Não.
COLUNA DO LUAN – Aos 18 anos tu achas que está pronta para ser mãe?
HULANA – Estou.
COLUNA DO LUAN – Por quê?
HULANA – Porque estou.
COLUNA DO LUAN – O fato de sua gravidez ter sido indesejada não pesa a consciência?
HULANA – Não, não pesa.
COLUNA DO LUAN – Que lição tu pode tirar desse episódio?
HULANA – Ter mais responsabilidade.

Hulana Ribeiro respondeu as perguntas da forma mais lacônica possível. Entretanto, são as palavras lacônicas que tentam justificar a vida que ela agora irá gerar. Ser mãe parece não incomodar Hulana. Aliás, parece não incomodar mais ninguém.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A fome dos leõezinhos

É engraçado ver os leõezinhos atacando suas prezas. Geralmente são de todo inexperientes. Não conseguem controlar seus desejos sexuais. Quando estão prestes a conhecer sua sexualidade os leõezinhos ficam nervosos. Nota-se essa inquietação pelos olhares, pela forma errônea com a qual se comunicam. Tudo que desejam é atacar. Pensei com essas palavras ao ver dois garotos, no auge de seus doze ou treze anos, creio. Estávamos todos no ponto de ônibus, enquanto esses leõezinhos tentavam seduzir sua preza: uma garota da mesma faixa etária. Ela, por sua vez, flertava. Tornava o jogo mais difícil, embora totalmente acessível. Tudo que ela queria era deixar os leõezinhos suados. Bons predadores gostam de correr atrás de suas prezas.
Comida muito fácil perde o sabor, o encanto, o prazer. Mas se tratando de leões novos, logo se vê a imaturidade verbal e sexual. O problema dos novatos é açodamento. Vão com muita sede ao pote. Isso não os torna bons predadores. O Leão que se preze tem inteligência, atitude na hora certa e não fala o que pensa, fala o que deve ser dito. Assim, ele ganha a preza da forma mais carnal possível. Como se fosse o lado superficial do relacionamento. Começamos no sexo, depois se virar amor é lucro. Pobres leõzinhos, estão famintos, no início da puberdade, o descontrole emocional é compreensível.
Isso me faz lembrar do meu primeiro caso amoroso. Sempre fui muito lerdo para sexualidade em si, meu beijo de língua surgiu aos dezesseis anos, em um dia chuvoso de outubro. Meses mais tarde eu conheceria minha primeira namorada. Tanto eu, quanto ela, éramos desvirtualizados. Descobrimos nossas tentações carnais juntos. Foi uma relação picante. Gostava dessa época, de um leãozinho inocente passei a ser um leão mais convicto, certeiro e experiente. Mesmo assim, sinto que me deteriorei em parte nesse período. Tudo muito precoce, em questões de meses.

Hoje já não cobiço mais ser leão. Sou adepto às verdadeiras intenções. Com algumas recaídas, ainda acredito no poder do amor entre os seres humanos. É claro que o sexo é relevante. Contudo, prefiro deixar as prezas para quem acha quer ser leão é simplesmente matar a fome primitiva e leviana. Pobres leõezinhos, ainda têm muito o que aprender.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Novidades

Aguarde. por enquanto estamos em obras. Dia 14 está próximo.