Se pararmos para refletir um pouco sobre como levamos nossas vidas, logo eclodirão estereótipos, estatísticas e probabilidades de perfis com base nos preceitos morais da sociedade. Ou, simplesmente, a utilização desses preceitos para pregar que determinado "nível" depende exclusivamente dos seus gostos pessoais.
Acho que estou cansado disso.
Essa ideia de ser perfeito demais, ou de assumir um perfil/personagem com base nas escolhas pessoais, ter que se policiar para não ser julgado, ter a necessidade de se identificar com algum grupo e/ou classe, só nos torna mais ridículos, egoístas e perversos ignorantes. Evoluir também significa lidar com as diferenças. É saber agregar parte daquele sabor, que julga oposto de si, à sua alma, sem julgar as escolhas do próximo. É ser compreensivo e tolerante. Se permitir aprender com as coisas mais humildes, populares e que, aparentemente, para você, não contenha filosofia alguma.
Quando nos dermos conta que a filosofia mora no conjunto dos elementos que interagimos, abriremos mão de julgar o que presta do que não presta, culturalmente falando. As pessoas possuem o direito de serem tocadas pela canção mais simples, de letra menos expressiva, com as melodias que permeiam o batuque da swingueira ao rock clássico.
Quem somos nós, pobres mortais, para julgar o que determinada pessoa deve sentir, ouvir, gostar e fazer? Somos, não raro, oportunistas de perfis, singelos ditadores de classificações sociais. Não, definitivamente não, isso está errado! E isto quer dizer que nada impede a um indivíduo escutar Leandro & Leonardo a ler Jean Paul Sartre. (por mais desconexo que possa parecer ao leitor) Contudo, temos a incrível mania de associar e alinhar gostos de leitura com predileções musicais, com a forma na qual nos vestimos, etc. Sei bem que estes minuciosos detalhes contemplam nossa heterogênia camada de comunicação não-verbal. Mas por que ser enquadrado a um perfil? Por que ter tudo tão bem delineado?
Ao passo que alguns especialistas em comportamento humano possam alegar que esta seria uma forma de coerência comportamental, vejo que, ao acreditarmos que tenhamos que ser assim, que temos que ser coerentes com gostos ao modo de nosso julgar, excluímos de nossos vínculos, pessoas com almas incríveis, puras, raras e que podem nos ensinar a viver em um mundo mais harmonioso. Acreditamos tanto, que nossos amigos e namorados só podem pertencer a casta X ou Y.
Isso, na minha opinião, é uma enorme besteira existencial. Quanto tempo dedicamos à construção desse perfil? Com quantas pessoas deixamos de nos relacionar? Quantas felicidades passaram pelas nossas portas fechadas? Por outro lado, não quer dizer que você tenha que ser eclético, mas que tal experimentar um novo olhar? Que tal se desprender de dogmas e conceitos pré-fabricados e começar a sorrir? Só porque, estatisticamente falando, as pessoas que dançam em baile funk podem ser enquadradas como prostitutas e portadores de um cérebro do tamanho de uma azeitona – ou, ainda, aqueles que gostam de pagode serem enquadrados como papagaios cantantes com eternas dores de amor – não quer dizer que os sejam, e nada impede de simplesmente compartilharmos essa realidade. Pois, a você, que se diz filósofo, poético e amante das coisas de alto nível, fugir e ignorar esta realidade é o caminho mais fácil. Por que não treinar seu olhar e aprender como ser humano? O "alto nível" é relativo. A vida é relativa. A vida, meu caro, é maior que as diferenças.
Logo, você não precisa, definitivamente, ser como as outras pessoas. Você só precisa ser quem você é, e aprender com as mais diferentes realidades, para não chegar no fim da vida como um velho rabugento, preconceituoso, limitado, infeliz e solitário.
Chega de perfis construídos. Cante axé num dia. Toque rock noutro. Vá ao shopping de chinelo. Converse com todo tipo de pessoa – inclusive com mendigos, pois eles costumam ser menos perigosos que a sua consciência, e não deixe de evoluir. Se liberte de rótulos e respire. Pois, nem o mais sensato, racional e inteligente pensador, está livre de limitações e preconceitos sociais.
Ao aplicarmos o amor em pessoas que julgamos diferentes de nós mesmos, encontraremos semelhanças incríveis – não porque o amor deixa-nos cegos, mas porque permitiremos que um outro ser humano, com virtudes e defeitos, nos ensine a interagir no seu universo, enquanto ensinaremos a esta mesma pessoa a interagir no nosso. Isso se chama compartilhar, aprender, amadurecer visões de mundo e... evoluir.
Boa sorte a todos.
Que em 2012 as diferenças não sejam motivos para separações.
E que celebremos a vida.
P.S.: Funkeiros e pagodeiros, não levem para o lado pessoal.