Coluna do Luan

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Férias

Estou em meio a uma crise existencial. Por isso resolvi tirar férias. Volto em meados de outubro. Se, porventura, sentirem minha falta, deixem recados no mural ou comente aqui mesmo. Assim, saberei a verdadeira hora de voltar.

Hasta Luego.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Problemas que eu sinto

O mundo está com sérios problemas mentais. Problemas céticos. Problemas religiosos. Problemas que nunca serão resolvidos por serem criados a partir de um ponto sem origem. Um ponto sem origem nunca chega ao seu destino final. Até porque a palavra destino continua sendo manipulada por aqueles que acreditam no poder de suas hipocrisias. Não creio no destino senão nas minhas escolhas. Mas o mundo não compreende isso. Parece que justamente o mundo conspira contra ele mesmo. É fantasmagórico de como o ser humano pode ser tão forte e tão fraco em igual período. Como podemos perder um valor do dia para noite, e como podemos ser valorizados depois de muitos anos. E a justiça? Essa cumpre imagem de sua estátua: é cega.
E a política? Essa cumpre o dever partindo dos princípios contrários da grande maioria do povo: é corrupta. E a economia? Essa cumpre a sabedoria dos números enganados por uma fórmula mágica do crescimento: é aleivosa. E a educação? Não existe. Acredito que a educação é tão inventiva quanto à economia. A diferença é que na primeira, nós fingimos que estudamos e os professores fingem que ensinam. E na segunda, nós brincamos de faz-de-conta com a numerologia e percentagem.

Talvez o que eu sinta seja fortes dores de estômago provocados por uma impaciência alheia. Na verdade eu sinto muito mais do que isso. Creio que sinto um domínio soberano vindo de um país tropical sem olhos para a ética. E não me refiro apenas a ética política. O que de fato me importuna são as levezas maléficas de pobres seres que pensam ser ricos de espírito. Pensam que sabem pensar. Pensam que sabem decidir. Pensam que sabem o que é a vida. Ninguém sabe o que é a vida. Se soubessem, saberiam aprecia-la com mais cordialidade. Também sinto que estou em constante desespero. Porém, minha desesperança tem involuntárias facetas responsáveis pela contínua evolução da raça. É assim como levamos nosso cotidiano. Involuntariamente. Mentimos para nós mesmos quando dizemos que somos culpados pelos nossos atos. Ora, isso é bobagem. Ninguém sabe o que é culpabilidade assim como não sabem responder as questões que envolvem a vida. Basta perguntares quem tu és para entrar em transe. Às vezes eu queria ser livre da disciplina que tanto me atormenta pelos olhos parciais que pregam ser insuspeitos. Mais uma prova da dura realidade que tem como antônimo o realismo.

As divergências de meus ideais tornaram-se corriqueiros. Comum diante de uma sociedade imatura. Ai, minha cabeça dói. Dói bastante. Uma pedra de duas toneladas e meia neste exato momento tenta arrancar de mim o que eu tenho ou o que eu tinha de mais valioso: o amor e respeito a si próprio. Esta pedra é enorme porque representa dois terços da população mundial. Não sei se vou agüentar isso por muito tempo. Talvez eu deva me afogar na bebida alcoólica ou encher meus pulmões de fumaça nicotiniana como os humanos fazem. Talvez eu deva reproduzir e viver sem um propósito como os humanos. Talvez eu deva colaborar com a poluição como os humanos. Eles jogaram tudo no lixo no decorrer dos séculos. Guerrearam por causas bestiais, e sempre tentavam incessantemente competir nos poderes governamentais. São todos medíocres. Por momentos que desejei serem insólitos, senti-me redondamente envergonhado por compor essa mediocridade.

Mas não se pode criticar tudo. Admiro as pessoas que são capazes de crer no que não existe materialmente. Admiro as pessoas que são capazes de crer no que só existe materialmente. Admiro todos, apesar de odiar a forma errônea de como somos administrados. Como se fossemos bichos. Aliás, nem bichos merecem ser tratados como estão sendo. Nós somos tão inúteis que nem percebemos e nem tentamos buscar o motivo da nossa existência. Afinal isso daria muito trabalho: tem que pensar. Não nos aprofundamos em conhecimentos específicos, apenas no necessário imposto pela disciplinaridade. Claro, isso daria um tremendo trabalho: tem que pensar. Não nos damos conta que vivemos sob uma casca. Pois é isso que nosso corpo representa, uma mera casaca capaz de matar, comer e dormir. O que é para ser considerado importante torna-se invisível por ser abstrato. Deveríamos crer no nosso eu interior assim como cremos cegamente no amor. Se somos capazes de amar e odiar entre uma linha tênue, então temos capacidade ilimitada de nos compreender por um curto espaço de tempo. Jamais nos perderemos nas ilimitações das reflexões, uma vez que já estamos perdidos em nossos próprios corações.

Não há mais definições exatas das coisas. Tudo virou ambíguo. A diferenciação do certo do errado, com o tempo, será exterminada. Assim como o nosso planeta.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Simplesmente me recuso em comentar o resultado de ontem. Acho que preciso de férias.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A política númerica e rotineira do onze

Fui informado de que hoje é 11 de setembro. Particularmente não gosto do dia 11 independentemente do mês. Acho o 11 um número muito fútil. Por exemplo: 11 é o número de jogadores de futebol em campo. Onze é um mais um que é igual a dois. Isso não é frívolo? Perdoe-me aqueles que nasceram no dia 11 do mês 11. E aqueles que consideram 11 seu número da sorte. E aqueles que jogam o número 11 na loteria. Perdoem-me todos que incluem o 11 na sua vida. O fato é que tenho um motivo para não gostar desse número. Além da sua futilidade numérica, considero-o vago. É verdade que quase tudo em minha opinião é vago. A própria vida é vaga por assim dizer. Mas o 11? O que leva uma pessoa gostar de tal número? O dia mais melancólico está por vir: o dia onze de novembro de dois mil e onze. Aí é pra matar. Até hoje não entendo porque o Bin Laden não escolheu essa data para atacar os Estados Unidos. O onze iria deixar uma marca irreparável.

No entanto, há uma hora do dia em que eu adoro e que eu odeio o número onze. A hora que eu odeio é às 11 horas da manhã. Muitos adoram esse horário por está perto do almoço, mas eu não gosto. A hora que eu adoro é ás 11 horas da noite. E eu descobri o porquê. Às onze horas da noite na verdade são vinte e três horas. Então se pode dizer que a única hora em que eu o adoro é quando ele não é onze. Não é magnífico?

Pois é desse jeito que as pessoas levam sua rotina. Todo dia nós realizamos os mesmos hábitos, os mesmos serviços, dirigimos o mesmo carro, comemos quase sempre no mesmo prato, passamos pela mesma rua, e quando chega o final de semana cometamos a incúria de pensar: O que vamos fazer? Que vidinha medíocre. Há casos piores, que a rotina continua até no final de semana. Especialistas afirmam de que para ter uma vida mais saudável é necessário fazer uma única atividade diferente numa única vez por semana. Ou seja, em um mês serão quatro atividades diferentes! Isso é fantástico! Tem pessoas que passam à vida inteira fazendo as mesmas celeridades e esquecem de viver. Costumo chamar de pessoas que vivem mortas. Confesso que me atraio por contradições.

Esse blog é uma rotina. Mas ele não me impede de realizar outras coisas no decorrer do meu dia. É importante que não estipulemos hora nem data para realizar quaisquer atos que sejam de livre arbítrio. Entenda que sua rotina já é o emprego. E se seu emprego for o meio do qual tu és apaixonado, é uma rotina saudável. Fazer o que se gosta é apenas uma das receitas. Mas tomemos cuidados. É também de vital importância que haja convergência mútua quanto à vida profissional e pessoal. Convergência não é misturá-las e sim conciliá-las. Não sejamos preguiçosos. O Bin Laden saiu da rotina. Fez algo maléfico, entretanto diferente. Matou mais de 3 mil pessoas em uma manhã. É claro que o exemplo dele não serve para ninguém. Mas é que hoje é dia onze. E os números são rotinas disfarçadas de resultados diferentes.

Contudo serei sincero, o principal motivo de eu odiar veementemente o número onze é por ele ser o primeiro a puxar a fila dos números repetidos. 11, 22, 33, 44, 55, 66, 77, 88 etc. 00 não vele porque o próprio número já se considera sem valor. E como a sociedade, ao contrário de antigamente, não consegue viver sem dinheiro, o que representa 00 senão zero? Aliás. Acho que até gosto de zero, apesar de ser vago.

A política do onze está impregnada em nossas vidas e principalmente na minha. Acho que os americanos poderiam esquecer desse dia. Sei que isso parece um absurdo. Mas do que adianta ficar tocando na mesma ferida todos os anos? Por que ao invés disso não reforçam sua segurança partindo de princípios humanos e não partidários? Porque além de estarmos viciados em feijão-com-arroz, pensamos com ignorância. E a ignorância meus caros, é o primeiro passo a nos prender na nossa própria rotina.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Sessão aberta ou fechada?


Um grupo de parlamentares quer sessão aberta no caso do senador Renan Calheiros. Porém, o regimento interno da casa prevê em sessão fechada. A não ser que os senadores conseguissem mudar o tal regimento. Ainda há tempo, pois é na quarta-feira que chegará ao fim (ao menos em tese) o caso do senador alagoano acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista.

Ora, bolas! O Renan já devia estar em casa folhando a playboy de sua ex-posa!

O caso Renan lembra da minha gengiva. Há alguns meses eu achava que iria perder um dente, devido a dores intensas na região gengival. Aí eu descobri que não podia ser problema dentário uma vez que minha escovação seja saudável e no mínimo três vezes diária. O que de fato ocorreu foi uma pequena inflamação na gengiva, que com tempo cicatrizou. Assim é a política. Vêm as dores, as revelações, aí acabam descobrindo que a procedência é outra. Quando não é mais de uma. Passa certo tempo com direito a férias e polêmicas, até chegar a uma sessão na qual se resolverá tudo. Quanta ilusão.

O caso de Renan é apenas mais um dos tantos que vieram, e infelizmente me leva a crer nos tantos que ocorrem sem conhecimento público. Nós sabemos que estamos sendo roubados, passados para trás, mas não temos provas. Apenas suspeitas. Até que alguém se descuida. Aí a mídia recorre ao presidente: eu não sabia de nada. Aí a mídia recorre ao povo: isso tudo é uma vergonha! O povo tem razão. Isso tudo é uma vergonha, mensalão, mensalinho, crise aérea, e Renan Calheiros. E a culpa é nossa. Nossa sim, eleitores, nós damos a eles o poder. Nós pagamos os salários deles contribuindo pelo ar que respiramos, pelas estradas que rodamos, pelos alimentos que comemos. É verdade que não é bem assim, mas eles passam a mão no nosso dinheiro mesmo, e ainda reclamam que aumentar o salário mínimo vai quebrar os cofres públicos. Queria os ver sobrevivendo com o mínimo que estipularam. Talvez a diferença seja que não podemos demiti-los, mas ao invés disso, podemos aprender a refletir e votar. Aliás, não podemos, como dizia Raul Seixas: estamos muito ocupados para pensar.

O que será que os pensamentos alheios irão resolver na quarta-feira? Veremos...diziam os cegos.

sábado, 8 de setembro de 2007

A política de um chofer. Parte I


O chofer olha através do espelho retrovisor e vê Victor fumando um charuto, dá mais uma olhada discreta e agora vê aquela fumaça se aglomerando no vidro traseiro. Arranca o automóvel.
- Para o aeroporto. – Diz Victor.
A cada quarteirão percorrido o chofer não se contém, insiste em controlar os movimentos de Dr. Victor pelo retrovisor. O Sinal fecha. Victor, de cabeça baixa, lendo a Folha de São Paulo, dirigiu a palavra ao Chofer:
- Diga-me, Luis. O que você acha de minha mulher?
Ele estranha a pergunta delicada de Dr. Victor. Por que diabos ele perguntaria isso.
- Acho-a uma mulher bastante interessante.
Victor insiste:
- Bastante interessante?
O sinal abre:
- Sim. Gosto muito de D. Soninha, ela sempre foi muito afável comigo.
- Entendo.
Luis, o chofer, diminui a velocidade, troca marcha e conclui:
- O senhor é um homem de sorte Dr. Victor.
- Acho que não entendi. – Agora é Victor que observa o chofer pelo espelho.
Com os olhos fixos no pára-brisa, esse responde:
- Me refiro a sua esposa. Uma mulher e tanto.
Apaga o charuto:
- Como pode ter tanta certeza?
- Não tenho, apenas acho.
- Talvez você tenha razão, ela geme como ninguém na cama.
As palavras de Victor não constrangiam o chofer, e ele notou isso. Audaciosamente vai mais além:
- O que achas das coxas de minha mulher, Luis?
O chofer acelera, entra na avenida do aeroporto, aumenta gradativamente a velocidade. Victor larga o jornal, de certo ponto se assusta, coloca suas mãos no banco dianteiro para se segurar, embora estivesse usando cinto. Olha pelo retrovisor e observa o chofer imóvel, aumentando a velocidade. Esse responde agora esquecendo do espelho, visando somente o pára-brisa:
- O senhor quer saber mesmo o que eu acho da sua esposa, Dr. Victor?
Ele se assusta, arregala os olhos:
- Por que está indo tão rápido Luis? – Com a respiração alterada, Dr. Victor era obeso, sofria de problemas graves do coração. O chofer responde:
- Acho D. Soninha muito gostosa, acho ela uma delícia, Dr. Victor! Uma delícia! E sabe do que mais, Dr. Victor? Eu já transei com tua esposa inúmeras vezes bem de baixo do seu nariz!
- Do que você está falando, diminua a velocidade! – Ofegante, suando frio.
- O senhor precisa entender de uma coisa, Dr. Victor, o dinheiro não pode comprar tudo, o dinheiro não compra o amor! Só porque o senhor é milionário não quer dizer que pode ter todos aos seus pés! – Victor não fala mais nada. Está escorado no banco dianteiro, assustado, quase passando mal. Ele replica:
- Luis, por favor, diminua a velocidade! Nós vamos morrer!
Nesse momento o chofer fecha um cavalo de pau, entra numa avenida deserta de chão batido. Victor não reconhece a atitude de seu motorista que durante anos fora inteiramente fiel. O chofer responde:
- Não, Dr. Victor. Não. É o senhor quem vai morrer. – Com uma voz calma e fria.
Victor tenta abrir a porta, mas todas estão travadas. Assim como os vidros. Era uma armadilha. Victor sentiu que a morte o tocaria naquele momento. O chofer freia desleixadamente deslizando pelo chão batido. O carro pára. Luis desce do carro, se apossa de uma pistola semi-automática, abre a porta traseira, e puxa Dr. Victor arrastando-o pelo chão. Ele implora:
- Por favor! Não me mate!
- Ora, Dr. Victor! Não sujaria minhas mãos com um porco como o senhor!
Victor começa a chorar de medo e nervosismo, ofegante, suando, todo sujo, seu terno estava completamente fedido. O chofer não hesita:
- O senhor fede Dr. Victor. E sabe o que acho das coxas de sua mulher? São as coxas mais lindas que já conheci! As coxas mais gostosas que já toquei!
- Por que está fazendo isso?
Luis coloca a pistola na boca de Victor:
- Mas não sou eu Dr. Victor. Olhe para o lado.
De longe e com uma pistola na sua boca, Victor vê uma Mercedes prata se aproximando, o carro pára defronte ao automóvel dele. Desce Soninha, toda voluptuosa, com aquele charme irresistível. Ela Sorri. Victor não entende nada.
Ela anda alguns passos, pára defronte a Victor:
- Eu nunca amei você. – Victor fecha os olhos para morrer.
Nesse momento Soninha saca uma outra pistola da sua calça justa, mira no crânio de Victor, e rapidamente vira seu braço a um metro à direita e atira no chofer. Atira de novo. E de novo. E de novo. Foram três tiros no peito e um na cabeça de Luis, o chofer, que cai espirrando sangue. Victor não acredita no que acaba de ver. Não está entendendo mais nada. Por um momento ele estava a um passo da morte e agora vira cúmplice de um crime. Ele fica mudo. Soninha ajoelha-se, e implora:
- Me perdoe Victor. – Coloca a pistola em sua cabeça.
Victor se assusta e grita:
- Soninha, não!
O barulho do tiro perfurando o crânio de Soninha foi assustador e ao mesmo tempo doloroso. A mulher que mais amou agora esta morta junto com seu chofer.

(Silêncio)

Victor acorda das lembranças e volta ao consultório.

- Foi isso mesmo que aconteceu? – pergunta o Dr. Rafael Prado, psicólogo particular do Dr. Victor.
- Sim, foi isso mesmo.
- Você precisa mais do que nunca superar isso, Victor. Sei que este fato é muito dramático na sua vida, porém já faz mais de quatro anos.
- Mas não consigo, Doutor. É como se o espírito de Soninha voltasse a todo o momento para me assombrar e relembrar desse fato.
- Olha, Victor. A época de eleições esta aí. Você vai se candidatar a senador, certo?
Victor não responde, Dr. Rafael repete:
- Certo, Victor?
- Certo.
- Por tanto, um futuro senador não pode conviver com fantasmas. Este caso, como você mesmo falou já foi abafado pela polícia, ninguém sabe dessa história e você não pode deixar que ela venha à tona depois de tanto tempo.
- Você está certo Doutor, eu preciso mesmo relaxar. Época de eleições me deixa nervoso, talvez por isso eu esteja relembrando desse fato.
- Isso, Victor! Você tem que entender que é você que vai ao problema, e não o contrário. Se você quiser esquecer, consegue.
- Tudo bem, Doutor. Nosso tempo já está acabando, não é? Agradeço sua atenção.
- Que isso Victor, sempre que precisar, pode vir aqui, não cobrarei consulta de você.
Levanta-se do estofado:
- Muito obrigado Dr. Rafael. Essas suas palavras sempre me ajudam.
- Fico feliz em saber.
- Abraço Doutor, até mais ver.
- Até mais, Victor.

Ele sai do consultório do Dr. Rafael realizado. Passa pela secretária de saia curta e coxas grossas, Victor sempre foi viciado em coxas, olha discretamente e a cumprimenta, chama o elevador e desce. Quando sai do prédio, Luis, o chofer, está o esperando no carro. Victor entra como de costume pela porta de trás, e ao seu lado, sentada, está Soninha, sua esposa. Ela pergunta:
- Então, meu amor, como foi lá?
- Ele acreditou em tudo, a primeira parte do plano já deu certo.
- Ótimo, por isso que eu te amo. (Se beijam)
Victor ordena:
- Para o aeroporto.
Victor apanha a Folha de São Paulo para ler enquanto o carro se locomove. Pelo espelho o chofer olha para dona Soninha e abre um vasto sorriso. E Soninha, discretamente, pisca com o olho direito.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Eu nasci, e você

Alguém lembra do dia em que nasceu? Não? Então porque alguém lembraria do dia em que morreu? A resposta desta pergunta costuma nos levar a filosofia. Confesso que a filosofia em si me atrai. Porém, não podemos deixar de lado nossa matéria. Nós mesmos. Partindo desse pressuposto, acredito ou creio que, nada pode explicar onde nossa memória não alcança. Lembrar envolve a questão de sentir. Na minha certidão de nascimento está escrito que nasci no dia 27 de janeiro de 1988. Mas eu não estava lá para saber. Entretanto, acredito que estava pelo fato de todas as crianças que nascem são registradas de acordo com a data de nascença. Fui a testemunha viva disso quando li a certidão de nascimento do meu sobrinho. De fato estava correto, ele nasceu mesmo naquele dia e naquela mesma hora.

As pessoas costumam não se importar com o fato de nascer ou morrer. Justamente porque a morte parece tão distante. Escrevi nas minhas ultimas colunas textos reflexivos onde a morte predominava como fator de resolução dos problemas. Muitos captaram a mensagem, outros se levaram pela forma da escrita literária, outros não entenderam, e outros acharam que entenderam. Por quê? Ora, porque cada pessoa tem uma ideologia, uma política de vida diferente. Ninguém é igual a ninguém, mas ao mesmo tempo somos iguais no que diz respeito à raça. Também fiz uma enquete que perguntava os tipos de texto que gostariam de ler na minha coluna. Crônicas sátiras e reflexivas empataram em primeiro lugar. Em segundo lugar ficou a opção: “Qualquer uma serve”. Ora, se qualquer uma serve não há porque escrever. Gosto de contrapartidas. Na verdade senti uma ambigüidade quando li que qualquer uma serve. Isso é muito vago. Tudo é muito vago. Este texto é muito vago. O mundo é muito vago. Sabe-se lá o que se passa dentro da cabeça de cada ser humano que habita materialmente esse planeta. Por isso que respeito às opiniões de todos, embora eu não concorde com a grande maioria.

Muitos filósofos creiam que a intencionalidade do ser vivo corresponde a sua memória. Mas como tudo no mundo, há exceções. Os traumas marcam de tal modo que a não presença da intencionalidade faz com que se crie outra. Para entender melhor vamos explorar as palavras. Entende-se intencionalidade algo que nós forma ideologicamente. Algo que corresponda a sua existência. Criamos personalidade, memórias, e atitudes a partir de uma intencionalidade. Sem ela, seriamos matéria pura, de acordo com a antropologia filosófica. Ou seja, nós teoricamente somos formados por matéria e intenção. Quando crianças recém nascidas lembramos de muitos poucos detalhes porque assimilamos nossas atitudes perante aos demais. Nosso cérebro está vazio. Falamos porque os outros falam, caminhamos porque os outros caminham, urinamos no vaso porque os outros urinam. Daí a explicação da forma de convívio da idade antiga onde os homens eram quadrúpedes e faziam sexo como a maioria dos animais. É nessa era que também nasce a comunicação que com o evoluir dos tempos vem a ser a linguagem de hoje.

Levando em consideração tudo isso, ouso perguntar novamente.: Alguém lembra do dia em que nasceu? Quando indaguei essa questão a um amigo ele começou a rir e replicou: “Tu estás louco? É claro que não!”. O que me impressionou foi o fato dele não se perguntar o porquê que não recorda do dia em que nasceu. Pelo mesmo fato dele não lembrar do dia em que morreu? Seria tudo isso um ciclo? Muitas perguntas são formadas a partir dessa indagação. Meu papel aqui é gerar o pensamento dos leitores desse texto. Quero saber a teoria de todos. Por que não lembramos?

Aos que não se interessarem simplesmente estarão se igualando a grande população mundial. “Isso vai trazer dinheiro?” Senão não será importante. Hoje vivemos a mercê do dinheiro. Mas não esqueça que durante muito tempo vivíamos sem ele. Aliás, detesto dinheiro. Porque sei que dependo dele. Não queria que fosse assim. Contudo, quem sou para querer algo? Se não sou capaz de lembrar nem do dia em que nasci...quanta insignificância.