Coluna do Luan

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Uma mulher de princípios

Fechei as cortinas, limpei o quarto e chorei. Antes das lágrimas, no entanto, pedi a mim mesma um pequeno intervalo para o café. Não me posso esgurrecer aos prantos enquanto tomo café. Meu pai, antigo fazendeiro dos anos 60, sempre me dizia que o café era sagrado. Devemos estar concentrado ao tomar o primeiro gole. Um desejo nessa hora é bem-vindo. Estava aí a formula para minha vingança retroativa: tomaria um gole de café preto almejando tua volta. Mulheres como eu não ficam se angustiando por qualquer homem barbudo como você. Ainda guardo na gaveta de minha cômoda uma camisa sua, com o seu cheiro natural. E quando penso nisso volto a chorar. Chega. Resolvida, abri a porta de casa e encontrei Ezequiel, um antigo amigo da faculdade. Falei para ele de minhas chateações e ele me propôs um programa pra lá de excitante. Primeiro eu teria que colocar as pernas por debaixo de seu ombro, fazendo com que meus pés se curvassem na sua nuca. Ele já queria estar ao mesmo tempo por debaixo de mim. Fui contra, aleguei que essa posição é dolorida, já havia feito o teste com o barbudo que me abandonou. Mas pensando bem, foi só com ele. E se com o Ezequiel fosse diferente? Nunca é demais tentar. Pedi que ele me buscasse às oito para seguirmos um ritual de casal apaixonado. Iríamos primeiro jantar e depois para o motel. Ele topou. Meio óbvio, não? Depois dessa noitada cheguei à conclusão de que o sexo com Ezequiel já não era mais o mesmo. Ele havia mudado e eu também. Transávamos desde a minha vida acadêmica. É melhor que nossa amizade fique sem sexo, avisei. Ele protestou, mas acabou aceitando minha imposição. Sexo com homem chato é a pior coisa do mundo. Acha que somos um objeto pirotécnico de mil e uma posições. Tudo tem limite. Depois de dispensar Ezequiel cai na depressão e voltei a pensar no barbudo, onde ele estaria? O que estava fazendo? Será que ele não pensa em mim também? Nunca transamos de verdade. Foi só amor. Não era justo perdê-lo, eu precisava experimentá-lo. Sou uma carnívora, preciso de gozo. Será que tento? Posso ligar para ele. Será que não é tarde? Creio que não. Nunca é tarde para uma bela mulher cassar seu macho. Liguei e ninguém atendia. Entrei em desespero porque queria muito vê-lo. Sentia falta do meu barbudo. Fui até sua casa, apertei a campainha e ninguém atendia. Tentei manusear a fechadura e para minha surpresa a porta estava aberta. Quanta desatenção do meu barbudo. Resolvi entrar, caminhei lentamente até ouvir vozes masculinas vindas de seu quarto. Tudo estava aberto, desloquei a porta do quarto e vi minha decepção: Ezequiel trepando com meu barbudo. Não podia acreditar, eles eram gays ou bissexuais? Não importa. Qualquer resposta naquele instante de nada adiantaria. Preferi voltar para minha cama e chorar, chorar muito. As lágrimas eram minhas únicas companheiras, sem mais homens, não quero mais saber de homens. Liguei para Ângela e resolvi voltar ao o que eu era, resolvi voltar à minha essência: “Ângela, venha para cá o quanto antes, quero que tu caia de boca em mim, cansei das aventuras heterossexuais”. O barbudo era uma ilusão, Ezequiel fora uma diversão da juventude, aquele bissexual mentiroso. Disse-me que era hetero. Entretanto, Ângela era o que eu queria, e eu sou o que elaquer. Sem mais choros, apenas me tornei uma mulher de princípios.