Coluna do Luan

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Eis o e-mail que recebo:

Olá, Luan! Meu nome é Diogo Fuentes, sou estudante de medicina da Ufrgs de Porto Alegre. Quero lhe dizer que sou fã das tuas crônicas e queria te pedir um favor. Abaixo segue um texto, mais precisamente uma carta que mandei para minha ex-namorada. Estava de cabeça quente no dia que a escrevi, mas passado certo tempo resolvi ler com mais calma e acabei percebendo que essa carta reflete muito a situação corriqueira que nosso país vem vivendo. Peço-lhe que deixe o meu preconceito de lado referente aos estilos de vestimentas, levando em consideração, como afirmei anteriormente, que estava de cabeça quente no dia que escrevi tal texto.

PS: Se publicar esse texto em um dos seus sites, por favor não revele meu e-mail.

Aguardo seu retorno!

Abração do fã Diogo Fuentes.



Carta de decepção amorosa:

“Cansei. Não vou mais perder meu tempo fazendo você enxergar o inevitável. Para falar a verdade não sei o que você viu naquele pobre coitado. Pois é isso mesmo, não existe outra definição para aquela criatura senão pobre coitado. Com aquelas calças limpa-chão, largas, arrastando no meio da rua, o fundilho lá em baixo. Mas, não, você acha bonito. Você também deve achar bonita a camiseta dele, com o número três vezes maior do tamanho que ele deveria usar. Claro, não posso esquecer do boné virado para o lado. O linguajar também é importante. Gírias enfáticas como “mina” e “loco”, deve deixar a mulherada com orgasmos! Como é? Liberdade de expressão? Se for por isso vou começar a andar pelado na rua, vou exercer minha liberdade de expressão! Isso é ridículo! Esses garotos mal sabem falar o português e usam aquelas roupas americanizadas, de raper, jogador de basquete, skatista...e por aí vai. Ora, por favor! Tudo bem, eu sei que existe gosto para tudo, mas aquilo já não é mais gosto é falta de opção, e tu não estavas com falta de opção. Vós já vistes como eles caminham? Se embalançando pra lá e pra cá, se arrastando, parecem que estão cagados. E você me trocou por aquilo? Por Deus! Eles bebem cerveja, cachaça, pinga, tudo com um só nome: Trago. É essa vida que você quer? Depois não vai voltar correndo para min dizendo que cometeu o maior erro da sua vida. Esse garoto por quem tu me trocaste fuma como um dragão, e cigarro é para momentos de lazer, o que eles gostam é de maconha mesmo, eles querem ficar doidão “prás mina” acharem bonitinho. Aí é óbvio que a sociedade não evoluirá, eles não gostam de estudar, e não se interessam pelos problemas que o país venha a ter. Justamente porque eles acham que não é problema deles. O que eles se preocupam de verdade é com o dinheiro do pai, pra bancar roupas e a escola que reprovam várias vezes. Muitos deles nem tem os pais para os bancarem, muitos roubam. Mas agora é nisso que você viverá. Esqueça as aulas de espanhol que lhe dava com tanta paciência. Aulas de violão? Não lhe ensinarei mais nenhuma nota! Você não terá mais nada disso! Vai aprender a andar de skate ou jogar basquete. Não que isso não tenha futuro, mas deve saber escolher as pessoas certas para ensinar o que, de fato, sabem, e não que se rotulam. Você vai namorar com esse marginal, vai casar com ele, vai viver apanhando e ele vai te trair. Mesmo assim vocês não deixarão de ter filhos, e serão vários. Pobre é assim, tem bilhões de filhos e nunca consegue sustenta-los. Aí mandam para sinaleira arranjar um dinheirinho para janta. Esses filhos vão crescer e uma grande porcentagem deles vai ser a cópia viva do pai. Não vai se interessar por estudo, vai acabar roubando, indo para o tráfico, matando pessoas inocentes achando que está comandando uma revolução socialista. Provavelmente esse seu filho morrerá cedo, já que a vida no tráfico é curta, ou você mata ou morre. Um dia ele não vai conseguir mais matar. E você vai olhar para trás e se arrependerá profundamente. Eu já vou estar formado em medicina, fazendo mestrado em Londres, e tu lá com filhos marginais e o marido com seqüelas. Mas que saber? Tu mereces isso e muito mais! Se tu sentes atração por pessoas assim, é porque tu fazes parte do mesmo ciclo, e mulheres que se relacionam com pessoas desse nível são mulheres que não se dão o valor. E sabe do que mais? Não fico com mulheres que não se dão o valor, pois o valor é resultante do respeito e o amor a si próprio, enquanto você não tiver isso, nunca conseguirá enxergar tudo o que fiz por você. Adeus.”