
Há momentos em que preciso deitar minha cabeça no travesseiro e chorar, eu tenho que chorar, fazer com que minhas lágrimas mostrem sentimentos a mim mesmo. Choro no escuro, no quarto, na sala, no banheiro, o ser humano deve carpir-se. Precisamos botar para fora nossas tristezas, angústias e até felicidades. Já viu alguém chorar por que está feliz? Pois bem, eu choro. Minha companhia mais concreta que possuo é o Lavoisier, meu ursinho de pelúcia. Durmo com o Lavoisier todas as noites. Ele não reclama se eventualmente eu ronco, se me mexo muito na cama e o destapo, se acordo tarde ou cedo demais, se leio livros em voz alta, se trago jornais antigos para o quarto. O Lavoisier é meu companheiro. Ele não rezinga de minha vida, ele me partilha com o seu mundo. Lavoisier é real, em um outro plano ele pode falar com outros ursinhos de pelúcia, ele pode ter até família. Achas loucura? Nosso cérebro é uma fábrica de ilusões, meus caros. A imaginação é veracidade mais madura que podemos ter. Se prender ao que vemos e tocamos é ignorância, o universo é mais do que nós mesmos.
Penso em tanta coisa que garotos de 20 anos jamais pensariam, falo pelos que conheço, são poucos os jovens existencialistas. O acesso à cultura inútil, a futilidade comercializada por nossa raça é mais rentável. É mais fácil, não há esforço mental. É fato, as pessoas não pensam. Não agregam nada ao intelecto. E para ser um intelectual você não precisa decorar pilhas de livros nem ler dez jornais por dia. Tudo que você precisa é tentar saber quem és. Por isso que são poucos os intelectuais. Raros, diria. Intelectualidade vira um cano de escape, já que não sabemos quem somos, falemos do que está ao nosso lado. Weber, Freud, Jung, Schopenhauer, Lacan, Heidegger, Nietzsche, Marx, Aristóteles e o ainda vivo Umberto Eco são exemplos de doutrinas diferentes, mas que em algum lugar houve um gancho. Eles com certeza não souberam e nem sabem quem foram ou são. Eles tiveram uma tese aproximada. Entretanto, enfeitaram suas dúvidas no comportamento, na reflexão, na história e até na sociopolítica. Enfeitaram e se auto-responderam. E isso os tornou intelectuais, só porque eles não fizeram o que mais da metade da população mundial faz: não progredir mentalmente.
A sexta-feira é uma das provas disso. “Eu trabalhei a semana inteira, vou curtir o finde”. Curtir? Beijar pessoas que mal conhecemos? Penetrar alguém que só sabemos o nome? Ou então, o mais corriqueiro: tomar litros e litros de cerveja a fio. Não, obrigado. Chame-me do que quiserem, me rotulem; ainda acho minha vida mais proveitosa do que as de muitos psicopatas sociais. A praga do ser humano é ser contagioso. Por favor, deixe-me só com Lavoisier, essa noite iremos beber suco de maracujá e discutiremos sobre o amor e o sexo no Jardim do Éden. Creio que estou me envolvendo sentimentalmente de novo. Sou vulnerável, sou humano. Até mais, amigos. Bom fim de semana.
6 comentários:
Luan, o tradutor de pensamentos. E se eu te disser que também tenho um Lavoisier em minha vida?
Tenho o meu lado introspectivo. Quando estou aí em São Leopoldo, não saio. E quando me convidam e até me repreendem por isso, apenas respondo: "Vim a estudo. Nada mais."
Sinto-me bem assim. Minha boca, meus ouvidos e minha alma agradecem.
Quando vou a Livramento, a coisa é um pouco diferente. Mas saio porque amo as companhias. E também porque tenho o semblante antipático o suficiente para intimidar possível beijoqueiros hahahaahhaha
"O Luan é aquele cara que não sai para qualquer lugar, ou sai, se a companhia for boa"
Aceitas um café?
:*
Ah Luan...espero que não seja um envolvimento com seu ursinho (que terrivelmente me lembra aulas de físico-química)
como eu queria que houvessem cronistas como vc soltos pelo mundo, pelo meu mundo talvez. Vc não existe. Mas o fato desse espaço virtual me aproximar e me aconchegar a pensamentos conforantes como o seu dão esperança, me dão esperança quanto a minha geração.
Que vontade de impor certos pensamentos a certas pessoas...mas só resta ler Sartre em voz alta para minha cadelinha e aguardar uma alma masculina absorver essas ondas sonoras.
sopros de luz querido!
=***
São tolinhos meu querido. Infelizmente a geração que nos cerca é feita pela ignorancia, pela obtenção de qualquer simples prazer. Tb tou de greve, soh saio agora de casa se for realmente vale a pena.
Adoro o jeito que tu escreves, e sim, eu sei que sempre digo isso, mas é que também adoro a forma como falas de si mesmo...
É, ás vezes olho para os jovens e penso que eles estão perdidos, ou talvez a perdida seja eu, por não me encaixar no "padrão" de hoje... Também não gosto de sair pra curtir um finde... Curto muito bem em casa, com alguns livros, ás vezes filmes...
Certa vez eu pensei, "será que sou um extraterrestre? pois não gosto de quase nada que os outros jovens gostam...aff". Mas quer saber? Gosto de ser assim, "diferente", ou talvez, os diferentes sejam eles!
Ah! Mas fico feliz em ver que, fora eu, existem algumas exceções como tu por aí...
Beijão
Adorei este texto, é um dos melhores que já li. Como você deve imaginar fala um pouco de mim também.
Beijos!
Luan..
Excelente texto, traduz em parte como eu me sinto.
Cheguei a pensar que o problema era comigo, já que sou muito diferente de minhas amigas.Acho rídiculo ir para uma balada e "encher a cara" , com a desculpa de esquecer os problemas e ficar mais alegre.Ultimamente só saio se valer a pena e se a companhia for boa.Não me considero estranha mas sim DIFERENTE.
Bj
Postar um comentário