Coluna do Luan

domingo, 4 de maio de 2008

À busca

Não sou de ferro, tampouco de aço. Não pertenço a ninguém, a nenhuma fórmula euclástica. Haverá outros tempos em que as praças serão mais abertas ao publico infantil e o tiroteio aos corações femininos trancederá uma remanescente esperança de viver. Até lá, continuarei escrevendo, mesmo sem saber o porquê. Tenho medo de respostas. Tenho medo do que penso ou crio. Tenho medo do mundo. As épocas são como as folhas esverdeadas de emoções, vão caindo lentamente de seus galhos aflitos, corajosos e inescrupulosos. É uma mistura, um relato, ora conceitual, ora imaginário. Preciso urgentemente de mais palavras e menos sangue.

Cansei

Amigos, cansei. Cansei de mentir para mim mesmo, cansei de especular metas e não atingi-las, cansei de tentar provar para outrem minhas reais intenções. A partir da publicação desse texto serei outra pessoa. Estou decidido. Vou deixar a preguiça e a hipocrisia de lado e serei mais conciso, menos incoerente. Cansei de estar no mesmo lugar. Vou começar a realizar todas as minhas loucuras. Vou correr às cinco da manhã – e daí que é muito cedo? Não terei mais recaídas quanto ao meu vegetarianismio, ouvirei Bob Dylan e direi em voz alta: Caramba! Esse cara é chapado! – sim, serei mais incisivo, contundente, deixarei à vista minhas opiniões. (Aliás, discordem, por favor, rebatem minhas afirmações! Gosto de discussões argumentadas, debates politeístas que sejam, não importa, vamos controverter.) Também irei pular de pára-quedas, saltar de bang-jump e me matricular na escola de pilotagem Salgado Filho. Terei meu próprio monomotor, serei mais livre. Vou escrever pilhas de livros, ou não. Mas lerei mais do que escrevo, escutarei mais discos antigos do meu pai do que escuto, e falarei dos meus gostos sem escondê-los. Um exemplo: gosto do Faustão. Pronto, falei. Gosto mesmo. A maioria das pessoas acham ele um pé-no-saco, de fato ele é, mas ao menos é autêntico. Já perceberam que todos os seres autênticos são imitados? Podem ser chatos, mas marcam. Olha o Silvio Santos, o Galvão Bueno, o Paulo Brito, todos são alvos. Eles podem até ter copiado uma coisa ou outra, porém, encontraram em suas cópias sua identidade. E insuportáveis ou não, nós os lembramos. Acho o Faustão um gordo simpático. E ele não é tão burro quanto parece, o Faustão tem seus momentos de glória.

Também assumirei meus gostos musicais: adoro ouvir Cúmbia! Qual é o problema? Eu escuto metal, jazz, rock melódico, blues, escuto mesmo. O bom da vida é ter essa aptidão musical, não se restringir a um estilo e assumir papel de homofônico cultural. Eu escuto MPB! Escuto baladas italianas, pop dos anos 70... Gosto de ir ao teatro e amo Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, família Coppola, sou um friccionado pelo cinema clássico e assisto os alternativos. Mas voltando à música: alguém aí já ouviu Blue Mountain? Eu adoro Blue Mountain. O único CD que eu tinha deles eu dei para minha ex-namorada como prova de amor. Que ridículo isso! Se fosse hoje, com minha atual posição referente ao amor, eu não daria nenhum disco, nenhum livro e nenhum filme que guardo em meus arquivos. Cansei desse mel amoroso. Acho que devemos ser românticos sim, mas respeitando o espaço alheio. Hoje em dia os relacionamentos estão muito superficiais. Dou-te dinheiro e tu me dás sexo, que tal? Também cansei das mulheres gostosas. Alguém pode me explicar o que está acontecendo com os cérebros? Vou procurar me envolver com mulheres de conteúdo, não importa se elas não têm peito ou uma bunda grande, gosto de mulheres inteligentes e charmosas. Para ser charmosa ou até sensual não precisa ter um corpo voluptuoso, a mente feminina pode tornar a própria mulher voluptuosa. Basta saber do que se está falando, ter alguma preferência de vida e ser livre para conquistar seus objetivos.

Essas gostosas de hoje em dia me torram a paciência. E o mundo está cheio delas. Não falam e não fazem nada que não seja relacionado ao namorado. As gostosas que não tem namorado se catalogam com o primeiro chipanzé de boa trela e com dinheiro no bolso que aparece. Aí elas são usadas e depois dizem o velho clichê: homem é tudo igual. Os que não são iguais estão cansados dessa mediocridade. O ponto de partida é saber o que se quer, definir algo e não sair beijando qualquer um que tenha uma camisa de marca. Às vezes ando desarrumado, barbudo e descabelado, não é nada assustador. Acontece que cobiço conhecer as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas vestem ou têm. É difícil de entender isso? Já cansei de receber olhares do tipo: “olha o tênis dele” ou “Que camiseta mais brega”. Só porque meu tênis estava sujo e minha camiseta era da Renner. E eu? Onde entro nessa história? Ah... “O status social”. Que se exploda. Vou nadar pelado na piscina aqui de casa, vou entrar no shopping descalço com minha amiga e pedir pão francês amanteigado. (Como ela mesma propôs). Vou ser mais livre do que imagino ser. É claro que o conforto é bem vindo, agora quando começa a corroer o espírito do ser humano, sugiro que dê um passo atrás e diga para si mesmo: “Hei, um dia eu andei de ônibus”.

Cansei dessa nossa fase comportamental. Falei das gostosas de forma genérica, vale lembrar que existem gostosas inteligentes, só que o processo é inverso: elas primeiro são de conteúdo, depois se rendem às formas do corpo. Fazem plásticas, entram em regime 27 vezes por ano. Pô, que graça tem não poder comer uma torta de bolacha? Nada contra esse tipo de mulher, mas prefiro as naturais de mentes evoluídas. Gosto de mulher que me mande calar a boca: “Isso é uma besteira”. E provam porque eu falei besteira. Gosto daquelas que corrijam meus erros de ortografia. Gosto das espontâneas – o que também está em falta. Por fim, me apaixono por aquelas que assumem o que são, sem medo do que os outros pensam. Tenho volição por mulheres independentes, àquelas que são solteironas por opção. Cansei das comuns.

Cansei de tudo. Vou comprar uma Combe e ligar “Hey Jude” a todo o volume. Cansei dos nossos anarquistas modernos. Por que não posso ser eu? Vou começar a falar o que sinto. Tenho que ser mais sincero com as pessoas que me relaciono. Ainda estou me descobrindo e preciso de espasmos. Entretanto, antes de tudo, preciso de mim mesmo. É por isso que eu idolatro os domingos.