Coluna do Luan

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O semblante

Caminhando pelas ruas e, depois, rodando de ônibus, cheguei a seguinte conclusão: o inferno é aqui. Sim, aqui, ali, acolá. Pois bem. Esqueça tudo que você aprendeu sobre religião, esqueça aquelas velhas histórias para boi dormir contadas no ensino “infanto-fundamental”, sobre a perspectiva de “um Deus criador”. Eu sei que para você leitor crente, de direita religiosa, é difícil delir esse enredo sobre Cristo, cruz, Espírito Santo, Natal, Páscoa, Adão, Eva... A tal cobra. Mas vejamos o lado humano da coisa: o semblante. Essa idéia de que Jesus voltará é teologicamente utópica. Voltar para quê? Para dizer ao Lula que o Fome Zero é um plano magistral? “Olha Lula, vós tirásseis a fome do próximo”. E então aparece o capeta: “Tirásseis a fome com o que sobrais da roubalheira”. E Jesus objeta: “Lula, vós désseis melhorias ao SUS, criásseis o CSS, salvásseis a vida de muitos irmãos”; e o capeta retruca: “A criação do SUS foi jogada política, atíngi uma classe da população e não resolve nada, e o CSS é mais uma forma de arrecadação de impostos com falso cunho social”. A discussão política-econômica entre Jesus e (C)apeta se estenderia infinitamente, até quando não houvesse mais organismos humanos e o mundo fosse dominado pelas baratas atômicas. Metaforicamente, a vida foi criada assim. Em um bate-barba sem persuasão.

Evoluímos de tal modo que hoje nos deparamos com a nossa própria ignorância fazendo malabarismos em sinaleiras e pedindo um trocado para comprar pó. Meu antigo amigo britânico Charles Darwin fora franco desde o início: “O homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva”. Nossas marcas estão espalhadas por todos os lados. Em ruas, motéis, escolas, boates, universidades, empresas, supermercados, shoppings... A marca física e supostamente racional revela a nossa ascendência. O semblante de nossa esfera social é uma só: o caos. A todo instante sofremos com distrações. Eleições, um novo plano de governo, uma moderna tecnologia, nos prendemos ao que temos ao nosso redor, é o pegável, de fácil manejo. Lemos pilhas de livros, estudamos teorias, e esquecemos de ler nossas almas e estudar a nós mesmos. Aí surge a hipocrisia de uma sociedade sem nível algum para julgar o que é certo, o que é errado. O sujeito que pede justiça, protestando defronte ao prédio onde Isabela Nardoni foi assassinada, é o mesmo que joga lixo no chão, que ultrapassa limite de velocidade, que não cede lugar a um idoso no transporte coletivo, que bate no seu filho para educar. E quer cobrar justiça para quê? Se for fazer parte do sistema, que ao menos seja coerente.

Tenho abusado muito de mim nos últimos dias, tenho refletido sobre meu papel incandescente na sociedade. Percebi que somos todos formiguinhas. Os dias tornam-se rotina, o fim de semana uma salvação, o salário uma glória divina mensal, e os gastos uma distração consumista neoliberal. Compramos carros, roupas, bebidas, objetos tecnológicos para quê? Estamos em um mar vermelho de ideologias. Cada cidadão tem a sua. E todos têm a razão. Esse é o problema, não há Deus para o saber popular, ou há até mais de um. O enigma do mundo somos nós humanos. O dia que aprendermos a olhar para o nosso próprio umbigo e agregar algo que nos faça realmente pensar... Já será tarde.

Ah... Esquecer-me-ia de outro fator relevante: o sexo. O apetite sexual pode acabar com uma família, por exemplo. Principalmente se o ‘convívio’ for desestruturado, o que é demasiadamente comum em nosso inferno atual. O sexo é o culpado de tudo. Da traição, da reprodução em massa, da vontade de viver... O sexo foge do campo prazeroso para dar margem ao erotismo exacerbado. Dia desses vi garotas orgulhosas de 12 ou 13 anos desfilando seus seios e bundas pela cidade. Estavam atraindo os machos, aqueles que não fazem uso do cérebro, senão para ativar a testosterona. Esse comportamento prega, mais uma vez, o semblante de nossa coletividade nas costas do papa: “Hey, velho católico, sou uma prostituta, me perdoa?”, “Não, minha filha, isso é muito corriqueiro, Papa só perdoa verdadeiros pecadores”. É... Darwin... É a evolução. Meu radicalismo me enjoa. Preciso tirar férias desse planeta.

PS: Férias com Mi Colibri.

2 comentários:

Carmim disse...

"É... Darwin... É a evolução."

Acho que nem Darwin nos seus piores pesadelos poderia prever onde a tal evolução nos levaria.

Um beijo.

Raquel disse...

De certa forma, teu radicalismo nos uniu.

A teoria de Darwin não deveria ter sido contestada e derrubada. Por outro lado, não acredito mais na evolução das espécies. Agora é uma questão de não decair no patamar (d)evolutivo.


Vamos fugir, meu amor... desfrutar dos prazeres da vida hahahhaha