Coluna do Luan

segunda-feira, 21 de abril de 2008

"Amor, não usa camisinha porque não quero ter um filho"

Se você achou a frase acima sem nexo, insana, ilógica, colidente, contraditória ou até mesmo disparatada, saiba que no mundo real ela se personifica em atos não verbais. O sujeito detesta usar camisinha, porém, não cogita a hipótese de que um dia poderá ser pai por “acidente”.

Neste fim de semana o instituto Datafolha revelou que a cada dez gestações, quatro não são planejadas. Mesmo com o surgimento da pílula anticoncepcional – isso há mais de cinqüenta anos – a gravidez indesejada vem crescendo gradativamente no país. A pesquisa ainda ressalta que este fenômeno atinge todas as classes sociais, e na sua maioria, um público jovem (adolescentes).

No bairro onde moro conheço três garotas que engravidaram sem precisar de muito esforço. Elas apenas seguiram seus instintos animais. Uma delas ainda me relatou que foi transar com o namorado sem camisinha porque o preservativo pertence à vida daqueles que não são fieis. Uma semana depois dessa declaração, fiquei sabendo que sua fidelidade daria fruto a uma criança que hoje tem cinco anos e vive em condições tão precárias quanto a mãe. São vários os casos, e as desculpas são análogas: “A camisinha estourou”, ou então: “o clima tava tão quente que acabou rolando sem proteção”. Mas aí você pensa, e a pílula do dia seguinte? Aquela de caráter totalmente emergencial? Ah, minha amiga, essa pílula não é 100% eficaz. E não adianta sair tomando inúmeros comprimidos. Existe uma dose certa para cada organismo. O ideal é que se procure um especialista e somente depois se encare o remédio da “purificação”.

Quando reflito sobre essa nossa juventude liberta para a vida sexual tento imaginar como era nos anos 60, 70, 80. Ou como seria o sexo na ditadura militar? Segundo Arnaldo Jabor, “o sexo pertencia a uma militância política”. Transava-se contra o regime socialista ou contra a ousadia comunista, não importa. O sexo sempre existiu. A questão é que chegamos ao ponto crucial de nossa sociedade: a bestificação. Exatamente, somos bestas. O nosso almejo pela liberação, pela autonomia infantil que hoje toma conta de boates, festas e eventos para todos os gostos, passou da chamada “diversão” para um reflexo preocupante. É ignorância achar que só você erra . Os erros coletivos podem causar a derrota de uma nação. Quer que eu apele para a história? Leia sobre a revolução mexicana ou francesa, e entenderá quando falo de erros coletivos. Meus amigos sociólogos insistem em dizer em que estamos em uma fase de transição, não discordo. Contudo, quais serão as conseqüências de nossa fase transnacional? Filhos não planejados mais drogas igual adrenalina?

Não quero aqui passar a imagem de preconceituoso ou pseudo-moralista, mas a verdade é que a nossa juventude se droga sim, a nossa juventude faz sexo, e as nossas crianças também geram crianças. É fato! Não estou inventado nada. Tudo que faço é observar o mundo ao meu redor, a comunidade pela qual mantenho meus relacionamentos. Procure olhar quem está ao seu lado, converse com essa pessoa e descobrirá um universo novo de preceitos, crenças e opiniões. Não adianta lutarmos contra nós mesmos. Cada indivíduo deve à sua consciência a justificativa de seus atos, sejam eles implícitos ou oratórios.

Para não me acusarem sob o argumento de que uso e abuso da generalidade, friso que por sermos indivíduos únicos (meio óbvio), somos diferentes (outra obviedade), por tanto, os critérios de estilo de vida são muitos (Isso é uma conseqüência). Nem vou citar sobre o que é normal. Para mim, a normalidade é a própria generalidade.
A seguir há uma parte da entrevista que fiz com Hulana Ribeiro (foto a baixo), 18 anos, natural de Macapá, Amapá. Hulana recentemente descobriu que será mãe indesejadamente. Propus a ela uma pequena entrevista a ser publicada em meu blog e ela topou. O que você lerá a seguir é apenas um mero recorte do real.


COLUNA DO LUAN – Quem é o pai do seu filho?
HULANA - Um garoto que eu estava ficando
COLUNA DO LUAN – E como ele reagiu ao saber da notícia?
HULANA – Não gostou muito, né.
COLUNA DO LUAN – Ele vai assumir o filho?
HULANA – Vai tem que assumir, se não coloco ele na jsutiça, não fiz o filho sozinha.
COLUNADO LUAN – O que aconteceu para que tu engravidasse? Vocês não usaram camisinha?
HULANA – Ele usou, mas estourou. E a pílula não fez efeito.
COLUNA DO LUAN – A pílula do dia seguinte?
HULANA – Isso.
COLUNA DO LUAN – Tu tens uma vida sexualmente ativa?
HULANA – Não entendi.
COLUNA DO LUAN – Faz sexo com freqüência?
HULANA – Sim.
COLUNA DO LUAN – E tu não tomava anticoncepcional?
HULANA – Não.
COLUNA DO LUAN – Por quê?
HULANA – Nunca me interessei.
COLUNA DO LUAN – Mas então tu sabia do risco de engravidar?
HULANA – É, sabia.
COLUNA DO LUAN – O que muda na sua vida agora?
HULANA – Nada.
COLUNA DO LUAN – O fato de tu teres um filho não mudará nada em sua vida?
HULANA – Não.
COLUNA DO LUAN – Aos 18 anos tu achas que está pronta para ser mãe?
HULANA – Estou.
COLUNA DO LUAN – Por quê?
HULANA – Porque estou.
COLUNA DO LUAN – O fato de sua gravidez ter sido indesejada não pesa a consciência?
HULANA – Não, não pesa.
COLUNA DO LUAN – Que lição tu pode tirar desse episódio?
HULANA – Ter mais responsabilidade.

Hulana Ribeiro respondeu as perguntas da forma mais lacônica possível. Entretanto, são as palavras lacônicas que tentam justificar a vida que ela agora irá gerar. Ser mãe parece não incomodar Hulana. Aliás, parece não incomodar mais ninguém.

9 comentários:

Flávia disse...

Luan, eu fiz o meu estágio obrigatório de medicina comunitária em uma dessas unidades de projeto saúde da família. Nós recebiamos caixas e caizas de preservativos pra serem distribuídos para a comunidade. Advinha quantas pessoas apareciam pra buscar? Pois é, pasme. De cada 10 pessoas, apenas uma usava camisinha regularmente. Enquanto isso o número de mulheres grávidas - algumas recém-entradas na adolescência - não parava de crescer, como se filho não fosse algo pra vida inteira.

Adorei o novo layout do blog! Funcional, bem legal. E sobre o Jeff Buckley, não deixe de pesquisar. O som dele é único. Você vai gostar.

Beijo, beijo, beijo.

Carmim disse...

Me preocupa muito essa nova realidade de ver crianças gerar e criar outras crianças.
Em pleno século XXI é realmente de pasmar que as adolescentes não se preocupem com as consequências das suas aventuras amorosas. Não vamos tapar os olhos e pensar que todo o mundo vai parar de fazer sexo, o que é necessário é uma sensibilização maior e mais eficaz para a necessidade do uso de meios contraceptivos.
Preservativo não serve apenas para impedir uma gravidez indesejada, serve também para nos proteger de todas as DST que existem e que são também uma realidade preocupante nas nossas sociedades.
Mas disse tudo quando falou em "bestificação"... é isso aí, as pessoas estão cada vez mais bestas a todos os níveis!

Um beijo!
Ah, e como é feriado aí, um óptimo feriado. =)


www.omeugirassol.blogspot.com
www.vivovermelho.blogspot.com

Katarine Rosalem disse...

Engraçado, como ler coisas óbivias como essa nos faz refletir e nos sentir tão pertencentes a tudo isso.
Mas, pior que esse sentimento, é ainda se admirar ao ver uma jovem de 18 anos dizer que ter um filho não vai mudar NADA na vida dela. Afinal, se existem tantas jovens, adolescentes, CRIANÇAS, tendo filhos, acho que todas elas só podem imaginar que ter um bebê ainda é brincar de boneca.
Será culpa da educação (ou da falta de)? Dos costumes? Da cultura?
Pois sim, pode ser culpa nossa mesmo.

*Legal o novo lay!!! E valeu pela visita! Ah sim, polícia nos faz refletir bastante! E é claro, é uma inesgotável fonte de inspiração!

Bjos!!

Thalita Lucas disse...

O problema é q no momento da gravides é tudo mto lindo, e depois? NO primeiro momento elas acham q vai ser como brincar de boneca, mas só depois do nascimento que percebem que não é tão fácil. Falo isso pq trabalhei em um centro de saúde, e me deparei mto com isso. As meninas, chegavam lá falando q estavam gravidas e achavam a coisa mais linda, realmente ter um filho é algo bonito, mas acredito que no momento certo. Agora crianças cuidando de crianças, por falta de responsabilidade, pq não adianta falar que é por falta de instrução, pois hj em dia o q mais falamos é sobre gravidez indesejada e dsts. Gostei do seu blog!
Bjos e obrigada pela visita e volte sempre!

Anônimo disse...

Luan, antes que eu me esqueça, porque ando totalmente amnética, bom saber que vc escreve pra teatro! vc bem que poderia me dar algumas idéias ou escrever uma peça pra mim, que tal???
iria ficar muito agradecida pois vc escreve muito bem seus textos em blog, acredito q para o teatro não será nada diferente.

qto ao seu post, achei interessantíssima sua abordagem para um assunto que se tornou banal tanto para autoridades qto para as famílias.Pasmem! Até mesmo as famílias de hoje estão sendo acomodativas em relação a gravidez indesejada.
Sou professora primária e vejo como sofrem os pequenos...
sem eira nem beira e com mães totalmente inesperientes e sem paciência.
O tanto faz tornou-se comum...
Como se um filho fosse o tanto faz...

triste realidade,,,,

beijo. Gisele

Thaís SBA disse...

Oi Luan!!! Poxa adorei seu comentário no meu texto lá no chá de tharantulas, fiquei super lisongeada!

^^

Mas vamos aos comentários do SEU texto! Realmente como vc disse, ser mãe parece não incomodar a mais ninguém, mas pelo menos até o bebê estar dentro da barriga, creio eu! Acredito que com o passar do tempo a ficha deve ir caindo aos poucos quando a pessoa realmente perceber o tanto que exige uma criança, ou quando perceber que parte da vida está perdida por conta de uma gravidez precoce, ou não...vai saber.
A questão é que hoje em dia as pessoas são bem informadas, acredito que só engravida realmente quem quer, quem pede pra isso acontecer. Tenho amigas que com 18 anos já passaram pela experiência de ser mãe, e hoje com 23 continuam cometendo o mesmo ato displicente de não se precaver, sujeitas não apenas à gravidez mas também às doenças.

Mas o que podemos fazer? As informações estão aí, cabe cada um saber utilizá-las da melhor forma possível...o que infelizmente não acontece.

Adorei. Bom ver que existem pessoas que ainda tocam em assuntos como este e se revoltam, ao contrário de muitas outras que estão anestesiadas!!!


Beijo grande ^^

Kari disse...

Fico um tempo sem vir aqui, e, quando apareço, encontro algo assim, tão sério...

A umas semanas eu estava assistindo a um dos programas policiais e sensacionalistas que tem na TV pernambucana. O fato que vi, me deixou chocada, e me perguntando onde vamos parar...

Estavam na delegacia duas jovens de 14 anos e 2 rapazes maiores de idade, um deles casado. Os quatro foram encontrados num carro, fazendo sexo (cada rapaz com uma moça, afinal, isso não é tão óbvio hoje, né?). Enquanto o reporter perguntava a uma das meninas se havia sido estupro, ela afirmou que não. "E eu faço isso sempre, já tenho até um filho de 4 anos". Depois dessa afirmação, não consegui prestar atenção em mais nada. Fiz as contas, pois achei que estava errada, mas, se com 14 anos ela tinha um filho de 4, ela teve o filho aos 10 anos. E eu me pergunto, "como assim?", aos 10 anos eu era uma criança e vivia como tal, enquanto isso, outras "crianças" estavam fazendo sexo...

E, eu nem penso na vida dessas "novas mães", pois a vida pra elas continua sendo "festas e baladas". Penso apenas na vida dos filhos, que não tiveram culpa da irresponsabilidade e não pediram pra nascer, não é mesmo?

Saudades de vir aqui... Acho que por isso acabei me empolgando no assunto...

Beijão pra tu

Alessandra Castro disse...

É chocante ver como as coisas hj em dia estão mesmo descontroladas. Por isso q sou muito a favor do aborto, acho q filho deve ser presente e naum castigo por uma noite inrresponsavel.

Anônimo disse...

Eh lamentavel ver uma situaçao como essa. Uma vez que acredito que orinetaçao sexual começa em casa...mas infelismente nem todas as familias conseuem romper essas barreiras. Cresci ouvindo minha mae me falar de sexo, de gravidez indesejada, AIDS...Acredito muito nesse tipo de dialogo...A Educaçao ainda eh um agente modificador e direciona comportamento....

Bjo!!!