Coluna do Luan

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O frango grelhado


Estava tudo como deveria ser. Mesinha no centro da sala, sofá coberto por um pano fino, de seda e com as pontas brancas. Os CD’s, assim como os livros, empilhados em ordem alfabética, por artista e autor. Na cozinha eu preparara uma frango grelhado. Há várias teorias sobre o frango grelhado. Dizem que o bom frango é o que permanece menos tempo no fogo. Confesso que não sou lá grande coisa na cozinha, me arrisquei no frango grelhado e nem sei se ela gosta de frango. E se ela for vegetariana? Deveria ter pensado no plano B. Ou melhor, que plano B que nada. Ela só vem mesmo para transar. Mas e se ela não quiser transar? Ela pode não querer comer o frango e nem transar, vai ver é uma neurótica, assassina, quer conhecer meu apartamento, mexer nas minhas coisas. Céus! O que há com as mulheres de hoje em dia? Eu a convidei para vir ao meu apartamento e ela aceitou numa boa. E eu a vi apenas uma vez. Ela pode ser qualquer pessoa, de qualquer nível. Onde eu estava com a cabeça no momento em que a convidei? Agora o frango está lá, sendo assado para uma mulher que pode querer fazer qualquer coisa comigo, ou não. Mas se bem que... Se ela aceitou foi porque deve ter gostado de mim, não? Porque ela aceitaria? Seria uma garota de programa? Fiado? Não... Não... Ela não tem cara de prostituta. Pensando bem, as garotas lá da faculdade também não aparentavam ser profissionais do sexo e transavam toda a noite com um homem disposto a pagar o exorbitante preço. Além de prostituas são mercenárias. Ah, essas mulheres de hoje em dia, não dá mais para confiar em ninguém. Aí, meu Deus! A campanhinha tocou, deve ser ela, onde estará o meu revolver? Não vou atender a porta assim, desprevenido. Não, hoje não. Essa mulher pode até tentar me matar, mas tem que ter muita bala na agulha. Não sou nenhum amador inocente que convida qualquer mulher para vir ao meu apartamento, decorado, em ordem, limpo. Não é qualquer uma que entra em minha residência. Mas que diabos! Onde está o meu revolver? Tenho que achá-lo. Droga! Ela está insistindo na campainha, direi que já estou indo – Eu já atendo, um instante, por favor! – pronto, agora ela vai esperar. Ao menos mais alguns segundos. Sei que deixar uma dama esperando é falta de educação, mas ela também pode não ser uma dama. Achei! Estava aqui, escondido nesta gaveta que nunca abro. Vou carregá-lo. uma, duas, três, quatro balas deve estar de bom tamanho. Agora sim, vou atender a porta: Seu Antônio! Que susto. – Há uma correspondência para o senhor? – Para mim? Ah, obrigado seu Antônio. – Disponha, Doutor, tenha uma boa noite. – Obrigado, Antônio, tenha uma boa noite você também. Não acredito nisso. Não era ela, era o seu Antônio, o zelador. Mas isso é hora de entregar correspondência? Vou tirar esse revolver da minha cintura, está encomodando-me. Irei deixá-lo aqui em cima desta estante, para que eu não o perca de vista, quando ela chegar estarei prevenido. E o frango? Cruzes! Deve estar queimando! Ufa, foi por pouco. Está aqui, bem servido. Vou deixá-lo à vista, assim posso distrai-la com o frango e quando ela menos esperar, será ela a sobremesa, esquartejada sobre a minha mesa de jantar.

3 comentários:

Kari disse...

Aff... Esse é o tipo de estória que você lê até o fim com uma certa angústia e uma espectativa enorme...
E finalmente, ela apareceu?
Ou a carta era ela dizendo que não poderia ir? Aí aí... agora fiquei com um monte de coisas na cabeça...

Adoro vir aqui por isso!!!!

Beijão
Ah! Já tava com saudades em...

BABI SOLER disse...

Muito espertinho você,rs

Marcos Seiter disse...

Bah, o que é a preocupação, o medo em nossas vidas, que até faz com que o frango queime. heheheheheh

Mas muito a narrativa e a reflexão surgiu!

Um abraço pra ti com carinho!


Marcos Ster