Coluna do Luan

sábado, 8 de março de 2008

A saga de Sabrina



“Às vezes preciso do teu socorro singelo. Lembra? Aquele que nunca foi para frente, que nunca esteve aos nossos pés. Há momentos em que sinto uma enorme dor capaz de afogar nossos corações em mágoas perpetuadas pela nossa estupidez romântica. Ainda faço de conta que te conheci ontem, que te beijei hoje, e que me apaixonei pelos teus abraços apertados. Nada faria sentido se o nada fosse o acaso. Ou ainda tudo seria o nada. Do que importa a verdade? Foram e são circunstâncias solenes como aquele sino de nosso matrimônio. Tirei sua aliança e passei adiante. Adiante naquela gaveta suja, imunda com seus pertences. Sou um miserável. Um assassino de lembranças. Queria ter a certeza de que você não voltaria. Queria ter a gratidão de sua traição. Adultério. Quem diria que nós algum dia daríamos certo. Ou que nós, durante três horas sem intervalos, passaríamos nossos melhores momentos de prazer alheio. Quanta bobagem isso se tornou depois que você me disse que seu coração não fazia mais sentido bater por mim. Olhei durante dias para aquela pedra moldada na parede de nosso antigo quarto. Nossos nomes ainda estão lá, gravados, marcados por um arranhão. É inevitável não refletir sobre nossas atitudes ou sobre nossos vícios. Parecíamos estrelas do rock. Sexo, drogas e rock in roll. Na gaveta abaixo da sua, estão as seringas, os baseados queimados e um restinho de pó branco do qual usufruímos na noite de ano novo. Ainda me lembro daquela frase: ‘Que venha o ano seguinte, cheio de amor e droga em nossos corpos eternamente unidos’. Que porra foi aquilo? Devíamos mesmo estar perdidos. Mas no momento todas as suas palavras vão de encontro com o meu corpo agora fechado sob um caixão. Em breve enterrado, como num dia em que eu nunca a tive em minha vida. Você sempre será minha flor, embora eu não seja mais a água que te refresque dos seus pesadelos insólitos e insolúveis.”

Sabrina se deparou com o seu rancor ao ler a carta deixada por Bebeto. “Aquele viciado filho da puta vai tentar se matar de novo.” Caminhou até a casa de Rosangela, tocou a campainha e disse em alto e bom tom: “O corno vai tentar suicídio de novo!”. Rosangela por sua vez retrucou: “E tu vai tentar salvar aquele viciado lunático?” “Tenho alguma outra escolha?’ “Você pode deixar que ele morra, assim ele não te perturba mais!” “Do que está falando, Rosângela, o viciado é meu irmão, caralho!”. Ela sede: “É a última vez que eu te ajudo, Sabrina! Esse teu irmão quer te comer faz um ano, já te disse pra te internar esse doente!”. Saíram as duas no fusca de Sabrina, rodaram até a usina da cidade, abandonada há mais de 50 anos. Lá estava Bebeto, sobre um muro de 24 metros. Rosangela desce do carro gritando: “Se vai pular, pula de cabeça duma vez pra não dar mais trabalho pelo resto da vida, seu doente mental!”. “Cala a boca, Rosangela! Assim tu não ajuda, porra!”. Bebeto grita: “Sabrina eu te quero!”. “Ela é tua irmã, seu merda!” – responde Rosangela, com o rosto bufando de raiva. Ele continua: “Eu vou me matar, eu vou pular daqui!”. “Tu já tá pulando isso aí faz um ano, pula de uma vez então.” – Rosângela torce pela morte de Bebeto. E ele pula. Sabrina se desespera. Ele quebra o pescoço e coluna na queda. Os olhos de Rosângela brilham. Sabrina grita. Rosângela a segura e diz: “Venha, baby, talvez tenha sido melhor assim, cedo ou tarde isso iria acontecer”. Sabrina se consola no ombro de Rosângela, as duas voltam lentamente para o fusca, Rosângela conclui: “Desde que ele nos pegou na cama ele enlouqueceu, durante todo esse tempo escrevia carta de amor para ti, teu irmão era doente.” Ao entrar no carro Sabrina, com um olhar certeiro fala sem piscar: “Ele não era doente, Rosângela; eu transava com ele antes de te conhecer, sua vadia.” Não demorou muito para que a garganta de Rosângela fosse cortada por uma navalha que ficava escondida na cintura de Sabrina. Ela sorri. Empurra o corpo de Rosângela para fora do veículo. Dá marcha ré, pega distancia, em seguida engata a primeira e passa por cima de Rosângela.

Sabrina chega em casa com sua baby loock manchada de sangue. Vai até o armário e pega uma lista onde aparece o nome de seus pais riscados, abaixo deles está o nome de Bebeto (seu irmão) e o de Rosângela (sua amiga e amante). Risca os dois. Vai se lavar pensando: “preciso descansar, a lista é grande”.

Um comentário:

Andressa Xavier disse...

nossa! mto bom!

Beijooo, Luan!