Coluna do Luan

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Imoralidades de Lolita

Pela primeira vez, depois de muito tempo, Lolita sabia o que era sentir ódio. Nunca odiou tanto uma mulher como a sua colega. Pela primeira vez, Lolita experimentava o gosto de um sentimento voraz e insólito, capaz de deter qualquer um na sua promiscuidade. Até que odiar alguém não partia do pressuposto de matar. O ódio vem em camadas finas e pesadas. Pesadas de amor. Lolita, acima de tudo e todos, amava muito aquela mulher. Ela podia sentir o desejo importunando-a. Pela primeira vez, Lolita se aproximara de uma colega para ter relações sexuais. Assumir seu lado bissexual era além de incabível para o presente momento de sua vida como imoral. Sua família é fruto do que os nazistas chamavam de traidores. A moralidade era um conceito pré-fabricado perante Lolita. E isso não fez com que ela agisse na contramão, ao menos não em primeira instância. Lembrava da noite passada em que beijava os doces lábios de sua colega. Sentia-se completamente molhada, mas não só pelo prazer constante e sim pelo gosto de estar realizando atos imorais. Isso a atraia. O fato de ela massagear os seios de sua colega e depois beija-la por inteira fez com que Lolita refletisse sobre sua essência dorsal.

Na juventude namorou um rapaz viciado em sexo. Os amigos o chamavam de discípulo de Freud. Para esse rapaz, sem sexo a vida não teria sentido. Tudo levava ao sexo. O ser humano se reproduz através do sexo, e a reprodução segue a mesma linha. Porque o sexo dá prazer, e tudo que dá prazer é experimentado involuntárias vezes, sujeito ao vício. Para Lolita, sexo era questão de tempo. Uma vez que ela não experimentara do prazer carnal. Seu namorado adorava provoca-la passando a mão por debaixo de sua saia, tocando seus seios fartos. O namoro terminou porque Lolita não agüentava a pressão do tal discípulo de Freud. A partir daquele momento Lolita passou a repudiar todo e qualquer homem.

Na infância Lolita brincava de boneca como qualquer menina. O que ela não lembrava era que usava duas delas. Duas bonecas que através de suas mãos se beijavam. O particular era que Lolita não recordava de sorte alguma que aos cinco anos perguntara para mãe o porquê que duas mulheres não podiam se beijar. Sua mãe lhe disse que era imoral. E tudo que se torna imoral não é digno de sobrevivência. Sua mãe queimou as bonecas e Lolita imediatamente foi chorando para o quarto.

Por fim, Lolita odiava aquela mulher não somente por ela ser sua colega de trabalho; não somente pela imoralidade que cometiam quase todas as noites no escritório de seu pai. E que por mais imoral que fosse, resultava em um prazer jamais gozado na relação com um homem. Lolita odiava aquela mulher por ela também ser sua irmã. A sociedade disciplinadora e ao mesmo tempo indisciplinada não permitiria a escolha de Lolita. Embora ela já nascesse com o desejo aflorado, sua família nunca a perdoaria. “Tudo que se torna imoral não é digno de sobrevivência”. Por um segundo Lolita lembrava das palavras de sua mãe.

Já faz dez anos que Lolita se matou. Morreu depois de pensar que não poderia mais viver cometendo imoralidades, que não eram suas.

domingo, 19 de agosto de 2007

O mendigo filósofo


- Que merda! Meu pneu está furado! Amigo, ô meu amigo! Hei...
- O que é?
- Será que tu pode dá uma forcinha aqui?
- Não.
- Por que, não?
- Não está vendo que estou ocupado?
- Mas você é um mendigo.
- Sou, é? Defina “mendigo”.
- Como "defina mendigo", meu amigo. Só estou precisando de uma ajudinha para trocar o pneu aqui do carro.
- Em primeiro lugar, não fui, não sou, e nunca serei seu amigo. Em segundo, o que eu ganharia te ajudando?
- Bom, eu te descolo uma comidinha...
- Tu realmente acha que eu me vendo por uma “comidinha”?
- Então porque estás vivendo nas ruas?
- Vivo nas ruas para ajudar as pessoas a sair delas.
- E pra isso você precisa passar fome, dormir no frio, usar roupas rasgadas e não ter uma higiene pessoal?
- Tu, por acaso, já ajudou alguém de verdade?
- Claro que já!
- Quem?
- Minha mãe. Ela estava doente há algum tempo, eu a ajudei.
- Que tipo de doença?
- Pneumonia.
- Isso não é doença!
- Como não?
- Tu por acaso é um pai de santo?
- Não...
- Então não ajudou ninguém. Quando me refiro a ajuda, me refiro a passar sentir na pele o que as pessoas pelas quais você quer ajudar sentem. Não posso ajudar gente das ruas se eu não morar nas ruas. Precisamos nos tornar acessível e ao mesmo tempo inacessível.
- Como assim?
- Me tornei acessível às ruas, e inacessível para todo meu âmbito social. Abandonei tudo por um mundo melhor.
- Tu só podes ser um louco!
- Isso é o que as pessoas insanas acham das sensatas.
- Tu se considera sensato?
- Mais do que tu.
- Já chega, vou pedir ajuda para outra pessoa, com licença!
- A ajuda que tu precisas é social.
- Sou muito bem sociável.
- Se és sociável porque não perguntou meu nome?
- O que uma coisa tem haver com a outra?
- Se tu perguntasse o meu nome eu te ajudaria.
- Tudo bem, qual é o seu nome?
- Eu não lembro.
- Como alguém pode esquecer do próprio nome!
- Isso não é nada, tem pessoas que esquecem que sou gente.
- Para min tu és gente.
- Passei a ser porque eu era o único na rua capaz de te ajudar com o pneu furado.
- Ta, chega.
- Um dia a vida vai dizer a mesma coisa para ti.
- O quê? Do que está falando?
- Um dia tu morrerás.
- Sim, natural, todos nós.
- Mas há pessoas, que como tu, vive a vida inteira morta, e quando estão prestes a morrer de verdade, querem aprender a viver. Viva o quanto é tempo.
- Para um mendigo tu saca muito bem de metáforas.
- Não me considero um mendigo. Isso é um rotulo hipócrita.
- Hipócrita?
- Sim, hipócrita.
- Não sei onde estava com a cabeça quando fui pedir ajuda para ti.
- Quer um conselho?
- Que conselho?
- Pegue uma pneumonia.
- O quê?
- Assim tu vai entender do que estou falando.
- Eu não vou pegar nenhuma pneumonia!
- Então tu nunca saberás como poderia ter ajudado sua mãe.
- Olha, será que tu podes parar de dar conselhos filosóficos e me ajudar com o carro?
- Não.
- Tudo bem, eu faço sozinho.
- Gostei de ver, atitude individualista.
- Tu podes me deixar em paz?
- Não.
- E porque, não?
- Porque o seu carro não está com o pneu furado.
- Como não está?
- Você é mesmo um tolo, ajudo pessoas que, de fato, precisam ser ajudadas. Seu carro é o detrás.

sábado, 11 de agosto de 2007

Fatos e versões. O poder de uma vida qualquer. Últimas 24 horas.





120 quilômetros por hora.

Não havia como cogitar a possibilidade de se salvarem. Na condução do automóvel estava Leandro, que, nos 25 anos de sua vida, sempre fora bem sucedido. Seus pais o tratavam como um príncipe, recebia tudo de mão beijada. Nunca se esforçou para conseguir o que queria, nunca escorrera do seu corpo uma gota de suor que não fosse à das noites de baladas seguidas de sexo desleixado. Era um rapaz jovem, bonito, que teve muitas namoradas, muitas parceiras. E, justamente, no banco de carona, estava a atual namorada de Leandro. Seu nome? Fernanda. Ela, muito pelo contrário é filha de casal humilde. Sua mãe durante anos trabalhou como doméstica até desenvolver um câncer de pulmão devido aos inúmeros cigarros que fumara na vida. Seu pai continua trabalhando como guarda noturno de uma transportadora, correndo o risco de levar um tiro na cara a cada noite de serviço.

160 quilômetros por hora.

Fernanda lembrava da amiga Letícia que a ajudava na faculdade, nos relacionamentos difíceis, não se conformava em deixar a amiga, assim como a família que sempre amou. Tanto Leandro quanto Fernanda tinham a família como base de tudo.

180 quilômetros por hora.

Agora é a vez de Leandro lembrar de quando seu pai o levava todas terças e quintas nas aulas de natação. Nadou durante sete anos. Naquele momento ele não entedia como foi se perder no mundo. Como pôde mudar tanto. Lembrou-se também da mãe, que sofre de pressão alta. Sempre tivera uma preocupação a mais com ela, quando saia para balada dava antes, um beijo na testa da mãe, e um tapinha no ombro do pai dizendo: “Não tenho hora pra voltar”.

200 quilômetros por hora.

Uma insignificante pedrinha no caminho já seria o suficiente para capotar. Fernanda põe a sua mão esquerda tatuada sobre a mão direita de Leandro que naquele instante, segurava a alavanca da marcha. Ela olha para os olhos de Leandro que estavam fixados no pára-brisa.

220 quilômetros por hora:

- Eu sempre vou te amar. – Diz ela.

É ele que agora olha para o lado, sem hesitar, estica seu braço direito, abre a porta do caroneiro e empurra Fernanda para fora do veículo. Ela rola metros a fio esfolando-se e ensanguentando-se. Ao fundo, Fernanda vê a poeira seguida por um barulho estrondoroso.

- Podem tirar o soro. – Diz o médico.

Ela acorda, olha para o lado e vê a mãe respirando por aparelhos, sua mãe estava em estado terminal. Junto ao leito, estava seu pai, o vigilante noturno não conseguia disfarçar as lágrimas que escorriam continuamente no seu rosto. Quase perdeu a única filha, e por questão de tempo, perderia a esposa. O Vigilante como um lapso de memória recorda-se do dia em que conheceu a mãe de Fernanda. Estava caminhando solitariamente nas ruas, período pós-ditadura, até que avista uma bela jovem sentada no banco da praça, fumando um cigarro. Lembrara da fumaça que integrava seus ardumes. Foi amor à primeira vista. Pena que a mesma fumaça que o atraiu, no momento é a causadora da morte da pessoa que ele mais amou. O vigilante coloca a mão esquerda sobre a mão direita de sua esposa e diz a mesma frase quando a conhecera:

- Eu vou amar-te para sempre.

Fernanda estava deslumbrada com o ato de amor do pai, e começa a chorar porque sabe que não terá mais a presença da mãe que durante anos vivia dizendo que a amava muito. É como se um pedaço do seu corpo fosse junto com a da sua mãe.


(24 horas antes)

- Ai, Leandro, tu és louco de não usar camisinha. Não acredito que fizemos isso.
- Relaxa, tu toma pílula.
- É, mas pílula não previne doenças.
- Do que está falando, eu sou limpo!
- Como posso ter certeza?
- Tu não confias em mim?
- Confio no teu amor.
- Arrume-se, vamos embora.
- Se tu queres assim.

Fernanda havia quebrado totalmente o clima de sensualidade que excitava Leandro. De Certo modo, as palavras de Fernanda fizeram efeito. “Confio no teu amor”. “Uma Puta pobre, não tem onde cair morta, quer ficar se fazendo para mim na cama, vá puta que te pariu” pensava Leandro, furioso, enquanto tirava o carro do estacionamento do motel. Deixou Fernanda na porta de casa, e durante todo o percurso o silêncio entre os dois foi o único diálogo. Mais uma vez as palavras de Fernanda surgiam efeito. “Confio no teu amor”. Essa frase não saia da sua cabeça. Até que seu celular toca:

- Alô
- Oi, Leandro, é a Rita.
- O que tu queres, Rita? Já falei que não era pra me procurar mais. Qual o seu problema?
- Leandro, nós precisamos conversar.
- Do que está falando? Nós já terminamos, Rita. Não temos mais nada um com outro.
- Leandro, tu não ta entendendo, é um assunto muito sério.
- Assunto sério? Ou seria uma desculpa pra me ligar?
- Leandro, eu estou com AIDS.

A notícia cai como uma bomba em sua cabeça. Agora sim que as palavras de Fernanda voltavam a todo o momento. “Confio no teu amor”. Leandro desligou o telefone no mesmo instante. Não podia ser verdade. Ele, com AIDS. Nunca se cuidou na vida, apesar de também nunca ter lhe faltado nada.

Fernanda chega em casa e vê a mãe tossindo muito, fica atônita observando o estado de saúde dela.

- Mãe, a senhora está bem?
- Fernanda, minha filha, a mãe está muito doente, minha filha. Muito doente, mesmo.
- Do que a senhora está falando?
- Às vezes eu acho que tenho pouco tempo de vida, sabe minha filha...
- Que horror! Vira essa boca pra lá! Onde está o pai?
- Está descansando no quarto, logo, logo, anoitece e ele precisa trabalhar. Ah, a tua amiga, como é mesmo o nome dela....
- A Letícia?
- É, ela mesma.
- O que tem?
- Ela te ligou, estava preocupada contigo, minha filha.
- Comigo?
- É, ela disse que teve outra visão, sempre achei essa guria muito estranha.
- Mãe, tu sabe que ela é médium.
- É, mas pelo tom da voz dela, a visão era grave, e sobre ti.

Leandro entra no quarto de sua mãe, interrompe a leitura, ela sempre foi viciada em livros.

- Mãe, tu sabe que eu te amo, não é?
- O meu filho! Claro que sei, eu também te amo muito. Mas o que aconteceu?
- Nada, não, mãe. Só precisava me certificar disso. Onde está meu pai?
- No trabalho, só vai chegar mais tarde.
- Ta bom, depois eu converso com ele.
- Está tudo bem mesmo, meu filho?
- Claro, não se preocupa, minha velha. Eu estou bem sim.

Sentimento de mãe, nunca falha, notou que Leandro estava aflito, mas achou que ele fosse se abrir com o pai dele, mais tarde. Voltou a ler.

Fernanda liga para Letícia, guindo de curiosidade.

- Alô, Letícia? Minha mãe disse que tu ligou.
- Sim, liguei sim.
- O que houve?
- Fernanda, tu vai sair com o Leandro amanhã, não vai?
- Em principio sim, brigamos hoje, mas acho que vamos.
- O que aconteceu?
- Ah, briga boba.
- Fernanda, não vá.
- Por que, amiga? Às vezes tu me assustas, sabia?
- Fernanda, é sério. Tive uma visão muito estranha.
- Ai, Lê, tu e as tuas visões!
- Só não quero que tu te machuques.
- Amiga, eu te amo, sei que tu se preocupa comigo, mas deixa que eu sei me cuidar está bem? Beijo, Lê, amanhã nos falamos.
- Fé, espere....
Desliga o telefone na cara da amiga, estava esperando a ligação do namorado. E não deu outra, um segundo depois, Leandro liga.

- Fala, amor. – Diz Fernanda.
- Oi, me desculpe por hoje, ok?
- Tudo bem, desde que tu prometas que a partir de agora nós vamos começar a se prevenir.

“Confio no teu amor” aquela frase martelava os pensamentos de Leandro. Ele responde:

- Tudo bem, eu prometo. Mas escuta, tudo certo para amanhã? Combinei com o meu vô de irmos à chácara dele, ta lembrada?
- Claro que sim! Que horas tu vem me buscar?
- Lá pelas oito, temos que sair cedo daqui.
- Tudo bem, eu te espero então.
- Ta, então até amanhã.
- Está tudo bem contigo?
- Sim, por quê?
- To te achando meio estranho, tua voz parece diferente.
- Bobagem tua. Vemos-nos amanhã, ok? Beijo. Te amo muito.
- Eu também te amo muito, e pra sempre.

Era linda a conversa dos dois por telefone. Na manhã seguinte Fernanda estava pronta, até ouvir as tossidas da mãe.

- Mãe, o Leandro chegou, to indo ta? Te cuida, minha mãe.
- Tu também, minha filha. Outra coisa, a mãe te ama muito, viu?
- Também te amo mãe. Beijo, até.
- Vai com Deus, minha filha....

Ambos entram no carro, e Leandro arranca numa velocidade alta.

- Que isso, amor? Por que está indo tão ligeiro?

A vida não fazia mais sentido para ele, e naquela altura do campeonato, imaginava que para Fernanda também não.

- Não aconteceu nada, só estou com pressa.
- Não, tu estás estranho, o que aconteceu?

120 Km/h

- Já disse não houve nada!
- Então porque está tão rápido? Tu está me assustando!
- Te assustando é? Então imagina viver sabendo que não é por muito tempo!
- Do que está falando, Leandro! Está me deixando nervosa! Diminua a velocidade!

160 Km/h

Ambos começam a pensar na família, nos pais, pensamentos muito rápidos em meio a gritos.

180 Km/h

Leandro não responde mais nada com nada, só pensa na família, e acelera cada vez mais o carro.

200 Km/h

O carro desliza, Fernanda grita, e Leandro continua acelerando.

220 Km/h

- Eu sempre vou te amar.

Nesse momento ele, por impulso, decide se matar sozinho, rapidamente a joga para fora do carro, e se arrebenta contra um muro de proteção da pista contrária.


O médico vem na direção de Fernanda e diz o que ela ainda não sabia. Com muita calma, ele fala que fez alguns exames por prevenção e detectou que ela tinha HIV positivo. Desde então Fernanda vive a base de remédios, sem a mãe por causa do cigarro, e sem Leandro por causa da negligência com a AIDS. Ela que também foi vítima, agora vive com um vírus que a cada minuto se alastra para mais uma pessoa no mundo inteiro. Fernanda nunca teve dinheiro e continua não tendo. Sofre preconceitos, e carregará por um bom tempo na memória a perda da mãe e do namorado. Sem contar no seu pai, o vigilante que passará o pouco tempo de vida que lhe resta superando a morte da esposa, e convivendo com a filha aidética. É, e tem pessoas que acham o mundo justo. Mas vai saber, talvez até seja.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Aprendi


Aos poucos que vou vivendo sinto um absurdo dentro de mim, como se nada importasse, e ao mesmo tempo, tudo importasse.
Aprendi que quase ninguém se importa com o que você considera mais importante. Também aprendi a sentir os meus sentimentos sem precisar mentir para as pessoas que amo. Às vezes sinto-me um monstro indefeso capaz de engolir chamas cada vez mais quentes de medo. Não porque eu quero, mas porque acho que sou capaz de fragilizar o constrangimento do fogo meticuloso. Sofri injúrias, injustiças, desavenças, mas ainda vivo. Sem entender muito bem o porquê exato disso. Apenas sigo minha linha de raciocínio. E acho que é isso, linha de raciocino, que me leva aos erros enigmáticos. Tento entender um mundo de uma vez só. Como se fosse num único copo de água. Como se o mundo fosse um mero copo usado de suporte ao líquido que almejamos ingerir rotineiramente. No paradigma real, esse líquido é conhecido como seres humanos.

Aprendi que com o tempo, nós seres humanos somos engolidos pelas nossas bestialidades. E são muitas. Não encontramos uma resposta exata para aquilo que procuramos, porque de fato, nunca indagamos a pergunta certa para encontrar tal resposta. Não quero criar a ilusão de ter uma fórmula para a vida. Até porque a fórmula existe, está na mão de cada um de nós. No entanto, essa fórmula que me refiro, poucos, muito poucos sabem enxerga-la. Costuma-mos fechar as pálpebras para situações em que pensamos não conseguir resolver. Essas situações não são resolvidas porque apenas pensamos. O ato de pensar destrói o ser humano. Poderíamos viver com o ato de sentir. Você poderia sentir qualquer energia relacionada ou não a você. E com o evoluir dos dias, descobriríamos que estaríamos pensando através de nossos sentidos, e não das razões que achamos ter.

Com evoluir das noites, também aprenderíamos a olhar mais para as estrelas. Não como astros, e sim como um alvo intenso luminoso que, sem sombra de dúvidas, reduz a nossa essência em uma mera raça. Sempre frisei de que há o tempo certo para os momentos errados. E sempre há o tempo errado para os momentos certos. Nota-se que com o avanço da idade vemos um cálculo procedente de uma ciência inexata. A Matemática não rege a vida, a química não explica nosso estado de espírito, e a biologia não revela a nossa origem. O português até pode tentar corrigir os erros de regência cometidos na juventude, mas uma vez apagado tal escrita, a letra nunca será a mesma. É, e eu que sempre acreditei na geografia das minhas decisões, e na história de meus dias...

Com o tempo reparei que meu olhar não acompanha mais minhas vistas. E o motivo pelo qual não me considero vesgo, é porque consigo observar o que sempre esteve ao meu lado. A morte dorme e acorda comigo. Vivo com ela. Sei que em qualquer instante ela pode me tocar. Para alguns parece loucura. Mas a raça humana sempre lutou contra morte, como algo maléfico. Lutamos a vida toda contra quem nunca saiu do nosso lado. Chega ser ridículo, mas somos assim. Temos medo de quem sempre nos acompanhou. Se soubéssemos viver com a morte, por mais que seja contraditório, viveríamos muito melhor. Porém, nós humanos, infelizmente não sabemos superar nossas dores como deveríamos.

Agora, sinto que tudo que realizei pelas pessoas que não conheço, fez enorme diferença nas minhas reações perante aqueles que me humilhavam. O preconceito, nada mais é do que um pré-conceito refletido sobre quem você pensa ser. Pessoas preconceituosas são pessoas mal resolvidas. Pessoas mentirosas são aquelas que tentam ser sinceras. E as pessoas sinceras um dia serão mentirosas. Os nossos valores todos estão perdidos, vagando pelo ar que respiramos. Na realidade não temos mais valores. Temos um projeto do que consideramos importante para nós.

Depois de refletir pouco, aprendi que a nossa importância se resume no que temos. Tanto material como abstrato. Depois de refletir muito, aprendi que o que temos se resume nos nossos valores. Vejo que aprendi tudo errado, de novo.