Coluna do Luan

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O sabor das diferenças

Se pararmos para refletir um pouco sobre como levamos nossas vidas, logo eclodirão estereótipos, estatísticas e probabilidades de perfis com base nos preceitos morais da sociedade. Ou, simplesmente, a utilização desses preceitos para pregar que determinado "nível" depende exclusivamente dos seus gostos pessoais.

Acho que estou cansado disso.

Essa ideia de ser perfeito demais, ou de assumir um perfil/personagem com base nas escolhas pessoais, ter que se policiar para não ser julgado, ter a necessidade de se identificar com algum grupo e/ou classe, só nos torna mais ridículos, egoístas e perversos ignorantes. Evoluir também significa lidar com as diferenças. É saber agregar parte daquele sabor, que julga oposto de si, à sua alma, sem julgar as escolhas do próximo. É ser compreensivo e tolerante. Se permitir aprender com as coisas mais humildes, populares e que, aparentemente, para você, não contenha filosofia alguma.

Quando nos dermos conta que a filosofia mora no conjunto dos elementos que interagimos, abriremos mão de julgar o que presta do que não presta, culturalmente falando. As pessoas possuem o direito de serem tocadas pela canção mais simples, de letra menos expressiva, com as melodias que permeiam o batuque da swingueira ao rock clássico.

Quem somos nós, pobres mortais, para julgar o que determinada pessoa deve sentir, ouvir, gostar e fazer? Somos, não raro, oportunistas de perfis, singelos ditadores de classificações sociais. Não, definitivamente não, isso está errado! E isto quer dizer que nada impede a um indivíduo escutar Leandro & Leonardo a ler Jean Paul Sartre. (por mais desconexo que possa parecer ao leitor) Contudo, temos a incrível mania de associar e alinhar gostos de leitura com predileções musicais, com a forma na qual nos vestimos, etc. Sei bem que estes minuciosos detalhes contemplam nossa heterogênia camada de comunicação não-verbal. Mas por que ser enquadrado a um perfil? Por que ter tudo tão bem delineado?

Ao passo que alguns especialistas em comportamento humano possam alegar que esta seria uma forma de coerência comportamental, vejo que, ao acreditarmos que tenhamos que ser assim, que temos que ser coerentes com gostos ao modo de nosso julgar, excluímos de nossos vínculos, pessoas com almas incríveis, puras, raras e que podem nos ensinar a viver em um mundo mais harmonioso. Acreditamos tanto, que nossos amigos e namorados só podem pertencer a casta X ou Y.

Isso, na minha opinião, é uma enorme besteira existencial. Quanto tempo dedicamos à construção desse perfil? Com quantas pessoas deixamos de nos relacionar? Quantas felicidades passaram pelas nossas portas fechadas? Por outro lado, não quer dizer que você tenha que ser eclético, mas que tal experimentar um novo olhar? Que tal se desprender de dogmas e conceitos pré-fabricados e começar a sorrir? Só porque, estatisticamente falando, as pessoas que dançam em baile funk podem ser enquadradas como prostitutas e portadores de um cérebro do tamanho de uma azeitona – ou, ainda, aqueles que gostam de pagode serem enquadrados como papagaios cantantes com eternas dores de amor – não quer dizer que os sejam, e nada impede de simplesmente compartilharmos essa realidade. Pois, a você, que se diz filósofo, poético e amante das coisas de alto nível, fugir e ignorar esta realidade é o caminho mais fácil. Por que não treinar seu olhar e aprender como ser humano? O "alto nível" é relativo. A vida é relativa. A vida, meu caro, é maior que as diferenças.

Logo, você não precisa, definitivamente, ser como as outras pessoas. Você só precisa ser quem você é, e aprender com as mais diferentes realidades, para não chegar no fim da vida como um velho rabugento, preconceituoso, limitado, infeliz e solitário.

Chega de perfis construídos. Cante axé num dia. Toque rock noutro. Vá ao shopping de chinelo. Converse com todo tipo de pessoa – inclusive com mendigos, pois eles costumam ser menos perigosos que a sua consciência, e não deixe de evoluir. Se liberte de rótulos e respire. Pois, nem o mais sensato, racional e inteligente pensador, está livre de limitações e preconceitos sociais.

Ao aplicarmos o amor em pessoas que julgamos diferentes de nós mesmos, encontraremos semelhanças incríveis – não porque o amor deixa-nos cegos, mas porque permitiremos que um outro ser humano, com virtudes e defeitos, nos ensine a interagir no seu universo, enquanto ensinaremos a esta mesma pessoa a interagir no nosso. Isso se chama compartilhar, aprender, amadurecer visões de mundo e... evoluir.

Boa sorte a todos.

Que em 2012 as diferenças não sejam motivos para separações.

E que celebremos a vida.

P.S.: Funkeiros e pagodeiros, não levem para o lado pessoal.

sábado, 26 de novembro de 2011

Como é que se chama o amor?


Acho que nunca me esquecerei da noite em que achava ter perdido dois terços do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Lembro-me que você estava fielmente acompanhando minha jornada de horas, me fitando, sendo cúmplice de minhas dores e minhas conquistas. Pois, na noite em questão, você até chorou comigo. E, por dentro, eu também derrubei lágrimas. Imaginava ter desvairado um conteúdo teórico produzido com a mais dedicada atenção científica que um graduando devia ter. Mas, por um segundo, parecia que era você quem tinha perdido seu TCC. Tempo depois, ao encontrar o arquivo com tudo em seu estratégico lugar, você suspirou e se tranquilizou. Esta cena, como tantas outras, de tantas noites, dias, tardes e madrugadas, reforçou – com tijolos concretos de sentimentos – o quanto eu me fazia importante para sua vida. Embora, quiçá, eu não tivesse dado pistas, esta cena marcou a minha alma.

Ao me deitar para tirar algumas poucas horas de sono, fiquei pensando no que ocorrera. Naqueles curtos segundos – e quem sabe minutos – você se sentiu exatamente como eu me senti: Em doses de desespero. Eu vi no seu olhar. Eu vi na sua alma. Não tem explicação. Aliás, nos últimos seis meses eu tenho tentado buscar algumas respostas para o que estamos vivendo e, advinha só: não as encontrei. Isso acontece porque, a verdadeira resposta, a verdadeira clareza, mora em nossas atitudes e pensamentos. Mora em nosso universo de energias e conexões positivas que construímos regadas às nossas histórias; é, pois, a nossa bagagem existencial gerando resultados, assumindo forma, contemplando nomes.

Ao me fixar em lembranças, dentre as mais recentes, não poderei, sob hipótese alguma, esquecer da noite em que seu rosto apadrinhou lágrimas de nostalgia. Com um estímulo multisensorial de Coldplay, eu a vi emocionada, saudosa, dona de uma sinceridade que, em vida, não me lembro de ter conhecido. E, diga meu Sol, como podem essas coisas assim ocorrerem? Como podemos nos manter fiel um ao outro por tantos dias, meses, estando distantes geograficamente? Bom, posso dizer no quê eu acredito? Que tudo isso não passa de um universo paralelo. E, tudo isso, terá fim quando praticarmos o nosso novo começo. Esta nova fase, que me marca de ansiedade, está prevista para janeiro. E em meio a toda essa poesia que escrevemos, eu só posso chegar a uma conclusão: o amor leva o seu nome.

O que tem feito por mim durante o período em que nos conhecemos, renova as minhas certezas sobre as nossas felicidades. O seu brilho continuará me iluminando enquanto o seu coração bater. E, enquanto eu senti-lo daqui, não há motivo para não seguir em frente esbanjando sorrisos e saudades recíprocas. Finalizo este texto sendo contemplado pela a rosa que você me deu, ao lado da “espadinha”, que só você sabe do que se trata. São os presentes mais valiosos do mundo – ao lado de todos que me enviou, porque carregam seus sentimentos e seus sentidos por mim. Sinto sua admiração, sua paixão e sua tara. Rebato os mesmos sabores com toques especiais procedentes da minha consciência.

Se o amor não levasse seu nome, não haveria razão para chamá-lo de amor.

Seu nome tatua minha pele com a marca da sua intensidade.

Todos os dias possuo um novo traço de você.

Feliz.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Deixar para amanhã

Não raro, você se pergunta: o que faço para que o meu dia seja especial a cada 24 horas? Em quem eu penso? O que eu lembro? A quem devo dizer "te amo" quando sinto e não digo? Quantos abraços eu dou? Por quantas vezes eu sorrio? E em meio a todas as essas indagações emerge a pergunta-chefe da vida: por quantas vezes eu realmente sou feliz?

Entendo que o nosso presente é valioso demais para ser adiado. Ou simplesmente vivemos, ou simplesmente adiamos, ou simplesmente descartamos. E quando esse presente vira pretérito não há mais nada o que reescrever. É como uma obra finalizada. Completa ou incompleta, um dia, ela teve um fim.

Às vezes é difícil de aceitar. Mas quem disse que a realidade é um mar de rosas? Ao cabo de tudo, a dialética da vida só nos permite fazer com que o nosso presente não tenha a mesma morte que o nosso passado. E assim segue a orquestra da existência.

É duro envelhecer, amadurecer, escolher. Por ironia do universo, a vida é cíclica. O mundo é cíclico. Os sentimentos são cíclicos. Daí nasce a palavra “felizmente”, em detrimento de outra palavra chamada “revigoração”. Se tudo que for vivido no presente se revigorar, se renovar, é possível que você tenha a felicidade como eterna vizinha, a quem você poderá não apenas pedir açúcar, mas toda a confeitaria que adoça o sabor dos momentos de uma relação. Por outro lado, se tudo que você viver cair na roda cíclica da vida, deixando a dor assolar sua consciência sem margem à etapa da renovação, você terá a felicidade a certa distância. O pior é que levará tempo para que ela se torne sua vizinha novamente. Dói muito encontrar a doçura da vida somente no pretérito. Precisamos, então, começar do zero, mais uma vez.

Que fique bem claro, aqui, que faz parte da vida todo o processo ter um início um meio e um fim. A diferença é que você pode recomeçar com a mesma pessoa ou morrer com ela. E quando surge uma nova história, depois de morto, você tem a escolha de ser um fantasma desacreditado no amor, vagando nas incertezas da vida, ou uma nova pessoa, como novos motivos para sorrir.

O grande desafio do nosso cotidiano é fazer com o que as coisas durem o máximo de tempo possível, não esquecendo dos esforços (de ambos os lados) aplicados para que isso ocorra. Entendo que a única maneira do amor andar de mãos dadas com a “eternidade”, em uma só relação, é os dois saberem reinventar o próprio sentimento. Bem-vindo ao grande repto da vida. Enquanto uma parte da engrenagem do amor falhar – se é que se pode dizer que ele falha, caberá sempre escrever um novo livro, com outra pessoa.

Agora, cuide bem desta obra. Escreva diariamente. Deixe as palavras nas linhas do infinito. Valorize esta nova oportunidade. Você não precisa deixar tudo para amanhã. Você nunca precisa deixar para amanhã.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Boa noite, Janela.

Às vezes acredito que o mundo lá fora não passa de um recorte previsto pela minha janela. Daqui, de onde escrevo, escuto dezenas de sons. Acho que são centenas. Não, não. Minto. São milhares. Há tantos ruídos que flutuam ao ar do despercebido. Afinal, torna-se mais fácil viver quando não escutamos e, muito menos, enxergamos tudo que pode nos fazer mal. Se assim fosse, enlouqueceríamos do dia para noite. Então, penso: Quem foi o autor da ditadura cuja sentença determina que loucura não seja saudável? Por que não palpitar o coração e os pensamentos sobre o que se passa bem aqui, no bascular da nossa face? Esforço-me um pouco mais, estico minhas pálpebras para dar chance ao globo ocular e, por fim, vejo poucos e poluentes veículos. Alguns coletivos... Outros particulares... Há aqueles mais informais, de tração animal. Inclino meu corpo, movimento minha cadeira de rodinhas quebradas, arranho por mais alguns centímetros o piso de madeira do meu quarto e chego ao vidro embaçado. E não era pela minha respiração. Creio que se tratam de observadores não observados. Na medida em que trafegam fornecem uma fiel e breve fitada ao meu vidro, e continuam o seu caminho. São centenas de veículos diariamente. Como posso prestar atenção a cada gesto? A cada rosto amargo, a cada olhar perdido, a cada raio de luz absoluto e soberano de nossas almas? São dúvidas que pairam na janela do meu quarto. Consigo ler alguns questionamentos. Poxa! São tantos idiomas... Levo tempo para traduzir palavra por palavra. A chuva surge. O vento lava. As gotas evaporam e eu recomeço a minha busca incessante pelo significado infinito da minha janela. No horizonte, vejo faróis no raiar da noite. Mais e mais veículos para observar... Está na hora de dormir... Acho que no fim é isto: tão somente pela incerteza do amanhã; é por ela que nos permitimos sonhar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O diálogo da mente



SUBCONSCIENTE: Você se faz importante para mim.

CONSCIENTE: E como posso sentir saudades?

SUBCONSCIENTE: Ora, você me revoluciona a cada pensamento.

CONSCIENTE: E... Não importa o conteúdo ou a forma do pensamento?

SUBCONSCIENTE: E pensamento lá tem forma? Preste atenção: Uma vez que você esteja na alma de alguém, o pensamento, pobre mortal como você, apenas obedecerá o fluxo...

CONSCIENTE: Entendo... Talvez seja assim que os sentimentos emergem, não é?

SUBCONSCIENTE: Tal como a justificativa de todo este diálogo para ela...

CONSCIENTE: Ela? Que ela?

SUBCONSCIENTE: Você sabe de quem estou falando...

CONSCIENTE: Aquela cujo sorriso nunca perderá o brilho?

SUBCONSCIENTE: A própria. Afinal, ela chegou até mim. Esqueceu?

CONSCIENTE: Como posso lembrar se você é o meu subconsciente?

SUBCONSCIENTE: Por que você não tenta fechar os olhos?

CONSCIENTE - De olhos cerrados: Ual...

SUBCONSCIENTE: Que foi? Que foi?

CONSCIENTE: Ela é potencialmente linda.

SUBCONSCIENTE: Não me venha com superficialidades, mocinho. Não me decepcione!

CONSCIENTE: Dá para parar com o escândalo? Você sabe do que estou falando: É da luz natural dela. Do brilho da pessoa, da personalidade. Da beleza da alma.

SUBCONSCIENTE: Você não está tentando me enganar, não é?

CONSCIENTE: E algum dia eu conseguiria?

SUBCONSCIENTE: Tem razão. Eu acredito em você. Ela é linda dos pés a cabeça.

CONSCIENTE: Não, é da cabeça aos pés.

SUBCONSCIENTE: A ordem realmente importa agora?

CONSCIENTE: É claro que não. Estou tentando lhe enrolar.

SUBCONSCIENTE: Eu sou teu sub, não pode me enrolar.

CONSCIENTE: Então por que você não me diz o que devo fazer?

SUBCONSCIENTE: Com relação a ela? Bom... Pode ser você mesmo. Vocês estão mais próximos do que imaginam.

CONSCIENTE: Talvez seja pela luz dela.

SUBCONSCIENTE: A luz dela apenas procura a sua.

CONSCIENTE: É, eu a encontro em meus sonhos.

SUBCONSCIENTE: Você só pode sonhar com ela porque ela é real.

CONSCIENTE: Chega. Deixe-me acordar para encontrá-la.

SUBCONSCIENTE: Finalmente. Mas não esqueça, eu sigo as ondas das tuas vibrações emocionais. Faça tudo isso valer a pena.

CONSCIENTE: Engraçado você me dizer isso. Eu não estaria aqui se tudo isso não valesse a pena.

SUBSCOSCIENTE: Está certo. Você já está me enlouquecendo. Apenas diga a ela o que sente, e tudo ficará bem. Boa sorte.

CONSCIENTE: Obrigado. Até a noite.

SUBCONSCIENTE: Até qualquer hora, amigo.

Uma madrugada e meia depois:

ELE - Surpreso e feliz: Nossa... Seu sorriso nunca perde o brilho mesmo, não é?

ELA - Tímida e feliz: Você... já não me disse isso em seus sonhos?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Há dois anos

Agora são duas e cinqüenta e um da manhã. Não consigo me lembrar da última vez que tive um sono extremamente saudável. Creio que deve ter sido há cerca de dois anos. Pois nesses pares de anos eu via o mundo sobre um oceano de flores. Nesse período meu coração batia vitalmente. Hoje, entretanto, às vezes, no auge dos meus 23, sinto como se ele fosse parar a qualquer momento. Talvez isso me tire a fantasia da madrugada e faça com que eu sinta os prazeres da cama somente depois das cinco da manhã. Embora eu me esforce evitando açúcar, cafés e leves cochilos durante o dia, eu não obtenho a concentração necessária para um sono regado a felicidade. Se conheço bem este Luan Iglesias que vos escreve, ele enfrenta mais uma de suas fantasiosas e justificadas crises existenciais.

Existe um fato marcante que me acometeu em meados de 2009. Pela primeira vez, eu senti que o amor não era inteiramente bondoso. Pela primeira vez, com os meus então 21 anos, eu senti uma ardência tão descomunal no peito que, por um segundo, achei que fosse uma depressão acentuada e provocada por uma ilusão da vida. A mulher que eu amava fugiu dos meus planos. E eu, que colocava as mãos no fogo por ela, demorei a entender que vivíamos uma relação de mentiras e projeções. Os sentimentos até eram reais, mas não posso crer que fomos sinceros para com outro. Então, após o término, só me recordo de ter notado um corte de cabelo diferente moldando o rosto dela. Poucas palavras. Nenhum abraço. Nenhum sorriso. Muitas dúvidas pairando no ar. Ela apareceu após quase dois meses, e já estava entregue à pele e aos lábios de outro. No início eu achei que tivesse sido o trouxa da história, como corrriqueiramente o fui na época do meu primeiro grau. Depois, tomei por conta que assumi a posição de um rebelde romântico, fazendo jus às minhas ações mantidas no pretérito do meu Ensino Médio. Àquela circunstância eu estava na faculdade, enfrentava as questões filosóficas presentes na metade do curso e, surpreendentemente, consegui superar o amor mal acabado na presença daquela que me fez feliz. Estagiávamos no mesmo ambiente: Quase lado a lado. Eu a consolava, era testemunha das lágrimas que ela derrubava sobre a pele amarga de pesadelos, por outro homem. Que tipo de pessoa eu era? Penso.

Esquecer um amor na presença do próprio amor é um desafio e tanto para quem tem 21 anos recém completados, para quem havia voltado da França após 31 dias de reflexões, com esperanças nos bolsos da calça de pijama. A vida se reabriu para mim poucos meses depois. Conheci novos amigos, outras mulheres de diferentes idades e entendi que a nossa condição humana e de relações sociais – sejam elas de qualquer espécie, não é de infinitude. É duro aceitar tal fato. Entretanto, a realidade martela aos olhos de quem está disposto a enxergar. Por nenhum momento me tornei cético ao amor. Amei e amo. Me apaixono por almas livres e pensantes e, ainda assim, não creio que tudo isso seja infinito. Quando 2009 começou eu tive a primeira prova de que não viveria para sempre. E que cada relação, cada experiência, cada palavra e/ou frase pronunciada deu forma a dialética existencial. É tão difícil responder a todas as inquietações que emergem em nossa a consciência... Se o mundo é feito de perguntas, onde estão as respostas?

Há dois anos eu acreditava, sumariamente, saber de tudo. Tinha a solução e, no mínimo, a equação para todos os problemas que orbitavam o planeta. Eu era um utopista dos mais baratos. Quando a queda me despertou, eu compreendi que podia e posso amar outras pessoas e me libertar dos conceitos fabricados pela sociedade moderna. Pois bem: me libertei. Voei alto, pousei. Alcei vôo novamente, aterrisei. Chorei. Sorri. Descobri novos rumos, novas decepções, novas alegrias, novas dúvidas, novos rostos cujos cortes de cabelo me fazem sonhar com os pés no chão. Então, por que a crise existencial senão para voltar ao blog e dizer a você, leitor(a), que não posso evoluir sem expressar o que me sufoca? E, afinal, o que me sufoca? A ausência da minha literatura ou a ausência do meu sono? É soma dos catetos que é igual ao quadrado da hipotenusa.

Eu voltei.

Há dois anos todas as cores mudaram para mim. Há dois anos eu me transformei na velocidade da luz na busca por felicidade. Deu certo.

Eu sou feliz.

Sou um sonhador.

Um errante da natureza, que se julga finito sob as condições humanas. Contudo, também sou contraditório ao afirmar que as lembranças, quando penetradas na alma, se tornam imensuráveis. As pessoas e tudo que as cercam são feitas de lembranças, memórias. Daí a infinitude.

Há dois anos eu me tornei infinito.

Posso dormir, enfim, só.

Boa noite

Aos infinitos que amam sem cessar sonhos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

O nascimento

Sentados, à beira do rio, ele, vagarosamente, estende sua mão ao encontro dos dedos dela. Ela, timidamente, retira o jeito e parece refutar toda e qualquer chance de relacionamento. Ele, então, volta a tentá-la. A fita por alguns segundos; almeja enxergar seus olhos, a verdade escondida por detrás daquela face linda, de traços prósperos. Logo, a pela facial dela, lisa e macia como o aroma praiano, deixa escapar um olhar afetuoso. Ele aproxima os lábios da boca preterida, e ela vira o rosto. Ele balbucia a pergunta:

- O que eu faço quando... bem, quando... Os teus olhos dizem sim e os teus lábios dizem não?

Ela espera o sabor do vento à beira do rio guiar o tom da conversa, e responde:

- Acho que você deve apenas seguir seu instinto...

Ele agora a vê com os lábios semi-derretidos, com olhar sério, profundo. Tudo havia mudado. Inclusive a pergunta:

- E... o que faço quando os teus lábios dizem sim e... Os teus olhos dizem não?

Agora eles estão a poucos centímetros do beijo...

- Bom... Neste caso, você deve apenas me amar.

Que não acontece.

Eles se tornam proximamente distantes. Ambos fitam a água suja do rio. Como se o cenário externo ajudasse a direcionar perguntas e respostas. Como se somente ele perguntasse. Como se somente ela respondesse...

- E como nasce o amor?

- Ele nasce da mesma forma que termina.

- E como termina um amor?

- Da mesma forma que começa.

- Então... O amor...

- O amor é...

- O amor é isso.

- O amor é isso.

- O amor não requer perguntas?

- E tampouco respostas...

Eles se miram. Ele volta a indagar:

- Por que estamos aqui?

- O amor precisa da solidão para nascer...

- E de encontros para acontecer.

O Beijo acontece. Eles se abraçam. O vento sopra mais forte. O clima traz um ar gelado... Ambos se arrepiam até afastarem os lábios. A consciência desperta:

- E como será que nasceu Deus?

Feliz Natal

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sexo neoliberal

Morder, molestar, beliscar a pele; sussurrar ao pé do ouvido; gritar, gemer, revirar os olhos; fechar pálpebras, abrir pálpebras, mascarar-se com expressões de prazer; deixar a boca aberta, sentir os lábios (sejam quais forem) sendo sugados pela língua; apanhar, bater, suspirar, arrepiar-se e gozar. O sexo proporciona, na criatura humana, um turbilhão de sentidos, sensações, palpitações. No ato, a mente pode voar, ou não. Mas quando voa... Tende a se libertar de todas as convenções sociais; o sujeito se rende à essência de animal. No lugar dos uivos (sinceros), palavrões, ou palavras doces. O ritmo, a freqüência, a dose quase que homeopática do ritual animalesco segue a ordem da natureza de cada homem, de cada mulher.

Não é difícil imaginar atos primitivos como certa espécie de fuga. Afinal, nós, sacerdotes da sociedade da indústria, assumimos, em inúmeras ocasiões da vida, um valor venal. Tornamo-nos produtos para outros produtos. São embalagens distintas, porém encapsulam a mesma sacola, o mesmo cesto. Então, ao enxergamos quatro paredes, nos revelamos semi-completos. A matemática é simples: No cotidiano, criamo-nos mediante as situações impostas. Portanto, nos revelamos a título personal o equivalente a 1/3. No sexo, na intimidade, ou em qualquer outro momento que nos julgamos à vontade, mostramo-nos em 2/3. O olhar observador, embora apaixonante, sedutor, excitante, amigável, não permitirá que sejamos 3/3 do que somos, a não ser que estejamos sozinhos, entre as iguais quatro paredes.

Penso que o sexo, ao passo que ritualiza emoções, signos e linguagens, nos confunde para a nossa liberdade conceitual. Quando há sexo desprendido, ou seja, casual, aceitamos a verdade de raiz humana, mas preferimos acreditar que não somos assim. Preferimos crer nas nossas capacidades intelectuais, nas nossas habilidades econômicas, industriais, sociais. Por ora, preferimos alimentar o ego por saber do quão longe podemos ir construindo valores e abrindo o peito para a consciência personalizada.

O sexo é a nossa única arma, é o nosso conflito interno. O hedonismo da carne, quiçá, seja a nossa chave de reflexão. O que somos e (por) para quê (quem) fazemos? Avaliar o sexo como possibilidade de reprodução é superficial. Nossos sensores naturais não estão entregues ao mero acaso. Nossos sensores existem para nos dar vida.

Para os intelectuais da casa, peço que não vejam o presente texto como fomento a banalização da casca, do sabor multisensorial da pele. E sim como uma alternativa que prova a nossa potencialidade, a nossa pobreza e riqueza de espírito.

O sexo já está por demais banalizado. Está, praticamente, livre de valores e posturas pré-fabricadas. Vê-lo apenas como pornográfico e erótico é refutar toda a poesia que a união dos corpos tem o desejo de proporcionar. O que ocorre é que, em alguns versos, em algumas estrofes, os adjetivos se intimidam... Deixam-se devorar pela impulsão. Logo, são apenas carnes. Logo, há a necessidade de um espelho. Logo, o sexo neoliberal se torna passivo e não ativo. É refén da sua própria arma. É inalado pela síndrome de Estocolmo carnal.

A semântica concluinte pregada é direta: se existe sêmen que jorram de pênis e atingem órgãos da virilha à cabeça, existe, em cada gota desta conduta, o nascimento de um pingo de reflexão do homem. Ele (o pingo branco, se saudável) pode ser desperdiçado, espalhado pela língua e pelo corpo, mas se aproveitado semioticamente, nos libertará para a nossa realidade filosófica.

Uma vez libertados, aceitamos nossa ignorância pela porta principal, e abrimos a mente ao próximo passo da evolução humana.

domingo, 29 de agosto de 2010

Queijo parmesão

Ela estava radiante, como sempre. Soltava aromas pelos olhos. Naquela humilde ocasião, a mesa de jantar era o seu palco. Ela corta o queijo. Concentra-se na faca. Corta novamente o queijo. Atira a fatia mirando a minha boca. Atira. Atira. Atira. Mas, desta vez, era a faca que voava na minha pele facial.

Eu desviei.

Ela, a loura artista do jantar, se joga para cima de mim. Me ganha. Me têm desnudo, com sabor de queijo parmesão nos lábios avermelhados. Sua língua era gulosa e devassa.

Eu era o seu crime.

Eu era a sua janta.

A partida termina.

Eu, de corpo trêmulo e fraco, me rendo à fome. Ela vai embora sem olhar para trás, nem mesmo um balançar de ombros. Nada.

Por fim, reparo no meu abdômen furado. Havia sangue com gosto de queijo no chão. Eu desejava aquela mulher. Era um morto que almejava a loura do queijo parmesão.

Sangrava,

feliz.

sábado, 28 de agosto de 2010

Era uma vez a felicidade e o amor...

"A felicidade me bate à porta. Eu espio, e deixo o vento levá-la embora."

Felicidade boa entra pela janela do banheiro, passa pelo filtro do chuveiro, do vaso e da pia, e só depois ganha forma na casa. A felicidade, então, senta no sofá, liga a televisão e assiste Jô Soares. Sim, é madrugada. A felicidade sente sono mas não dorme. Felicidade boa jamais se deleita em sonhos, ela deve ser real, enigmática e momentânea. A felicidade, agora, caminha pela escuridão da residência, dá algumas voltas na cozinha, se apega a um copo de uísque e finge sentir prazer. E na mentira impessoal deste prazer, ela ouve a campainha soar. Deve ser o amor. A felicidade abre a porta e se depera com o amor trajado de vermelho, um enorme decote entregava, finalmente, significado aos interesses da matéria. A felicidade toca os lábios do amor. O prazer reacende entre o quadril da felicidade e do amor. Mas, desta vez, não se tratava de mentiras. Ao menos não pareciam mentiras. Era uma cena clássica e bela. A felicidade se deixando enaltecer pelo amor. E este a engole de cabo à rabo. A felicidade não encontra ar para a sobreviver. A felicidade é devorada pelo amor até perder total força e esperança. O prazer, aos poucos, se esvaia. O amor fica só e se pergunta: o que aconteceu? O amor busca respostas nos livros de filosofia, sociologia, antropologia, psicologia e tudo mais com gia. Não encontra nada. O amor entra em desespero, procura compreender a vitalidade de seu sentimento. O motivo de sua existência. Ora, o amor enxerga a ausência de motivos.

Depois de muito tempo, o amor se deu conta de que ele era resultado da felicidade somada ao prazer. Era mesmo? Era projetável. Estritamente projetável. E descobriu, ainda, que sua irmã de sangue era a tristeza.

E seu antídoto era a repetição de toda esta fórmula.