Coluna do Luan

sábado, 25 de dezembro de 2010

O nascimento

Sentados, à beira do rio, ele, vagarosamente, estende sua mão ao encontro dos dedos dela. Ela, timidamente, retira o jeito e parece refutar toda e qualquer chance de relacionamento. Ele, então, volta a tentá-la. A fita por alguns segundos; almeja enxergar seus olhos, a verdade escondida por detrás daquela face linda, de traços prósperos. Logo, a pela facial dela, lisa e macia como o aroma praiano, deixa escapar um olhar afetuoso. Ele aproxima os lábios da boca preterida, e ela vira o rosto. Ele balbucia a pergunta:

- O que eu faço quando... bem, quando... Os teus olhos dizem sim e os teus lábios dizem não?

Ela espera o sabor do vento à beira do rio guiar o tom da conversa, e responde:

- Acho que você deve apenas seguir seu instinto...

Ele agora a vê com os lábios semi-derretidos, com olhar sério, profundo. Tudo havia mudado. Inclusive a pergunta:

- E... o que faço quando os teus lábios dizem sim e... Os teus olhos dizem não?

Agora eles estão a poucos centímetros do beijo...

- Bom... Neste caso, você deve apenas me amar.

Que não acontece.

Eles se tornam proximamente distantes. Ambos fitam a água suja do rio. Como se o cenário externo ajudasse a direcionar perguntas e respostas. Como se somente ele perguntasse. Como se somente ela respondesse...

- E como nasce o amor?

- Ele nasce da mesma forma que termina.

- E como termina um amor?

- Da mesma forma que começa.

- Então... O amor...

- O amor é...

- O amor é isso.

- O amor é isso.

- O amor não requer perguntas?

- E tampouco respostas...

Eles se miram. Ele volta a indagar:

- Por que estamos aqui?

- O amor precisa da solidão para nascer...

- E de encontros para acontecer.

O Beijo acontece. Eles se abraçam. O vento sopra mais forte. O clima traz um ar gelado... Ambos se arrepiam até afastarem os lábios. A consciência desperta:

- E como será que nasceu Deus?

Feliz Natal

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sexo neoliberal

Morder, molestar, beliscar a pele; sussurrar ao pé do ouvido; gritar, gemer, revirar os olhos; fechar pálpebras, abrir pálpebras, mascarar-se com expressões de prazer; deixar a boca aberta, sentir os lábios (sejam quais forem) sendo sugados pela língua; apanhar, bater, suspirar, arrepiar-se e gozar. O sexo proporciona, na criatura humana, um turbilhão de sentidos, sensações, palpitações. No ato, a mente pode voar, ou não. Mas quando voa... Tende a se libertar de todas as convenções sociais; o sujeito se rende à essência de animal. No lugar dos uivos (sinceros), palavrões, ou palavras doces. O ritmo, a freqüência, a dose quase que homeopática do ritual animalesco segue a ordem da natureza de cada homem, de cada mulher.

Não é difícil imaginar atos primitivos como certa espécie de fuga. Afinal, nós, sacerdotes da sociedade da indústria, assumimos, em inúmeras ocasiões da vida, um valor venal. Tornamo-nos produtos para outros produtos. São embalagens distintas, porém encapsulam a mesma sacola, o mesmo cesto. Então, ao enxergamos quatro paredes, nos revelamos semi-completos. A matemática é simples: No cotidiano, criamo-nos mediante as situações impostas. Portanto, nos revelamos a título personal o equivalente a 1/3. No sexo, na intimidade, ou em qualquer outro momento que nos julgamos à vontade, mostramo-nos em 2/3. O olhar observador, embora apaixonante, sedutor, excitante, amigável, não permitirá que sejamos 3/3 do que somos, a não ser que estejamos sozinhos, entre as iguais quatro paredes.

Penso que o sexo, ao passo que ritualiza emoções, signos e linguagens, nos confunde para a nossa liberdade conceitual. Quando há sexo desprendido, ou seja, casual, aceitamos a verdade de raiz humana, mas preferimos acreditar que não somos assim. Preferimos crer nas nossas capacidades intelectuais, nas nossas habilidades econômicas, industriais, sociais. Por ora, preferimos alimentar o ego por saber do quão longe podemos ir construindo valores e abrindo o peito para a consciência personalizada.

O sexo é a nossa única arma, é o nosso conflito interno. O hedonismo da carne, quiçá, seja a nossa chave de reflexão. O que somos e (por) para quê (quem) fazemos? Avaliar o sexo como possibilidade de reprodução é superficial. Nossos sensores naturais não estão entregues ao mero acaso. Nossos sensores existem para nos dar vida.

Para os intelectuais da casa, peço que não vejam o presente texto como fomento a banalização da casca, do sabor multisensorial da pele. E sim como uma alternativa que prova a nossa potencialidade, a nossa pobreza e riqueza de espírito.

O sexo já está por demais banalizado. Está, praticamente, livre de valores e posturas pré-fabricadas. Vê-lo apenas como pornográfico e erótico é refutar toda a poesia que a união dos corpos tem o desejo de proporcionar. O que ocorre é que, em alguns versos, em algumas estrofes, os adjetivos se intimidam... Deixam-se devorar pela impulsão. Logo, são apenas carnes. Logo, há a necessidade de um espelho. Logo, o sexo neoliberal se torna passivo e não ativo. É refén da sua própria arma. É inalado pela síndrome de Estocolmo carnal.

A semântica concluinte pregada é direta: se existe sêmen que jorram de pênis e atingem órgãos da virilha à cabeça, existe, em cada gota desta conduta, o nascimento de um pingo de reflexão do homem. Ele (o pingo branco, se saudável) pode ser desperdiçado, espalhado pela língua e pelo corpo, mas se aproveitado semioticamente, nos libertará para a nossa realidade filosófica.

Uma vez libertados, aceitamos nossa ignorância pela porta principal, e abrimos a mente ao próximo passo da evolução humana.

domingo, 29 de agosto de 2010

Queijo parmesão

Ela estava radiante, como sempre. Soltava aromas pelos olhos. Naquela humilde ocasião, a mesa de jantar era o seu palco. Ela corta o queijo. Concentra-se na faca. Corta novamente o queijo. Atira a fatia mirando a minha boca. Atira. Atira. Atira. Mas, desta vez, era a faca que voava na minha pele facial.

Eu desviei.

Ela, a loura artista do jantar, se joga para cima de mim. Me ganha. Me têm desnudo, com sabor de queijo parmesão nos lábios avermelhados. Sua língua era gulosa e devassa.

Eu era o seu crime.

Eu era a sua janta.

A partida termina.

Eu, de corpo trêmulo e fraco, me rendo à fome. Ela vai embora sem olhar para trás, nem mesmo um balançar de ombros. Nada.

Por fim, reparo no meu abdômen furado. Havia sangue com gosto de queijo no chão. Eu desejava aquela mulher. Era um morto que almejava a loura do queijo parmesão.

Sangrava,

feliz.

sábado, 28 de agosto de 2010

Era uma vez a felicidade e o amor...

"A felicidade me bate à porta. Eu espio, e deixo o vento levá-la embora."

Felicidade boa entra pela janela do banheiro, passa pelo filtro do chuveiro, do vaso e da pia, e só depois ganha forma na casa. A felicidade, então, senta no sofá, liga a televisão e assiste Jô Soares. Sim, é madrugada. A felicidade sente sono mas não dorme. Felicidade boa jamais se deleita em sonhos, ela deve ser real, enigmática e momentânea. A felicidade, agora, caminha pela escuridão da residência, dá algumas voltas na cozinha, se apega a um copo de uísque e finge sentir prazer. E na mentira impessoal deste prazer, ela ouve a campainha soar. Deve ser o amor. A felicidade abre a porta e se depera com o amor trajado de vermelho, um enorme decote entregava, finalmente, significado aos interesses da matéria. A felicidade toca os lábios do amor. O prazer reacende entre o quadril da felicidade e do amor. Mas, desta vez, não se tratava de mentiras. Ao menos não pareciam mentiras. Era uma cena clássica e bela. A felicidade se deixando enaltecer pelo amor. E este a engole de cabo à rabo. A felicidade não encontra ar para a sobreviver. A felicidade é devorada pelo amor até perder total força e esperança. O prazer, aos poucos, se esvaia. O amor fica só e se pergunta: o que aconteceu? O amor busca respostas nos livros de filosofia, sociologia, antropologia, psicologia e tudo mais com gia. Não encontra nada. O amor entra em desespero, procura compreender a vitalidade de seu sentimento. O motivo de sua existência. Ora, o amor enxerga a ausência de motivos.

Depois de muito tempo, o amor se deu conta de que ele era resultado da felicidade somada ao prazer. Era mesmo? Era projetável. Estritamente projetável. E descobriu, ainda, que sua irmã de sangue era a tristeza.

E seu antídoto era a repetição de toda esta fórmula.

A revolução dos medos

O sábado começa cinza e transpassa o reflexo da vida que alimentamos. Mais uma vez me encontro só neste quarto, com notebook em mãos, alguns livros na estante, a cama desarrumada, as fotos do mural que me fitam atordoadas por mudanças;

Mais uma vez eu fujo do caos, penso estar no bem quando sugiro o mal nas entrelinhas do meu polegar opositor. A nossa essência nos permite à heterogeneidade. Nossa essência ama o ódio e odeia o amor. A linha tênue entre sentimentos e sensações, na verdade, não existe. É uma só. Todos em um. Um em todos. Fazemos parte das comeias gigantes e industrializadas. Fazemos parte do caos... eu fujo para o lado errado. Eu fujo para todos os lados certos da sociedade.

Mais uma vez eu penso.

Mais uma vez eu reflito.

Mais uma vez eu canto.

Mais uma vez eu sorrio.

Mais uma vez eu escrevo.

Mais uma vez eu choro.

Mais uma vez eu sei.

Mais uma vez eu não sei.

Mais uma vez...

É o recomeço da bagunça da humanidade.

Das relações, dos relacionamentos.

É a exposição dos princípios.

A verdade é que, no fundo, somos todos solitários da era da tecnologia. Estamos todos irradiados na escuridão do medo, do fugaz, do mordaz, da nostalgia. Somos animais que jogam sonhos pela janela na busca pela revolução da vida.

O sábado recomeça para mim. Eu sigo no mesmo caminho, na mesma estrada de meses atrás. Eu creio na força das transições, das translações. Eu creio na energia que este mundo há de comer e morrer.

Ninguém ama. Ninguém.

Somos cobaias do nosso próprio entretenimento.

Somos macacos que vestem uniformes e ternos.

Evoluímos.

Ah, sim... evoluímos.

É a revolução dos medos.

Eu sigo só, novamente.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Eixo

As medidas flutuam sob os botões da saia.
Ela levanta blusa
Causa frescor,

ardência,
vertigem

Ele desmaia
Ela pisa
Ele sente
Ela caminha

Ele levanta
Ela tomba
O mundo gira.

Onde está meu eixo?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Exemplar no fundo do poço - Violins

E eu te perdôo afinal
somos mais de cem
e quem não tem um segredo podre
pra esconder como um animal
eu sempre amo alguém que nem conheço
assim tão bem
e nem convém conhecer alguém até o final

Você é um exemplar do fundo do poço
mas eu amo o mal

sábado, 22 de maio de 2010

Sou...

As árvores não estavam corretas no balançar dos galhos. Olho pra cima e noto um arco-celeste refletindo meus sentimentos renovados. Parecia, e juro que por um segundo parecia uma metáfora atual de minha existência. Sorri. Chorei. Sentei rente à raiz do tronco e passei a ouvir outro ser vivo, de pele semelhante a minha, com feridas tão similares das quais eu lidava diariamente. Fechei as pálpebras com o intuito de descobrir a volição, a fúria da natureza. Meus cabelos não tinham controle sobre a situação. Minha mente tomava voo livre. Livre. Livre. Livre... era liberdade. Era vida. Agora o balançar dos galhos retribuíam sentindo a mim. As folhas secas tornaram-se úmidas. A chuva acometia meus poros como nenhuma outra alma amante acometeu. Eu estava respirando transformações: eu era a terra, era o ar, era a água, era o fogo; eu era... a soma dos catetos igual ao quadrado da hipotenusa. Nada vertiginoso, mas, no mínimo, aceitável.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Crime-amor


Ela invadiu meu apartamento para me dizer que não me amava mais. Joguei seu corpo no lixo ao lembrar do episódio. Foi um crime por amor, sem pudor, sem remédio.

domingo, 11 de abril de 2010

O monomotor da felicidade

Corria desesperadamente pelo matagal de Ortiz, localizado a dois quilômetros de casa. O dia estava bonito – céu claro, sol à meia altura –, acima da minha cabeça um monomotor fazia seu trajeto, razante e poético. O piloto era meu vizinho Juemir. Um homem de 40 anos que descobriu a liberdade ao sabor das nuvens. Sempre aos domingos, durante a tarde, ele voava. Para mim, o barulho do motor soava como música. Sempre quis fazer o que Juemir concretizava nos ares: o sentimento de leveza guiado por asas de policarbonato. Decidi voltar, já era hora do almoço e minha mãe se posicionava indignada ao pé do marco da porta de casa sempre em que eu chego três segundos atrasados, sentenciados a partir das onze e meia da manhã. Ao correr, sentia o matagal roçar minhas pernas pálidas de sofrimento, o barulho alucinógeno do monomotor fica para trás, eu deixava minha vida naquele campo para servir de operário dos meus pais.
O almoço estava servido. Encontrei meu vô sentado numa das cabeceiras da mesa. Noutra, estava meu pai, ávido e rancoroso. Meu pai era uma das poucas pessoas no mundo capaz de transportar 37 personagens dentro de si. Se fosse possível, acordaria 37 vezes ao dia e daria sentido aos 37 atores que se demonstravam perante a sua face no decorrer do rotação da Terra. Se tratava de um caso “múltiplo de bipolaridade”. Àquela hora, no fatigoso almoço, ele transmitia indignação e reclamava do avião do vizinho. Disse que iria matar o piloto um dia. Eu acreditava nas declarações do meu pai. Na sala ao lado havia uma espingarda dos anos 80, otimizada, feita para dilacerar qualquer pessoa que se metesse à frente. Além do mais, meu pai poderia ter 37 motivos para matar o vizinho. Ao lado direito dele, na horizontal da mesa, minha mãe, entristecida pela vida, servia comida ao meu irmão Juca, de cinco anos. Prezei pelo silêncio erguido pelo momento, comi uma ou outra colher de arroz e feijão e me retirei. Encontrei no meu quarto a janela dos meus sonhos. Ao fundo, ainda admirando o tempo bom que se firmava, eu via a calda do monomotor de Juemir. A paisagem era bela, afrodisíaca. Não lembro quanto tempo permaneci naquele estado de êxtase, o que recordo é de uma interferência sonora. Da paisagem, testemunhei o inferno. Fogo. Chamas. Gritos. Eram conseqüência do tiro de espingarda proveniente da minha casa, manuseada por uma das 37 pessoas que habitavam meu pai. A bala foi certeira. Acertou o cubo do monomotor, travou a hélice e derrubou o avião. Juemir estava morto.

Uma semana depois.

- Dona Nena não toma jeito, olha o vestido dela. Parece uma toalha de mesa.
- Não seja idiota, é da época dela. Ela gosta dessas coisas.
- Mas ela pode gostar em casa, onde ninguém vê isso. Fora a parte física. Sobra carne para manga.
- Deixe de ser maldoso.
- Cara, cansei dessa aula de português. Eu vou dar no pé. Vai ficar por aqui?
- Eu gosto desse conteúdo, vou ficar sim.
- Boa sorte, cara. Fui.

Vinícius saiu pela porta da sala de aula sem que a professora o visse. Era um colega irracional, imaturo e negligente com os estudos. Estávamos em uma turma do terceiro ano do ensino médio onde eu era o único que falava o português correto. É o carma das cidades do interior. Vila Maria do Sul fica a 680 qulômetros de Porto Alegre. Aqui há mais mato do que casas. A única alegria da cidade era o monomotor de Juemir. Uma semana depois do crime, a cidade ainda murmurava aos sete ventos o ocorrido. Me sentia hostilizado por alguns colegas e pessoas que cruzavam comigo na rua. Afinal, sou filho do assassino. Meu pai sumiu depois de abater a aeronave, e quem paga a conta é a nossa família. Voltando ao colégio, Dona Nena era irmã de Juemir. Em 40 minutos de aula, ela não olhou, sequer por um segundo, uma única vez para mim. Ao contrário do seu irmão, que se fazia presente em espírito. Ele ocupava uma cadeira muito próxima de Dona Nena. Enquanto ela escrevia no quadro, Juemir olhava para as costas da irmã com admiração. Mas, na sequência, de forma abrupta, Juemir se vira para trás e me fita com louvor. O sinal toca. A aula acaba. O espírito desaparece. Dona Nena baixa a cabeça e só escuta a pressa dos alunos sair pela porta.
Voltei para casa desesperado, agora pelo susto causado pelo espírito. Quando cheguei, presenciei minha família inteira aos prantos. Estavam todos desolados, inclusive meu pai e o vizinho, Juemir. Fique perplexo, confuso, o que estava acontecendo? Meu pai voltou? Juemir não está morto? E por que estão todos chorando? Com medo de cada passo que eu dava, entrei na sala e ninguém notou pela minha presença. Dei mais alguns passos e, na sala ao lado, próximo a mesa de jantar eu avistei um caixão. Receoso quanto ao corpo que poderia estar lá dentro, me aproximei. Foi um momento de pura descoberta. Dentro do féretro feito de madeira oca, com pouco conforto no seu interior, eu me vi de olhos fechados e com as mãos cruzadas sobre a barriga. Era eu que estava morto. Novamente desesperado, voltei a correr pelo mesmo caminho, notei que não sentia mais o mtagal roçar minha perna. Ao fundo, pudia avistar Vinícius, que corria em minha direção; de longe já se ouvia os seus gritos:

- Nós estávamos naquele avião! Nós estávamos naquele avião!

Ainda desconecto, não ligava ponto a ponto, mas entendi o que havia acontecido. Quando finalmente eu conquistei meu sonho de liberdade, alcancei o plano de voo da morte. Devo, ao menos, ter morrido feliz.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Era uma vez, novamente

Voltar a escrever é como voltar a matar, de certa maneira. Passamos horas, dias, semanas, meses sem tocar em nenhuma sílaba, sem proliferar idéias, pensamentos e teorias. Quando regressamos para este mundo literato, literal e barato, sentimos saudade de quando éramos apenas flores imaculadas em marasmo, bordadas em casas vazias, sem cede de vontades, sem sangue de mudanças. Não sei ao certo o que provoca nossos retornos. Este humilde e pobre blog ficou desacompanhado por meses, me tornei ausente por pura e dedicada deselegância. - Resolvi parar, ora. Dar um tempo. Sossegar as palavras. O problema (ou seria a solução?) é que nunca paramos, verdadeiramente, de ditar palavras para papeis ou para programas de computador. Então, é como envenenar a própria mente, fornecer combustível aos anseios de quem tem paixão por criar e, ao cabo de tudo, nos deleitamos e deitamos sob preguiças. Cá estou lutando para me opositar. Carrego tantas personalidades dentro de mim que seria um desumano desperdício não dividi-las com meus personagens. Preciso criar as verdades, comprovar as mentiras, e matar minhas tolices e desleixos por meio desta prática reinventada por tantos e praticadas por poucos. Que seja breve enquanto dure. Que seja eterna enquanto ame.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O caos do pensamento...


Dando margem ao nordestino da MPB, Lenine tem me conquistado a cada frame de segundo. A cada dia, a cada noite, a cada luar... A cada rotina ensandecida.

Lenine consegue misturar sentimento e melodia como se fosse uma prosa corriqueira, discursada por qualquer cidadão, feirante, berrante e alucinado pela vida comum e anônima.
Lenine é Lenine. Ele nos traz o caos do pensamento, a sombra do futuro, a sombra do passado, que assombram a paisagem...

Esta humilde canção tem embalado melodias da minha batida, notas da minha vida, arranjos do meu viver.
Eis a letra:

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.