Coluna do Luan

domingo, 30 de dezembro de 2007

Rumo ao litoral

Estou tirando uns dias para me bronzear. Volto dia 12 para contar as novidades e com certeza as histórias que virão como consequência. Afinal, praia sempre rende bons contos, não?

Um grande abraço a todos, e que 2008 seja um ano mais brilhante para aqueles quem realmente possuem vontade de mudar para melhor.

Saudações.

L.I

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

10 coisas para não fazer em um reveillon

1 – Jamais pule as sete ondinhas no Hawaii.

2 – Ao chupar uma Uva, não engula o caroço pensando que trará sorte ao seu estômago.

3 – Se estiver em um avião na virada do ano, não solte fogos.

4 – Não faça promessas antigas das quais nunca cumpriu. Inove. Mentiras novas para um ano novo.

5 – Se você for do tipo que guarda lentilhas na carteira, não acumule. Pegue as do ano passado e coloque para ferver. Assim você mata as bactérias e tem almoço garantido para o dia seguinte.

6 – Se você for comprometido, não faça juras eternas de amor, o ano tem só 365 dias.

7 – Cuidado com a escolha da roupa, se você for médico, com certeza não chamará atenção pela vestimenta.

8 – Caso seja bombeiro, não acabe com a diversão dos outros.

9 – Não exagere na bebida. Beba somente para a virada e não para o ano inteiro.

10 – E o fundamental: Se for adepto ao viagra, não faça sexo na “entrada de ano”. Isso não lhe trará sucesso.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Pseudo-Natal


Estava aqui sentado em minha poltrona, dentro de meu templo – nome ao qual batizei meu quarto – e fiquei pensando no último Natal em que eu acreditei em Papai Noel. Não consegui me recordar. O que lembro, é, que, até aos 10 ou 11 anos eu fingia crer no Papai Noel para não deixar de ganhar presentes. Lembro-me também, que, ainda na infância, obviamente, recebi uma bicicleta pela janela. Eu deveria ter uns nove anos. Era um Natal como todos os outros. Deixei a tal cartinha para o bom velhinho na lareira e na noite do dia 24 lá estava ela: Uma Caloi esverdeada. Perguntei para a minha mãe como a bicicleta veio parar ali dentro, já que ela era demasiado larga para passar pela chaminé. Ademais nem sei como o próprio velho passava dentre nossa apertada chaminé. Mas era Natal, vale tudo, ou quase tudo. Foi então que minha mãe disse que o velho havia passado minha Caloi pela janela. Mas como? Com todas fechadas? Minha mãe insistiu em dizer que o velho do Pólo Norte tinha um “pó mágico” do qual utilizava em algumas ocasiões. Sei...essa resposta de minha mãe foi o primeiro indício da desconfiança de que Papai Noel não existe.

Aos sete anos eu pedira para o velho avermelhado um avião Boeing. A questão era a seguinte: Até aos sete anos eu acreditava fielmente em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, homem do saco, boi da cara preta, essas coisas todas. E em quase toda minha infância eu sonhei em ser piloto de avião. Achava aquilo um máximo. Pilotar aeronaves poderosas, tão grades, levando tantas pessoas...então esperei ansiosamente pela noite do dia 24 para ver se realmente eu iria ganhar um Boeing, só para mim, quase não dormia de ansiedade. Até que a noite chegou, fui até a sala onde o velho supostamente deixava os presentes e tive uma das minhas primeiras decepções. Havia ganhado um Boeing de brinquedo! Mas que diabos era aquilo? Isso é um avião de brinquedo! Um pouco menos de 30 centímetros, era com controle remoto e tudo, mas por mil ampulhetas! Era de brinquedo! Nessa noite também passei a duvidar da existência do velho por não ter meu pedido atendido, em parte. Na minha cabeça de criança, eu nem pensava de como eu colocaria um Boeing no jardim, mas para mim, naquela época, isso era um mero detalhe.

Passado todos esses anos, eu ponderei sobre o verdadeiro espírito natalino. Descobri que 80% das comemorações de Natal das famílias brasileiras, e por que não, do mundo todo, são preenchidas por hipocrisia. Aquela troca de presentes absurdamente estúpida de familiares que não se vê há 11 meses, que nem se quer se telefonam há 11 meses, e aprecem dizendo que estavam com saudade, que vão marcar encontros durante o novo ano. Então a noite de comemoração acaba, e o teu familiar nem anota o teu número para marcar “os encontros” e já sai avisando o que era de esperado: “Até o ano que vem”. O Natal já é quase uma solenidade, uma obrigação de dar presentes. Ninguém, ou quase ninguém sabe o que é o Natal. Às vezes sinto saudade de quando eu era criança, e tinha dentro de min aceso e brilhante o espírito natalino. Eu era sempre o primeiro a me empolgar não só com o Natal, mas com as festas de final de ano. Sinto que naquela época eu era feliz, ao mesmo tempo inocente das reais intenções dos demais perante o dia em que também supostamente Cristo nasceu. Digo supostamente porque não creio nessas estórias. (Não entrarei no mérito da religião, caso contrário terei que desenvolver um capítulo sobre o meu posicionamento a respeito de Deus; no entanto, respeito a opinião e as crenças de todos.)

Agora também não quero polemizar o Natal. Refiro-me ao meu Natal, o de minha família, meus irmãos, meus pais e minhas cadelas. Onde o afeto e a intenção de proporcionar um 25 de Dezembro mais feliz sempre veio à tona. Passar essa data com quem amamos talvez seja fundamental para quem ainda possui a paciência e inocência. Confesso que ainda tenho um pouco disso. Afinal de contas, continuo sonhando em ganhar um Boeing.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A maleta - 1° capítulo

Abro ou não abro? A minha frente estava a maleta que mudaria o rumo de toda a minha vida. Fui até a cozinha, descasquei uma banana, mastiguei, joguei a casca fora. Pensei mais um pouco. Voltei à sala e resolvi abrir a maleta. Não sei muito bem o que podia me reservar quanto ao seu conteúdo. Mas era época de natal, era dezembro de 98. Outros tempos, é verdade, mas foi a partir desse ano que pude me conhecer melhor. Não sei como explicar esses fatos tão densos em minha vida. Na realidade até sei, porém as palavras devem ser escolhidas com cuidado, para que não pensem que sou um assassino. Fiz isso porque era necessário. Era extremamente necessário matá-la para que eu alcançasse meus objetivos. Aliás, foi uma morte rápida a dela, com pouca dor.

Quando entrei no meu carro no dia 12 de agosto de 1998, conheci uma mulher chamada Ângela Figueiró. Ela era linda. Tinha as medidas perfeitas para uma modelo. Pena que naquela manhã do dia 12 de agosto ela resolvera me assaltar. Entrei no carro, dei a partida, e um segundo depois Ângela me apontava um revolver pelo lado de fora do veículo. Imediatamente a deixei entrar e me roubar. Ela tinha classe e sensualidade de sobra. Com cabelos loiros, pele clara, olhos azuis e lábios carnudos. Parecia feita de porcelana. No começo queria entender porque uma mulher como aquela estava assaltando. Bem vestida, com um decote de tirar o fôlego, sabia a gramática de cor, aparentava ser culta, viajada, e, sobretudo, era jovem, muito jovem. Quando ainda não a conhecia, eu dava 28 anos para ela. Depois fui descobrir que, na verdade, ele tinha 25. Recém aprovada no concurso. Era filha de pais ricos, morava na grande Porto Alegre, e havia se mudado para capital por causa do namorado. O nome dele? Chapola. Isso mesmo, Chapola. Ele comandava uma das bocas mais rentáveis de fumo da zona norte. O meu papel era apenas desvencilhar as versões que chegavam aos meus ouvidos. E foi assim que matei as minhas primeiras vítimas. Ângela bem que tentou me assaltar, mas ela não sabia o que estava fazendo. Queria atirar em mim sem engatilhar a arma. Roubou-me apenas algumas cédulas de cinqüenta e saltou, correndo. Naquele instante eu sabia que eu era capaz de matar. Soltei o freio de mão e acelerei, atropelei Ângela sem piedade, ela ainda tentou desviar e só por isso que se salvou.

No dia seguinte, eu desfrutava do sol de minha varanda quando o meu celular toca, era Ângela com o poder de sua voz sensual:

- Bela tentativa, Doutor.
- Quem é?
- É a Ângela, tivemos um encontro inusitado ontem.
- Desculpe. Não me encontrei com nenhuma Ângela ontem.

Desliguei o telefone. Em vão. O celular toca, é o mesmo número, me levando da minha cadeira de plástico, saio do sol e vou até a sala de estar:

- Alô?
- Como tu és grosso, Doutor.
- Quem é você?
- Não está lembrada de mim? Tu tentaste me atropelar ontem, depois que errei o gatilho.

Calmo, eu respondi:

- Tu não erraste o gatilho, tu nem engatilhou, és amadora.
- Eu não diria isso se fosse você.
- Como conseguiu esse número?
- Digamos que tenho alguns contatos...
- Pois então procure outro otário para ligar...

Quando eu estava prestes a desligar ela me interrompe:

- Eu sei do teu passado, Doutor...
- Do que tu estás falando?
- Tu sabes muito bem do que estou falando, da garota que tu esqueceste no HPS...
- Quem é você?
- Uma admiradora secreta.
- Não sabia que admiradoras secretas eram assaltantes.
- Não seja idiota, Doutor. Não sou uma assaltante, sou uma jogadora.
- O que você quer de mim?
- Me encontre no mercado público, às 11 horas, quero lhe fazer uma proposta.
- Onde no mercado público?
- No segundo piso, estarei com uma blusa vermelha e uma calça jeans.
- Um tanto informal...
- Tu vai ir?
- Eu vou receber meu dinheiro de volta?
- Se tu fores um bom garoto...

Desliguei o telefone. E fiz tudo no impulso, não sabia exatamente onde eu estava me metendo, só queria meu dinheiro e meu segredo de volta. Logo que me formei em Medicina, em 93, cometi um erro irrevogável. Minha mãe sempre dizia que médico não pode errar, e exercer essa profissão é condenar sua vida em prol das outras. Ela tinha razão. No dia 4 de maio desse ano esqueci de repassar uma garota de 17 anos para cirurgia de emergência, era Natal, estava chovendo, a emergência lotada, dezenas de casos, e quando lembrei daquela garota ela já estava morta. Por sorte ninguém mais lembrou, joguei fora sua ficha de atendimento e sumi com o corpo. Ela, em princípio, não tinha família, era uma garota abandonada, que morava em uma vila. Chegou ao hospital ensangüentada, havia sido atropelada na Borges de Medeiros. Esse caso me abalou porque eu podia tê-la salvado. Anos mais tarde eu pediria demissão por eu não conseguir manter minha postura de médico residente. Desde 96 trabalhava em consultório, até encontrar Ângela.

Fui ao mercado público no horário combinado, a encontrei sentada em uma mesa de bar, no segundo piso. Ela segurava uma maleta a qual me traria inúmeras dores de cabeça. Sentei ao seu lado, e mantive meu rosto erguido, sem olhá-la.

- Olá, Doutor. Demoraste.
- Muito prazer, Ângela...
Ela fala rente a minha orelha, quase beijando o meu pescoço:

- O prazer é conseqüência. Satisfação.

Meu corpo estremeceu todo, que mulher era essa? Não consegui mais ignorá-la. A encarei quase que cara a cara:

- E então, qual é a sua proposta? E como sabe desse caso da garota?

Ela olha para o lado, preocupada e, sem mais nem menos, me beija. Foi o beijo mais saboroso que já experimentei. Senti sua língua envolvente, ela sabia como conquistar um homem. Quase me rendi, até que recuei:

- O que você está fazendo?
- Precisamos sair daqui!
- Por quê?
- Tu estás de carro?
- Sim.
- Então vamos!

Ela se levanta com uma agilidade invejável, me puxa pelo braço e me leva até o primeiro piso. Caminhamos rapidamente até o meu carro. Ela pediu que eu a levasse ao meu apartamento, não gostei da idéia, mas o que eu tinha a perder? Ela estava tensa e acabou me assustando. Dirigi abismado, durante o percurso ela ficou quieta, e só pude sentir suas mãos sobre minha perna. Perguntei o que ela estava fazendo, ela disse não saber, mas colocou suas mãos sobre o meu órgão sexual, e isso me deixou com os desejos a flor da pele. Depois desse detalhe só lembro dela de quatro pra mim, na cama, gemendo, murmurando, me arranhado, enfim...acabei me envolvendo com uma legítima jogadora.

Descobri que ela fora sincera comigo desde o início. Ao mexer em suas roupas jogadas no chão de meu quarto, encontrei sua carteira: “Ângela Figueiró - Agente Federal”. Fiquei indignado, senti pela primeira vez, a vontade inalienável de matar uma mulher. Ao lado de suas roupas estava a maleta, a maldita maleta que fui abrir na hora errada. Ângela acordou bem na hora em que me deparei com mais de 25 mil Euros dentro daquela maleta. Ao me ver com o dinheiro ela se apossa de uma pistola já engatilhada e atira em minhas costas, eu desmaio e ela foge. No começo achei que fosse morrer, mas fui forte, me automediquei e chamei um amigo para que retirasse a bala enfiada dentre minhas costelas. Desde esse dia Ângela se tornou uma caça para mim. Passei semanas atrás dessa vadia. Para uma agente federal corrupta, ela sabia muito bem como se esquivar das confusões que arranjava.

No dia 13 de Dezembro fui até a favela de Chapola, na Zona norte, em uma mão segurava uma pistola e na outra uma faca afiada para situações de emergência. Passei despercebido, por ser médico, os favelados já me conheciam. Foi então que flagrei Ângela e Chapola fazendo sexo. Ela era mesmo uma cadela, primeiramente atirei a faca nas costas dela e em seguida, dois tiros no seu crânio. Chapola mal teve tempo de respirar, levou um no peito e outro no meio da testa. Naquele dia, no mercado público, Chapola estava nos vendo. Ângela me beijou para que ele não a reconhecesse, afinal, a namorada dele não beijaria outro homem, beijaria? Ângela fora esperta desde o começo. Uma filhinha de papai, que entrou para o polícia e namorava um traficante, coisa boa não podia ser. No mesmo dia em que matei Ângela e Chapola, encontrei a mesma maleta, não quis abrir de imediato, preferi ir para a casa. Passei pelos favelados tranquilamente, como quem só foi ver um pasciente, entrei no meu carro e parti. Chegando em casa, sentei no meu sofá, larguei a maleta na mesa da frente e pensei: Abro ou não abro? Fui até a cozinha, descasquei uma banana, mastiguei, joguei a casca fora. Pensei mais um pouco. Voltei à sala e resolvi abrir a maleta. Lá dentro não havia mais Euros, e sim uma foto de meus pais, falecidos em 1992, com uma garota ao lado, igual a aquela que deixei morrer no HPS. E atrás da foto havia uma legenda com o nome de fotógrafo: “Família Unida – Foto por Ângela Figueiró”. Até hoje fico pensado: qual seria a proposta que Ângela me faria? Talvez se eu não tivesse a matado, eu não descobriria o meu pior pesadelo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Diálogos de um casal moderno em plena segunda-feira

Quando João entrou na sala e viu Maria tricotando pela manhã decidiu sentar ao lado dela e tomar seu café. O casal freqüenta a faixa da terceira idade há uma década, ambos são aposentados e passam o dia discutindo atualidades. João alimenta sua rotina olhando os jornais, e quando lê a manchete estampada com a foto de torcedores chorando: “Corinthians é rebaixado”, ele não hesita:

- Quanta besteira

Ele senta à mesa, ela o fita:

- Bom dia pra ti também.
- Bom dia, mulhé.

Voltando a tricotar:

- O quê é besteira?
- Só por que o Corinthians caiu pra segundona tem choro pra tudo quanto é lado.

Ela se demonstra surpresa:

- O Corinthians foi rebaixado?

Ele larga o jornal, pega a xícara, coloca café e um pouco de açúcar:

- Credo, heim mulhé!? É só o que se fala na mídia esportiva. Não viu os jogos ontem?
- Ai, João, tu sabe que eu nunca gostei dessas coisas de futebol, pra mim tudo é futilidade. Enquanto esses jogadores semi-analfabetos ganham salários exorbitantes, há pessoas morando nas ruas sem ter o que comer. E pior de tudo é que nós pagamos esses salários, indo aos estádios, assistindo jogos pela televisão, gastando mais de cem reais em uma camiseta de um time. Pra mim isso tudo é ignorância, o entretenimento passou a ser prioridade, tudo é jogo de interesses, e tudo é conseqüência, por isso que o mundo ta onde está.

Volta a ler o jornal:

- Mulher, tenho que admitir, as vezes tu me assusta. Por Deus! Não me vai entrar na política!
- Sou uma velha muito inteligente para entrar na política.
- E modesta também.
- Falando em política, tu viu que o teu ditador foi derrotado no referendo.
- Sim, ele me ligou ontem.
- O Chavez te ligou ontem?
- Aham.

Ainda tricontando, ela desaba às gargalhadas:

- Hahahaha....ai homem de Deus. Tu ainda me mata de rir...

Ele olha espantado:

- Ah, então tu não acreditas em mim?
- O quê? Que o Hugo Chavez te ligou?
- É.
- Já falei pra te parar com essas mentiras.
- Tudo bem, eu desisto. Vou assistir minha televisão que agora será digital.

Larga o jornal e pega o controle e a xícara servida. Ela indaga:

- Tu viu quanto que tá os preços dos conversores?
- Sim, quase mil.

Ele liga a TV, toma um gole do café, ela responde:

- É um absurdo!
- É o preço da qualidade.
- Preço da qualidade? Nos Estados Unidos o preço do chip que disponibiliza a imagem digital custa 20 dólares.
- Por isso que é nos Estados Unidos.
- Como assim?
- Aqui no Brasil tudo é burocrático, só com os tributos esse preço quadruplica, o que não justifica esse valor, concordo, mas nosso país é muito ganancioso, a começar pelo futebol.
- É, e pela política.

Nesse momento o celular do João toca:

“Por que não te calas, por que não te calas, por que não te calas...”

- Aí, ó Mulhé, ó o homem ligando de novo...