Coluna do Luan

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Personagens


De onde escrevo o calor é completamente desconfortável. Sinto algumas gotas de suor escorrer pelo rosto. No espaço acima de mim, as pás do ventilador não dão conta de distribuir a temperatura abaixo do que se espera de um objeto como esse. Então, em meio ao assassinato planetário, cujas conseqüências se ramificam por todo meu corpo – desde a mensagem que permito passar com a vestimenta curta até as condições térmicas do meu organismo – decido voltar a escrever.

Entretanto, não é um momento propício a expressar pensamentos por meio da escrita. Ao menos, quando o calor é escaldante, eu não consigo assentar ordenadamente alguma epístola que anseio sentir ao transmiti-la. Mesmo assim aceito o desafio proposto por mim. Estou trancado em casa há quase 72 horas; lá fora vejo um mundo, apesar de quente, colorido. Apesar de colorido, imundo.

Amanhã dou início a uma nova etapa de minha vida acadêmica, profissional e colorida. É um passo importante que descodifica toda raiz madura e idealista quando se possui 21 anos transcorridos. O martírio do oxigênio sujo dá lugar à nostalgia. O que iremos encarar pela frente? A vida é tão breve, tão misteriosa e tão desbravadora.

Às vezes, ao notar o compasso do cotidiano e expressões faciais levemente interpretadas por atores que me cercam, peco no depósito excessivo de confiança cedido a seres da mesma essência que eu. Eu não aprendo a ser maledicente, o mundo é que me dá suporte para a maledicência; e quando falo em ‘mundo’, me refiro a tudo que o compõe. Toda essa história barata vendida por nós, por deuses e pela ciência. Pregamos-nos para o (in)falível quando não temos respostas na ponta da língua.

De qualquer maneira, continuarei depositando confiança aos mesmos seres. Porque acredito na nossa qualidade de pensamento. Porque ainda creio em nossas capacidades cognitivas enquanto sofremos com as nossas habilitações sociais e naturais. Pois bem, a consciência está aí, e bate à porta de cada um que manifesta desprendimento do comum, do usual, ao que os olhos estão acostumados a enxergar. Esta é apenas uma opinião parcial de quem sente tradicional desespero existencialista, de quem sente muito, mas muito calor. De quem irá sair de casa neste instante para respirar a finitude da nossa poluição.

A nova etapa profissional e acadêmica me cairá bem. Preciso conhecer sabores diferentes dos que já provei. Seja em qualquer meio que me insiro. Só assim poderei provar, ainda que prematuramente, o valor da confiança. Eu não sou maledicente, sou muito mole para isso. Sou repleto de sentimentos e (ir)racionalidades. Eu deveria carregar muralhas dentro de mim. Mas as forças renováveis que transporto de um lado para outro despeitam sonhos e mais sonhos. Muitos eu já alcancei. É uma sensação única sentir o alcance deste sonho. É ficção – partindo do princípio. A realidade é crua e arde em falso. O jeito é reinventar, renovar. Seja uma vida inexplicada, uma confiança quebrada ou um calor desconcertante;

Necessitamos nos reinventar a cada segundo, ou nos renderemos a descompaixões eternas de nossas mentes que jamais perdoaram realistas amargos. É por isso que existe a ficção. E é por isso que temos os nossos próprios personagens.

Um comentário:

Kari disse...

Eu acho que, pra viver, de certa forma, acabamos nos tornando personagens...

E eita! Que coisa boa essa nova etapa. Que dê tudo certo e que te ajude muito.

Ah! Eu começei a estagiar na rádio... Sabe que estou amando? Sempre achei que não queria, mas agora que começei não quero parar!!!!


Beijão pra tu