Coluna do Luan

sábado, 13 de outubro de 2007

O começo do fim


Quando você está de férias o que não falta é moléstia. Ou você quer ler todos os livros de uma vez só, assistir todos os filmes em uma única noite, ou ainda ir ao supermercado com intuito de comprar CDs sertanejos. A verdade era que eu estava de férias só no que diz respeito a minha mente. O corpo estava trabalhando. Tive aulas como todo e qualquer estudante universitário, ouvi opiniões ridículas, suportei as piadas de mal gosto de alguns colegas e não repliquei para ninguém. Superei-me. Apenas observava o mundo de como ele é. E não a vida, como escrevia Nelson Rodrigues. É interessante avaliar o funcionamento do mundo, e das pessoas então...nem se fala. Fico impressionado de como há seres incongruentes. Talvez prepotente seja a palavra mais adequada. No entanto, não quero entrar no mérito de ideologias. Apenas continuo na minha lenta caminhada de tentar entender o planeta.

Quando entro no carro, por exemplo, para me locomover em distâncias relativamente longas, não hesito em olhar para o céu e admirar a beleza tão ignorada no dia-dia. Absortamente me perco nas nuvens que até pouco tempo atrás eu achava que eram de algodão. Até pouco tempo atrás eu acreditava que o Papai Noel entregava milhões de presentes em poucas horas com seu trenó voador. Já até acreditei no tal coelhinho da páscoa. Todas essas histórias refletem na vida de um cidadão movido a capital. Por vezes me machuco tão profundamente que não me dou conta de que a culpa não pertence somente a mim. A arrogância é um sentimento que corrói aos poucos a lástima de qualquer humano com boas intenções. Veja a nossa biosfera: Ela era linda, saudável, colorida. Olhe para nós: éramos mais convictos, certeiros, saudáveis e felizes. Já relatei o tamanho desespero que sinto quando aspiro gás carbônico em excesso. Meu amigo Jefferson diz repetidamente que a sociedade convive de olhos vendados. Ele tem razão. O mundo é uma venda enorme manchada de sangue. Não quero aqui contemplar o papel de cristo. Mas pegue o seu exemplo, pondere-se. Quando foi a última vez que você realizou um ato verdadeiramente bondoso? Passar cola não conta. Dar apoio moral no término do namoro de uma amiga também não. Nem cogite a hipótese de emprestar dinheiro. O que mais me deixa eloqüente é fato de sabermos que estamos nos matando gradativamente e mesmo assim não adotamos outra postura.

Há alguns meses eu convidei um estranho para almoçar comigo. Eu não o conhecia, assim como ele não fazia idéia de quem eu era. A questão é que ele estava precisando de dois reais para almoçar, e eu de companhia. Ambos nos ajudamos. Ele ouviu os meus problemas e eu ouvi os dele. Quando relatei esse episódio há alguns colegas todos disseram a mesma frase: “Luan, tu és louco!”. Não havia compreendido. Eles alegaram que eu poderia ter sido assaltado, seqüestrado etc. Até poderia, se eu simplesmente tivesse ignorado o estranho como a grande maioria faz. Depositei confiança nele, e isso se tornou recíproco. Minha intenção não era ajudá-lo para vir aqui e escrever “eu sou uma pessoa boa!”, apenas queria sair da rotina. Sair da igualdade de conceitos. Descobri que o mundo é o que é porque somos todos ignorantes. Aliás, já escrevi isso em outro texto.

Mas, de fato, estamos muito ocupados com baladas, beijo na boca, sexo negligenciado, dinheiro, carro novo, roupas de marca, materialismo total. Não estou pregando que a sociedade deve renunciar o seu padrão de vida. Mas deve estar atenta para os valores invertidos. Cuidado com a ganância. As pessoas mais gananciosas pensam que são “espiritualizadas”. Não tenho saco para este tipo de argumento. Se fosse o Jéferson já diria: “Estão todos vendados”. E eu não me excluo dessa parcela. Até porque escrevo este texto na esperança de que alguém me entenda, e por que não, me socorra de um labirinto cuja saída está cada vez mais distante pela procura de uma felicidade temporária.

Caros amigos-leitores, por mais que não pareça, eu voltei com uma imensa felicidade temporária depois de ler os comentários. Obrigado pela paciência. Voltei para manter esta inteiração. Confesso que eu não agüentava mais tal abstinência. É importante não esquecermos de que todo começo tem seu fim, até o espaço tem. Basta saber enxergar.

13 comentários:

Simone Ormelezzi Chersone disse...

Ainda bem Luan que tu voltastes...
Espero que seja o começo do fim de muitas coisas...

O fim do pessimismo, do materialismo, do assistencialismo hipócrita ( passar cola, e ser ombro amigo conta nesse item huah), da troca banalizada de fluídos e não de sentimentos...

Enfim, eu também andei um pouco ausente do blog, por quê sinto que estou ausente dentro de mim...

Mas, fico já feliz por saber que estás de volta, não se assuste Luan com a escuridão, deixe que a luz do teu coração ilumina-te até o próximo degrau, mesmo que ele seje um almoço com um desconhecido...(mal sabem as pessoas o valor deste ato).

Amei tudo.
Bjs

Michele Saraiva Carilo disse...

Oi Luan,
Obrigada pela batida de botas lá no blog.
Passei por aqui para dar uma olhada no teu e vi que temos uma coisa em comum: voltamos a acreditar na escrita recentemente.
Bem, posso dizer que no teu caso, sinto-me agradecida por poder acessar teus textos...ainda bem que voltaste!

Obrigada pela visita, bata as botas sempre que sentir vontade

Kari disse...

Confesso que eu já tava com saudade de "te ler", sabia? Gosto do que escreves e do teu ponto de vista.

Percebe-se que as férias te fizeram bem, né?

Ah, e tenho que concordar com Jefferson que estão todos vendados. Ás vezes tenho uma vontade enorme de gritar: EIII, NUM TÁ VENDO O QUE TÁ ACONTECENDO COM O MUNDO NÃO É?

E sim, a ganância tem uma parcela enorme de culpa nesse caos que vivemos Eu tenho um exemplo bem próximo que lembro sempre que ouço falar em ganância. Era uma pessoa muito próxima a mim e muito gananciosa. Passou a vida juntando coisas, dinheiro, bens e nunca fez nada por ninguém, nem por ela mesma. Quando ela morreu, olhei bem o seu caixão e percebi que só cabia ela lá dentro, mais nada. nada do que ela tanto juntou foi com ela. E isso me faz ter um certo "abuso" disso, sabe?

Num sei se me perdi no assunto. Desculpa. Mas é bom te ter de volta, viu?

Beijão,
Kari

Anne disse...

Obaaaaaaaa, que bom ver vc devolta, Luan!!! Demorou, heim?
Bom, respondendo sua curiosidade, a tatuagem é nas costas, começa no ombro direito e termina com uma colocada no "cofrinho". São orquídeas, lindas, eu amo de paixão!
Quanto ao que vc falou concordo com tudo. No meu trabalho, vejo pessoas cada dia mais infelizes...percebo que elas não tem objetivos, planos, ideais para a vida delas. Nada que envolva algo que não seja dinheiro. Algumas nem esse tipo de meta tem. É claro que dinheiro é importante e que todos no mundo gostam de ter uma vida confortável, mas não pode ser a única coisa. Adoro ajudar pessoas, e não é pelo dinheiro que recebo (apesar de precisar dele pra tocar a vida), mas pelo brilho que vejo voltando para as almas e corações das pessoas que conseguem ajudar a si mesmas, encontrando mtos valores já esquecidos...
Bom demais ver vc devolta!!!
Bjos e uma ótima semana!!!

Marcos Seiter disse...

Irmão, que bom voltaste.

Textos para ler e sentir.

Adoro!

Até mais!

Marcos Ster

Ps:Ainda não comentei o texto, mas volto pra fazer.

Mila Cardozo disse...

Que bom que voltou!!! E tua reflexão... me fez refletir... ai ai... to reflexiva mesmo... hauahauahua
Beijos e bom ter vc de volta!!!

Carmim disse...

Tentar entender o planeta pode revelar-se um desafio que leva à loucura...

Beijo.

Ju. disse...

Uau.
Quanto mais eu lia o que tu escreveu, mais eu gostei, por muitos motivos... um deles é que eu me identifiquei. Tu escreve muitíssimo bem, e também porque é gaúcho, como eu! Sempre é bom ler algo de um "colega da terrinha".
Posso fazer inúmeros comentários sobre teu post... gostaria de fazer muitos, mas vou me limitar.
Falando no geral, acho que tu pensa parecido comigo, a rotina é uma grande porcaria, não devemos fazer as coisas como manda o figurino, variar é bom, aliás, fazer coisas das mais inusitadas é bom, o ruim é quando somos impedidos por alguém ou por algo.
As coisas simples que ninguém faz, só tu, também são especiais, e o melhor: sem pensar na opinião alheia. Tudo bem que nem sempre isso é possível, mas muitas vezes é necessário.
"Quando foi a última vez que você realizou um ato verdadeiramente bondoso?"
Hoje cedo, entreguei junto com uns amigos, 50 brinquedos para crianças da APAE.
Não fizemos isso por nós mesmos, fizemos isso porque temos aqui uma certa entidade filantrópica associada ao rotary, mas ´´e bom ajudar, é ótimo.
Então, tu não é o único...
vou te linkar, gostei muito de tuas palavras, muito mesmo!
beijos.

Marcos Seiter disse...

Irmão,
Voltei e li este belíssimo texto.
Adorei!

Coisas boas e ruins nos rodeiam. O chato é de ver a pobre inteligência das pessoas em suas atitudes. Usam o cérebro para ler revistas cara e ver o futebol no finde. Muitos não procuram um livro para ler.
-Mas, Marcos, tu estás pedindo de mais!
-Esqueceste que a população brasileira lê no máximo doi livros por ano. Enquanto o gringo e o europeu lêem disparadamente números maiores que este que falei.

É irmão, neste planeta com tanta ignorância e maus pensamentos, fazem com que haja guerra. Esquecem da palavra "humildade" e se jogam para os lados, com ares de bonzinhos. "Eu fiz minha parte! Ajudei o fulano". Não passa de interesse isso.

Bah,Luan, por hora era isso.

Abs e boa semana!

Marcos Ster

Lais Camargo disse...

Ah...fiquei frustrada agora! vim comentar a musica parou de tocar!!
(lê-se: amei a música, casou perfeitamente com o texto)

Voltara com tamanha garra e disposição ein amigo! As palavras se agarraram a você e vc deu asas a elas, como deve ser.
Que legal que vc também tirou férias de si mesmo,morreu e nasceu em vc, observou o mundo a redor.
como dizia freud "nós poderíamos ser melhores se não quiséssemos ser tão bons''. Talvez sê bom consigo reflita no bem humanitário.

Ainda dói lembrar da noite em que eu vi papai pondo os presentes escondido na árvore...
-eu tinha conseguido finalmente ficar acordada para esperar o no...mas não era...ah.
Foi a primeira desmitificação de muitasss...Hoje descobri até que a justiça não existe num mundo tão cheio de leis. Descubro tantas coisas todos os dias...só não as entendo.

Nobre gesto. Como próxima oficina de ''entendendo as relações interpessoais externas'' sugiro que tire o dia para sentar no banco de uma praça movimentada. Mentalize máquinas. Abra os olhos. Compare. Só saia da praça na hora em que encontrar alguém que parou pra tomar um suco distraído,ou apreciar o céu. Levei quase 9 horas. Boa sorte.

Espero que os valores retomem seus devidos lugares a medida em que atitudes como a sua alcancem o dia-a-dia das pessoas, e as lembre que para uma coisa não a fim: o sentir, esse é eterno. até quando não tiver mais nada, o vácuo vai sentir saudades de ser chamado de vácuo.

sopros de luz!
bem vindo novamente!
beijos

Kamilla Barcelos disse...

Tentar entender o planeta, quase um martírio, mas vale a pena!
Adorei: "Passar cola não conta!" ahauhau
Essas férias foram boas p/ vc, voltou escrevendo melhor q nunca!!

Jefferson Cristian Machado; disse...

Uma parada para avaliações e reavaliações sempre é bem vinda, pois, só assim podemos melhorar nossa capacidade de compreenção do todo.

Agradeço por salientar-me em tua volta.

Abraço.

@lucasrohan disse...

tema pra ti lá no meu blog... entra e faz..hehe.. abçs